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Algumas agências de Localização: a situação e m Portugal

2.1 Localização: definição

2.1.4 Algumas agências de Localização: a situação e m Portugal

Entre os países onde é feita localização de muitos dos produtos informáticos destinados aos mercados europeus, a Irlanda revela-se um dos centros mais importantes a nível internacional46. Aí proliferam agências de localização para que são seleccionados, entre outros,

45 Pinkus (1999), gestor do motor de busca Ask Jeeves International, secunda esta opinião ao apresentar um

exemplo concreto dessa desvalorização: «If the Internet and globalization are the defining trends of our time, why is localization so undervalued? It may be good to be a translator, but not so when you are growing your business. To give just an example, VA Iinux recently went public with a 700% increase in the stock price, but the same cannot be said of localization.»

46 Foi na filial irlandesa da Microsoft que foram localizadas, testadas e produzidas as edições do sistema

operativo Windows 95 destinadas à Europa, à excepção da versão germânica que foi efectuada nos EUA (Kano 1995).

alguns tradutores portugueses. Ao consultar a publicação Localisation Ireland na Internet, constatámos que aproximadamente 60% do software para computadores pessoais vendido na Europa é localizado na Irlanda, sendo este país considerado o segundo maior exportador mundial de software, logo após os EUA (Schàler 1997: 1). Apied, responsável pela Trinity Foundation, em entrevista concedida à Newsweek, aponta precisamente para esse papel capital da Irlanda:

We [Ireland] missed the Industrial Revolution of the 19th century, but we have found our position in the global economy of knowledge-based industry. We have a large multinational presence in Ireland. (Apied 1999: 70)

Em relação ao discurso dos próprios localizadores e da localização de software, Pym (1999: 6) refere um aspecto que julgamos significativo e que ajuda, em parte, a compreender a posição cimeira da Irlanda: por enquanto apenas na Irlanda existem cursos de formação em localização, em departamentos de ciências computacionais. Refere, além disso, que nas áreas da tradução e nas escolas de tradução47 ainda não existem computadores suficientes ou técnicos especializados para o ensino da localização integrado em cursos de tradução.

Para se localizarem produtos destinados ao mercado português, são contratados tradutores portugueses4 por empresas especializadas em localização de software, tais como as irlandesas SLIG4 e LRC50, a ITP51, mas também as internacionais Lemout & Hauspie52, a Berlitz e a SDL. Esta última abriu inclusivamente uma agência de localização nos países

47 Será de lembrar aqui a criação, na Universitat Rovira i Virgili em Tarragona, Espanha, de um curso

denominado «Masters and Postgraduate diploma in Technical Translation (Spanish-English)», que abordará as seguintes áreas viradas para o novo mercado de tradução: «Use of electronic tools - Software and website localization - Technical writing - Revision techniques - Translator-client relations».

48 Não temos certezas quanto a remunerações auferidas pelos tradutores em projectos de localização;

contudo, segundo mensagem enviada em 23 de Julho de 1999 por correio electrónico ao autor do presente trabalho, Lessing refere o seguinte: «[...] a Microsoft paga um ordenado fixo por mês (algo como 300-400 cts.); todavia, só a interface é feita na MS, e só a dos sistemas operativos. A ajuda etc. são feitas por agências. Nas agências, o preço varia radicalmente. O ordenado ao mês pode variar entre 130 cts. e 400 cts., a média rondará os 200 cts. A ajuda etc. é frequentemente dada a tradutores externos, e aí o preço varia de 4$00 a 11?00 por cada palavra inglesa.» Não podemos pôr de lado a tentação de comparar estes valores com os preços «Mínimos praticados no mercado nacional» que o Jornal da APT sugere. Por exemplo, os valores que as publicações de Janeiro/ Março 1998 ou de Outubro/Dezembro 1998 propõem como mínimos a cobrar por tradução técnica, por linha (10 palavras ou 60 caracteres), apresentam valores bem mais elevados do que os apontados por Lessing para «tradutores externos». Se fizermos as contas, o valor proposto pela APT pode ser até cinco vezes superior ao mínimo referido por Lessing.

49 SLIG - Software Localisation Interest Group (acessível apartir de http.//lrc.ucd.ie). 50 LRC - Localisation Resources Center (acessível em http.//lrc.ucdJe).

si ITP . International Translation & Publishing LTD (www.itp.ie).

52 Acessível em www.lhs.com. 53 Acessível em www.berlitz.com.

escandinavos para corresponder à produção desenfreada de novos produtos relacionados com as TI que se vem notando nessa zona da Europa e às consequentes necessidades de localização (SDL2000).

Em termos gerais, pensamos que em Portugal ainda se nota certo atraso em relação aos países com mais incentivos ao desenvolvimento tecnológico nas mais diversas áreas; ainda assim, já estivemos mais longe dos nossos parceiros «desenvolvidos». Essencialmente, parece-nos que no nosso país os empresários estão a começar a reconhecer a utilidade de um meio de comunicação como a Internet, mas não pensaram ainda na verdadeira internacionalização dos seus produtos e na possibilidade de se criarem lojas virtuais com montras viradas para os olhos de todo e qualquer cliente mundial. Desde que se tenha acesso às componentes materiais necessárias, ao público e à Internet, e para se construir um sítio rentável e continuamente dinâmico, terá de se proporcionar produtos com textos de boa qualidade a todos os níveis, sem erros, sem imprecisões terminológicas, sem que o texto posto à disposição mostre quaisquer atropelos às convenções e valores próprios das culturas alvo respectivas 4, recorrendo-se a uma linguagem que demonstre um claro equilíbrio do que se considera natural e rigoroso nessa mesma cultura e língua. Para que essa «montra» da empresa moderna se torne numa realidade «virtual», não se poderá pedir ao técnico de informática que crie as versões francesa, inglesa, espanhola, russa, etc. Isso terá de se solicitar a um tradutor profissional ou a um gabinete especializado em internacionalização/localização55. Em Portugal existem algumas agências que prestam esses serviços: por exemplo a Acento 22, a Lemout & Hauspie, a EMTI e a HCR56.

54 Acerca das características que a informação a disponibilizar via Internet deve apresentar, salientamos as

indicações de Coe (1996: pp. 222-224, 267-268) que são elucidativas a este respeito.

55 É de referir que no simpósio realizado em linha entre os dias 19 e 25 de Janeiro de 2000, organizado por

Pym, entre outros, se notou que a maioria dos tradutores e dos estudantes de tradução noutros países fazem um uso constante das novas tecnologias e das novas ferramentas informáticas, tal como se se tratasse de ferramentas vulgares que ajudam à tarefa do tradutor, ainda que também tenham surgido algumas dúvidas face à utilidade das ferramentas informáticas dentro do espaço reservado à aprendizagem dos processo de tradução.

Em relação ao que se vai fazendo em Portugal no domínio da localização57, e comparando com o que se passa noutros países, a maioria dos engenheiros informáticos envolvidos não terá, nem num caso nem no outro, formação suficiente em línguas ou em tradução. Esses profissionais não reconhecem os processos e estratégias a que o tradutor lança mão para chegar a determinada solução e não a outra; não sabem tomar decisões exclusivamente linguísticas com implicações não apenas semânticas, mas também pragmáticas; não sabem adoptar uma atitude tradutológica equilibrada perante a tensão contínua que se estabelece entre a escolha do que é típico em LC e o que exige a precisão e rigor terminológicos de que os destinatários carecem. Uma vez que esses técnicos não dominam (porque também não parece serem, para já, da sua competência) os aspectos supramencionados, entre outros, e dado que neles recai parte da responsabilidade nos projectos de localização, talvez possamos afirmar que também são responsáveis, em parte, pela invasão constante da nossa língua por termos estrangeiros, principalmente provenientes da língua inglesa58. Poderá ser positivo deixar que cada elemento da equipa cumpra a sua função segundo os critérios definidos. Uma outra alternativa é esperar um pouco mais, até que surjam técnicos especializados e competentes nas duas áreas, linguística e informática, como Kano (1995) e O'Donnell (1994) propõem um desiderato também expresso nas palavras de Esselink:

Because the localization industry grows at a yearly basis of 30%, the need for localization specialists is more obvious than ever. Translators need more computer knowledge, engineers need more language skills. (1998: 7).

57 Apesar de Portugal demonstrar algum atraso relativamente à globalização dos produtos, da

internacionalização e da divulgação dos mesmos via Internet, pode-se constatar que já conseguimos progredir em termos de etapas tecnológicas, ultrapassando fases por que outros países mais desenvolvidos tiveram de passar. Prevê-se que na Africa e na China se possa vir a verificar também um salto de várias etapas tecnológicas; relativamente aos telefones, pensa-se em passar de imediato à fase que agora se vive nos países tecnologicamente mais desenvolvidos: a era dos telemóveis, dos telefones digitais e das telecomunicações via satélite. Desta forma poder-se-ão poupar recursos naturais, entre outras vantagens (Gates 1995: 337).

58 Numa das mensagens electrónicas enviadas para o simpósio em linha organizado por Pym, Jussara

Simões (tradutora brasileira - http://www. translationpoint.com) afirma que um dos principais problemas no campo da informática se refere aos técnicos destas áreas. Salienta que no momento de redacção de textos nas suas línguas, uma vez esses técnicos desconhecem total ou parcialmente a sua língua e/ou os seus mecanismos de formação de novas palavras, optam pela solução mais óbvia: utilizam o termo estrangeiro, alegando posteriormente que é àquele termo (em inglês ou francês) que está associado determinado conceito e não a um termo de LC.