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2. As sentenças com acabar vs. construções passivas

2.2.1 Alexiadou (2005)

A autora mostra que a passiva com get é formada por um verbo leve, get, que recebe como complemento um particípio estativo (um adjetivo) ou um particípio resultativo, como vemos a seguir:

(107) a.The mailbox got empty.

A caixa de correio get pass. vazia.

b. The mailbox got emptied.

A caixa de correio get pass. esvaziar part.

Alexiadou observa que em muitas línguas um significado de passiva é obtido através de uma construção passiva não tradicional. Ela estuda passivas com get, como em (108)b, em oposição às passivas tradicionais, com be, que são eventivas, como em (108)a:

(108) a. John was killed in the war.

John ser pass.3p.sg. morrer part. em a guerra.

b. John got killed in an accident.

John get pass. morrer part. em um acidente.

(Alexiadou, 2005, p. 13)

A autora ressalta que a construção com get e seus cognatos em outras línguas levanta várias questões tanto sobre a análise das passivas, como sobre a distinção padrão entre núcleos lexicais (verbos plenos) e núcleos funcionais (auxiliares), e a existência potencial de núcleos semi-lexicais. Alexiadou sugere que get seja um núcleo semi-lexical no domínio verbal. Get será visto como uma variante semi-lexical de um núcleo lexical, pois:

i) por um lado, lhe faltam propriedades de seleção argumental, o que o aproxima da classe dos verbos auxiliares e fica claro contrastando-se os exemplos da autora em (108)b, repetido aqui em (109), com (110) e (111):

(109) John got killed in an accident. John get pass. morrer part. em um acidente.

(110) Susan got a book. Susan get pass. um livro.

(111) John got Mary blamed for the accident. John get pass. Mary culpar part. por o acidente.

(Alexiadou, 2005, p. 13 e 14)

Em (109), get não parece licenciar o papel-θ do sujeito. Porém, nos outros dois exemplos, (110) e (111), nos quais ele funciona como verbo lexical ou pleno e forma construções que são ativa/causativa, respectivamente, ele parece licenciar estrutura argumental.

ii) por outro lado, get se comporta mais como um verbo lexical do que como um auxiliar e, sob esse aspecto, get mostra um comportamento atípico para auxiliares em vários contextos, incluindo a forma contracta de negativas e formação de interrogativas em inglês.

(112) a. Did he get killed?/

aux.pass. 3p.sg. get pass. morrer part.?/

Was he killed/

ser pass.3p.sg. 3p.sg. morrer part.?/

*Got he killed. get pass. 3p.sg. morrer part.

b. He didn’t get killed/

He wasn’t killed/ 3p.sg. ser pass.3p.sg. neg. morrer part./

*He gotn’t killed.

3p.sg. get aux.pass.neg. morrer part./ (Alexiadou, 2005, p. 15)

A autora, então, discute as propriedades das passivas com get já descritas na literatura. A primeira propriedade apontada mostra que as passivas com get não têm argumento externo implícito, uma vez que são incapazes de controlar orações de finalidade e não podem licenciar advérbios volitivos, como nos exemplos abaixo:

(113) a. The ship was sunk [PRO to collect

o navio ser pass.3p.sg. afundar part. PRO para pegar inf. insurance money].

seguro dinheiro.

b. *The ship got sunk [PRO to collect

o navio get pass. afundar part. PRO para pegar inf. insurance money]17.

seguro dinheiro.

c. The ship got sunk [for John to collect o navio get pass. afundar part. para John pegar inf. Insurance money].

seguro dinheiro. (Alexiadou, 2005, p. 15)

(114) a. The book was torn on purpose. o livro ser pass.3p.sg. rasgar part. de propósito.

b. *The book got torn on purpose.

o livro get pass. rasgar part. de propósito.

(Alexiadou, 2005, p. 15)

Essa propriedade mostra que o argumento externo do VP não tem realização implícita nas passivas com get.

Outra propriedade é que as passivas com get são compatíveis com a ação reflexiva, enquanto as passivas com be não o são, como nos exemplos abaixo:

(115) a. I got dressed (by my mother or by

1p.sg. get pass. vestir part. (por minha mãe ou por myself).

mim mesmo).

b. I was dressed (only by my mother).

1p.sg. ser pass.1p.sg. vestir part. (só por minha mãe).

(Alexiadou, 2005, p. 15)

A autora explica que os três testes anteriores, com as orações de finalidade, com os advérbios volitivos, e com a ação reflexiva, nos sugerem que o particípio envolvido, na verdade, forma uma passiva adjetiva.

Uma terceira propriedade mencionada para a passiva com get é que, quando comparada à passiva com be, a primeira não parece totalmente produtiva, como podemos observar em (116), que mostram que são mal formadas as passiva com get com verbos estativos e com verbos que não formam construções com sujeito afetado, pois as passivas com

get descrevem eventos que têm uma consequência boa ou ruim para o sujeito

(116) a. *The truth got known.

a verdade get pass. saber part.

b. *Mary got feared.

Mary get pass. amedrontar part.

c. *Mary got followed by a little lamb.

Mary get pass. seguir part. por uma pequena ovelha.

d. *Mary got seen.

Mary get pass. ver part.

e. *The electricity light got invented. a eletricidade luz get pass. inventar part.

(Alexiadou, 2005, p. 17)

Assumindo que os particípios das construções com get são particípios adjetivos, Alexiadou discute o tipo de particípio adjetivo que está realmente presente nesta estrutura. Ela

adjetivos aparecem em alguns subtipos dependendo de carregarem implicações de evento ou não. Uma maneira de distinguir esses dois tipos de particípios vem de suas formas. Enquanto na maior parte dos casos, os particípios em inglês são homófonos, também há exemplos nos quais um significado estativo puro, ou seja, um significado destituído de implicações de evento, é mapeado em uma diferente realização fonológica, como mostra (117):

(117) Root Stative Other Participles 1. √ROT rott-en rott-ed

SINK sunk-en sunk 2. √EMPTY empty empti-ed

DRY dry dri-ed (Alexiadou, 2005, p. 18)

De qualquer maneira, é possível combinar ambas as formas com get. O resultado é que as construções formadas diferem na interpretação, como nos exemplos abaixo:

(118) a. The mailbox got empty.

a caixa de correio get pass. vazia.

b. The mailbox got emptied.

a caixa de correio get pass. esvaziar part.

(Alexiadou, 2005, p. 18)

Em (118)a, a caixa de correio se tornou vazia, enquanto que, em (118)b o sujeito de

get é afetado pelo evento descrito no complemento de get, no sentido de que alguém deve ter

Alexiadou mostra outro teste para evidenciar a natureza eventiva ou não do complemento de get, que envolve a distribuição de advérbios. Como podemos ver em (119), o particípio que segue get pode ser modificado por advérbios que modificam o estado resultante, mas não pelos advérbios que trazem interpretação de agentividade/intencionalidade:

(119) a. John got sloppily dressed. John get pass. ridiculamente vestir part.

b. ??The manuscript got carefully destroyed.

o manuscrito get pass. cuidadosamente destruir part. (Alexiadou, 2005, p. 18)

O fato de que apenas os advérbios orientados ao resultado são realmente gramaticais nas construções com get parece sugerir que o complemento de get é um particípio que carrega traços de eventividade, semelhante ao que Kratzer chama de particípio de estado resultante. No entanto, a autora aponta uma diferença importante entre os particípios resultativos e as construções com get: os particípios resultativos não licenciam o agente, a by-phrase, mas as passivas com get sim.

(120) a. *John is arrested by the police.

b. John got arrested by the police. John get pass. deter part. por a polícia.

(Alexiadou, 2005, p. 19)

Para Alexiadou, esses dados sugerem que a by-phrase não é licenciada diretamente pelo particípio resultativo, mas de acordo com os exemplos em (120) acima, parece que get é que está licenciando a by-phrase. Assim, a autora assume que a passiva com get é formada por um verbo leve que recebe como complemento uma frase resultativa (um particípio resultativo). Assume também um tratamento de alçamento para essas construções: o sujeito da construção com get alça para sua posição superficial de dentro da estrutura participial, como em (121):

(121) John got [RP t pushed].

John get pass. empurrar part. (Alexiadou, 2005, p. 20)

Como argumento em favor dessa análise, Alexiadou aponta que get pode separar expressões idiomáticas, como em (122), o que sugere que o sujeito, nessa construção, deve receber seu papel-θ na posição de base.