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ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A DENSIDADE URBANA E A DISPERSÃO DAS CIDADES

População residente por situação de domicílio Brasil 1940/

ABAST DE ENERGIA ELÉTR 929,05 20,

3.7 ALGUMAS CONSIDERAÇÕES SOBRE A DENSIDADE URBANA E A DISPERSÃO DAS CIDADES

Os espaços urbanos que admiramos por sua beleza e harmonia estão em regiões que possuem um alto grau de adaptabilidade e visibilidade, fatores fundamentais da sustentabilidade. Assim verificamos nos tecidos antigos, facilmente reconhecidos por suas praças e cidades, em geral lugares com sentido estético e social que, além da dimensão artística, tinham uma forma única de circunscrever um espaço próprio à vida pública.

(ROMERO, 2011: 153-154)

A estrutura espacial de uma cidade é muito complexa, pois é o resultado físico das interações sutis ao longo de décadas ou séculos entre os mercados de terra, topografia, infraestrutura, regulamentos, tributação. Assim, a complexidade das estruturas espaciais urbanas, por muitas vezes, desencorajam tentativas de análise nos seus processos, inibindo a busca de ferramentas de planejamento que possam relacionar a política urbana à forma da cidade e à atuação do mercado (BERTAUD, 2003). A falta de monitoração da evolução urbana moldada pela interação complexa entre as forças de mercado, investimentos públicos e regulamentos, geram aspectos espaciais de desenvolvimento urbano que podem ter impactos importantes na eficiência econômica, na densidade e na qualidade do ambiente urbano.

Acioly & Davidson (1998: 16) afirmam que a densidade urbana é um dos mais importantes indicadores e parâmetros de desenho urbano a ser utilizado no processo de planejamento e gestão dos assentamentos humanos. A densidade representa o número total da população em uma área específica que, no âmbito urbano, pode ser traduzido em habitantes por uma unidade de

terra ou solo urbano, ou o total de habitações de uma determinada área urbana expressa em habitações por uma unidade de terra, geralmente medida em hectares (ha)41, quilômetros quadrados (km²) ou acres.

A densidade é muito utilizada como uma ferramenta de apoio ao processo de planejamento urbano e regional, determinando decisões de projetos para ocupação e parcelamento por parte de planejadores, arquitetos urbanistas e engenheiros quando se define a forma e a extensão a ser ocupada ou loteada em uma determinada área da cidade. A densidade urbana também é muito utilizada como instrumento de avaliação da eficiência, performance e custos proporcionais por habitante das propostas urbanísticas, de infraestrutura ou de parcelamento e uso do solo. Porém, a mesma densidade urbana é um indicador controverso, pois é reflexo de determinantes culturais que se refletem sobre a construção do espaço urbano numa determinada região ao longo do tempo.

Pergunte a um planejador indiano o que é que ele pensa a respeito de um lote de 100m² para famílias de baixa renda e ele responderá que esse tamanho de lote é demasiadamente grande e, portanto, inacessível financeiramente. Seu colega da África Oriental ou Cone Sul da África, entretanto, argumentará que esse tamanho é demasiadamente pequeno e inaceitável por parte da população. A resposta poderá ser “nós não lutamos pela independência e contra o colonialismo para reduzir nossos standards e padrões”. Mesmo dentro de um mesmo país, grupos sociais diferentes irão perceber a questão da densidade diferentemente. O que as pessoas sentem ou vêem depende muito de suas próprias origens sociais, econômicas e étnicas, e,

até certo ponto, da configuração, forma e uso da construção e do espaço urbano.

(ACIOLY & DAVIDSON, 1998: 15)

Todavia, consideradas tais particularidades culturais, entende-se que a densidade é uma importante característica urbana, bastante estudada em alguns países e que pode definir a eficiência da dinâmica da cidade frente a diversos aspectos promotores e potencializadores da qualidade urbana e acesso das pessoas à um espaço na urbe. Sob o aspecto da economia urbana, uma cidade é um grande produtor e consumidor do mercado, assim, quanto maior o tamanho da cidade, maior o tamanho do mercado, menor os custos das operações e mais próspera é a economia. A densidade tem um papel elementar nessa discussão, pois o surgimento de deficiências na estrutura espacial aumenta o cumprimento da rede de infraestrutura da cidade, aumentando-se também os investimentos do capital e seus custos operacionais. Desta maneira, uma estrutura urbana deficiente em termos espaciais pode reduzir drasticamente a produtividade de todo o sistema urbano. (Figura 95)

A densidade do desenvolvimento urbano é um assunto controverso e muitas vezes confuso. Decisões tomadas nesta área podem ter um impacto significativo na saúde, meio ambiente, na produtividade das cidades, e no processo de desenvolvimento humano como um todo. Há uma gama rica de dados e experiências relevantes que, quando comparadas umas às outras, podem oferecer referências úteis para o processo decisório em planejamento, desenho urbano e gestão de assentamentos humanos. Por um lado, densidades

urbanas afetam diretamente processos de

desenvolvimento urbano tanto ao nível da cidade

quanto do bairro como por exemplo o

congestionamento, a falta de espaço de lazer, a baixa

qualidade ambiental, etc. Por outro lado, são também afetadas por imperfeições das políticas de habitação e fundiária urbana, por ineficiências de gestão e planejamento urbano, standards e regulamentações obsoletas, e por parâmetros de desenho urbano que ao final limitam a oferta e disponibilidade de espaço residencial e aumentam excessivamente os custos e valores do espaço urbano.

(ACIOLY & DAVIDSON, 1998: 10)

Conforme os estudos de Acioly & Davidson (1998: 11), foi determinado que a densidade varia muito de um país para outro, ou mesmo entre cidades num mesmo país, definindo assim que as “(...) densidades são muito influenciadas pelo contexto cultural”, em consonância com as colocações de Alain Bertaud. Assim sendo, comparações são complicadas por mecanismos usuais de medição, a exemplo das distinções terminológicas aplicadas entre a densidade populacional, habitacional, construtiva, bruta ou líquida, gerando divergências de análise nos estudos sobre este tema. O processo de coleta de dados, as metodologias adotadas nas definições do espaço urbano enquanto extensão física, os critérios de seleção de vazios urbanos, os processos de mapeamento e quantificação, as legislações específicas que determinem o uso e ocupação do solo decorrente de aspectos culturais específicos definem algumas das dificuldades comparativas entre as densidades em regiões diferentes do planeta.

Existem duas formas mais utilizadas para indicar especificidades ocupacionais de desenvolvimento de um local determinado em relação à densidade, são elas: habitantes por hectare (hab/ha) ou habitações por hectare (habitação/ha). É bastante comum encontrar esses dois indicadores de ocupação expressos na forma de densidade bruta e densidade líquida conforme o contexto de

análise. A densidade bruta expressa o número total de residentes numa determinada área urbana (região, bairro, cidade) dividida pela área total em hectares, incluindo-se equipamentos urbanos e institucionais (escolas, creches, parques, áreas verdes, espaços públicos), vazios, logradouros, comércios, indústrias, vias e outros serviços urbanos. No cálculo da densidade bruta de uma determinada área, toda a região incluída dentro de um perímetro poligonal deve ser considerada para a determinação da densidade. A densidade líquida expressa o número total de residentes (pessoas moradoras) numa determinada área urbana, considerando-se apenas a área estritamente residencial e excluindo-se vias, equipamentos, espaços públicos, vazios urbanos, etc. Na Inglaterra ou em países de influência inglesa na regulamentação urbana, incluem-se a circulação local (calçadas), metade das vias de acesso aos lotes habitados e pequenos jardins de uso dos moradores. A densidade habitacional líquida é o número total de unidades habitacionais (ou seja, domicílios) dividido pela área destinada exclusivamente para uso habitacional. (ACIOLY & DAVIDSON, 1998: 87)

A densidade é um referencial importante para se quantificar por meio de princípios técnicos e financeiros a distribuição e o consumo de terra urbana, infraestrutura, serviços públicos, entre outras funções dispostas numa área residencial. De forma geral, diversos autores destacam que quanto maior a densidade, e resguardados certos limites, melhor será a utilização e a maximização da infraestrutura e o solo urbano. Assim, para autores como Acioly & Davidson (1998), Mascaró (1987, 1989, 2005), Silva & Romero (2011), Zmitrowicz & De Angelis Neto (1995), entre outros, é possível estabelecer um modelo de densidade capaz de suprir de uma forma mais

coerente o acesso ao solo urbano, à habitação, à infraestrutura, aos equipamentos e serviços urbanos essenciais para um número maior de domicílios e pessoas, atendendo às condicionantes de conforto ambiental e sustentabilidade com o meio natural. A otimização entre a necessidade social com a demanda ambiental e econômica faz com que o conhecimento científico sobre os efeitos da densidade urbana no espaço seja de interesse extremo para a gestão espacial nos países em desenvolvimento, nestes cujas previsões apontam como sendo as regiões de grande crescimento urbano, populacional e econômico para as próximas décadas.

Figura 95 As vantagens e desvantagens da baixa e alta densidade. Eficiência na oferta

de infraestrutura Uso eficiente da terra

Geração de receitas Vitalidade urbana Maior controle social Economias de escala Facilidade de acesso aos consumidores Maior acessibilidade a emprego Criminalidade Poluição Sobrecarga nas infraestruturas Maiores riscos de degradação ambiental Congestionamento e saturação do espaço Menos poluição Mais silêncio e tranquilidade Possibilidades de saneamento de baixo custo Precária acessibilidade aos serviços Altos custos para oferta e manutenção dos serviços Pouca interação

e controle social

Altos custos e precariedade do transporte público Excesso de consumo de terra

urbana & infraestrutura

ALTA DENSIDADE