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CAPÍTULO 3 ALGUMAS ESTRATÉGIAS INTEGRADAS DE

3.5. Os Sistemas Agroflorestais (SAFs) 82

3.5.1. Conceituações e composições de sistemas agroflorestais 82

Os SAFs constituem uma forma de uso e manejo dos recursos naturais mais conscientes, ou seja, integram consorciações de árvores, culturas agrícolas e, ou, animais de forma científica, ecologicamente prudente e socioambientalmente aceitável pelo agricultor, de modo que ele obtenha maiores benefícios das relações ecológicas e econômicas

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resultantes do aproveitamento do mesmo terreno, por duas ou mais culturas, na mesma época (MONTAGNINI et al., 1992 apud VENTURIN et al., 2010).

De forma similar, para Oliveira et al. (2005), os SAFs são arranjos entre diversas espécies em que pelo menos uma delas seja capaz de produzir madeira abundante. Desse modo, segundo esse autor, nos SAFs não é necessário que sempre haja uma planta herbácea, contudo, nos Sistemas Silvipastoris e Sistemas Agrossilvipastoris, como mostrado no Quadro 3, existirá sempre uma espécie herbácea forrageira, sendo, em condições brasileiras, quase sempre uma gramínea, que será utilizada para pastejo.

Quadro 3 - Sistemas agroflorestais e os respectivos elementos – 2005

Sistemas Elementos envolvidos

I. Agrossilvicultural Árvores são combinadas com culturas II. Silvipastoril Árvores são combinadas com animais

III. Agrossilvipastoril Árvores são combinadas com culturas e animais

Fonte: GLIESSMAN, 2005 (adaptado pelo autor).

Um conceito de SAF elaborado pelo Centro Internacional para Pesquisa Agroflorestal (ICRAF), evidencia que é um sistema de manejo sustentável do solo e vegetais com aumento da produção de maneira contínua, adequando a produção de arbóreos (frutíferas e outras) com espécies agrícolas e, ou, animais, concomitantemente na mesma área, por intermédio de práticas compatíveis com a população e cultura local (ICRAF, 1982).

Altieri e Farrell (2002), corroborado por Dubois et al.(1996), conceituaram os SAFs como um termo que se utiliza para descrever sistemas tradicionais de uso da terra, amplamente disseminados, cujas árvores são inseridas no espaço e, ou,tempo com espécies agrícolas anuais e, ou, animais. Entretanto, somente em épocas recentes é que conceitos modernos sobre sistema agroflorestal têm sido desenvolvidos.

Ainda sobre conceitos, os SAFs podem ser definidos como técnicas alternativas de uso da terra, que implicam combinação de espécies florestais

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com culturas agrícolas, atividades pecuárias ou ambas. Trata-se de um sistema dinâmico baseado no manejo de recursos naturais que, por meio da integração nas propriedades rurais de árvores, cultivos agrícolas e animais, diversifica e contribui para a sustentabilidade da produção, promovendo aumento significativo dos benefícios ambientais econômicos e sociais para as propriedades rurais (NAIR, 1993; LEÔNIDAS et al., 1998; ALEGRE et al., 2000).

Quanto à composição, Gliessman (2005) afirmou que a Agricultura Moderna criou uma infinidade de insumos, práticas e tecnologias que contribuem para que os agricultores abandonem os processos de sucessão. Mas, para reverter esse quadro, desenvolvendo sistemas mais estáveis e menos dependentes das intervenções humanas e do uso de insumos poluentes e não renováveis, deve-se intensificar o uso de processos de recuperação natural de ecossistemas.

Entre esses processos, os SAFs tornam-se mecanismos eficientes, podendo ser usados tanto para favorecer a recuperação de agroecossistemas que sofreram perturbações antrópicas quanto para inserir perturbações de maneira organizada (GLIESSMAN, 2005).

Esse mesmo autor relatou que, embora os exemplares perenes manejados pelos sistemas de sucessão não tenham que ser arbóreos, a inclusão deles tornam-se alguns dos melhores exemplos de sucessão planejada. Tais sistemas englobam exemplares de culturas e de animais com exemplares florestais, simultaneamente ou de forma sequencial. Nessa categoria de agroflorestas, variações podem surgir de acordo com os componentes participantes dos sistemas de sucessão (GLIESSMAN, 2005).

Nobre (1998) citou que, aparentemente, a mais importante característica do SAF é sua enorme diversidade de estratégias. Os SAFs ultrapassaram um simples modo de exploração da terra; de fato, esse sistema sofre atuação na segurança alimentar, na reestruturação da fertilidade do solo, na conservação desse mesmo solo e água e da provisão de alimentos para animais e lenha para consumo doméstico.

Os SAFs ainda possuem grande contribuição na geração de renda, cooperam na resolução de conflitos de terra e no estabelecimento de

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políticas de crédito, além de despertar ações politicamente corretas e incentivar processos mais justos de tomadas de decisão (SANCHEZ, 1995).

É importante ressaltar também que os SAFs permitem a utilização de espécies e ecossistemas dos mais diversos biomas, devido à sua variabilidade e flexibilidade. Este último, ao mesmo tempo em que gera liberdade de ação para o agricultor, torna-se inviável qualquer tipo de receita ou manual sobre qual a melhor maneira de implantar e conduzir o sistema.

Podendo ser ajustado de acordo com o tamanho da propriedade e com o nível econômico dos proprietários do sistema, os SAFs devem atender desde agricultores familiares em pequenos hortos caseiros até grandes empresas em plantações florestais, indo ao encontro dos princípios estabelecidos no Plano Nacional de Ater (PNATER)40.

Os SAFs, segundo Melado (2007), demonstram ser a modalidade com maior sustentabilidade entre os diversos modelos de usos da terra. Os Sistemas Silvipastoris, que são sistemas agroflorestais que inserem o pasto e animais, são considerados a melhor forma de manter a sustentabilidade de uma pastagem entre os tipos de manejo.

Em consonância, o sistema Voisin é também considerado o mais perfeito sistema de manejo de animais herbívoros no campo. Portanto, quando se procura manejar um sistema silvipastoril atendendo aos conceitos do Pastoreio Voisin, aumentando, assim, a biodiversidade das forrageiras e dos componentes arbóreos, tem-se uma situação ideal que pode ser chamada de uma “pastagem ecológica” (MELADO, 2007).

Essa pastagem ecológica, ainda de acordo com Melado (2007), possui alto grau de equilíbrio ecológico que pode ser alcançado ao longo do tempo, facilitando, assim, sobretudo o controle natural das principais pragas do pasto e do gado, dispensando ou mitigando o uso dos tratamentos convencionais. É hoje sem dúvida o ideal de produção, pois concilia, entre

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Instituída pela LEI Nº 12.188, de 11 de janeiro de 2010, a Política Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural - PNATER e o Programa Nacional de Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária - PRONATER, altera a Lei nº 8.666, de 21 de junho de 1993, e dá outras providências. Fonte: Casa Civil..., 2010. A PNATER foi construída em parceria com as organizações governamentais e não governamentais de Ater e a sociedade civil organizada e instituída pelo Governo Federal em 2003. Fonte: MDA/SAF..., 2012.

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outras vantagens, um produto isento de resíduos, com o menor custo de produção e a devida proteção ao meio ambiente.

No tópico a seguir,faz-se a abordagem dos SAFs perante a Legislação Ambiental, após o sancionamento do Novo Código Florestal Brasileiro pela Presidenta Dilma Roussef e posterior aprovação no Congresso Nacional.