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ALCOOLISMO – MAIS UM GRAVE FATOR DE RISCO

No documento Epidemiologia. Prof. Margot Friedmann Zetzsche (páginas 110-112)

TÓPICO 3 – UM PAINEL DAS CONDIÇÕES CRÔNICAS E A PREVENÇÃO DE RISCOS

2.6 ALCOOLISMO – MAIS UM GRAVE FATOR DE RISCO

Segundo o The Lancet (2011), quase a metade dos brasileiros não utiliza nenhum álcool, isto é, são abstêmios. Mas o mesmo periódico vai relatar, baseado em várias revisões bibliográficas, que um a cada quatro brasileiros adultos tenha para relatar pelo menos um bom problema por causa de abuso de álcool – sejam eles, violência doméstica, risco e acidentes no trânsito, faltas ou perdas no trabalho, dificuldades sociais, legais, familiares etc.

O consumo de álcool é responsável por 3,2% a 4% dos óbitos ocorridos na população mundial, de acordo com a OMS – Organização Mundial de Saúde. Contudo, o consumo moderado de álcool pode ser considerado saudável (uma dose por dia para mulheres e duas doses por dia para homens). Acima destes níveis o consumo é considerado fator de risco associado a várias doenças digestivas, como pancreatite, gastrite, úlcera gástrica, cânceres do aparelho digestivo, cirrose hepática e, naturalmente, os fatores comportamentais, que engrossam as estatísticas de morte e adoecimento por causas externas – as violências (GIOVANELLA, 2008).

Vamos fazer um inquérito de quanta atividade física vocês realizam. Isto inclui também o professor! Basta anotar quantos minutos se mexem por dia, seja na academia, caminhada, ou para pegar o ônibus, fazer algumas tarefas mais vigorosas em casa, como cuidar do jardim ou varrer a casa e lavar calçadas.

E agora vamos fazer um pacto entre todos de fazer os tais 30 minutos mínimos sugeridos no texto. Se tiver dúvidas, volte na página onde abordamos o assunto. Verá que todos, ou quase todos podem! Esta é uma ilustração da

estratégia de autocuidado apoiado que explicaremos logo mais. Tecnologia para tratar de doenças e condições de saúde crônicas, e o mais importante: prevenir! E a prevenção deve começar por nós, não deve?

2.6 ALCOOLISMO – MAIS UM GRAVE FATOR DE RISCO

As estimativas de dependência de álcool variam de 9% a 12% de toda a população adulta, sendo três a cinco vezes maiores em homens em comparação às mulheres. A dependência de álcool também é mais alta em adultos jovens e naqueles com níveis intermediários de educação e renda. A exposição ao álcool tem início precoce: uma extensa pesquisa com alunos da 8ª série (idade média de 14 anos) de escolas públicas e privadas localizadas em capitais brasileiras demonstrou que 71% já haviam experimentado álcool e 27% haviam consumido bebidas alcoólicas nos 30 dias anteriores. Quase 25% desses alunos disseram que haviam se embriagado pelo menos uma vez na vida. (LANCET, 2011, p. 66).

O mesmo periódico vai mostrar que há estatísticas alarmantes de aumento do consumo excessivo em mulheres. E aumento das mortes causadas pelos transtornos mentais e comportamentais (violências) subiu 21% nos últimos 11 anos. (LANCET, 2011).

O consumo de álcool entre os mais jovens também está aumentando gravemente de intensidade por causa dos energéticos que possibilitam mascarar os efeitos do álcool e continuar bebendo mais. Apesar de o energético possibilitar a tolerância a maiores quantidades de álcool, de maneira nenhuma diminui os efeitos tóxicos e negativos desta substância para o organismo.

Há bastante hipocrisia ainda na abordagem ao uso de drogas, pois o álcool, que é uma droga legal e ainda amplamente divulgada pela mídia, é sabidamente a que mais mortes e violências causa entre todas as outras drogas.

No entanto, a droga mais letal, o álcool, é amplamente utilizada, comercializada e propagandeada. O álcool é uma droga absolutamente legal e, à exceção o consumo por menores, largamente aceita e até incentivada nos meios sociais. Tão naturalizado está o seu consumo que especialmente na região sul do Brasil, no Vale do Itajaí, há festas temáticas ao consumo de cerveja e chope com cerimônias cívicas e participação das autoridades locais bebendo os primeiros canecos. O mesmo se passa também com as festas do vinho nos estados do sul da federação.

Nosso texto não quer apologizar a abstinência de álcool e nem a proibição de seu consumo, mas apenas provocar a reflexão acerca da hipocrisia de nossa sociedade e de nossos meios de comunicação. Enquanto se presenciam horríveis propagandas sobre os efeitos do crack, jovens adolescentes bebem as bebidas dos pais e das propagandas em suas festinhas, com um risco estatisticamente muito maior. A lei seca ou proibição do comércio e circulação do álcool nunca funcionou ao redor do mundo, e através da história sabemos que a proibição incrementa o consumo.

No entanto, diante dos danos do álcool, o governo ainda é tímido em coibir a propaganda e regular os meios de comunicação. Aceitar a condição e dependência alcoólica ainda é bastante vergonhoso para a maioria das pessoas e o problema se agrava com o passar do tempo.

Capacitar a rede pública e privada de saúde a oferecer tratamentos ao dependente e realizar a abordagem preventiva do abuso de álcool é uma das prioridades para a redução dos riscos de adoecimento e morte.

Ao contrário do que muitos pensam, as unidades de saúde do território de residência, o médico da família, o clínico geral e outros médicos em geral podem realizar o tratamento de forma bem-sucedida. Muitas vezes, o melhor profissional para abordar o alcoolismo não é o psiquiatra ou especialista, mas aquele que tem vínculo e uma relação de confiança com o doente.

3 DESAFIOS RELATIVOS AO NASCIMENTO

O fato de que as crianças nascem significa que muitas pessoas acreditam no mundo e querem fazer dele um lugar melhor para viver. E os nascimentos mobilizam aquilo que de melhor um país e uma nação têm a oferecer à sua população. Preparar o mundo para aqueles que chegam é um sinal de civilização, desenvolvimento e governabilidade:

Nossa atitude face ao fato da natalidade: o fato de todos nós virmos ao mundo ao nascermos e de ser o mundo constantemente renovado mediante o nascimento. A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele, e com tal gesto, salvá-lo da ruína que seria inevitável não fosse a renovação e a vinda dos novos e dos jovens. (ARENDT, 2009, p. 247). Embora a filósofa e pensadora do nascimento, Hanna Arendt, estivesse neste texto se referindo à educação das crianças, sua obra diz que pautada na natalidade existe a esperança e o dever político de tornar o mundo melhor. Isto significa melhores condições sobre nascer, sobre a gestação e os primeiros anos de vida e sobre a sobrevivência das crianças.

3.1 MORTALIDADE MATERNA, MORTALIDADE INFANTIL E

No documento Epidemiologia. Prof. Margot Friedmann Zetzsche (páginas 110-112)