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ASPECTOS METOLÓGICOS DA ANÁLISE

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CAPÍTULO III POLICY E POLITICS DO SETOR DE N&N NO

3.1 ASPECTOS METOLÓGICOS DA ANÁLISE

Nos capítulos anteriores levamos a cabo uma ampla discussão acerca dos imbróglios que permeiam a introdução e o desenvolvimento de políticas para novas tecnologias, buscando explicitar temas recorrentes no universo da tecnociência que acabam demandando atenção especial dos pesquisadores, sobretudo das ciências humanas e sociais. No caso das N&Ns, buscamos destacar como essas questões tornam-se ainda mais problemáticas; primeiro porque se tratam de áreas inter ou transdisciplinares, o que aponta para a necessidade de maior colaboração entre pesquisadores e gestores; segundo porque os riscos previstos na gama de inovações possíveis através delas podem ser de consequências globais e de controle negligenciável; e terceiro, porque suas políticas se encontram em um ambiente cujo foco na empresa parece flexibilizar os debates acerca dos marcos regulatórios.

Tendo em vista essas características e considerando o desenvolvimento constante desde 2001 de um Programa Brasileiro de Nanotecnologia (doravante PBNano), a partir de agora nosso estudo busca contemplar os seguintes objetivos específicos: a) analisar a orientação da política, verificando o papel atribuído ao histórico gargalo da interação universidade-empresa e o reflexo desse em termos de promoção da competitividade da empresa nacional; b) destacar as instâncias decisórias, sua visão de futuro e seus reflexos na operacionalização das políticas; e c) descrever se e como a questão do risco e a participação social aparecem nos textos oficiais. A fim de atingir esses objetivos, verificar a hipótese inicial de que é a comunidade de pesquisa quem possui o poder de determinar os rumos da política, e caminhar para o encontro do objetivo central da tese que trata da análise do

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ambiente decisório das políticas de N&N no Brasil, trabalhamos com a seguinte sequência metodológico-analítica.

Primeiro, para analisar a orientação da política, verificamos detalhadamente o conteúdo de todas as ações do MCT e do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC) que focam a N&N, contrastando com a efetiva execução no âmbito do CNPq e da FINEP. Tais informações constam nos macroprogramas da política industrial, tecnológica e de desenvolvimento brasileira e nos subprogamas de desenvolvimento científico tecnológico69. As questões fundamentais que orientaram essa tarefa foram:

• Qual é o conteúdo do discurso acerca da N&N presente nos programas de desenvolvimento brasileiro? O que se espera, oficialmente, dessas atividades?

• Que instrumentos foram propostos para atingir os objetivos das políticas?

• Quais setores estiveram envolvidos no processo de formulação e implementação das políticas para a N&N no Brasil70?

Nessa fase também analisamos o volume e a qualidade dos financiamentos de pesquisa levados a cabo pelo CNPq no período 2000-2010 e pela FINEP entre 2004 e 2010. Isso nos forneceu pistas sobre as áreas que mais têm sido foco das políticas executadas pelo governo. Além disso, fizemos uma avaliação da comunidade de pesquisa (comitês avaliadores, coordenadores de pesquisa, etc.) envolvida nos projetos em diversas áreas, contrastando essas informações com a arquitetura das instâncias decisórias (oficiais) do SNDCT. Aqui a questão fundamental investigada foi: Como os diversos atores (participantes dos comitês científicos, pesquisadores, ocupantes de cargos estratégicos, líderes de grupos de pesquisa) que compõem a densa teia da formulação e execução do PBNano se interconectam (participam, decidem) nas arenas decisórias e quais são os interesses existentes?

À luz dessas informações, nos apropriamos das reflexões analíticas apresentadas no capítulo anterior para verificar: a) a existência ou não de problemas típicos de relações de agenciamento, sobretudo no que se refere à relação entre conteúdo das políticas e agendas de pesquisa; e b) o papel da comunidade de pesquisa que se organiza sob a forma de rede social capaz de permear o Estado.

Quanto ao problema da relação universidade-empresa, os dados da Finep mostram quais as empresas que receberam recursos dos fundos setoriais para desenvolver projetos na área em voga. Além disso, os dados de inovação do INPI para a área de nanotecnologia mostram o volume de patentes de empresas nacionais (em parceria ou não com as universidades) e estrangeiras depositadas ao longo desses anos. Isso forneceu pistas sobre a eficácia da política de aproximação entre estes atores.

Quanto aos temas do gerenciamento dos riscos e da participação social, voltamos novamente à análise do conteúdo stricto sensu das políticas. Verificamos então se e como esses temas aparecem nos textos e qual o desdobrando em ações práticas durante a fase de execução. Já a questão da participação social, esta foi verificada através da composição dos

69 As informações desses programas foram obtidas através de várias edições do Diário Oficial da União e dos

documentos oficiais disponibilizados pelo governo brasileiro, através das páginas eletrônicas dos referidos ministérios.

70 Existem pelo menos quatro setores envolvidos com a formulação e implementação das PCTs: comunidade

científica (ou de pesquisa), setores empresariais, setor governo (executivo e tecnocracia) e sociedade civil organizada.

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comitês científicos, instâncias decisórias e de coordenação, dos gestores dos projetos e das diversas ações no âmbito do PBNano.

Antes de iniciar a análise stricto sensu do conteúdo das políticas ao longo dos anos 2000, momento em que a N&N se materializa gradativamente enquanto componente estratégico das ações em C&T no Brasil, apresentamos a seguir uma breve seção onde descrevemos a atual estrutura do SNDCT. Tendo em vista o papel que se atribuiu à inovação no fim dos anos 1990 e início dos 2000 e devido à sua forte presença nas atuais PCTs, passamos agora a tratar esse Sistema, em consonância com os escritos do próprio MCT, de Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação (SNCT&I). Vale destacar que a Medida Provisória 541, de 03 de Agosto de 2011, mudou o nome do MCT para Ministério de Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI). Assim, para homogeneizar a linguagem, passaremos a tratar PCT como PCT&I, incluindo definitivamente a inovação.

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