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educação do campo, podem ser melhores consultados em: Silva (2006); Caldart

4. TEMPOS DE APRESENTAÇÕES

4.1 IMPACTOS DOS PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO

DA REGIÃO NA SITUAÇÃO POLÍTICA DAS ALDEIAS GUAJANAÍRA E ALDEIA AKRÃTI26

Conforme dados do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), seccional Marabá, o processo de ocupação nessa parte da região do sudeste paraense, localizada na região amazônica foi e continua sendo violento. A disputa do território está atrelada a interesses econômicos e políticos e pautada por modelos de desenvolvimentos que nunca consideraram a existência dos povos indígenas e seus projetos próprios, nem manter suas terras e identidades étnicas.

Na região do Sudeste do Pará, pelos seus ciclos econômicos da castanha, todos os povos indígenas sofrem com algum tipo de agressão, violência e intervenção por parte do Estado e de terceiros em suas terras. Constantemente sofrem ameaças diversas, da exploração de ouro e da madeira, além da pecuária e, mais recentemente, da expansão da mineração na região, isso desde o período colonial até hoje.

Especificamente na década de 1980, esses povos sofreram com o desmatamento acelerado, provocado pela expansão da pecuária e pela introdução de grandes projetos de ―desenvolvimento‖ na região, como abertura de estradas, ferrovias, construção de hidrelétricas, siderúrgicas, núcleos urbanos, aeroportos, instalação de antenas para rede elétrica e celulares; ações que impactam diretamente as áreas territoriais que lhes pertenciam.

A Amazônia era pensada pelo regime militar, na década de 1970, como um espaço vazio, apto ao desenvolvimento. Por isso, investiu-se na implantação de grandes empreendimentos. De acordo com o professor Airton Pereira:

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Informo que os dados apresentados sobre a situação política dos povos originários da região do sul e sudeste do Pará e dados relacionados à aldeia Guajanaíra, apresentados abaixo, provem de relatórios do CIMI/ Norte II, gentilmente cedido pelo coordenador do CIMI/Região Norte, Marcos Reis, a quem tenho enorme carinho e gratidão pelos dados fornecidos. O texto é complementado com um relatório de visita à aldeia Guajanaíra, na época da construção do curso do IFPA/CRMB, redigido por mim e pela educadora Loide Silva.

Naqueles anos de 1970 e primeira metade da década de 1980, durante os governos de Emílio Garrastazu Médici, Ernesto Geisel e João Baptista Figueiredo, os discursos direcionados pelo Estado estabeleceram um verdadeiro paradigma sobre a valorização do homem do campo, a integração nacional e a redução das desigualdades sociais e regionais, ao mesmo tempo em que se consolidavam as políticas de desenvolvimento planejadas para a Amazônia. Além da construção de estradas, da criação de órgãos e de programas e do estabelecimento de um sistema de propaganda, prometendo oportunidades econômicas e lucros fáceis na Amazônia, vastas extensões de terras, créditos e incentivos fiscais foram concedidos a grandes empresas e proprietários rurais do Centro- Sul do País para a criação de gado bovino. Dos 1.199 projetos aprovados pela SUDAM, para serem implementados nos anos que transcorreram entre 1975 e 1989, no estado do Pará, por exemplo, 638 eram destinados à criação de gado bovino, 397 à indústria, 68 à agroindústria e 96 aos serviços básicos (telecomunicações, infraestrutura, energia elétrica, transportes etc.) e setoriais (pesca industrial, turismo etc.). E, como parte desse processo, registrou-se a transferência de centenas de famílias de trabalhadores rurais empobrecidos de outras regiões do Brasil, especialmente do Nordeste, para as margens das rodovias federais, como a Transamazônica. No âmbito do discurso governamental, essas medidas solucionariam, política e economicamente, as tensões e os conflitos sociais concernentes à questão agrária no Nordeste e no Centro-Sul do Brasil, à medida que redistribuiria grupos sociais do campo, pressionados pela pobreza e ―falta de terra‖, e propiciaria o desenvolvimento dessa parte do território amazônico. (PEREIRA, 2013, p. 20).

Portanto, essas ações de desenvolvimento da região incidem diretamente sobre as terras indígenas, seja por meio de invasões, fortes pressões do capital, diminuição no tamanho desses territórios, alagamento e desaparecimento de outros, ou por ocupações permanentes

de obras do governo, como estradas, linhas de transmissão, ferrovias e reservatórios da barragem. As terras indígenas da região apresentam territórios atingidos direta e indiretamente por grandes projetos há décadas, ocasionando situações de vulnerabilidade e conflitos entre alguns grupos.

Especificamente ao povo Guajajara, esses conflitos externos às aldeias, relacionados à manutenção de seus territórios, interferiram na forma como alguns grupos se relacionam internamente, não ficando de fora as relações culturais dos grupos. É válido ressaltar, apesar de não ser um dos objetivos dessa pesquisa analisar o fato, o conflito existente com dois grupos que constituem a história da aldeia Guajanaíra. No início da ocupação desse território, a primeira liderança, que não mora mais na área, convidou o Sr. José Vicente Guajajara, para vir para aldeia. Ele aceitou o convite e veio do Maranhão com sua família. Com o passar dos anos, Sr. Zé convida a família de Sr. Renato, educador indígena, para também vir para a aldeia, para valorizar o ensino da língua e da cultura. Sr. Renato aceita o convite, e vem também do Maranhão, trazendo com ele parte do seu grupo familiar. Com o passar do tempo, houve um grande desentendimento entre os dois lideres. O Sr. Zé Vicente foi expulso da área e o Sr. Renato assumiu a liderança do grupo. Esse conflito entre as duas lideranças causou uma divisão no grupo. Sr. Zé ficou morando com outros parentes e hoje existe um processo no Ministério Público e no INCRA para posse e divisão da área.

Logo, além dos conflitos relacionados ao reconhecimento da área como Terra Indígena (TI) e a pressão que sofrem em seu território relacionada à sobrevivência e permanência na área, existem também esses conflitos internos de divisão de terras entre o grupo.

O historiador Claúdio Zannoni, professor da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e estudioso do povo Tenetehara, em sua obra ―Conflito e Coesão: O dinamismo Tenetehara‖, faz uma abordagem histórica antropológica sobre os conflitos relacionados aos chefes desse povo como forma interétnica27 , e relaciona os conflitos

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O citado autor aborda o conflito na cultura Tenetehara, analisando como um indivíduo de dada comunidade manifesta comportamentos que podem ser analisados a partir de atitudes que esse assume em outros momentos. Esse povo, diante dos processos de colonização que lhe foram impostos, ora reagiam de forma política, ora foram guerreiros, reagindo com armas, sempre sabendo administrar os conflitos em defesa de sua cultura, sua terra, sua religião na sociedade. Dessa forma, os conflitos interétnicos seriam as relações entre

internos do grupo a uma forma de respostas aos conflitos externos, em vista da manutenção dos seus territórios e de sua cultura. Os conflitos externos e violentos vividos por esse povo incidem diretamente na forma como se organizam em seus territórios, onde o conflito torna-se uma característica desse grupo, necessário para a manutenção do território e da própria cultura do grupo Tenetehara. As várias formas de violências sofridas por esses povos desde a década de 1970 remetem às comunidades indígenas da região a necessidade em criar formas de organização, articulação, mobilização e formação, na perspectiva da garantia dos seus direitos, dos seus projetos de vida e da própria integridade física e cultural dos grupos.

O Grupo Gavião/ Akrãtikatejê também tem seus conflitos internos, tanto em relação a firmarem a diferenciação entre outros grupos Gaviões, quanto em relação à divisão da área. É um dos povos da região que tem marcado em sua história os deslocamentos ocorridos pelo impacto dos grandes projetos, pois, com a construção da Usina Hidrelétrica de Tucuruí - UHE, tiveram sua área alagada; foram indenizados, mas obrigados a migrarem para outro local. Atualmente, seu território também passa por ameaças de projetos de desenvolvimento da região, como a construção de outra hidrelétrica em Marabá, que possivelmente inundará suas terras.

Esse povo, de acordo com a antropóloga Mariana Guimarães, que tece um belíssimo estudo histórico, político e de memória sobre o Povo Gavião Akrãtikatejê, demonstra várias resistências na luta pela garantia de seus direitos e no entendimento da história de um povo que reflete a história de muitos outros povos indígenas que ainda se encontram invisibilizados e excluídos pelo Estado (GUIMARÃES, 2011).

4.2 ALDEIA GUAJANAÍRA E ALDEIA AKRÃTI 4.2.1. Aldeia Guajanaíra

De acordo com informações da Fundação nacional do Índio (FUNAI/Marabá), a aldeia Guajanaíra localiza-se no município de Itupiranga, a 150 km do município de Marabá. O primeiro grupo indígena chegou à região há 16 anos, oriundo do município de Piçarra