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CAPÍTULO 4 CARACTERIZAÇÃO DOS ATORES SOCIAIS

4.3. A participação dos atores sociais no circuito da ILPF na Zona da

4.3.1. Algumas observações dos Dias de Campo na ILPF visitados pelo

Esta seção tem por objetivo ilustrar como se realizavam esses Dias de Campo, procurando apontar como a estratégia era apresentada aos agricultores e como aconteciam os bastidores desses encontros.

Um desses encontros foi realizado na Fazenda Liberdade, situada no Município de Pedra do Anta, MG. No entanto, carrega-se o nome de “Fazenda” apenas por costumes da região, visto que a antiga propriedade, hoje desmembrada entre seus herdeiros, já não se encontra com suas grandes extensões de terras. No referido local, atualmente reside um dos herdeiros, um agricultor com sua família, administrando seus 86 há; essa propriedade também faz parte do programa de implantação da ILPF na região.

Geralmente, as inscrições do evento são efetuadas pelos estagiários da Emater, estudantes da UFV e Secretaria da Emater local, que tem aporte para atender os agricultores, como mostrado naFigura24.

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Figura 24 - Momento das inscrições do Dia de Campo na Fazenda Liberdade, no Município de Pedra do Anta, MG – 2012.

Houve também um suporte em termos de infraestrutura, onde se instalavam as barracas para as inscrições, cedidas pela prefeitura municipal, bem como distribuição de água mineral e banheiro químico para as mulheres, visando ao bem- estar dos participantes.

Um fato interessante observado no momento das inscrições é que os crachás preenchidos com o nome, local e função do participante são perpassados por uma tarja diferenciada em vários tipos de cores. Estas servem para indicar em qual “Estação” o participante vai, inicialmente, estar inserido.

Uma vez que o grupo esteja dividido em cores, os palestrantes convidam, então, aqueles que possuem as mesmas cores, para se encaminharem ao local da referida estação, que nesse caso específico se formaram quatro grupos de agricultores.

O evento do Dia de Campo em Pedra do Anta iniciou-se às 13 horas, sendo aberto pelo técnico da Emater local. Geralmente se usa um carro de som da própria Emater, que, nas suas adaptações, consta de uma caixa de som amplificada com microfone, conforme mostrado na Figura 25.

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Figura 25 - Técnico da Emater local no momento de abertura do Dia de Campo na Fazenda Liberdade, Pedra do Anta, MG – 2012.

Todos, então, se deslocavam para as devidas “Estações”, seguindo as respectivas cores que, após 30 minutos de apresentação, uma buzina era acionada e os participantes de uma “Estação” se deslocavam para outra e, assim,sucessivamente até terminarem todas as apresentações. O Dia de Campo da Fazenda Liberdade foi dividido em quatro grupos, com o total de 128 participantes, com média de 32 por apresentação.

Nas apresentações foi possível observar a presença de vários atores institucionais: na Estação 1 aparece o representante da UFV (Instituição de Pesquisa) e da Emater Regional (Instituição de Extensão). Na Estação 2 surge um dos patrocinadores do evento, Grupo Agroindustrial (Instituição Privada); já na Estação 3 se tem o representante de uma Instituição Financeira; e por fim, na Estação 4, outro representante da Emater e um agricultor, como agente social, conforme mostrado no Quadro 7.

Quadro 7 - Demonstração das estações com as respectivas apresentações no Dia de Campo – Pedra do Anta, MG – 2012

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Demonstração das estações Estação 1

Implantação e Manejo do Componente Florestal na Integração (Representante da UFV e Emater-MG Regional)

Estação 2

Manejo da Adubação de Pastagem (Grupo Agroindustrial)

Estação 3

Crédito Rural Aplicado na Agricultura (Instituição Financeira)

Estação 4

A Experiência da Integração na Fazenda Liberdade

(Representante da Emater local e Proprietário da Fazenda) Fonte: EMATER-MG, Pedra do Anta, MG, 2012 (adaptado pelo autor).

Na Estação 2, conforme mostrado no Quadro 7, é observada a presença de um Grupo Agroindustrial que recebe espaço para expor sobre manejo e adubação de pastagem, caracterizando bem a forma estrutural do modelo difusionista com seu discurso carregado de muita inovação e de tudo que há de melhor no mercado para atender a todas as necessidades do homem do campo.

Nessa mesma estação, percebe-se a possível interdependência que pode causar no agricultor ao adquirir para sua propriedade os produtos divulgados nesta apresentação que, direta ou indiretamente, vai influenciá-lo quando houver a necessidade de suas aplicações, deixando o mínimo de escolha para o uso de outras fontes alternativas de produção.

Esses procedimentos se encontram opostos aos conceitos adotados por Caporal e Ramos (2006), que dizem respeito a uma nova extensão nos moldes da PNATER, ou seja, uma extensão com caráter mais holístico, com metodologias participativas em decidir os temas abordados que condizem com a realidade do agricultor e o aproveitamento das culturas locais, voltado para o lado socioambiental nas tomadas de decisões.

Ao final do Dia de Campo, os participantes são convidados a fazer parte de uma confraternização que geralmente acontece num local próximo

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à residência do agricultor anfitrião, ou na escola da própria comunidade ou, normalmente, na Igreja Católica local, espaços esses tidos como de encontros para reuniões e eventos nas comunidades, como mostrado na Figura 26.

Figura 26 - Dia de Campo em Senador Firmino, MG, momento de confraternização – 2012.

Entre os momentos que acontecem nesses Dias de Campo é possível destacar os sorteios de brindes, distribuídos pelos patrocinadores do evento ou por casas comerciais do município local ou de empresas da região (Figura 27).

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Figura 27 - Dia de Campo em Senador Firmino, MG, com a distribuição dos brindes para agricultores – 2012.

Outro momento muito esperado pelos participantes é a refeição oferecida pelo proprietário do estabelecimento agropecuário anfitrião do evento (Figura 28), com apoio do técnico local e da prefeitura municipal. O cardápio pode variar em função da região e da época do ano, ou seja, as refeições podem ser vaca atolada, galinhada, feijoada, canjiquinha, caldo- verde ou outros pratos típicos da região.

Figura 28 - Dia de Campo realizado em Senador Firmino, MG, mostrando o local da “Galinhada” servida aos participantes – 2012.

Segundo Tönnies (1989 [1887] apud CARMO, 2009), a comunidade rural é, assim, definida a partir da noção de harmonia social na qual dominam as relações de afetividade e de intimidade que termina em confluência com o interesse e permanência da coletividade, cujo resultado se reproduz por meio da conjunção entre tradição e natureza. Com base nessa definição, estabelece-se com certa tranquilidade uma correspondência linear entre meio rural e comunidade.

Esse momento da refeição, que nesse caso foi uma “Galinhada”, pode ser considerado um momento de partilha e comunhão da comunidade, o que

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demonstra aspectos socioculturais importantes de socialização ainda encontrados no universo rural, verificado na Figura 28.

Na próxima seção é apresentada uma caracterização geral, tanto dos agricultores quanto dos técnicos extensionistas entrevistados, procurando descrever o perfil dos atores sociais envolvidos na região da referida pesquisa.