• Nenhum resultado encontrado

3. A linguagem dos imigrantes italianos dos anos 50

1.2. Criação da tradição

A “chamada” dos italianos inscritos no programa de imigração pelo modelo de colonização que fixava as famílias em núcleos agrícolas, alimentava o sonho de enriquecimento, pois a expectativa de vencer pelo próprio esforço numa terra de oportunidades era reforçada pelas “facilidades” que a Companhia ofereceria. De fato, cada família não haveria de se preocupar com os elementos básicos como moradia e terras para trabalho, podendo se concentrar no objetivo principal: “fazer a América”. Em segundo lugar mas não menos importante, esse modelo garantiria, no imaginário dos italianos, a manutenção da italianidade do grupo, recriando uma pequena Itália dentro do Brasil. De fato, as tradições italianas se mantiveram melhor preservadas nas localidades onde o fluxo migratório foi implantado em forma de comunidades tipicamente italianas, o que favoreceu o retardo ao processo de aculturação.

Mas a dura realidade mostrou aos italianos que, viver em outro ambiente não era tarefa fácil e o processo de transferência de país e todas as adaptações decorrentes foram traumáticas. Muitos regressaram logo nos primeiros anos, mas as famílias que permaneceram passaram por um doloroso processo de ajustes e progressiva aceitação da nova condição de vida.

insetos de todos os tipos, terra vermelha por toda parte, falta ou dificuldade de obtenção de água e outras dificuldades relacionadas ao clima, o que impediu ou dificultou o cultivo da lavoura ou criação de animais pelos métodos utilizados na Itália, obrigando-os ao aprendizado dos métodos brasileiros, tanto para a lavoura e a criação de animais como para o preparo dos alimentos.

100 (...) L1- quando siamo arrivati a casa peggio ancora::; l’erba che non si vedeva neanche per entrare dentro di casa...ci hanno portato la pastasciutta su:::su un camioncino d/dentro l/la pentola grande così col mescolo la pastasciutta un pezzo di pane...(ridono) oh si ride ma...a veder quella casa a veder mo/mobili...

141(...)L1 - ... certo dopo non è stato facile...o fatto di ambientarsi::: tipo di lavoro e::: un po’ la lingua e:::: la gente tutto ci hanno tutto un altro costume nostro e::: ci mancava tutto perchè::: abbiamo lasciato l’ambiente la casa l’/abbiamo arrivato qui la Companhia ci ha dato una casetta ci ha dato il letto per dormire::: un pezzo di cucina con sedie con tavolo tutto quanto...ma non era quello che avevamo lasciato...cominciare dal mangiare da quell/tutto quelle storie...

A obtenção de água livre de terra vermelha dos rios era tarefa difícil e forçou os italianos a consumi-la ainda não muito límpida, provocando rejeição em todos, acostumados à água cristalina proveniente das nascentes dos Alpes e dos Apeninos. A obtenção de água mais limpa - estava condicionada à escavação de poços artesianos que alcançavam apenas lençóis freáticos superficiais que depois de um tempo ficavam esgotados. Para lavar as roupas brancas tinham de fervê-las, como faziam as brasileiras.

Por meios mais modernos, pôde-se alcançar através de perfuração mais profunda, as águas do aqüífero de Botucatu ou Guarani, o maior do mundo, o que colocou fim ao problema da água impura do início da ocupação da colônia.

(fonte:www.daaeararaquara.com.br/guarani)

Os relatos a respeito da água encontrada no início da colônia são unânimes e sempre em tom negativo. Selecionamos alguns:

74 (...) L1 - Siamo venuti qui...è arrivato...si è presentato un ragazzo, un::: altone ( ).. e ci aveva pergutato se avevamo acqua...o companheiro c’era dato due filtri che erano de terracotta, sti filtri erano dentro e l’acqua si manteneva fresca e ( ) insomma bevevamo così...

105 (...) Doc: e il problema più grande così per adattarsi [...] L1 - è stato un po duro perchè si abitava fuori e non c’era e:::/ non c’èra acqua...e:::e:::e l’acqua ce la portavano con i fusti ...e. ( ) ce n’era poca perche con quei fusti ( ) si vede che Dio non voleva che si amalassi nè perchè (ridono) i pozzi furavano i pozzi e poi::: dava l’acqua un due tre mesi e poi venivano sempre con questi pr/pr/pr/ portarci::: ci portavano l’acqua con questi fusti e:::per laVARE per fare da mangiARE per tutto allora si prendeva con::con dei secchi:::cecchi se/ secchi secchi neh? L2 – ( ) da l’acqua con baldi neh?... e::: pulita quella più pulita per fare da mangiare e per bere, dopo quella ci la/ce la mettevano sui fusti la roba invece di diventar bianca diventava gialla perchè l’acqua non era tanto chiara si bella pulita e anche la terra rossa...

273 (...) L1 - non c’era l’acqua incanata in casa si doveva prendere acqua nel rio per il bagno.. per tutto neh? lavare la robba dentro del rio neh? con le gambe dentro sull’acqua il giorno intero lavando ropa lá nel rio...perchè non c’era acqua nel pozzo solo in tempo d’inverno che pioveva abbastanza allora c’era un poco di acqua se no il tempo d’estate non c’era mai acqua nel pozzo...allora si doveva prendere per bere per fare il bagno per tutto.

130 (...) L1 - ...ma abbiamo sofferto... non c’era acqua da bevere..portava l’acqua sulle cosa con quelle...come si chiama...con quelle cisterne nè..con quelle vasche aí..ma grazie a Dio non abbiamo preso malattie...

O choque da chegada - marcada por sofrimento relatado nas entrevistas - foi superado na prática por um aprendizado de novas técnicas agrícolas, e o contato com brasileiros facilitou as adaptações, inclusive comunicativas e alimentares.

A questão alimentar está diretamente ligada ao afetivo dos imigrantes de Pedrinhas mas, aos poucos, os alimentos brasileiros acabam entrando para o cotidiano, por necessidade, misturando-se aos alimentos italianos. No momento da chegada, as adaptações aos hábitos ficam condicionadas à obtenção de alimentos, ou seja, no interior do Estado o acesso aos gêneros é dificultado pela distância considerável do centro urbano mais próximo, Assis, e pela situação econômica dos imigrantes no início da implantação da colônia que só permitia a aquisição de gêneros básicos, pois deveriam pagar as dívidas da viagem. Certos alimentos que faziam parte da sua alimentação na Itália não foram facilmente encontrados, reforçando o sentimento de perda de identidade. A impressão inicial, ao desembarcarem e permanecerem por alguns dias na Hospedaria do Imigrante, foi marcada por uma rejeição ao alimento brasileiro sendo considerado de inferior qualidade ou então de gostos estranhos. Rejeições alimentares simbolizam também a negação da aceitação da nova condição de vida.

219(...) L1 - a São Paulo... siamo rimasti 4 giorni no centro de imigração.. e:: il mangiare era pessimo... facevano della pasta che potevi mettere manifesti per le pareti...

198 (...) L1 - Il caffè non era buono...era trascurato...ma la gente era buona...[...] quando siamo arrivati all’imigrazione... a noi ci hanno accolti... ci hanno ( )... non era mangiare tanto ma... só che era quel caffè forte...quel riso... il pane mezzo bruciato... e ci ha fatto male a tutti... ((ride))

Ocorre que com o tempo os italianos acabam por aceitar a brasilianidade das preparações, incorporando novos sabores e cedendo lugar ao novo. Percebem que encontraram terra boa para o cultivo de alimentos, tendo maior facilidade de produzi-los em relação ao que estavam acostumados no seu lugar de origem, e passam a aceitar a constante afabilidade dos vizinhos brasileiros, que como forma de aproximação, ofereciam comida, normalmente frutas.

228 (...) L1 - Quando siamo arrivati qui... abbiamo trovato molta ospitalità... gente che mais pensava di averle viste... gente poverete che ci veniva a visitare... se avevamo bisogno di qualche cosa ci portavano le banane... le abacaxi...

Essa troca afetiva também foi fator facilitador para a aceitação das comidas diferentes. A progressiva aceitação dos hábitos alimentares locais resultou numa dieta híbrida, ou seja, de fusão das duas culturas:

60 (...)L1 non si può lasciare...ma non possiamo lasciare neanche

riso e fagioli [...] è buono... questi le due..le due...noi la/la

acculturazione:: come si dice Brasil Italia è una acculturazione molto bella perchè due paesi c’hanno molte buone cose da apro/da aproveitare neh?...

As famílias que permaneceram, e enfrentaram heroicamente a empreitada, passaram por um aprendizado de novas técnicas agrícolas e souberam aproveitar bem as oportunidades com as safras, de soja, por exemplo. Com o tempo, concretizava-se o sonho de se “fazer a América”.

Começaram a perceber que no Brasil era possível incrementar a mesa com refeições e alimentos que na Itália não era possível colocar à mesa de todo dia, como a carne de vaca. A aceitação da comida através desse deslumbramento facilitou a aceitação do Brasil, e ao mesmo tempo, da língua portuguesa.

Ao longo de todo o processo de adaptação evidencia-se a constante tentativa de preservar a cultura, muito marcada pela religiosidade - sendo o catolicismo sinônimo do italianismo - e pela manutenção da língua, músicas, danças e preparações típicas. As duas formas de preservação da cultura se interseccionam, se complementam.

Mas foi recentemente que, depois do processo de adaptação em que o objetivo principal já estava alcançado, reforçou-se a tentativa de recuperar a cultura italiana, a identidade.

153 (...)F1 – si...si..non tutte le famiglie ma noi principalmente noi che siamo del centro di Italia che c’era...abbiamo la...la...la pastasciutta e più più neh...eravamo...siamo abbiamo lasciato un po’...ci è stato un periodo di anni...che abbiamo un po’ trascurato le nostre abitudini per fatto che si pensava più a lavorare e c’era poco tempo libero le nostre donne venivano con noi a lavovare e allora non non c’era come ma...di un tempo a sta parte è cominciata a rinascere i vecchi costumi come si faceva la carne ai tempi nostri come si faceva la

pasta come e::: dopo son venuto queste feste che facciamo la macarronada indispensabile e tu/tutto quelle storia lì e oggi a

maggior parte delle famiglie stan tornando a::; rivivere i vecchi costumi nostri neh...tanto per passare come si ( ) a sta gente nuova per farci capire

224 (...)L1 - la polenta::: quando eravamo nel commercio era tutti i giorni... ma poi a quell’epoca i bambini erano giovani... la moglie lavora sul banco e le serve non la sapevano facere... la mia moglie non aveva tempo...salta un giorno.. salta due salta tre... piano piano abbiamo perso ancora il costume mas una volta o due alla settimana sempre si fa...sempre si fa... (...)

Documentos relacionados