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dominação e sujeição desses povos com a sociedade envolvente (ZANNONI,

4.2.2 Aldeia Akrãt

Na presente pesquisa, como demonstração da articulação desse povo com instituições governamentais e não governamentais, as

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CFEM - Compensação Financeira pela Exploração Mineral, mais conhecida como royalty. Pois conforme a CFB em seu artigo 20, o subsolo é da União e as terras indígenas são de usofruto.

informações sobre essa aldeia provêm de um plano emergencial e projetos de implantação de formas de produção mais condizentes com a vegetação e os solos dessa nova área ocupada, visando diminuir a dependência de produtos alimentares industrializados. Tudo isso por contribuições do grupo, que buscava parcerias com a sociedade em sua volta para que pudessem ter as condições necessárias para a reprodução social, econômica e cultural de seu povo29.

A Terra Indígena Mãe Maria, é ocupada por três povos indígenas: os Parkatejê, Kyikatejê e Akrãtikatejê. São pertecentes ao grupo linguístico Jê, falantes da língua materna e a língua portuguesa, composta por cerca de 1200 habitantes, o conhecido Povo Gavião. A terra indígena (TI) localiza-se na Zona Rural – Km 15, lado esquerdo da BR-222, sentido Marabá, área pertencente ao municipio de Bom Jesus do Tocantins, no estado do Pará.

A Aldeia Akrãti, do povo Akrãtikatejê, localizada nesta TI, foi fundada em 29 de janeiro de 2003, e tinha como liderança o sábio Edivaldo Valdenilson (Payaré), cacique que nos deixou muitos ensinamentos, vindo a falecer no ano de 2012 e deixando sua filha Kátia, como a líder do grupo.

O Povo Akrãtikatejê, em virtude da construção do reservatório da Usina Hidrelétrica de Tucuruí, pela empresa Eletronorte, na década de 1970, foi removido das terras que ocupavam ancestralmente. Inicialmente, com o processo de deslocamento foram morar com o grupo Parkatejê, na aldeia Kupênjipokti, Terra Indígena Mãe Maria, enquanto a empresa Eletronorte comprava parte daquela área, onde mais tarde se constituiria a aldeia Akrãti.

Os Akrãtikatejê, assim como outros povos originários, sofrem e lutam contra as marcas da colonização impostas pelo sistema capitalista, tanto no que se refere aos aspectos socioculturais como pela luta na garantia e permanência em seus territórios, podendo dessa forma firmar suas diferenças, especificidade, modos de ser e de viver. O período de transferência e adaptação para uma nova área mostra a resistência desse povo. Na representação política do grupo, o cacique Payaré lutou com muita sabedoria e persistência, tanto internamente, na união do seu grupo, para que não se perdessem os laços familiares e identitários e seus conhecimentos, como também externamente, articulando parcerias e apoio com agentes governamentais e não governamentais.

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Esses dados foram gentilmente cedidos pelo atual coordenador do CIMI/Norte II, Marcos Reis.

A aldeia é composta por 20 casas com paredes e cobertura de palha e de piso de terra batida. Há um posto de saúde e uma casa-de- farinha. Existem grandes áreas de capoeira (cerca de 73 ha) que surgiram por conta da ocupação e da prática da pecuária por antigos posseiros e fazendeiros. A ação de pescadores, caçadores e coletores, que invadem a TI, tem provocado a escassez de espécies animais e de vegetais consumidos pela comunidade, bem como a poluição do Rio Flecheiras, situado a aproximadamente 500 metros da aldeia.

São cultivadas roças de mandioca, com participação de todas as famílias que compõem a aldeia, e parte da produção é transformada em farinha. A farinha obtida nesse processo é parcialmente consumida na própria comunidade e outra parcela é destinada ao mercado, como forma de garantir outras necessidades das famílias.

A alimentação da comunidade é obtida por meio de roças tradicionais, pesca, criação de peixes em cativeiro e o extrativismo vegetal nas florestas da TI e complementada pela ingestão de alimentos, geralmente industrializados, o que tem provocado maior incidência de enfermidades entre membros da comunidade, implicando o aumento de despesas com a aquisição desses produtos alimentares e de medicamentos.

Os Akratikatêjê percebem a necessidade de terem ações próprias de valorização da sua cultura, como o ensino da sua língua às crianças, que fazem na pequena escola que tem na comunidade, assim como nas conversas no acampamento, local de reuniões do grupo, nas brincadeiras do correr tora, no jogo de flechas. Entendem a exploração dos recursos da floresta de forma racional, equilibrada e sustentada; são ações que firmam sua identidade étnica e de fortalecimento de sua autonomia.

4.3 ACADÊMICAS GUAJAJARA E A CACICA DO POVO

AKRANKIKATÊJÊ

Diante do exposto, valorizando a dialética do vivido e do sentido, a partir das narrativas de memórias femininas indígenas na universidade, adoto como opção metodológica a construção de mônadas. Isso remete à questão da representação, à qual Spivak (2010) se debruça, quando nos diz que em relação às mulheres emudecidas, é necessário, como já dito, aprender a falar ―com‖ e não ―para‖, onde ―[...] o teórico não representa o falar pelo grupo oprimido‖ (2010, p. 39). Dessa forma, faço a opção pelas mônadas, não no sentido de dar voz, pois essas mulheres têm as suas, lutam e carregam tatuadas no seu corpo

gestos e comportamentos as suas resistências, mas para sua representação, que vai assegurar suas identidades. Escolhi essa opção também por perceber a necessidade de um discurso que evidenciasse as falas carregadas de significado, às quais muitas vezes a universidade ―tampa seus ouvidos‖, pelos processos violentos de homogeneização e algumas discussões relacionadas ao respeito às diversas culturas.

Feito uma breve apresentação das aldeias ao qual pertencem as mulheres originárias que fazem parte da presente pesquisa. Apresento, logo abaixo quem são essas mulheres na ordem, não de importâncias de falas, mas do desencadear dos contatos, provenientes tanto da primeira entrevista como das narrativas dos círculos de encontros narrativos femininos. Os faço com as reminiscências ditas, com as subjetividades e poesias que as constitui, em como se mostram, acreditando que somos o que narramos, visto que nesse narrar vamos nos constituindo. (PAIM, 2005).

4.3.1 Nayara Guajajara, estudante do curso de Geografia da Unifesspa

Figura. 12: Nayara Guajajara

Eu sou Nayara Guajajara, indígena. Sobre a nossa língua Guajajara, entendo algumas coisas. Tanto consigo entender como escrever. Meu sonho é terminar e voltar pra aldeia. Deus me livre ficar aqui na cidade, e nem no Município de Itupiranga, eu só estou na cidade mesmo pra terminar meu curso, senão estaria era lá em casa. Se tivesse um serviço pra mim, ficaria na aldeia, pois é muito difícil você crescer morando na aldeia e depois de adulto vir morar na cidade. Queria que a Karla, minha filha, estudasse lá na aldeia, com as outras crianças, aprendendo a língua, mas devido as dificuldades do momento, ela tem que ficar aqui comigo. Quando comecei como bolsista no projeto do PIBID, o pessoal da aldeia pensou que eu estava trabalhando aqui em Marabá e que não voltaria para a aldeia. Isso me incomoda. Tenho um compromisso com a aldeia. Eu posso não ter nascido lá, mas minha família está lá, então eu vou estudar, me formar e eu quero trabalhar lá. (Nayara Guajajara.2016).

Nayara também nos presenteia se apresentando em sua língua: Aixak atar herekohaw wà

Herer Nayara Pereira Ventura Guajajara iheà. Umuauze Tentehar Guajajara. Hezemu´e haw Geografia rehe no Marabá UNIFESSPA pezote no. Ereko haw tentehar rekohaw pe Guajanaira. Itupiranga iziwà rehe. 27 kwarahy areko. Areko hememyr no 5 kwarahy uwereko a´e à no. Rerekohaw marabá pe areko na´i rui hekypy´ir wà pitey hekywyr her George a´e no, her Nayanne a´e no, Gisele a´e no, Elenara a´e no.

Minha apresentação

Meu nome é Nayara Pereira Ventura Guajajara. Pertenço ao povo Guajajara. Sou estudante do curso de Geografia pela UNIFESSPA- Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará, campus de Marabá. Moro na aldeia Guajanaíra, no município de Itupiranga-Pará. Tenho 27 anos. Tenho uma filha de cinco anos. Em Marabá, moro com meus 4 irmãos, George, Nayanne, Gisele e Elenara.

4.3.2 Raquel Guajajara, estudante de Ciências Sociais da