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O Brasil tem significativo desafio no campo da alfabetização, visto o número preocupante de pessoas não alfabetizadas, que no ano de 2010 era de, aproximadamente, 18,8 milhões (FERRARO, 2009).

Diante deste dado e do contexto histórico do analfabetismo no país, destaco algumas políticas voltadas à superação desse processo de exclusão, dentre elas a ampliação do Ensino Fundamental de nove anos.

A política de ampliação do Ensino Fundamental para nove anos de duração, com ingresso das crianças aos seis anos, segundo o documento “Ensino Fundamental de Nove Anos – Orientações Gerais” (2004) do Ministério da Educação (MEC) - é um movimento mundial, sendo que a antecipação do acesso das crianças “é uma medida contextualizada nas políticas educacionais focalizadas no Ensino Fundamental.” Tem como objetivo, segundo o documento, assegurar a todas as crianças um tempo mais longo de convívio escolar, maiores oportunidades de aprender e, com isso, uma aprendizagem mais ampla. A ampliação encontra fundamentação legal no Plano Nacional de Educação para a vigência 2001/2011. Tal Plano estipula a meta nacional de ampliação gradativa do Ensino Fundamental com intenções de ampliar as oportunidades de aprendizagem no período da escola obrigatória, investindo na inclusão das crianças de seis anos no Ensino Fundamental.

O MEC publicou outros documentos orientadores dessa política. Dentre eles, o caderno A criança de 6 anos, a linguagem escrita e o Ensino Fundamental de Nove Anos,

Passo a passo da implementação do ensino fundamental de nove anos, Ensino Fundamental de nove anos: 1º e 2º Relatórios e Orientações para a inclusão da criança de seis anos de idade.

Além da política de ampliação do Ensino Fundamental, outras políticas são indicadas pelo MEC como políticas que têm foco na qualidade na educação, tais como os programas para correção de fluxo (distorção idade/série), avaliação em larga escala como Prova Brasil e Provinha Brasil, as transferências voluntárias e assistência técnica a municípios a partir da adesão ao Plano de Metas Compromisso Todos pela Educação e elaboração do Plano de Ações Articuladas, programas de inclusão digital, educação inclusiva; apoio e assistência aos alunos e escola, como o Programa Dinheiro Direto na Escola, Programa de Livro Didático e Bibliotecas Escolares e os programas de valorização profissional e formação de professores.

Dentre os programas, merece destaque a Provinha Brasil, realizada desde o ano de 2008, que segundo o MEC, tem como objetivo avaliar o nível de alfabetização dos educandos

nos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, oferecer às redes de ensino um resultado da qualidade da alfabetização, prevenindo assim o diagnóstico tardio dos déficits de letramento e concorrer para melhoria da qualidade de ensino e redução das desigualdades, em consonância com as metas e políticas estabelecidas pelas diretrizes da educação nacional.

A Provinha consiste em um instrumento de avaliação do nível de alfabetização em língua portuguesa após o primeiro ano de escolarização, cabendo às escolas a aplicação e análise dos resultados.

Em relação ao novo Ensino Fundamental, foram aprovadas as Leis nº 11.114/2005 e 11.274/2006, que alteram a LDB, tornando obrigatória a matrícula das crianças de seis anos no Ensino Fundamental e que amplia o Ensino Fundamental para nove anos de duração, estabelecendo o ano de 2010 como prazo máximo para implementação pelos sistemas de ensino (BRASIL, 2005, 2006).

Diante deste quadro, cabe destacar a atuação do Conselho Nacional de Educação (CNE) frente à política nacional de educação. O CNE, segundo dados do site oficial, tem por “missão a busca democrática de alternativas e mecanismos institucionais que possibilitem, no âmbito de sua esfera de competência, assegurar a participação da sociedade no desenvolvimento, aprimoramento e consolidação da educação nacional de qualidade”.

Dentre as atribuições, ainda segundo o site, estão as normativas, deliberativas e de assessoramento ao Ministro da Educação, assim como “formular e avaliar a política nacional de educação, zelar pela qualidade do ensino, velar pelo cumprimento da legislação educacional e assegurar a participação da sociedade no aprimoramento da educação brasileira”.

Cabe salientar que o Conselho Nacional de Educação, no ano de 2004, manifestou-se acerca desta temática por meio do Parecer CNE/CEB nº 24, que tratava de estudos visando ao estabelecimento de normas nacionais para a ampliação do Ensino Fundamental. Na sequência, exarou o parecer CNE/CEB nº 06, de 08 de junho de 2005, que sinalizava a necessidade do regime de colaboração entre os sistemas de ensino estaduais e municipais, bem como garantia da implementação do novo Ensino Fundamental como direito público subjetivo; destacava que caberia aos sistemas estabelecer se o primeiro ano se destinava ou não à alfabetização dos alunos. Outra questão apontada pelo referido Parecer implicava na importância de construção de um Projeto Político-Pedagógico próprio a este novo Ensino Fundamental.

A partir desse cenário, houve a necessidade de reorganização das etapas de ensino que compõe a Educação Básica. O CNE publicou a Resolução CNE/CEB nº 03, em 03 de agosto de 2005, definindo normas nacionais para a ampliação do Ensino Fundamental de nove anos

de duração: a Educação Infantil compreendendo a faixa etária até cinco anos de idade e o Ensino Fundamental compreendendo a faixa etária dos seis aos 14 anos, organizado de forma que os cinco primeiros anos correspondam aos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, e os quatro últimos, os Anos Finais.

Na continuidade, outros Pareceres orientaram a ampliação do Ensino Fundamental, dentre eles, o Parecer CNE/CEB 18/2005 que orientou os sistemas acerca da matrícula das crianças de seis anos de idade no Ensino Fundamental obrigatório, o Parecer CNE/CEB nº 5/2007, reexaminado pelo Parecer CNE/CEB 7/2007 que tratou de consulta com base nas Leis nº 11.114/2005 e n° 11.274/2006, que se referem ao Ensino Fundamental de nove anos e à matrícula obrigatória de crianças de seis anos no Ensino Fundamental.

Além destes marcos, no ano de 2008, novamente o CNE publicou Parecer (CNE/CEB nº 4/2008) reafirmando a importância da criação de um novo Ensino Fundamental, estipulando o ano de 2009 para que os sistemas que ainda não efetivaram a ampliação, planejassem a implementação desta política. Neste Parecer reiterou, entre outros aspectos, as normas para o redimensionamento da Educação Infantil e orientou os sistemas a organizarem o chamado “ciclo da infância”, compreendido como os três primeiros anos do Ensino Fundamental, período destinado ao processo de alfabetização e letramento.

Ressalta-se que as novas Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental de nove anos foram estabelecidas no Parecer CNE/CEB nº 11/2010 e na Resolução nº 1/2010. Tais Diretrizes tratam a ampliação do Ensino Fundamental como importante no processo de alfabetização e letramento das crianças, visto o alargamento dos tempos/espaços. Da mesma forma, reiteram a existência um bloco destinado à alfabetização, considerando os três anos iniciais do Ensino Fundamental como um bloco pedagógico ou um ciclo sequencial não passível de interrupção.

As referidas Diretrizes apontam que o Ensino Fundamental deve assegurar, dentre outros aspectos, alfabetização e o letramento e “a continuidade da aprendizagem, tendo em conta a complexidade do processo de alfabetização e os prejuízos que a repetência pode causar no Ensino Fundamental como um todo, e, particularmente, na passagem do primeiro para o segundo ano de escolaridade e deste para o terceiro”.

No campo das políticas educacionais, a ampliação do Ensino Fundamental para nove anos, em cumprimento à Lei nº 11.114/2005 e Lei nº 11.274/2006, foi realizada pela rede municipal em estudo, no ano de 2006, sendo que no ano de 2005, durante um encontro de formação continuada com supervisores e orientadores educacionais das escolas municipais foi realizado convite para que participassem de um grupo de estudos para a implementação do

novo Ensino Fundamental no ano seguinte. Participaram deste grupo nove escolas e equipe da Secretaria Municipal de Educação. No final do ano, os estudos e proposições foram publicados no Caderno Temático Saberes Pedagógicos em Movimento v.5 “Ensino

Fundamental de nove anos”, distribuído às escolas e aos professores.

O documento sinalizava que “a alfabetização deverá ser construída ao longo dos anos iniciais do ensino fundamental, não se restringindo ao 1º ano, sendo um compromisso da escola como um todo, envolvendo todos os seus segmentos”14; alertava que a o Plano de Estudos contido no documento não representava uma imposição legal, mas era uma possibilidade de trabalho para o ano de transição.

Destaco, ainda, que em 2006, antes do início do período letivo, ocorreu encontro de formação continuada com a participação dos professores que trabalhavam com as primeiras séries e equipes diretivas. Nesse encontro, com participação de representantes do Conselho Nacional de Educação e de uma Universidade da Região Metropolitana, os professores participaram da discussão que tratou do contexto da produção das leis e normas complementares, bem como das discussões acerca da necessidade de um trabalho pedagógico que contemplasse as especificidades do novo Ensino Fundamental.

Nesse mesmo ano, o Conselho Municipal de Educação (CME) emitiu Parecer orientando o Sistema Municipal de Ensino sobre essa ampliação e o ingresso da criança aos seis anos. Tal Parecer foi exarado após consulta feita às escolas e mantenedora, bem como após a realização de Audiência Pública para apreciação e considerações dos trabalhadores em educação e demais órgãos do Sistema de Ensino.

O referido Parecer reafirmou que o trabalho pedagógico nos Anos Iniciais deveria priorizar a alfabetização e o letramento, sendo que o 1º ano não se destinaria apenas ao processo de alfabetização, deveria propiciar um ambiente pedagógico adequado ao início desse processo, desenvolvendo-o de forma lúdica, com atividades múltiplas, respeitando as especificidades da criança, com propostas que possibilitassem o desenvolvimento das diversas expressões e acesso ao conhecimento, de forma contextualizada e oportunizando às crianças “maiores condições de atuar como cidadãos nos espaços e tempos além da escola”. No que se refere à formação continuada, o Parecer indica que a mantenedora da escola pública e as escolas devem assegurar processos de formação em serviço estabelecendo “tempos e espaços sistemáticos de reflexões coletivas, discussões, debates, estudo e investigação acerca da

14 SMED. Caderno Temático Saberes Pedagógicos em Movimento: Ensino Fundamental de nove anos. v. 5, 2006. p. 6. (Material distribuído nas escolas).

especificidade das práticas pedagógicas” no sentido de envolver a todos na implementação do Ensino Fundamental de nove anos.

Além da manifestação do CME, o 3º Congresso Municipal de Educação realizado no ano de 2007 reafirmou a mesma orientação à rede municipal, estabelecendo que a alfabetização e o letramento “[...] deverão ser construídos nos anos iniciais do ensino fundamental possibilitando ao educando ler e escrever com autonomia e inserção e participação na cultura escrita, indispensáveis ao pleno exercício da cidadania.” (Tese principal 10, p. 24).

No ano de 2010, o CME manifestou-se novamente, orientando o Sistema acerca da continuidade da trajetória escolar aos alunos do ciclo inicial de alfabetização, compreendido como os três primeiros anos do Ensino Fundamental.

Para a continuidade das reflexões que envolvem as políticas voltadas à alfabetização, de forma específica acerca dos marcos regulatórios vigentes no país, entendo como pertinente trazer à discussão o papel dos Conselhos de Educação, a partir do que se denomina como “boa governança” e a noção de campo, no sentido de avaliarmos a trajetória das políticas e os desafios colocados ao contexto da prática.