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Princípios de Boa Governança Corporativa e as Melhores Práticas Recomendadas – Australian Securities Exchange (ASX)

Em relação a trabalhos realizados no Brasil, estudos anteriores da temática de governança

3.5 Governança Corporativa

3.5.2 Códigos de Governança Corporativa

3.5.2.4 Princípios de Boa Governança Corporativa e as Melhores Práticas Recomendadas – Australian Securities Exchange (ASX)

Criado em agosto de 2002, o Conselho de Governança Corporativa da Bolsa da Austrália desenvolveu e publicou, em março de 2003, os princípios que deveriam nortear as atuações das empresas listadas naquele mercado. Contudo, este código não tem caráter prescritivo, mas tem interesse em produzir um aumento efetivo de qualidade e integridade para as empresas listadas na Bolsa. É flexível e deixa a critério de cada empresa a escolha em seguir ou não as recomendações dos princípios.

Define que a governança corporativa é

[...] o sistema pelo qual as empresas são dirigidas e administradas. Influencia como os objetivos das empresas são atingidos, como o risco é monitorado e como a performance é otimizada. A boa estrutura de governança corporativa encoraja as empresas a criar valor e oferecer prestação de contas e sistemas de controle proporcionais aos riscos envolvidos. (ASX, 2003, p. 3, tradução nossa).

São dez os princípios adotados neste código, todos pautados pela ótica de esclarecimentos e monitoramento.

1. Propor fundamentos sólidos para a administração e supervisão: reconhecer e publicar os respectivos papéis e responsabilidades da direção.

2. Estruturar a direção para adicionar valor: ter uma direção com composição efetiva, tamanho e comprometimento para adequadamente atribuir responsabilidades e deveres.

3. Promover tomadas de decisão éticas e responsáveis: atuar ativamente nas tomadas de decisão com valores éticos e responsáveis.

4. Salvaguardar integridade nos relatórios financeiros: ter uma estrutura para verificar de forma independente e resguardar a integridade desses relatórios.

5. Disponibilizar esclarecimentos em tempo: de forma equilibrada e de todas as questões relevantes da empresa.

6. Respeitar os direitos dos acionistas: facilitar o exercício efetivo de seus direitos.

7. Reconhecer e administrar os riscos: estabelecer sistemas de gerenciamento e controle de riscos internos.

8. Encorajar o aumento da performance: por revisões na forma de gestão.

9. Remunerar correta e responsavelmente: assegurar que o nível e a composição da remuneração seja suficiente e razoável com o que está relacionado à performance individual e corporativa.

10. Reconhecer o interesse legítimo dos stakeholders: não só obrigações legais e de todos os públicos relacionados à empresa.

É interessante notar que, neste Código, diferentemente do demonstrado nos códigos anteriores da OECD e do IBGC ou mesmo pelo regulamento da BOVESPA, a ASX coloca explicitamente a questão ética vinculada às práticas de governança corporativa, embora ainda não desenvolva maiores ponderações sobre o assunto. Curiosamente, este Código foi elaborado por uma entidade vinculada ao mercado financeiro e que poderia primar mais por questões econômicas, com forte viés aos acionistas e investidores, como no caso da Bolsa de Valores brasileira. Todavia, o documento parece ser mais amplo e estar preocupado, sobretudo, em estruturar um ambiente mais justo para o desenvolvimento do negócio, indo além das questões de cumprimento de normas e deixando a responsabilidade a critério de cada empresa, não sendo, assim, um instrumento impositivo ou descritivo.

Entende-se que os códigos de princípios e práticas de governança corporativa podem se traduzir num recurso de aproximação de administração com a ética empresarial. Contudo, representam um primeiro passo em direção à construção de uma estrutura maior de ética empresarial, que vai além de simples cumprimento de regras, a partir de um reforço para encorajar as empresas a adotarem padrões e comportamentos éticos mais amplos e em larga escala.

Na mesma linha, Bonn e Fisher (2005) apontam que empresas que transpassam o cumprimento normativo e utilizam as práticas de governança corporativa para uma

aproximação da business ethics, o fazem sob três aspectos: o estabelecimento de políticas e processos que identificam e suportam os objetivos éticos da organização ajuda no processo de realimentação contínua, em todos os níveis hierárquicos; a adoção de princípios éticos melhora os comportamentos e representa elementos positivos para os negócios no longo prazo e o engajamento de todos ante o comportamento ético favorece o clima interno pela busca dos mesmos objetivos e compartilhando os mesmos valores.

Ao final desta seção, pode-se, então, perceber que a governança corporativa apresenta uma diversidade de conceitos e entendimentos variados. Para Andrade e Rossetti (2007), as possíveis definições de governança corporativa estão relacionadas com seus respectivos objetivos corporativos, a saber: a governança como guardiã de direitos, como sistema de relações, como estrutura de poder e, por fim, como sistema normativo.

• Guardiã de direitos: assegurar os interesses das partes envolvidas no negócio (acionistas, controladores, minoritários) e da sociedade como um todo. São exemplos deste enquadramento os Princípios da OECD.

• Como sistema de relações: em sociedades dirigidas e monitoradas. As boas práticas apontadas no Código do IBGC são exemplo deste entendimento.

• Como estrutura de poder: utilizando processos estratégicos e mecanismos de controle nas formas de gestão. Exemplo deste formato é o Relatório Cadbury.

• Como sistema normativo: regida por valores e comportamentos, tanto internos quanto externos. Pode aproximar-se mais de princípios definidos pela ética aplicada à gestão dos negócios. O Relatório Cadbury também pode ser avaliado por este prisma.

Na avaliação aqui efetuada, qualquer que seja o conceito adotado ou a estrutura aplicada de governança corporativa, estes devem expressar os fundamentos de conduta ética, não só de maneira implícita, buscando aprofundar sempre os valores de justiça, transparência, com posturas não limitadas ao cumprimento legal e adotando tais procedimentos para todas as relações internas e externas, com todos os agentes envolvidos.

Como o enfoque deste trabalho recai na evolução teórica do conceito de governança corporativa, e quanto este, por sua vez, está relacionado às questões éticas, passa-se, no próximo capitulo, à descrição da metodologia empregada na pesquisa.

4. PESQUISA

Neste capítulo apresenta-se a metodologia definida para a realização da pesquisa e descrevem-se os passos adotados com os respectivos levantamentos. São elencados alguns trabalhos que se utilizaram do mesmo método aqui empregado.

4.1 Metodologia

Partiu-se da definição de projeto de pesquisa de Yin (2001). “É o plano que conduz o pesquisador através do processo de coletar, analisar e interpretar observações. É um modelo lógico de provas que lhe permite fazer inferências relativas às relações causais entre variáveis sob investigação” (YIN, 2001, p. 41). Mais precisamente, buscou-se desenvolver um estudo cujo interesse principal é analisar como a ética empresarial está relacionada à governança corporativa, utilizando a técnica de análise de conteúdo dos artigos de periódicos acadêmicos de nível internacional.

A pesquisa bibliográfica tem como objetivo central explicar um problema a partir de referências teóricas publicadas em documentos, por meio do recolhimento, da análise e da interpretação das contribuições teóricas ora existentes sobre um fato, um assunto ou uma idéia (CERVO; BERVIAN, 1983; BARROS; LEHFELD, 1986). Para Cervo e Bervian (1983) “a pesquisa bibliográfica é o meio de formação por excelência.” (CERVO; BERVIAN, 1983, p. 55). Para a realização deste estudo, a técnica adotada, em relação ao material levantado na pesquisa bibliográfica, é a análise de conteúdo.

A análise de conteúdo é um método utilizado desde meados do século XX, tendo sido muito empregado na análise da propaganda bélica da Segunda Guerra Mundial. Este método pode utilizar diferentes técnicas para tratamento do material coletado, podendo recair num caráter mais quantitativo, se tiver foco na sustentação lingüística ou mesmo estatística (DELLAGNELO; DA SILVA, 2005). As definições encontradas diferem no entendimento conceitual, que remete exatamente a este ponto, tendo caráter ora mais quantitativo, ora mais qualitativo. Para Berleson (apud DELLAGNELO; DA SILVA, 2005), a análise de conteúdo é

uma técnica quantitativamente orientada pela qual medidas padronizadas são aplicadas a unidades metricamente definidas e estas são usadas para caracterizar e comparar documentos. Para Bailey (apud DELLAGNELO; DA SILVA, 2005), a meta básica da análise de conteúdo é tomar documentos e transformá-los em dados quantitativos, e é considerada uma técnica específica para chegar a conclusões, por meio da identificação sistemática e objetiva das características específicas de um texto.

No entendimento de Silverman (2000), a análise de conteúdo é um método que consiste no estabelecimento de categorias e permite quantificar, pela freqüência das categorias, a relevância do objeto em estudo. Dellagnelo e Da Silva (2005) descrevem outros entendimentos do conceito deste recurso, entre os quais, aquele que define a análise de conteúdo como

[...] um conjunto de técnicas de análise das comunicações, visando, por procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do conteúdo de mensagens, obter indicadores quantitativos ou não, que permitam a inferência de conhecimentos relativos às condições de produção/recepção das mensagens (DELLAGNELO; DA SILVA, 2005, p. 100).

No material de referência, pode-se notar que a análise de conteúdo visa ao conhecimento e à transformação de variáveis não formais, por meio de um processo de dedução, com base em indicadores reconstruídos a partir de uma amostra específica, tendo como principal interesse entender a linguagem no contexto das situações sociais e econômicas em que está inserida. Para que se possa colocar em prática este recurso, devem-se respeitar algumas etapas, sobretudo porque se fez uso de documentos escritos em língua inglesa. Dessa forma, o primeiro passo é a categorização, em que se vão definir unidades de registro e de contexto. Essas unidades podem ser palavras, temas, referências ou outro item julgado relevante, para, então, poder iniciar os procedimentos de análise. A definição pelo tema como unidade de registro é considerada um dos tipos de unidade mais utilizados e tem forte presença em estudos organizacionais, sobretudo em estudos motivacionais, de opiniões, de atitudes e crenças (DELLAGNELO; DA SILVA, 2005).

Uma vez definida a etapa de categorias e estabelecidos os códigos, passa-se para a quantificação, que vem a ser a verificação da freqüência com que a unidade de registro ocorreu no documento. Esta análise, porém, pode ser fria e não traduzir muito, se avaliada isoladamente. Para que se possa imprimir maior significado ao processo, é também necessário buscar a intensidade de sua freqüência, ou seja, qual a qualidade desta mensagem, se está colocada no presente ou no futuro, se indica ocorrência efetiva ou intenção de realização. Assim sendo, a intensidade de cada unidade receberá pontuação em três níveis.

A governança corporativa é um tema que vem sendo trabalhado em diversas áreas do conhecimento e parece despertar interesse tanto acadêmico como no meio empresarial. Este estudo objetiva verificar como os pesquisadores e estudiosos do tema vêm abordando este assunto ao longo dos últimos anos. Como a publicação de artigos acadêmicos tem como alvo disseminar conhecimento, estudos e pesquisas desenvolvidos por militantes de diversas disciplinas, entende-se ser esta uma relevante fonte de informação para desenvolver esta análise, uma vez que retrata tanto o desenvolvimento teórico como também suas aplicações na prática.

A utilização de pesquisa bibliográfica de publicações de periódicos, tendo como principal objetivo a evolução de determinada área ou conceito, é um recurso recorrente em diversos estudos. Keinert (1998) verificou a evolução da produção tecnocientífica da Administração Pública no Brasil, no período de 1937 a 1997, mediante a análise de conteúdo de dois veículos acadêmicos vigentes à época de interesse. Bertero e Keinert (1994) constataram a evolução da análise organizacional no Brasil entre 1961 a 1993, a partir dos artigos publicados em periódico da área da Administração, mediante análise histórica. Leal, Oliveira e Soluri (2003) traçaram o perfil da pesquisa em Finanças, no Brasil mediante análise de artigos de cinco periódicos nacionais, publicados no período de 1974 a 2001, mais artigos constantes dos Anais do Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação em Administração – Enanpad - a partir de 1980.

Com o intuito de apresentar um levantamento sistemático e uma avaliação crítica da produção científica sobre Estratégia Empresarial no Brasil, no período de 1991 a 2002, Bertero, Vasconcelos e Binder (2003) analisaram publicações de quatro periódicos nacionais mais os Anais do Enanpad. Já Arkader (2003) buscou acompanhar a evolução da pesquisa científica em Gerência de Operações no país, mediante a análise de quatro periódicos nacionais, mais os

Anais do Enanpad, além de trabalhar com mais 26 artigos publicados em periódicos internacionais, para rastrear a produção de autores nacionais. Piazza e Campos Filho (2006) efetuaram análise longitudinal de um periódico internacional, por um período de 26 anos, a fim de verificar a evolução de dois temas da área de Estratégia. Na mesma área, Bignetti e Paiva (2002) procuraram analisar as linhas de pensamento predominantes dos autores de Administração Estratégica, por meio de classificação de referencial teórico dos artigos constantes dos Anais do Enanpad entre 1997 a 2001.

Na literatura internacional, a análise bibliográfica de periódicos também é retratada em estudos de diferentes áreas: Administração, Finanças, entre outras. Ipken e Beamish (1994) realizaram análise de 25 anos sobre publicações ocorridas em um periódico específico, com interesse de apontar as disciplinas que mais estavam sendo abordadas e os principais e mais recorrentes autores desse periódico. Dubois e Reeb (2000) elaboraram um estudo com objetivo de apontar o posicionamento (ranking) dos principais periódicos da disciplina de Negócios Internacionais (International Business) e identificar aqueles com maior influência nesta matéria. Chung e Cox (1990) analisaram o perfil, o impacto e a qualidade dos periódicos da área de finanças, em um estudo bibliométrico. Na mesma linha, Bakker, Groenewegen e Hond (2005) desenvolveram estudo bibliométrico sobre as teorias da Responsabilidade Social Corporativa e da Performance Social Corporativa num período de trinta anos, a fim de verificar tanto a evolução conceitual quanto os principais autores sobre esses temas. Johnson e Podsakoff (1994) investigaram a evolução e a influência das publicações de periódicos da área de Administração no período de 1981 a 1991.

Vê-se que este tipo de pesquisa não é um fato novo na busca pelo entendimento e constatação da evolução de temas ou conceitos. Todavia, parece apresentar um formato interessante para que se possa traçar o perfil e demonstrar como o conhecimento de determinados assuntos está sendo transmitido por meios acadêmicos de publicações em periódicos.

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