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Algumas localidades situadas no entorno tombado da Serra do

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG (páginas 61-66)

3. Conclusões

3.1. Algumas localidades situadas no entorno tombado da Serra do

Nesta seção serão identificadas, a partir do Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental de Belo Horizonte, construído pela metodologia aqui desenvolvida, algumas localidades situadas no entorno da Serra do Curral, cujas condições sociodemográficas e ambientais correspondem, quando comparadas com a literatura consolidada a respeito, com os bairros, vilas, conjuntos e favelas diagnosticados a partir das metodologias tradicionais usadas pela Urbel e outras instituições.

Como descrito anteriormente, a forma de ocupação verificada no entorno tombado da Serra do Curral ampara a relação existente entre o zoneamento urbano estipulado pela Lei Municipal n. 7.166/96 (que estabelece as normas e condições para parcelamento, ocupação e uso do solo urbano no município) e as características geomorfológicas locais, salientadas no Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental de Belo Horizonte.

Nas áreas mais propícias à ocupação, de topografia mais suave, o adensamento urbano é incentivado. Em porções ambientalmente mais frágeis e de maiores riscos geológico-geomorfológicos, marcadas pelas diferenças de litologia e alta declividade, estão localizadas as áreas de proteção ambiental e de contenção ao adensamento, conforme os termos mencionados na legislação.

Entretanto, percebe-se que, mesmo que as diretrizes do uso e parcelamento do solo urbano recomendam redirecionar e conter as áreas mais susceptíveis aos processos de escorregamento, escavação, erosão e inundação, o fenômeno da ocupação irresponsável vem se alastrando ano após ano.

A Figura 2.7, a seguir, refere-se ao recorte do Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental de Belo Horizonte onde se inscreve o entorno da Serra do Curral, dentro do qual estão indicadas algumas localidades selecionadas para observação pontual, conforme proposto. Algumas vilas, favelas e bairros situados no perímetro em estudo possuem, em termos de indicadores sociais, valores diametralmente opostos quando se enfoca, principalmente, à renda e as condições estruturais (domicílio e entorno), em relação ao outros situados nesta região. No entanto, se se levar em conta os indicadores ambientais, algumas das comunidades que ali se assentam possuem valores iguais e, algumas vezes, até invertidos, ou seja, setores censitários localizados em áreas suscetíveis a elevados riscos geológicos constituem-se trechos de bairros de classe média alta o que, às vezes, não acontece assim tão precariamente com certas localidades muito pobres. Esse fato revela uma característica muito comum no meio urbano a qual

se constitui na noção de que, para certas categorias sociais de alto poder aquisitivo, buscar um certo status quo através de moradias em localidades elevadas e com rica visão panorâmica e de belezas cênicas diferenciadas vale o custo da mitigação dos riscos através de altos investimentos em proteção e forte predisposição ao jogo político para tentar conter os possíveis desastres com verbas públicas e ações governamentais.

Por outro lado, as localidades geologicamente mais vulneráveis são reservadas pelos especuladores imobiliários como repositório das populações carentes que não podem pagar por habitações dignas e dentro dos parâmetros da justiça socioambiental.

Figura 3.1: RECORTE DO MAPA DA VULNERABILIDADE SOCIOAMBIENTAL DE BELO HORIZONTE, COM INDICAÇÃO DAS LOCALIDADES SELECIONADAS PARA OBSERVAÇÃO PONTUAL

Conjunto Taquaril

Área: 1.042.483 m²

Localização: Regional Leste, na divisa com o município de Sabará Número de domicílios: 4.229*

População total residente: 17.712* Taxa de alfabetização: 81,8%*

Esgotamento sanitário: 53% ligados à rede geral de esgoto ou pluvial*

Abastecimento de água: 97,5% abastecidos através de rede geral da Copasa* Coleta de lixo: 75,4% coletados por serviço de limpeza*

O Conjunto Taquaril está localizado na região leste de Belo Horizonte, entre os bairros Alto Vera Cruz, Granja de Freitas e a divisa com o Município de Sabará. A ocupação do local teve início em 1981, numa área que pertencia a CODEURB – Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado de Minas Gerais e parcelada em sítios. Segundo o Plano Global da Urbel, o Conjunto Taquaril é dividido em 14 setores, sendo que parte do setor 12 e os setores 13 e 14 pertencem à região conhecida como Castanheiras, município de Sabará.

A área do conjunto Taquaril cresceu desordenadamente, com ocupações em áreas verdes e institucionais, margens de córregos e outras consideradas de risco geológico iminente, agravado pelo solo filitoso do local. O adensamento também se deu pela subdivisão informal de lotes que, atualmente, comportam duas ou mais famílias cada.

Segundo o Diagnóstico da Situação de Risco Geológico das Vilas, Favelas e Conjuntos Habitacionais Populares de Belo Horizonte – 2011, produzido pela Urbel e que localizou, mapeou e delimitou os lugares em cada comunidade que apresentaram situações instáveis, o Conjunto Taquaril possuía 921 habitações em médio grau de risco de desabamento em virtude de deslizamento de encostas, 203 em alto grau de risco e três em grau muito elevado.

Comparados com os diagnósticos anteriores, esses números decaíram um pouco devido às intervenções urbanas promovidas pela Urbel, mas, de qualquer forma, são situações que coadunam com os indicadores refletidos no Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental.

Vila Acaba Mundo

Área: 33.313 m²

Localização: regional centro-sul, entre os bairros Sion, Anchieta, Mangabeiras e Belvedere.

Número de domicílios: 329* Domicílios não residenciais: 27* População total residente: 1187* *Censo 2000

De acordo com levantamento elaborado pela Urbel/PBH em 2000, a Vila Acaba Mundo, localizada na região sul de Belo Horizonte, existe desde a década de 40 e tem seu surgimento associado à implantação da Mineradora Lagoa Seca, que explorava o subsolo de um terreno vizinho à vila. Antes da ocupação, a região era toda coberta por mata fechada, de propriedade particular. Os primeiros moradores eram imigrantes do interior do Estado que vieram trabalhar na capital, muitos deles na mineração.

Com as chuvas de 1979 a ocupação se estendeu mais ainda, pois os moradores da parte alta da vila ficaram desabrigados e mudaram-se para a parte baixa, na divisa com o bairro Mangabeiras. A vila recebeu o nome de Acaba Mundo, pois a área onde está localizada corresponde a um vale fechado, entrecortado por dois morros, que são separados pelo córrego Acaba Mundo.

Na Tabela Comparativa do Diagnóstico da Situação de Risco Geológico das Vilas, Favelas e Conjuntos Habitacionais Populares de Belo Horizonte – 2011, consta para este ano, que 73 domicílios localizados na Vila Acaba Mundo se encontravam em médio risco de desabamento e 17 se encontravam em alto risco. Deve-se atentar que esses valores se encontravam em queda devido às intervenções procedidas pela Urbel.

No Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental, a Vila do Acaba Mundo encontra-se em área de alta vulnerabilidade o que, levando-se em conta a proporção de domicílios em risco, de acordo com a tabela da Urbel, e o número de domicílios total apurados pelo censo IBGE/2000, trata-se de uma proporção considerável.

Vila Nossa Senhora de Fátima

A Vila Nossa Senhora de Fátima faz parte do Aglomerado da Serra, o qual também integra o entorno demarcado da Serra do Curral, conforme a figura 2.7. Além dela o Aglomerado da Serra se divide em outras sete vilas, como a vila de Nossa Senhora da Conceição, vila Marcola, Vila Cafezal, Vila Novo São Lucas. É a maior favela da capital mineira com cerca de 46 mil habitantes. Estão em andamento várias obras de saneamento e recuperação ambiental.

A Vila Nossa Senhora de Fátima possui apenas 10% de saneamento básico, 48% estão servidos por coleta de lixo, a água encanada está disponível somente para cerca de 70% da população, praticamente não existe pavimentação nas ruas, a comunidade sofre constantes ameaças de deslizamento e inundação na época das chuvas e está longe de ter seus problemas de urbanização, saúde, educação, segurança etc., minimamente resolvidos.

O Diagnóstico da Situação de Risco Geológico das Vilas, Favelas e Conjuntos Habitacionais Populares de Belo Horizonte registrou, apenas na Vila Nossa Senhora de Fátima, em sua edição de 2011, 457 domicílios em situação de médio risco de desabamento e 168 domicílios em alto risco.

Belvedere (9)

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(9). Parte dessa seção sobre os bairros e vilas foi acessada e adaptada do conteúdo de http://bairrosdebelohorizonte.webnode.com.br/regi%C3%A3o%20leste-/

Como as demais localidades citadas acima, o Bairro Belvedere também se situa no perímetro de tombamento da Serra do Curral

A verticalização que hoje se observa no Belvedere teve seu início a partir da promulgação da Lei Municipal nº 8.137, de 21 de dezembro de 2000, que reduziu abruptamente o coeficiente de aproveitamento habitacional (área construída em relação ao tamanho do terreno), que antes variava entre 3.0 e 3.4, para 1.5. O Censo IBGE/2010 apurou uma população de 8.828 moradores no Belvedere

Belvedere é um dos mais luxuosos bairros de Belo Horizonte que cresceu em torno do BH Shopping. É o bairro mais alto da cidade, variando de 1.100 a 1.270 metros de altitude e possui um clima bem mais ameno que o do centro da cidade, situado a 850m de altitude. Exatamente como o vizinho bairro Mangabeiras, possui uma espetacular vista da cidade. Divide-se em Belvedere I, II e III. Compreende uma ampla área de ocupação horizontal, com edificações baixas. A terceira etapa se caracteriza por intensa verticalização, com grandes torres próximas à área conhecida como Lagoa Seca.

De acordo com os resultados do diagnóstico de 2011, as Regionais que apresentam maior número de edificações em situação de risco alto e muito alto foram a Centro-Sul (Aglomerados da Serra e Santa Lúcia) com 638 casos; o Barreiro (Vilas Cemig, São João, Batik e Ecológica) com 418; a Nordeste (Aglomerado Beira Linha e Vilas São

Gabriel/São Dimas e Vista do Sol) com 365; e a Leste (Conjuntos Taquaril e Mariano de Abreu e Vila Mariano de Abreu) com 354. As Regionais Centro-sul, Leste e Barreiro compõem o entorno da Serra do Curral.

Análises espaciais

Quando se analisa espacialmente o Mapa da Vulnerabilidade Socioambiental, resultante da sobreposição dos Mapas da Vulnerabilidade Social e da Vulnerabilidade Ambiental, construídos através de um sistema de informações geográficas onde a base se constituiu de Setores Censitários do IBGE, percebe-se que há razoáveis indícios de consistência entre os fatores que permearam as variáveis em jogo.

Tanto as variáveis que participaram da construção do sub-indicador social, quanto as que participaram da construção do sub-indicador ambiental, originalmente estavam estruturadas em bases geográficas que, no caso, são os SCBH-IBGE. Dessa forma, um fator positivo vinculado ao ambiente, que tenha afetado um setor censitário aleatório, pode ter sido ponderado por algum fator negativo, vinculado a variáveis sociodemográficas. Assim como, também, de forma inversa a esta ou, ainda, ter sido este setor afetado de maneira cumulativa.

Os resultados de milhares de possibilidades de combinações podem ser apreciadas através da gradação das cores que sombreiam as áreas de baixa, média e

alta vulnerabilidade socioambiental observáveis na Figura 2.6 e que coincidem, quando se compara com resultados da aplicação de outras metodologias em pesquisas consolidadas (MACEDO e UMBELINO, 2007; BRITO e VEIGA, 2015), com as situações de risco geológico somadas às carências sociodemográficas e econômicas localizadas, principalmente, nas bordas e interstícios do núcleo urbano.

No recorte destacado por este estudo, do mapa do município, ou seja, o perímetro da Serra Curral, encontram-se alguns exemplos típicos, cujas informações sociodemográficas, físicas e culturais, já foram mencionadas acima, e que são o Conjunto Taquaril, o Aglomerado da Serra com a Vila Nossa Senhora de Fátima, a Vila Acaba Mundo e o Bairro Belvedere (destacado como contraponto). Com exceção deste último, cuja tonalidade visualizável na Figura 2.6, indica uma baixa vulnerabilidade socioambiental, as demais localidades receberam uma cor tendendo ao vermelho, indicando estarem incursas em situações de alta vulnerabilidade socioambiental.

No entanto, tal como o Bairro Belvedere, cuja área encontra-se em situação de média e alta vulnerabilidade ambiental, como pode ser observado na Figura 2.6, as demais localidades estão sujeitas às mesmas condições de risco geológico que atingem, normalmente, os contrafortes da Serra do Curral. O que se pode inferir desse fato é que, por tratar-se de um bairro que abriga famílias com alto poder econômico, mesmo estando sujeito aos riscos elevados de eventos geológicos, o fator econômico sobrepõe-se aos fatores ambientais. Esta inferência se confirma quando se observa a Figura 2.5, Mapa da Vulnerabilidade Social, através do qual visualiza-se que o Bairro Belvedere está cingido por uma tonalidade indicativa de baixa vulnerabilidade social (ou nula).

As mesmas constatações também podem ser observadas em outras áreas do município, tais como nas regiões periféricas ao norte, ao nordeste, ao noroeste e, curiosamente, ao longo de antigas estradas que deram origem a grandes avenidas ou, ainda, em trechos do percurso do Ribeirão Arrudas e às margens das linhas férreas remanescentes.

Isto se dá, talvez, devido a fatores ligados às dificuldades encontradas pelo Poder Público em desembaraçar antigas demandas judiciais ligadas a propriedades de antigas famílias proprietárias de edificações de armazenagem de víveres ou antigas fábricas que se estabeleceram próximas a essas antigas vias que cruzavam a cidade em tempos antigos.

No documento UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS UFMG (páginas 61-66)

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