CAPÍTULO I DA REVOLUÇÃO INVISÍVEL AO RISCO GLOBAL:
1.5 ESTADO DA ARTE DAS N&NS NO BRASIL: BREVE HISTÓRIA E INVENTÁRIO
1.5.2 Alguns resultados e prospecções
Ao longo de uma década de planejamento e ações para o desenvolvimento da N&N no Brasil, alguns resultados interessantes podem ser destacados, principalmente no que se refere ao número de grupos de pesquisa formais e pesquisadores envolvidos com a atividade. Algumas empresas brasileiras já lançaram produtos no mercado criados com base em procedimentos nanotecnológicos e já podem ser encontradas algumas patentes depositadas no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi). Além disso, algumas prospecções já foram realizadas para o setor no Brasil.
Numa pesquisa que realizamos em 2009 (SANTOS JUNIOR, SANTOS e DUPIM, 2010), apuramos a existência no Brasil de cerca de 124 Grupos de Pesquisa formais registrados no CNPq que trabalham com nanotecnologia, divididos em quatro áreas e atuando em muitos segmentos. A maior parte desses grupos é da área de Ciências Exatas e da Terra (42%), seguida da área de Engenharias (27%), Ciências Biológicas e Saúde (24%) e Humanas (7%). Em termos de dispersão geográfica, 54% desses grupos estão na Região Sudeste, 23% na Nordeste, 16% na Sul, 4% na Norte e 3% na Região Centro-Oeste.
São aproximadamente 60 instituições de ensino e pesquisa envolvidas com atividades na área de N&N, além de outras que trabalham exclusivamente com pesquisa, como é o caso da Fundação Osvaldo Cruz, Embrapa, Instituto de Pesquisa Tecnológicas, entre outras. No que respeita à participação nas pesquisas por Instituições, destaca-se primeiramente a Universidade de São Paulo (USP) com dez grupos, seguida pelas Universidade Federal do Rio de Janeiro e Universidade Federal de Pernambuco, com oito grupos cada, e a Universidade Estadual de Campinas, com 5 grupos. Quanto aos recursos humanos envolvidos, são cerca de 1620 pesquisadores, desde seniores a iniciantes. Desse total, 38% são Doutores, 31% Pós-doutores, 14% Mestres, 12% Graduados e 5% Técnicos com 2º grau- completo.
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Quadro 9 - Distribuição dos Grupos de Pesquisa por área no CNPq.
Grupos Nº de grupos
Nanoquímica 15
Nanotecnologia aplicada ao agronegócio 6
Nanomateriais 24 Nanocomputação 1
Matemática aplicada à nanotecnologia 1
Aplicação de nanotecnologia a novos produtos 9
Nanofísica 10 Nanomedicina 3 Nanobiotecnologia 11 Nanoengenharia 15 Nanotecnologia enquanto objeto de estudo sociológico 10
Nanofármacos 11 Nanobiologia 8
Fonte: Elaboração própria. Base de dados do Diretório dos Grupos de Pesquisa do CNPq, Disponível em: http://www.cnpq.br/gpesq/apresentacao.htm, consultado entre julho e setembro de 2009.
Martins et. al. (2007) listaram mais de 40 empresas que já desenvolvem produtos da nanotecnologia no País e ressaltam que o número de patentes de empresas estrangeiras depositadas no INPI é superior ao de empresas nacionais. No Quadro 10 a seguir apresentamos alguns exemplos de nanotecnologias genuinamente brasileiras. Interessante notar que muitos produtos já se encontram disponíveis para os consumidores finais.
Quadro 10 - Exemplos de algumas empresas no Brasil que utilizam processos nanotecnológicos e os produtos derivados
EMPRESAS PRODUTOS Orbys IMBRIK – Nanocompósito polimérico de látex de borracha natural e argila para
fabricação de adesivos, embalagens, calçados, artigos esportivos.
Santista Têxtil
TECHNOPOLO LIGHT: produto com tratamento denominado NanoConfort com acabamento antimicrobial.
Embrapa FILME PROTETOR COMESTÍVEL: aplicação sobre produtos para retardar o
processo de decomposição natural de frutas e legumes.
LÍNGUA ELETRÔNICA: Verificador eletrônico de qualidade da água e degustador de bebidas. Possui grande rapidez e alta sensibilidade nas análises das características dos líquidos.
Nanox NANOX BARRIER: protege superfícies contra processos de corrosão e abrasão.
NANOX CLEAN coatings nanoestruturados que facilitam processo de limpeza e esterilização. NANOX HIDROCELL: possibilita sínteses especiais de nanopartículas com formas complexas e controle das condições de contorno.
Nanotex Tratamento com nanopartículas que atribui ao pano a propriedade de repelir
líquidos.
Natura NATURA EKOS (Linha Brumade leite): linhas de hidratantes de pele que utiliza
nanotecnologia no processo de fabricação.
O Boticário NANOSERUM: cosméticos com fórmula nanoestruturada que permite que os
ativos sejam liberados e direcionados para todas as camadas da pele.
Faber-Castell Desenvolvimento de grafite com maior resistência, maciez e coloração. Incrementha
PD&I
Solicitou em 2007 patente de um anestésico para uso tópico, inserido em nanocápsulas que conferem maior permeabilidade quando aplicado à pele.
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Buscando fazer uma prospecção das atividades de N&N no Brasil, mapeando as iniciativas atuais e planejando as ações futuras, a Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), entidade que atua na execução, coordenação e monitoramento da política industrial brasileira e que desenvolve ações de implementação e acompanhamento da Estratégia Nacional de Nanotecnologia, encomendou, junto ao Centro de Gestão e Estudos Estratégicos (CGEE), órgão ligado ao MCT, o “Estudo Prospectivo – Nanotecnologia: 2008- 2025”. O estudo apontou as áreas mais impactadas pelas aplicações das nanotecnologias no Brasil, conforme Quadro 11 abaixo.
Quadro 11 - Setores mais impactados pelas aplicações da nanotecnologia no Brasil
SETOR HORIZONTE TEMPORAL
Fabricação de material eletrônico e de aparelhos e equipamentos de comunicações.
2011- 2015
Medicina e saúde 2011- 2015
Higiene, perfumaria e cosméticos 2008 - 2010
Petróleo, gás natural e petroquímica 2011- 2015
Aeronáutico 2011- 2015
Biocombustíveis 2011- 2015
Plásticos 2011- 2015
Meio ambiente 2011- 2015
Agroindústrias 2008 - 2010
Fonte: ABDI (2009a).
Vemos conforme o estudo prospectivo que, a “Era da Nanotecnologia” no Brasil está para começar, já que o horizonte temporal para a maioria dos setores tem como início o ano de 2011. O setor de cosméticos já vem apresentando vários investimentos, talvez por ser uma área de forte aceitação de novidades por parte do consumidor.
A N&N é tratada nos documentos oficiais do governo brasileiro como uma atividade “Portadora de Futuro” e por isso está inserida nos principais programas prioritários. Isso significa que o governo está apostando nessa iniciativa como fonte de promoção da competitividade nacional, daí as ações na área de Política industrial, científica e tecnológica que desde 2001 passaram progressivamente a incorporar a N&N como principal estratégia de desenvolvimento. No próximo capítulo empreendemos uma discussão acerca da visão desenvolvimentista e das apostas feitas na tecnologia, apontando as virtudes e os vícios históricos dessa visão.
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