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2 O TRIBUNAL DO JÚRI NO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL BRASILEIRO

2.1 ALISTAMENTO DOS JURADOS

A seleção e alistamento de jurados para composição do Conselho de Sentença no Júri popular são tarefas importantíssimas para que as garantias e preceitos do Instituto sejam preservados.

Preceitua o art. 436 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) ser o Júri serviço obrigatório e que o alistamento compreenderá os cidadãos maiores de 18 (dezoito) anos de notória idoneidade. No seu parágrafo primeiro, preceitua ainda que, nenhum cidadão poderá ser excluído dos trabalhos do Júri ou deixar de ser alistado em razão de cor ou etnia, raça, credo, sexo, profissão, classe social ou econômica, origem ou grau de instrução.

Para que a sociedade seja representada e garanta o Princípio Penal e Constitucional do Instituto de que seja julgado pelos pares da sociedade, a formação da lista geral de jurados é tarefa árdua, eis que necessário buscar rol de nomes nos mais diversos e distantes locais, visando assim à composição representativa das várias classes sociais e profissionais. Nesse sentido afirma Silva (2009, p. 201):

Para a congregação do Júri exige-se, previamente, a construção de uma listagem com o acervo dos cidadãos que em cada reunião e sessão serão por força da norma constitucional [...] alçados à condição de juízes. A captação e seleção desse rol são medidas mais importantes para a formação de Conselhos de Sentenças com componentes íntegros, preparados e cientes do relevante papel cívico que desempenham, refletindo diretamente na qualidade dos julgamentos.

O art. 425 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) preceitua a necessidade de composição anual de listagem geral de jurados para formação do Conselho de Sentença do Instituto. Observe-se o preceito legal do art. 425 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941):

Art. 425. Anualmente, serão alistados pelo presidente do Tribunal do Júri de 800 (oitocentos) a 1.500 (um mil e quinhentos) jurados nas comarcas de mais de 1.000.000 (um milhão) de habitantes, de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) nas comarcas de mais de 100.000 (cem mil) habitantes e de 80 (oitenta) a 400 (quatrocentos) nas comarcas de menor população.

No entanto, o que se observa é que tal dispositivo legal preceituado nos art. 425 e 436 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) não vem sendo cumprido. Na prática, o que ocorre é a reedição das listas de jurados e que estas são obtidas junto a órgãos públicos, instituições bancárias e comércio em geral, o que abala a estrutura do Instituto do Júri Popular, deixando de constar nas reportadas listas as classes sociais menos favorecidas, como os agricultores, profissionais liberais, associação de bairro, associações e cooperativa de produtores rurais e outros, que compõem a sociedade brasileira, mas por ela encontram-se esquecidos. Nesse sentindo, Nucci (2010, p. 759), afirma:

[...] na prática, muitos juízes preferem reeditar listas dos jurados, anos após anos, terminado por estabelecer a figura do jurado profissional”, compondo, assim, o Conselho de Sentença sem observar os requisitos legais, preceituado, no Código de Processo Penal, em seu art. 425.

O Conselho de Sentença deve ser formado por cidadãos que integram a sociedade, mas em regra, são integrantes da classe média operária brasileira, por estarem exercendo atividades públicas ou de cunho público e que por facilidade dos responsáveis, limitam-se a buscarem nomes de jurados em potenciais, somente em zona urbana e junto a órgãos públicos, instituições bancárias e comércio urbano, instituindo assim um Conselho de Sentença elitizado pela classe média. No mesmo sentido, Nassif, (2008, p. 42), afirma:

O jurado é arregimentado entre funcionários públicos, de escolas, autarquias, bancos, etc., formando uma massa representativa da classe média que, mesmo em, via de proletarização haja vista, estabelecida no círculo nuclear urbano, estáveis em seus empregos e profissões, sem aprofundada visão da sociedade periférica das cidades e do meio rural.

O Conselho de Sentença do Instituto Júri Popular deve ser composto por membros de toda sociedade, deve alcançar todas as classes sociais abrangendo os industriais, comerciante, comerciários, funcionários públicos, profissionais liberais, agricultores, etc, enfim, deve haver representantes de todas as classes sociais que compõem a sociedade, sob pena de prejuízos irreparáveis aos Princípios do Instituto

denominado Júri Popular, que preceitua o julgamento pelos pares da sociedade, inclusive consta no art. 436 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941) a obrigatoriedade de prestação de serviços junto ao Instituto do Júri Popular. Nesse sentido, Silva (2009, p. 203), afirma:

Observa-se, assim que o juiz presidente deve ter um especial cuidado na seleção dos jurados [...] para que a representatividade da sociedade no Júri seja a mais ideal, todos os setores e segmentos devem ter seus membros em atuação, o que se recomenda, por exemplo, em Comarcas compostas por mais de um município, que cidadãos de todos eles estejam na lista geral, o mesmo podendo ser dito em relação a cidades maiores ou capitais, em que os diversos bairros ou região devem ter seus integrantes selecionados.

No entanto, tal regra não é absoluta, eis que preceitua o art. 437, do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), rol de isentos do serviço do Júri. Veja-se:

Art. 437, CPP:

Estão isentos do serviço do júri:

I – o Presidente da República e os Ministros de Estado; II – os Governadores e seus respectivos Secretários;

III – Os membros do Congresso Nacional, das Assembléias Legislativas e das Câmaras Distrital e Municipais;

IV – os Prefeitos Municipais;

V – os Magistrados e membros do Ministério Público e da Defensoria Pública;

VI – as autoridades e os servidores da polícia e da segurança pública; VII – os servidores do Poder Judiciário, do Ministério Público e da Defensoria Pública;

VIII – os militares em serviço ativo;

IX – os cidadãos maiores de 70 (setenta) anos que requeira dispensa; X – aqueles que a requererem, demonstrando justo impedimento.

Como a instrução em plenário, necessário se faz que o Jurado leia e tire suas conclusões em relatórios, peças processuais e demais documentos previstos no parágrafo único do art. 472 do Código de Processo Penal (BRASIL, 1941), além de no momento da votação poder identificar a cédula “sim” e “não” sem auxilio de terceiros, o analfabeto, mesmo sendo parte integrante da sociedade, não deve ser alistado, ante o Princípio da Incomunicabilidade, que rege o Instituto. Nesse sentido, Silva (2009, p. 205), afirma:

Claro que o cidadão analfabeto ou semi-analfabeto que não tenha condições de leitura e entendimento mínimo não pode ser concebido jurado [...] a atividade do jurado torna-se impraticável, pois durante o julgamento pode ocorrer a necessidade da leitura de peças, decisões e relatórios do juiz, chegando a lei processual agora a dizer que os jurados receberão cópias de alguns desses documentos – art. 472, parágrafo único, do CPP. Até mesmo poderão os jurados lerem os quesitos na hora da votação [...] , o

que se torna impossível para uma pessoa naquelas condições. Sequer poderá ser utilizada uma terceira pessoa como o escrivão para proceder à leitura, já que o contato com aqueles dados e informações exige uma ligação imensamente subjetiva, que é o domínio da escrita.

No entanto, em relação ao cego, nada impede que sirva perante o Instituto do Júri Popular, desde que o Tribunal disponha todas as informações necessárias, como os relatórios, cópias de documentos e demais correlacionados, escritos em Braille. Caso não seja possível tal disponibilidade, os cegos também não devem ser alistados como Jurados no Instituto do Júri Popular.

Assim, para que mais esse integrante da sociedade possa exercer sua cidadania com plenitude, o que se necessita é que os Tribunais se preparem para o ingresso de pessoas com deficiência visuais para que sirvam no Instituto. Da mesma forma, outros deficientes como os surdos, surdos-mudos não há óbice em sua participação, no entanto, precisa ser alfabetizado e o Tribunal disponibilizar um interprete para que a comunicação seja estabelecida entre o jurado e atos processuais realizados em plenário.

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