• Nenhum resultado encontrado

2.2 Pesquisas recentes sobre clima escolar e desempenho

2.2.2 Alguns pressupostos teóricos sobre avaliação escolar

Os muitos instrumentos de avaliação utilizados pelos professores no processo de ensino e de aprendizagem e sua aplicabilidade e até que ponto esses métodos contribuem para a construção do conhecimento, são questões a serem debatidas no espaço escolar. Uma vez que o sentimento de segurança e de bem-

estar, de autoestima positiva e de bom desempenho escolar, de acordo com as diversas pesquisas aqui apresentadas, têm relação com um clima escolar favorável. Cada instituição escolar tem definido de forma clara, o significado da avaliação em seu Projeto Político Pedagógico (PPP), entretanto vamos nos ater a responder as questões acima colocadas. Luckesi (2002) garante que a avaliação educacional deve ser um processo para auxiliar no desenvolvimento cognitivo do aluno, porém, nas instituições de ensino a avaliação não tem sido utilizada como elemento que auxilie esse desenvolvimento, e sim, que se vinculam a mensurações e quantificações do saber. Essa prática, destitui a avaliação de seu real sentido que é o de identificar e estimular os potenciais individuais e coletivos dos alunos. Luckesi apresenta uma definição que ele chama de mais comum e adequada que é

“avaliação é um julgamento de valor sobre manifestações relevantes da realidade, tendo em vista uma tomada de decisão” (LUCKESI, 1978/2002, p. 33). Três pontos

importantes são destacados pelo autor, frente a essa definição. O primeiro refere-se à avaliação como um juízo de valor, o que para ele significa uma afirmação qualitativa sobre o objeto a ser avaliado como satisfatório ou menos satisfatório, por exemplo. O segundo pauta-se nos caracteres específicos da realidade (objeto da avaliação), ou seja, o julgamento não será inteiramente subjetivo, já que os caracteres distintos de uma determinada disciplina, como por exemplo a matemática, que fornecerão a base para que se avalie os indicadores específicos, como o raciocínio matemático. E o útimo ponto conduz a uma tomada de decisão, traduzida por Luckesi (2002, p. 33) como “[...] um posicionamento de “não-

indiferença”, o que significa obrigatoriamente uma tomada de posição sobre o objeto avaliado e, uma tomada de decisão quando se trata de um processo, como é o caso da aprendizagem”.

O processo avaliativo de uma instituição educativa demarca a qualidade do ensino e da aprendizagem, pois de acordo com o autor supracitado, a tomada de decisão frente aos resultados faz toda a diferença para a evolução do aluno e de seu conhecimento. Todavia, a avaliação tida como verificação é estática e classificatória e a de caráter diagnóstica tem a função de possibilitar uma tomada de decisão.

Dada essa compreensão alguns autores (SANMARTÍ, 2009; LOPES; SILVA, 2012; VASCONCELLOS, 1998), apontam também definições, estratégias e reflexões que serão aqui utilizadas, a fim de fomentar a discussão desse tema que permeia as escolas e resvala na família, que tem como único parâmetro o

instrumento “prova/nota”, como reflexo do desempenho escolar de seu filho. Iniciemos por Vasconcellos (1998) que diz que o primeiro passo a ser dado reflete as ações do professor que envolve o querer mudar, o compromisso efetivo e por fim, a vontade política. Mas alguns cuidados devem ser tomados, como o de achar que tudo é muito fácil, que é apenas uma questão de boa vontade e que depende de cada um apenas. E o outro cuidado é o de pensar contrariamente e se mobilizar, que não é possível se fazer nada ou promover algum tipo de mudança, pois o problema é do sistema. Vasconcellos (1998) aponta uma direção voltada à busca de um procedimento metodológico que sustente uma avaliação justa e coerente em sala de aula. A construção do método de trabalho supõe a perspectiva dialética- libertadora, que compreende alguns elementos: partir da prática existente; refletir sobre a prática (onde se está; para onde se quer ir e o que fazer para se atingir tais propósitos) e por fim, transformar a prática. A partir dessa concepção, o autor levanta a questão que parece ser muito mais difícil mudar a metodologia em sala de aula do que a própria avaliação, considerando-se a influência mútua entre elas. A metodologia de trabalho em sala de aula muitas vezes, inadequada e carente de significados aos alunos, gera a indisciplina, que por sua vez é controlada pela ameça da nota. Nessa vertente a avaliação perde sua função de reorientação do processo de ensino e aprendizagem e passa a ser um instrumento muitas vezes de poder, da escola, do professor e dos próprios pais.

Vasconcellos (1998) propõe algumas alternativas que se iniciam pela alteração da metodologia em sala de aula, visando o trabalho com os conteúdos de forma significativa, dando um sentido ao conhecimento. Essas estratégias preveem uma participação ativa dos alunos. Uma outra proposta equivale à ênfase nas avaliações que acompanham o processo, a diagnóstica, formativa e processual, evitando a avaliação classificatória, sem tomada de decisão por parte do professor. Essa mudança de conduta requer que o professor veja a avaliação inicialmente como um diagnóstico, para que sejam tomadas, depois, decisões sobre o que fazer para superar os problemas diagnosticados.

Sanmartí (2009) destaca que a avaliação formativa tem por objetivo regular o processo de ensino e o de aprendizagem, no entanto, ela acredita que a função do professor nesse prisma é a de compartilhar com os alunos o processo avaliativo, objetivando que o próprio aluno corrija os seus erros, conscientizando-se dos equívocos que cometeu e assim tomar decisões adequadas de mudanças. Ainda a

autora (2009) propõe os conceitos de autoavaliação (que envolve um mecanismo de aprendizagem, de apropriação e de estratégias de pensamento que se apliquem para responder as tarefas que lhes são propostas) e a de coavaliação (em que o aluno resolve os problemas e trocam entre si para que os erros sejam identificados, acertos sejam marcados e melhorias sejam propostas) como recursos imprescindíveis neste formato avaliativo. De acordo com Sanmartí (2009, p. 17), “a avaliação é o motor da aprendizagem”.

Lopes e Silva (2012), apresentam definições acerca das avaliações de caráter classificatória (avaliação da aprendizagem), formativa (avaliação para a aprendizagem e como aprendizagem) e somativa (avaliação que determina o sucesso ou fracasso). A primeira, tem uma intenção seletiva, que resulta numa seriação dos alunos, pois os classifica numa posição e mede o que se sabe ou não, sem a preocupação de retomar os conteúdos para promover o avanço. A avaliação formativa fornece informações durante o percurso do aprendizado, é um processo frequente, contínuo, que envolve professores e alunos numa relação de cooperação, para que se recolham dados sobre a aprendizagem e se tomem decisões. E por fim, a avaliação somativa, centrada no professor, mede o nível do aluno e envolve a avaliação do desempenho do aluno, geralmente no final de uma etapa ou no final do ano.

Como exposto acima, diversas são as definições e proposições sobre o tema avaliação, no entanto, optamos por nos balizar neste trabalho, como aquela que faz parte do percurso escolar do aluno e que demanda um movimento integrado de feedbacks constantes entre professor e aluno, com um propósito muito claro e específico, tomar uma decisão que promova a construção do conhecimento do aluno.

3 A CONSTRUÇÃO DO CONHECIMENTO E AUTONOMIA INTELECTUAL:

Documentos relacionados