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Além das causas que possivelmente poderiam ensejar a reparação do dano moral fundada na infração dos deveres conjugais, apesar de não tipificadas no Código Civil, algumas outras podem ser lembradas, ocorridas estas ainda no âmbito da relação conjugal.

4.4.1 Recusa ao ato sexual

Alguns doutrinadores entendem que o dever legal de vida em comum, no domicílio conjugal, vai muito além da simples convivência sob o mesmo teto, destacando duas definições distintas. Uma, objetiva, consistente na coabitação, isto é, na convivência sob o mesmo teto; e outra, subjetiva, formada pelo contato sexual dos consortes. Então, a relação sexual entre os cônjuges seria entendida como um dever conjugal.

Sendo assim a recusa constitui causa de separação judicial. Então, dever conjugal deve ser cumprido para a integração e o desenvolvimento da sociedade conjugal.

Tendo em vista ser o ato sexual uma necessidade fisiológica, principalmente para os cônjuges, a sua falta ou recusa pode dar origem a diversos distúrbios psicológicos. A recusa ao ato sexual como infração do débito conjugal pode causar, eventualmente, problemas psicológicos ao cônjuge.

Verificado o prejuízo psicológico causado à vítima, a recusa injusta ao ato sexual, além de dar causa à separação culposa por infração do dever conjugal de vida em comum, a pratica do ato ilícito pode gerar a obrigação de reparar os danos que tenha causado ao cônjuge.

Não se pode olvidar que, alem de ser a satisfação sexual uma necessidade inata do ser humano de caráter fisiológico, ela possui conotação sentimental, agregando-se à idéia de desejo, prazer e amor. Assim, a negação contínua e injustificada a pratica de tal ato acarreta ao consorte o sentimento de rejeição e, conseqüentemente, de desamor, instalando-se a insegurança e o medo de não mais agradar ao consorte que se recusa. Sob esse prisma, podemos consentir com a reparação de danos morais por recusa ao ato sexual.

É inegável, porém, o destaque que a satisfação sexual dos cônjuges apresenta no estudo deste dever matrimonial. Sendo assim, devemos ressaltar que no casamento há o jus ad copulam, ou direito à satisfação sexual, que não se confunde com o jus in corpore, que é o direito sobre o corpo do outro cônjuge. Assim, o consorte não pode obrigar o outro à prática do ato sexual, devendo ser este sempre voluntário.

4.4.2 Ofensas à honra e liberdade pessoal

A honra é considerada um bem jurídico, imputando de uma maneira geral, qualquer ato ou atentado ao conceito e à consideração pessoal das pessoas como formas de ofensa e lesão à honra. O nosso Código Penal protege o sentimento de honra ao tipificar como crimes a injúria, a calúnia e a difamação.

O Código Civil (CC) assim dispõe sobre a reparação do dano ao ofendido, em seu art. 953, caput: “A indenização por injúria, difamação ou calúnia consistirá na reparação do dano que delas resulte ao ofendido”.

A ofensa à honra do cônjuge implica no descumprimento do dever conjugal de respeito e consideração mútuos. Ainda o art. 1.573 do Código Civil (CC), trata, em seu inciso V, da conduta desonrosa do cônjuge, que pode caracterizar a impossibilidade de comunhão de vida.

A imputação de fatos ofensivos em juízo também é uma hipótese de ofensa à honra do cônjuge:

[...] além da infração ao dever conjugal e, eventualmente, até de norma penal, a imputação ofensiva, por aplicação da teoria do abuso do direito, é

também infração civil, dando margem à obrigação do ofensor de indenizar a vítima. (CARVALHO NETO, 2007, p. 301).

Sérios prejuízos podem ser causados pela ofensa a honra dos cônjuges, e constatando tais danos, há que se ter ponderação em cada caso, se há possibilidade de reparação do dano moral à vítima.

No âmbito das relações familiares podem acontecer várias situações as quais fazem parte da intimidade e da vida privada da família, e que, nem sempre a sociedade ou a comunidade tem conhecimento.

Dentro deste contexto, sabe-se que existem inúmeras famílias que convivem com o sofrimento e com perturbações de alguns de seus membros.

Exemplificativamente, falamos do cárcere privado, que pode ocorrer contra o cônjuge. O ciúme, a violência, os distúrbios psicológicos são alguns dos motivos podem fazer com que o cônjuge mantenha um outro em um regime de isolamento, de cerceamento da liberdade, da qual todos tem direito garantido constitucionalmente.

O art. 954 do Código Civil prevê indenização para a ofensa à liberdade pessoal possibilitando indenização por ofensa à liberdade pessoal consistindo no pagamento de perdas e danos ao ofendido. O inciso I do parágrafo único indica o cárcere privado como ofensa à liberdade pessoal da vítima.

Desse modo, vemos que, verificada a conduta do agente contra o cônjuge, mantendo-o em cárcere privado, e portando, ofendendo a sua liberdade pessoal, existe a possibilidade pedido de reparação dos danos sofridos.

4.5 O PERDÃO

Com o descumprimento do dever conjugal ou a conduta desonrosa do cônjuge, presume-se que tenha se tornado insuportável a vida em comum do casal. O perdão serve como afirmação de que não houve essa insuportabilidade, prova disso é a continuidade da vida em comum, quando estes ainda continuam vivendo juntos.

Contudo, a separação logo após a ciência do ato culposo, onde o cônjuge deixa de coabitar com o outro, demonstra indício de que realmente a vida em comum tornou-se insuportável.

Se o casal ainda continua vivendo sob o mesmo teto, porém deixando de manter relações sexuais, ainda sim está configurada a insuportabilidade da vida em comum, segundo Carvalho Neto (2007).

Ainda no entendimento do mesmo autor, embora não expressamente previsto na Lei do Divórcio, o perdão concedido expressa ou tacitamente, exclui do cônjuge ofendido a possibilidade de requerer a separação culposa. Portanto, o perdão implicaria na renúncia do cônjuge em invocar a conduta culposa do outro como motivo para a separação.

O decurso do tempo também pode ser entendido como perdão do ofendido:

Pressupõe-se que a reação imediata do cônjuge diante das situações de violação, diante do sofrimento e insatisfação, conduza-o a mobilizar as forças cogentes do Estado na busca de uma resposta, em nome da defesa e da proteção dos seus direitos. O decurso do tempo e sua inércia, traduz o perdão e a intenção de sublimar os motivos dos desentendimentos. (PEREIRA, 2005, p. 303).

Sendo assim, pode-se perceber, quanto à responsabilização civil pela conduta danosa do agente, que não haverá a possibilidade de o cônjuge ofendido pretender a indenização contra o ofensor, havendo o perdão do deste, seja expressamente ou mesmo devido ao lapso temporal razoável.

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