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5 O PERIGO DE TABELAR FINANCEIRAMENTE AS RELAÇOES DE AFETO

5.1 OS ALIMENTOS COMO INDENIZAÇÃO

A questão da natureza jurídica dos alimentos, neste contexto, ainda não é unânime entre os doutrinadores, e discussões são levantadas acerca do tema. Procura-se saber se os alimentos servem ou não como indenização dos danos sofridos.

Os que entendem já existir regras próprias para o direito de família, sustentam que não se aplica a este as normas gerais de responsabilidade civil. Isto é, as sanções para o descumprimento de seus deveres dos cônjuges seriam apenas as previstas dentro do próprio direito de família.

Mas argumento mais sério dos que são contrários à indenizabilidade do ato culposo é mesmo o de que a condenação ao pagamento da pensão alimentícia seria suficiente para reparar todo e qualquer prejuízo sofrido pelo cônjuge inocente.

A obrigação de alimentar seria uma compensação pecuniária pela dissolução prematura da sociedade conjugal por culpa de um dos cônjuges. O eventual descumprimento dos deveres do casamento não se resolve em perdas e danos, haja vista que o direito de família possui sanções próprias. Estes doutrinadores, por sua vez, encontram na pensão alimentícia o caráter indenizatório na separação.

Há, contudo, os que entendem que os alimentos têm o caráter eminentemente alimentar. Os que defendem esta idéia entendem a prestação alimentícia como um prolongamento do dever de assistência material, antes mantido durante o casamento.

Caio Mário da Silva Pereira (1990, p.20) t afirmou:“Afora os alimentos, que suprem a perda dos alimentos direta, poderá ainda ocorrer a indenização por perdas e danos (dano patrimonial e dano moral), em face do prejuízo sofrido pelo cônjuge inocente”.

A concessão da pensão alimentícia está condicionada tão somente à necessidade de um e a possibilidade do outro em prestá-los:

[...] a diferença entre a pensão e a indenização está em que os alimentos só podem ser exigidos pelo cônjuge que prova a necessidade, ao passo que a reparação civil pode ser exigida independentemente da situação econômica do prejudicado. A indenização, ademais, tem caráter definitivo: não pode ser suprimida, aumentada ou diminuída, enquanto que a pensão alimentar é essencialmente variável, precisamente pelo fato de atender às

necessidades do alimentário, e às condições econômicas do alimentante. (DIAS, p. 382 apud CARVALHO NETO, 2007, p. 278).

Como a obrigação de prestar alimentos não se funda na culpa, não servindo como fator essencial para sua concessão, até mesmo o cônjuge inocente pode ter o dever de prestá-los, diante da comprovada necessidade do outro.

A condenação aos danos morais, por sua ordem, tem o caráter punitivo do agente ofensor, para que este não venha repetir a conduta ilícita, reincidir. Tem ainda o caráter compensatório, ou seja, para que o ofendido seja compensando pelos danos sofridos, ainda que essa compensação financeira nunca seja capaz de suprir a dor e o sofrimento causado.

Diante disso, os defensores deste segundo argumento sustentam que não há na prestação alimentícia, o caráter indenizatório para os danos sofridos pelo cônjuge:

Não se pode dizer, data venia, ser fim da condenação do culpado em alimentos a reparação do dano. Do contrário, não se entenderia a expressão ‘se dela necessitar’, empregada no artigo 19 da Lei do Divórcio, ou a expressão equivalente “desprovido de recursos” usada no art. 1.702 do novo Código. Se os alimentos fossem indenização, seriam eles devidos sempre, e não apenas quando houvesse necessidade por parte do credor. Não se concebe uma indenização condicionada à necessidade do credor. (CARVALHO NETO, 2007, p. 274).

Entende-se ainda que a condenação à obrigação alimentar não se mostra suficiente para reparar e compensar os danos oriundos da prática de atos ilícitos na dissolução da sociedade conjugal. Não tem o condão de reparar integralmente o mal que possibilitou a separação do casal, posto que a partir de sua concessão, visam tão somente a sobrevivência daquele que recebe.

6 CONCLUSÃO

A jurisprudência e a doutrina nunca foi pacífica quanto a indenizabilidade do dano moral. Após a Constituição de 1988, em seu art. 5°, inciso X, restou assegurado o dano moral, e a obrigação de indenizar daquele que violar os direitos de outrem, colocando fim à controvérsia.

Não obstante o reconhecimento na Constituição de 1988, atualmente, ainda existe doutrina contrária, não aceitando o direito à indenização por dano moral.

A responsabilidade civil está prevista no art. 186 do Código Civil. A ilicitude, a conduta antijurídica do agente, que resulte em dano para o outro, gera a responsabilidade civil, e, por conseguinte, a obrigação de reparar o mal causado.

Assim, violado o dever genérico de não lesar, estar-se-á diante da responsabilidade civil. O dano é elemento indispensável para a caracterização desta.

A finalidade precípua da indenização é de sanção, de punição do agente ofensor, para que este não reincida. A indenização tem também o caráter compensatório, a fim de amenizar a dor da vítima, ainda que o valor financeiro não possa suprir o sofrimento.

Quanto ao dano moral decorrente das relações conjugais, especialmente pelos motivos causadores de separação, ou seja, o descumprimento dos deveres conjugais, ainda que não haja em nosso ordenamento jurídico disposição legal expressa, eventualmente poderá haver a possibilidade de reparação, uma vez configurada a conduta ilícita do cônjuge que cause dor e sofrimento ao consorte.

Juntamente com as peculiaridades das relações familiares, nestas e em muitas outras circunstâncias, os lesados em seu direito merecem a devida proteção e reparação dos danos sofridos, respaldando-se no princípio da proteção à dignidade da pessoa humana e na defesa da personalidade.

No âmbito das relações familiares não é diferente. O Direito de Família não é um ramo isolado, e, sendo assim, deve interagir com os demais ramos do Direito, buscando, sobretudo, a proteção do indivíduo.

REFERÊNCIAS

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