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3. A linguagem dos imigrantes italianos dos anos 50

3.1. Alguns conceitos de linguagem

Cada indivíduo tem certo número de elementos lingüísticos memorizados que permitem a comunicação. A linguagem humana é fruto da capacidade do homem de comunicar-se com seus semelhantes através de signos verbais, num sistema compreendendo léxico e todas as regras gramaticais; foi aprendido em casa e no meio social, existe na consciência de cada indivíduo, que tem liberdade de combinar os signos e utilizá-los para elaborar sua mensagem e organizar os pensamentos. (Barbosa, 1995)

Para ter uma idéia mais clara do assunto, consideramos os dicionários médios em uso no Brasil e na Itália. O Novo Aurélio de 1999 registra 435 mil verbetes, locuções e definições abrangendo “todas as áreas do conhecimento”. O Zingarelli de 1983 apresenta 127 mil verbetes relativos principalmente à tradição literária. Nos anos do pós guerra, o Novo Palazzi registra 64 mil verbetes de tradição literária. Mesmo no mais reduzido desses dicionários temos um número de palavras que nenhum falante é capaz de memorizar. O sistema é muito mais amplo do que a capacidade do homem - mesmo o mais culto – de armazená-lo.

Quantas dessas palavras são conhecidas pelo falante comum ou mesmo por aquele com escolaridade média superior? Alguns milhares. Quantas palavras conhece o povo não

escolarizado ou pouco escolarizado? Talvez 500 ou mil. Há uma diferença muito grande de conhecimento lingüístico lexical entre as pessoas, determinada pelo nível sócio cultural.

Existem vários graus de comunicação: quando o ouvinte consegue absorver parte da informação; quando o ouvinte consegue absorver quase toda a informação e quando o ouvinte consegue absorver toda a informação. No último caso, ouvinte e falante usam exatamente o mesmo sistema ou código lingüístico, nos dois primeiros casos o ouvinte desconhece signos que fazem parte do sistema ou código do falante. Quando o código lingüístico utilizado não é comum entre o falante e o ouvinte, a conseqüência é uma compreensão fragmentada.

Mais complexa era a condição das massas populares italianas dos anos ’50, particularmente os agricultores pobres de regiões afastadas, com escolaridade mínima que falavam também dialeto, numa época em que a mídia não era tão difundida como hoje, tinham conhecimento limitado da língua materna. Foram esses os que emigraram. Antes mesmo de chegarem ao Brasil tinham dificuldade em se comunicar em italiano com pessoas estranhas ao seu pequeno mundo e não entendiam com clareza uma linguagem mais sofisticada. Apesar disso muitos chegaram ao Brasil carregando livros, preocupados em não perder o pouco que sabiam da língua materna, pela qual tinham carinho e apreço e que ainda e de alguma forma preservam.

3.1.1. Níveis de linguagem:

A primeira distinção na linguagem, então, é social e cultural. A segunda acontece entre língua falada e língua escrita. A língua escrita passa por um processo de planejamento

e organização que permite uma seqüência contínua de idéias. Na língua falada o processo de reflexão e elaboração são paralelos, ocasionando interrupções e retomadas dos assuntos, o discurso torna-se truncado e interrompido. Nosso material para análise apresenta-se em texto oral transcrito. Preservamos as características da oralidade na comunicação: truncamentos, abandono, retomada de assuntos, pausas, etc., o que pode provocar estranhamento, mas não significa falta de conhecimento da língua.

Em relação às diferenciações diafásica e diastrática da língua italiana, De Mauro (1963) sintetiza os níveis lingüísticos na seguinte hierarquia: italiano scientifico, italiano standard, italiano popolare unitario e italiano regional colloquiale.

Berruto (1987) apresenta outro modelo das diferenças de linguagem do italiano contemporâneo baseado em três premissas: 1. evitar misturar as diferentes variações, mas saber que os níveis de linguagem se interseccionam. 2. lembrar que a diferenciação geográfica tem um peso importante para a língua italiana (dialetos). 3. considerar as variantes diafásica, diastrática e diamésica. Berruto desenha uma linha horizontal que vai do polo “italiano scritto-scritto” ao polo “parlato-parlato” (diamésica).

Numa análise diastrática, traça uma linha vertical que vai do polo “alto”, sócio cultural alto, ao polo “basso” sócio cultural baixo. No eixo formado por essas duas linhas, ele desenha uma outra linha transversal para classificar os diferentes níveis de formalidade/informalidade, numa análise diafásica. Ainda, isola algumas categorias de linguagem a título exemplificativo, com variedades fundamentais que estabelecem pontos de referência. Do formal ao informal; acadêmico, burocrático, literário; do culto ao regional e ao popular. Berruto também atesta que é tênue a linha que separa os níveis de diferenciação de linguagem:

Il riconoscimento dell’autonomia della dimensione diamesica non è del tutto chiarito in sede teorica. Indubbiamente, uso scritto e uso parlato rappresentano due grandi classi di situazioni d’impiego della lingua: e questo è un buon argomento per ritenere la diamesia una sottocategoria della diafasìa. D’altra parte, è anche vero che l’opposizione scritto-parlato taglia transversalmente la diafasìa e le altre dimensioni, e non è riconducibile completamente all’opposizione formale-informale.” (Berruto,1994:24)

Os diferentes níveis de linguagem não se apresentam numa disposição rígida e simples, tornando possível encontrarmos: nível de linguagem oral formal e nível de linguagem oral informal, etc.

Nessa ótica, as transcrições que fazem parte do corpus desse trabalho apresentam características da linguagem falada de nível coloquial popular com influências regionais/dialetais acentuadas.

3.2. Formação da linguagem em Pedrinhas Paulista

Ao longo da permanência no Brasil, os italianos sofreram adaptações como acenamos no capitulo anterior. Uma delas foi a adaptação e mudança da linguagem usada por eles.

De acordo com obras consultadas sobre o tema, podemos visualizar um quadro geral da situação lingüística dos italianos da comunidade em três momentos distintos: em 1953, no período da sua chegada ao Brasil; outro momento em 2000, na pesquisa da profª Giliola

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