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Algumas definições clássicas de Governança Corporativa

Em relação a trabalhos realizados no Brasil, estudos anteriores da temática de governança

3.5 Governança Corporativa

3.5.1 Algumas definições clássicas de Governança Corporativa

Conforme dito anteriormente, a governança corporativa pode ser vista sob diferentes aspectos e ser analisada em diferentes disciplinas. Com o intuito de apresentar algumas dessas visões, descrevem-se, a seguir, definições referentes aos enfoques particulares de cada vertente.

Sob a perspectiva do problema de agência, em que há um predominante conflito de interesses, por exemplo, entre propriedade (acionistas ou principal) e controle (agentes ou executivos), a definição apresentada por Carvalho (2002) é que a governança corporativa pode ser descrita como os mecanismos ou princípios que governam o processo decisório dentro de uma empresa, constituindo um conjunto de regras que visam minimizar os problemas de agência. Segundo Jensen e Meckling (1976), o problema de agência aborda questões que resultam de conflitos de interesse, a partir da relação de contrato, tanto formal como informal, quando as partes contratantes possuem informações assimétricas ou há possibilidade de dúvidas ou incertezas. As informações assimétricas advêm de situações do negócio, em que não há uniformidade no trato de uma informação entre os envolvidos, ou seja, pode ocorrer o caso de um gestor possuir mais informações e um maior conjunto de dados econômicos e financeiros que os acionistas; ou ainda, um administrador saber mais a respeito dos custos e da posição competitiva que os proprietários da empresa. Assim, estes conflitos podem ser minimizados a partir de mecanismos de governança corporativa baseados em monitoramento e no incentivo dos gestores, tais como: bonificações, Conselho de Administração, Conselho Fiscal e Auditoria Independente, entre outros.

A separação entre propriedade e controle é apontada na literatura como preocupação recorrente, desde o trabalho de Berle e Means (1932). Diversos estudiosos se dedicaram ao problema de agência, tendo como interesse, avaliar formatos para preservar os investimentos dos acionistas em projetos de retornos atrativos (COASE, 1937; JENSEN; MECKLING, 1976; FAMA; JENSEN, 1983; WILLIAMSON, 1996; SHLEIFER; VISHNY, 1997), mas foi a partir do momento em que as empresas passaram a ter uma estrutura societária mais complexa, com mais atores envolvidos, que houve uma demanda acentuada pelo estabelecimento de regras de conduta para governá-las (ZOMIGNANI, 2003). Os

mecanismos da governança corporativa funcionaram como resposta a essa demanda, como tentativa de minimizar os problemas de agência.

Shleifer e Vishny (1997) apontam que “os mecanismos de governança corporativa são instituições, tanto econômica quanto legal, que podem ser alteradas pelo processo político.” (SHLEIFER; VISHNY, 1997, p. 738, tradução nossa). Para Williamson (1996), os mecanismos de governança são mais abrangentes e devem contemplar não só a visão econômica, mas também outras ciências sociais: “a estrutura da governança é então pensada como um arcabouço institucional no qual a integridade da transação, ou um conjunto de transações, é decidido” (WILLIAMSON, 1996, p. 11, tradução nossa). A partir deste entendimento, as empresas e suas estruturas passam a ser analisadas pelo processo produtivo vinculado aos diferentes estágios de relacionamento relativos à produção, com ênfase nos custos de transação, em que a governança torna-se fator relevante na mitigação de riscos (JENSEN; MECKLING, 1976; WILLIAMSON,1996 ).

As empresas são então analisadas pelos aspectos do Problema de Agência, da Teoria dos Custos de Transação, da Teoria da Firma. Ainda segundo Jensen (2000), a literatura econômica está repleta de referências da Teoria da Firma, contudo, deve ser entendida mais propriamente, nos dias atuais, como a Teoria dos Mercados, nos quais as empresas são

importantes atores. Sob estas formas de análise, a governança corporativa passou a constituir elemento essencial,

cujos mecanismos de controle e regulação ficaram diretamente atrelados ao valor de desempenho da firma. A performance das empresas, diante dos diferentes mecanismos de governança corporativa, transformou-se num foco de estudo, em diversas partes do mundo, para tentar medir e atestar que empresas que aderem a práticas de governança apresentam melhores resultados (ROZO, 2003; SILVA, 2004; SILVA; LEAL, 2005; SROUR, G., 2005; MACÊDO, 2006; SILVA; LEAL, 2007; ALLEN; CARLETTI; MARQUEZ, 2007; WEI’AN; YUEJUN, 2007).

Entretanto, conforme mencionado no início deste capítulo, não existe uma afirmação contundente e universal sobre esta questão. Os diversos estudos realizados, com diferentes metodologias, em diversas localidades, com variadas bases de dados, parecem demonstrar

uma relação positiva entre melhores práticas de governança corporativa com melhores desempenhos das empresas, sobretudo nos resultados financeiros.

Freeman (1986), a partir da Teoria dos Stakeholders, atesta que, para a governança corporativa, faz todo sentido envolver o grupo de stakeholders nas decisões estratégicas da empresa, afinal, do ponto de vista do poder econômico, são eles que têm a habilidade de influenciar as decisões de mercado e, pela visão de poder político, têm a habilidade de influenciar o uso de processos políticos, tanto pelo enfoque do chamado Largo Senso de Stakeholders como pelo chamado Estreito Senso de Stakeholders. Foi estabelecido pelo autor que o primeiro enfoque é aplicado para qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelos objetivos da organização, como exemplo, entidades de classe, sindicatos, agências de governo, concorrentes e consumidores. Quanto ao segundo, entende-se como sendo qualquer grupo ou indivíduo do qual a organização é dependente para sua sobrevivência, como funcionários, fornecedores, consumidores, instituições financeiras e acionistas. Assim, a influência e a maior participação nas empresas desses diferentes públicos pressionam e impulsionam as práticas de governança corporativa e contribuem para a “democracia corporativa” (FREEMAN, 1986, p. 95, tradução nossa).

Na mesma linha, Stovall, Neill e Perkins (2004) afirmam que o modelo contido na Teoria dos Stakeholders presume uma colaboração e uma aproximação relacional para o negócio e seus constituintes. “O sistema de governança corporativa, usando desta aproximação, considera as várias necessidades dos constituintes e suas conseqüências para os diversos grupos de stakeholders”. (STOVALL; NEILL; PERKINS, 2004, p. 223, tradução nossa).

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