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TÓPICO 3 – UM PAINEL DAS CONDIÇÕES CRÔNICAS E A PREVENÇÃO DE RISCOS

4.1 AS NEOPLASIAS

O primeiro sistema populacional de registro de câncer foi criado no Recife no ano de 1960. Desde então, apenas 17 cidades brasileiras contribuem com registros detalhados de dados de câncer. Sabemos pelo SIM – Sistema de Informações sobre Mortalidade que a morte por câncer é a segunda ou terceira no ranking das estatísticas. Ela disputa este lugar com as causas externas, alterando- se ambas dependendo da região do país.

As estatísticas brasileiras para câncer de mama se equiparam aos achados internacionais. Outras sugerem que o Brasil está alinhado a países de baixo nível socioeconômico, como a taxa de sobrevida após o diagnóstico de câncer:

As taxas de sobrevivência de cinco anos para pacientes com câncer de mama, de próstata e de pulmão em duas cidades brasileiras foram inferiores àquelas de países de alta renda, sugerindo dificuldades ou desigualdades de acesso a procedimentos diagnósticos e tratamento no Brasil ao longo da década de 1990. Esse achado é consistente com dados internacionais recentes que mostram que sobrevida de um câncer curável (cervical, de mama e de testículo, e leucemia linfoblástica em crianças) está íntima e positivamente relacionada à renda do país. (LANCET, 2011, p. 65)

Estas taxas preocupantes se devem, ainda, à dificuldade de acesso à assistência ambulatorial, demora no diagnóstico, desconhecimento sobre a doença. A detecção precoce do câncer parece ser fundamental à sobrevivência e à eficácia do tratamento.

É por isto que, além dos fatores gerais de redução de risco, que são os que já elencamos – atividade física, controle do peso, alimentação adequada e redução do tabagismo –, ainda existem os exames e estratégias preventivas. As campanhas de Papanicolau para detecção de câncer de colo de útero, as mamografias, as campanhas de diagnóstico de cânceres dermatológicos, bucais, de próstata, entre outras, são de importância fundamental. A detecção precoce possibilita o tratamento em tempo oportuno. E é por este motivo que você vê tantas campanhas educativas veiculadas pelas empresas privadas de saúde e também pelo governo. Diagnóstico precoce e rápido acesso ao tratamento vão determinar a cura e a possibilidade de tratamento de significativa parte dos tumores potencialmente curáveis.

Uma política para rastreamento de câncer de mama baseada em exame clínico anual após os 40 anos de idade e mamografia a cada dois anos entre 50 e 69 anos de idade foi iniciada em 2004, mas a cobertura avaliada por autorrelato ainda é menor que a desejada e a distribuição desigual dos serviços de mamografia no Brasil complica o acesso. Os desafios incluem assegurar que as mulheres com maior risco para o câncer do colo uterino estejam sendo captadas; programar o rastreamento de câncer de mama em todo o país; e fornecer monitoramento completo de 100% das mulheres rastreadas para ambos os tipos de câncer, permitindo, desse modo, tratamento imediato e eficaz para as mulheres diagnosticadas (LANCET, 2011, p. 71).

Nos detivemos no câncer de mama porque, apesar de ser o segundo em incidência nas mulheres (o primeiro é o câncer de pele), é o que mais mortes causa. “Para o ano de 2014 foram estimados 57.120 casos novos, que representam uma taxa de incidência de 56,1 casos por 100.000 mulheres.” (BRASIL, 2014a). Um bom argumento para investir em programas de diagnóstico precoce e baixar os fatores de risco: obesidade, dieta inadequada, consumo de álcool, tabagismo e inatividade física.

4.2 AS DOENÇAS DEPRESSIVAS E O SOFRIMENTO

PSÍQUICO

Uma significativa parte das condições crônicas de saúde é incidência de sofrimento psíquico ou transtornos neuropsiquiátricos, sendo que destes a maior é a depressão. Respondem também por este nome as doenças ligadas ao consumo excessivo de álcool e outras drogas. Numa pesquisa feita pela “World Health Survey, no ano de 2003, 18,8% dos brasileiros relataram ter recebido um diagnóstico de depressão nos últimos 12 meses.”

Muito do sofrimento psíquico permanece escondido. Muitas famílias sentem vergonha de procurar os serviços de saúde. Mesmo porque tratar este tipo de problema significa expor-se, rever conceitos de todos. Tal fato vai fazer com que estes doentes ou suas famílias procurem os serviços de saúde apenas quando o transtorno já se tornou insuportável.

No entanto, doenças desta espécie causam significativos afastamentos de trabalho e encargos previdenciários e sociais. Além disto, o transtorno, seja da ordem do sofrimento mental profundo como a esquizofrenia – ou da ordem da adição – como o uso de crack, causa verdadeiras catástrofes familiares caso não haja tratamento.

4.3 SOBRE O USO DE CRACK NO BRASIL – ÚLTIMAS

PESQUISAS

Quanto ao uso de crack, existe uma pesquisa recente que disponibiliza dados para os pesquisadores e serviços de saúde.

Os usuários regulares de crack e/ou de formas similares de cocaína fumada (pasta-base, merla e oxi) somam 370 mil pessoas nas 26 capitais brasileiras e no Distrito Federal. Considerada uma população oculta e de difícil acesso, ela representa 35% do total de consumidores de drogas ilícitas, com exceção da maconha, nesses municípios, estimado em 1 milhão de brasileiros (BRASIL, 2013).

A pesquisa segue dizendo que o Brasil é o maior consumidor de crack do mundo. Isto significa, aliado aos números acima, que os serviços de saúde precisam se preparar e capacitar para cuidar deste tipo de patologia – que traz em seu arcabouço tragédias pessoais e familiares.

Existe no portal da Fiocruz um link para baixar um livreto epidemiológico sobre a pesquisa detalhando os achados. A maioria dos usuários da droga tem entre 20 a 30 anos, possui baixa renda, é não branca e com baixa escolaridade. Cerca de um terço deles vive em situação de rua. Mais da metade deles usa a droga diariamente. E ao contrário do que o senso comum dita, apenas cerca de

9% declara ter participado de atos ilícitos, como roubo e tráfico, para financiar o uso. A maioria refere a pequenos serviços autônomos ou biscates, e cerca de 7% referia praticar sexo em troca de financiar a droga (prostituição). (FIOCRUZ apud BRASIL, 2013)

No documento Epidemiologia. Prof. Margot Friedmann Zetzsche (páginas 117-120)