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As primeiras experiências e as institucionalidades

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CAPÍTULO I DA REVOLUÇÃO INVISÍVEL AO RISCO GLOBAL:

1.5 ESTADO DA ARTE DAS N&NS NO BRASIL: BREVE HISTÓRIA E INVENTÁRIO

1.5.1 As primeiras experiências e as institucionalidades

Apesar de os documentos oficiais darem conta das N&Ns apenas no início do século XXI, as primeiras experiências com nanociência no Brasil podem ser encontradas bem antes, provavelmente no fim da década de 1970 e início dos anos 1980. Certamente os estudos incipientes daquele período foram resultado de uma inflexão positiva na atividade científica e tecnológica brasileira que teve início ainda na década de 1950, e que seguiu exitosa por algumas décadas, tendo como principal fruto a consubstanciação de grupos de vanguarda na atividade científica brasileira45.

O “Relatório Nanotecnologia Investimentos, Resultados e Demandas” do Ministério de Ciência e Tecnologia (MCT) de junho de 2006 (BRASIL, 2006), destaca que, apesar de ainda não se falar em nanotecnologia, foi em 1987 que o Brasil deu o primeiro passo explícito em termos de política para a área. Nesse ano, o CNPq investiu US$10 milhões em equipamentos para técnicas de crescimento na área de semicondutores.

Em julho de 1997, o Brasil inaugurou o Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS) que proporcionou um alto ganho de qualidade nas pesquisas científicas brasileiras. De acordo com Brum (2007), o LNLS é hoje um complexo de laboratórios que opera como um centro nacional aberto, oferecendo infraestrutura a todos os pesquisadores do Brasil e do mundo. O laboratório conta com uma equipe própria de pesquisadores, mas aproximadamente cerca de 90% dos usuários são de outras instituições.

Conforme destaca Cylon G. da Silva (apud Fernandes e Filgueiras, 2008, p. 2208), a implantação do LNLS representou um grande avanço do Brasil nos estudos sobre matéria no nível atômico. Nesse sentido, apesar de ainda não se falar em nanotecnologia, o Brasil já criava expertise e instrumentos preparados para a atuação nessa área. Para o físico, ao longo dos anos, o País investiu em laboratórios capazes de fazer nanotecnologia e nanociência, sem usar esse termo. E as instituições de fomento, como a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), o Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e a Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP) foram grandes financiadores dessas atividades.

O Quadro 7 resume os principais marcos institucionais do governo brasileiro na área de N&N.

44 Nessa subseção apontamos alguns marcos importantes sobre o desenvolvimento da N&N no Brasil. Um

inventário completo sobre o tema pode ser encontrado no trabalho de Fernandes (2007).

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Quadro 7 - Marcos institucionais do desenvolvimento da N&N no País

ANO MARCOS INSTITUCIONAIS

1987 Investimento do CNPq em equipamentos para técnicas de crescimento epitaxial de semicondutores. 2000 Reunião seminal do CNPq/MCT sobre o desenvolvimento futuro da N&N no País.

2001 Criadas, a partir do Edital CNPq Nano 01/2001, quatro redes de nanotecnologia. 2001 Apoiados quatro Institutos do Milênio na área de N&N.

2003 Criado o Grupo de Trabalho de Nanotecnologia para elaboração do Programa de Nanotecnologia. 2003 Criada a Coordenação-Geral de Políticas e Programas de Nanotecnologia, atualmente

Coordenação Geral de Micro e Nanotecnologias.

2004 Início do Programa Desenvolvimento da Nanociência e Nanotecnologia no âmbito do PPA – 2004-2007.

2004 Criado GT para estudo sobre a implantação do Laboratório Nacional de Micro e nanotecnologia. 2004 Criada a Ação Transversal de Nanotecnologia nos Fundos Setoriais.

2004 Instituída a Rede BrasilNano e seu Comitê Diretor.

2005 Designados os membros do Conselho Diretor da Rede BrasilNano. 2005 Lançado o Programa Nacional de Nanotecnologia (PNN).

2005 Assinado o Protocolo de Intenções entre Brasil e Argentina criando o Centro Brasileiro- Argentino de Nanotecnologia (CBAN).

2005 Selecionadas 10 Redes Nacionais de Nanotecnologia, com atuação prevista para o período 2006-2009.

2007

Lançamento do Plano de Ação em C&T&I - PACTI, cujas ações são executadas de forma articulada e coordenada por diversos Ministérios, tendo à frente o Ministério de Ciência e Tecnologia – MCT.

2008 Inauguração do Centro de Nanociência e Nanotecnologia Cesar Lattes, construído no campus do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS), em março de 2008.

2008

Lançamento pelo Governo Federal da Política de Desenvolvimento Produtivo – PDP em maio de 2008. Integra a PDP o Programa Mobilizador em Nanotecnologia, cuja gestão está a cargo do MCT.

Fonte: CGEE (2008).

Em 2001, foi publicado o “Livro Verde” (Ciência, Tecnologia e Inovação: desafio para a sociedade brasileira), projeto coordenado pelo MCT que tinha o objetivo de discutir o papel do conhecimento e da inovação para o desenvolvimento econômico e social do País (BRASIL, 2001c). Nesse livro nanotecnologia e nanociência aparecem como atividades merecedoras de atenção nos debates acerca do futuro da ciência no Brasil.

A partir desse reconhecimento, o MCT passou a trabalhar de forma sistemática na construção de um ambiente científico e tecnológico que abrisse espaço para o apoio à

expertise nacional na área de N&N. Assim, em 2001, foram criadas quatro redes de

nanotecnologias através de edital específico, o que inaugurou as pesquisas colaborativas e institucionalizadas pelo governo.

Em termos de apoio à infraestrutura, além do financiamento às atividades das redes, foram financiados laboratórios como o Luz Síncrotron e Nanometrologia (do Instituto Nacional de Metrologia - Inmetro) com aquisição de equipamentos de última geração. Além disso, foram financiados outros três laboratórios estratégicos em nanotecnologia no Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas - CBPF, na Embrapa Instrumentação (em São Carlos-SP) e no Centro Estratégico de Tecnologia do Nordeste (Cetene).

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Quadro 8 - Infraestrutura estatal brasileira para as atividades de P&D em N&N

INFRAESTRUTURA CONTRIBUIÇÃO PARA A ÁREA

Laboratório Nacional de Luz Síncrotron (LNLS)

Fornece infraestrutura para utilização de técnicas avançadas e essenciais, disponíveis para toda a comunidade científica e tecnológica, permitindo a caracterização detalhada à nível atômico - estrutura, composição química, morfologia, arranjo e organização (BRUM, 2002). Inaugurado em 1997.

Instituto Nacional de Metrologia, Normalização

e Qualidade Industrial (Inmetro)

Possui o Centro de referência em metrologia que possibilita o crescente aperfeiçoamento dos padrões de medições e, com isso, maior controle de qualidade sobre o que a indústria está produzindo. Possibilita à industria nacional fabricar dispositivos melhores como estratégia na busca de aumento de eficiência produtiva e de inovação tecnológica.

Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF)

O CBPF tem tido uma participação crescente em nanociência e nanotecnologia. Suas linhas de pesquisa abrangem desde o estudo de fenômenos e propriedades intrínsecas à matéria na escala nanoscópica até o desenvolvimento e a análise de matérias-primas em parceria com empresas privadas. Centro Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento de Instrumentação Agropecuária (Embrapa)

Disponibiliza desde 2009 para suas unidades o Laboratório Nacional de Nanotecnologia para o Agronegócio (LNNA), com uma área de 700 m2

e um microscópio de força atômica que está apto para desenvolver pesquisa na área de sensores e biossensores para monitoramento de processos e produtos; membranas de separação e embalagens biodegradáveis, bioativas e inteligentes; e novos usos de produtos agropecuários (EMBRAPA, 2009). Ano de inauguração: 2009.

Centro de Tecnologias Estratégicas do Nordeste

(Cetene),

Conta com um Laboratório Estratégico Regional, o Laboratório Multiusuário de Nanotecnologia, financiado pelo MCT, cuja infraestrutura está disponível para dar suporte a atividades de P&D e prestar serviços tecnológicos à indústria (CETENE, 2010). Ano de inauguração: 2008.

Fonte: Elaboração própria. Informações obtidas a partir de Brum (2002); Ferreira (2008?); CBPF (s/a); Embrapa (2009) e Cetene (2010).

O governo brasileiro também organizou um conjunto de instituições (grupos de trabalho, coordenações, redes, institutos, fundos setoriais) com o objetivo de gerar um sistema nacional de inovação em nanociência e nanotecnologia. O Grupo de Trabalho criado pela Portaria MCT nº 252 de 2003 foi incumbido de formatar a proposta para a inclusão das atividades em N&N no PPA 2004-2007. Foi então formatado o Programa de Desenvolvimento da Nanociência e da Nanotecnologia (BRASIL, 2006). Em 2005, contudo, as ações desse Programa foram inseridas em outro mais abrangente: Programa 1388 – Ciência, Tecnologia e Inovação para a Política Industrial, Tecnológica e de Comércio Exterior (PITCE). Nesse mesmo ano, foi lançado o Programa Nacional de Nanotecnologia (PNN), reunindo os recursos do PPA 2004-2007 com os dos Fundos Setoriais e buscando colocar em prática a PITCE no que diz respeito às N&Ns (FERNANDES e FILGUEIRAS, 2008, p. 2207).

Cabe destacar que todos os laboratórios devem possuir a prática colaborativa entre as atividades dos diversos grupos de pesquisa e programas de pós-graduação no Brasil. Isso está explícito na proposta do grupo de trabalho citado acima, quando destacam que:

61 A indução da criação de Programas de pós-graduação multidisciplinares e multi- institucionais é também objetivo do Programa. Torna-se relevante que os alunos de um programa com tais características possam usufruir de toda a expertise nacional sobre as diferentes áreas relevantes para a Nanotecnologia. Tal situação deve também passar pelas facilidades de uso de todo o parque instrumental nacional que foi provido pelos governos estaduais e federal (BRASIL, 2003)

Na subseção seguinte buscamos destacar o que foi alcançado pelo Brasil após uma década de investimentos explícitos no desenvolvimento do setor de N&N. Os resultados ainda são muito tímidos se comparados aos avanços internacionais, porém já se percebe um ambiente bastante favorável para os estudos na área.

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