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O Projeto Político-Pedagógico, enquanto documento, expressa a escola que queremos, expressa os sonhos da comunidade em relação à educação escolar das crianças e adolescentes que dela fazem parte. A sua materialização requer também a articulação dos projetos de formação continuada na escola com os pressupostos acordados e documentados no PPP. Assim, a ação supervisora tem significativa contribuição na mediação dos processos de formação, construindo com o grupo possibilidades de superação da distância da escola que

temos para a escola que queremos. E, entre essas duas perspectivas, atuar no campo da escola possível, com suas contradições, desafios e possibilidades. É na cotidianidade que o PPP vai

sendo construído e que podemos analisar os desafios e possibilidades também da ação supervisora. Os recortes das observações22 do cotidiano da escola e suas sínteses precárias nos auxiliam na análise da escola possível.

1º: Espaço físico do Serviço de Supervisão Escolar: dentro da sala dos professores, com mesa, cadeira, armário, mural e computador. Observo os cadernos de chamada sob a mesa. No mural dos professores um aviso sobre o “dia dos perdidos”, referindo-se aos alunos que não estavam presentes nas avaliações. A supervisora organiza os cadernos de chamada. Falou da falta de documentos no setor devido à saída de outra supervisora. Alerta que “não adianta ter Mestrado se na prática não te ajudar”. Encaminha junto aos alunos a situação de falta de uma professora. Uma professora chega e abraça a supervisora falando das divergências vividas. A supervisora disse que as divergências eram no campo teórico. É solicitada, pela diretora, que substitua uma turma para que possam atender a professora. A supervisora informa que a formação com professores já iniciou, mas que ainda não foi elaborado o projeto de formação.

2º: A supervisora informa, durante o recreio, que nesta data haverá reunião com professores dos Anos Iniciais e a professora da Sala de Recursos Multifuncional, sendo este o motivo para que os alunos saiam mais cedo. A temática será inclusão. Algumas professoras, evidenciando descontentamento, questionaram porque ficariam na reunião, visto que não têm alunos “incluídos”. A supervisora esclareceu que poderão ter no futuro.

3º: A supervisora prepara a reunião sobre indisciplina que acontecerá no próximo dia. Trata-se da exibição de um DVD de Celso Antunes. É interrompida por ligações telefônicas.

4º: Uma formação. Participam professores da escola, direção, supervisora e orientadora, em círculo. As questões iniciais são pautadas e encaminhadas pela diretora: agradecimentos aos docentes pela participação em uma rifa, combinados sobre o uso do grampeador “alunos que não sabem usar”, buscando a ajuda dos professores, combinados sobre o “kit” de materiais que os professores receberão e sobre o café. Na sequência, a supervisora trata do por quê da escolha da temática indisciplina, referindo-se aos temas escolhidos pelos professores. Informa que será uma formação bem light, fala da obrigatoriedade das escolas em fazer a formação: temos

que fazer nossa formação. A diretora retoma e relata sobre um encontro realizado pelo

vai estourar na nossa mão, referindo-se ao processo de inclusão dos alunos. Destaca

que os professores precisam do conhecimento e vão estudar. Pronunciou palavras de apoio aos professores, como eles estão certos, em relação ao trabalho realizado e falou das dificuldades das famílias em relação aos limites, tratando da importância de

darmos novo olhar para eles. A supervisora dá continuidade dizendo que a formação

era para ninguém sofrer, ajudar aos professores e que pensam em uma formação para

sorrir um pouco. A orientadora educacional apresentou o contexto do vídeo, falou

sobre Celso Antunes e na necessidade de uma parada para refletir. A abertura foi com uma mensagem de Paulo Freire. A supervisora, mostrando-se preocupada com os professores, questionou querem que adiante (o DVD)? E na sequência disse que já estava no final da projeção. Uma professora disse que o horário é que cansa. No debate logo após a projeção, a temática ficou centrada no papel da família e interlocução com a escola: família participar das regras da escola é arriscado; o pai

vem esperando da escola uma solução, não nos cabe entrar no núcleo familiar, eles vem e jogam pra ti; uma professora fala relacionando também sua realidade em casa: antes era uma TV na sala e um computador em casa, isso acontece na nossa casa. Diz

que vive individualmente no coletivo e pergunta: qual a referência que temos de casa?

Tudo é legal, vivemos em uma sociedade em mudança, isso é fato. A supervisora

intervém: qual a referência dão às crianças? A família não faz, talvez a única opção

seja que a gente olhe para ele. Ainda são debatidos, entre outras, pelos professores: mães não olham a agenda; mães estão cada vez mais parecidas com as filhas; é só lanche em casa; as crianças não sabem quem vem buscar. Uma professora disse que o

vídeo não se adaptava à realidade da escola: aqui está havendo certa maldade entre

eles, intolerância. A supervisora afirma que o objetivo do vídeo era mostrar um

paralelo com a prática da escola e passou a tratar da avaliação das formações realizadas no chamado 4º turno, durante a carga horária dos professores. Após dúvidas dos professores sobre a carga horária da formação, afirmou que estão pensando em uma formação gastronômica e concluiu a formação.

Os recortes selecionados possibilitam uma análise acerca da cotidianidade da ação supervisora. Com espaço compartilhado com a sala dos professores, o que ainda representa um desafio à escola e à mantenedora, visto que as normativas que tratam dos processos de credenciamento e autorização de escolas, no Sistema de Ensino, alertam para a especificidade do trabalho e a necessidade de sala adequada. O trabalho da supervisora fica caracterizado

pela urgência em atender demandas da escola, como substituição de professor, encaminhamentos acerca da falta de professor titular e preparação das formações num pequeno intervalo de tempo.

Com respeito a esta questão, importa retomar a necessidade do trabalho coletivo e compartilhado na escola diante do movimento do real e na configuração de uma instituição comprometida com a emancipação dos segmentos da comunidade escolar, de forma específica, neste quadro, os professores e alunos. A análise da formação continuada com professores na escola, centralidade desse último recorte, requer algumas considerações iniciais e posterior diálogo com os dados das entrevistas, conforme o que segue.

8.3 A FORMAÇÃO CONTINUADA NA ESCOLA: POR UMA RESSIGNIFICAÇÃO DO