• Nenhum resultado encontrado

Davies & Dubinsky (2004) e as propriedades gerais de alçamento e controle

4. Um tratamento de alçamento para acabar

4.1 Estruturas de alçamento e de controle

4.1.1 Davies & Dubinsky (2004) e as propriedades gerais de alçamento e controle

D&D (2004) trazem uma análise de sentenças de controle e alçamento dentro da Sintaxe Gerativa. Eles começam a análise considerando duas sentenças muito parecidas do inglês, que apresentam tratamentos sintáticos diferentes: a primeira, em (263)a, é uma sentença de alçamento de um sintagma para a posição de sujeito, e a segunda, em (263)b, é uma sentença de controle de sujeito:

(263) a. Barnett seemed to understand the formula.

b. Barnett tried to understand the formula. (D&D 2004, p.3)

A diferença fundamental entre essas sentenças tem a ver com o sujeito da oração principal. Em (263)a, o sujeito, Barnett, está ligado semanticamente apenas com o verbo da encaixada, understand. Em (263)b, o sujeito, Barnett, está ligado semanticamente com os dois verbos: o verbo da oração principal, try, e o da encaixada, understand. Por isso, dizemos que o sujeito desse último exemplo controla a referência do sujeito da oração encaixada.

Na sequência, eles colocam mais duas sentenças superficialmente parecidas, que também apresentam tratamentos sintáticos diferentes: a primeira, em (264)a, é uma sentença de alçamento para a posição de objeto, e a segunda, em (264)b, é uma sentença de controle de objeto:

(264) a. Barnett believed the doctor to have examined Tilman.

A diferença fundamental entre essas sentenças está no NP que segue imediatamente esse verbo da oração principal. Em (264)a, the doctor está semanticamente ligado somente com o verbo da oração encaixada, examine, enquanto que em (264)b, the doctor está semanticamente ligado tanto ao verbo da oração principal, persuade, quanto ao verbo da encaixada, examine.

Os autores apresentam uma série de argumentos para mostrar as distinções empíricas entre predicados de alçamento e de controle. Eles mostram que, apesar da semelhança superficial de ordem de palavras e morfologia, essas construções se diferenciam de várias formas, muitas delas relacionadas ao significado. Para a diferenciação entre controle e alçamento, eles apontam os seguintes testes:

i) construções de controle e alçamento têm estruturas temáticas diferentes.

(265) It seemed that Barnett understood the formula. (D&D 2004, p.4)

No caso de verbos intransitivos, o sujeito da oração matriz parece ter papel relacionado apenas ao complemento. O exemplo em (263)a é equivalente ao exemplo acima.

Barnett tem papel-θ de experienciador como sujeito de understand. Já it não recebe papel-θ, uma vez que é um elemento semanticamente vazio, o que mostra que seem não precisa atribuir papel-θ para seu sujeito. No exemplo em (263)b, Barnett parece ter dois papéis temáticos na sentença, um de experienciador de understand e outro como agente de try. O verbo de controle try, diferentemente do de alçamento seem, atribui papel-θ para seu sujeito. Assim, nesses casos, deve haver um PRO controlado pelo sujeito, Barnett, nessas sentenças.

No caso de verbos transitivos de alçamento e de controle há uma diferença semelhante. O exemplo em (264)a é equivalente ao exemplo abaixo:

(266) Barnett believed that the doctor had examined Tilman. (D&D 2004, p.5)

Nesse exemplo, the doctor tem papel de agente ou examinador. Já no exemplo em (264)b, the doctor tem dois papéis, o de agente do verbo da oração encaixada, examine, e outro como objeto de persuade. Esse é, novamente, um caso no qual deve haver um PRO controlado, nesse caso pelo objeto, the doctor.

ii) Passiva como complemento da oração.

Nas construções de alçamento, uma sentença com um complemento passivo é sinônima da mesma sentença com um complemento ativo, tanto com verbos intransitivos, como em (267), quanto com os transitivos, como em (268):

(267) a. Barnett seemed to have read the book.

b. The book seemed to have been read by Barnett. (D&D 2004, p.5)

(268) Barnett believed Tilman to have been examined by the doctor.

(D&D 2004, p.6)

O exemplo em (268) é sinônimo do exemplo em (264)a.

Com um verbo intransitivo de controle, uma sentença com um complemento passivo não é sinônima da mesma sentença com um complemento ativo, como os autores mostram nos exemplos que colocamos em (269) e, em alguns casos, nem é possível, como nos

(269) a. The doctor tried to examine Tilman. b. Tilman tried to be examined by the doctor.

(270) a. Barnett tried to read the book.

b. #The book tried to be read by Barnett. (D&D 2004, p.5)

Em (269)a, quem tentou alguma coisa foi o médico; já em em (269)b, quem tentou alguma coisa foi o Tilman, de forma que essas sentenças não são sinônimas. Em (270)b, o argumento externo teria de ser volitivo para poder tentar (try) alguma coisa, ou seja, o verbo

try seleciona um argumento volitivo, animado para sua posição de sujeito.

Os autores mostram que o mesmo ocorre com verbos transitivos de controle: uma sentença com um complemento passivo não é sinônima da mesma sentença com um complemento ativo. Os autores comparam o exemplos a seguir com aquele em (264)b:

(271) Barnett persuaded Tilman to be examined by the doctor. (D&D 2004, p.6)

Em (264)b, the doctor é que é persuadido; já em (271), Tilman é que é persuadido.

iii) as restrições de seleção do predicado da oração encaixada é que determinam a boa formação da sentença.

Os autores mostram que, por razões semânticas, muitos predicados pedem que um ou outro argumento tenha propriedades específicas, como em (272):

(272) a. The rock is granite.

b. #The rock understands the important issues of the day. (D&D 2004, p.6)

Eles explicam que be granite seleciona um sujeito que possa, de fato, ser granito. Em (272)b, o predicado understand seleciona um sujeito que seja racional, por isso, é semanticamente agramatical. Ainda, eles apontam que essa restrição de seleção ajuda a distinguir construções de controle das de alçamento: nas construções de alçamento, as restrições do predicado na oração encaixada é que determinam a boa formação semântica da sentença; por outro lado, nas construções de controle são as restrições do predicado de controle que determinam a boa formação semântica da sentença. Os exemplos com predicados de alçamento e controle intransitivos, em (273) e (274), e transitivos, em (275) e (276), respectivamente, ilustram essa propriedade:

(273) a. The rock seems to be granite.

b. #The rock seems to understand the important issues of the day.

(274) a. #The rock tried to be granite.

b. #The rock tried to understand the important issues of the day.

(275) a. Barnett believed the rock to be granite.

b. #Barnett believed the rock to understand the issues of the day.

(276) a. #Barnett persuaded the rock to be granite.

Nas construções de alçamento, em (273) e (275), quando as restrições selecionais do predicado da oração encaixada são satisfeitas, a sentença é bem formada, caso contrário, ela não o é. Nas construções de controle, em (274) e (276), é o verbo de controle que seleciona o argumento externo, então são as restrições selecionais desse predicado de controle que tem que ser satisfeitas.

iv) it utilizado em expressões meteorológicas e there existencial.

It utilizado em expressões meteorológicas e there existencial podem ser o sujeito do

predicado de alçamento, intransitivo ou transitivo, mas não do predicado de controle, como os autores mostram nos exemplos a seguir:

(277) a. It seemed to be raining.

b. There seems to be a unicorn in the garden.

(278) a. *It tried to be raining.

b. *There tried to be a unicorn in the garden.

(279) a. Barnett believed it to have rained.

b. Barnett believed there to be a unicorn in the garden.

(280) a. *Barnett persuaded it to have rained.

It e there são elementos pleonásticos, ou seja, são semanticamente vazios. Assim

sendo, eles podem figurar como sujeito ou objeto de verbos de alçamento, mas não de verbos de controle, pois os últimos atribuem papel-θ para essas posições.

v) expressões idiomáticas.

Construções de alçamento são possíveis com expressões idiomáticas, enquanto construções de controle não são. Os autores mostram o seguinte exemplo:

(281) The cat is out of the bag. (D&D 2004, p.8)

Cat nessa expressão tem um sentido especial, significa segredo. Assim, temos:

(282) a. The cat seemed to be out of the bag. b. ?The cat tried to be out of the bag.

c. Tina believed the cat to be out of the bag by now.

d. ?Tina persuaded the cat to be out of the bag. (D&D 2004, p.8)

Com as construções de alçamento o significado especial é mantido, porém com as sentenças de controle a única interpretação possível é a literal, na qual the cat tem seu significado normal.