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ALMEIDA, João Batista de A Proteção Jurídica do Consumidor 4 ed rev e atual São Paulo: Saraiva, 2003 p

No documento Coleção Jovem Jurista 2013 (páginas 194-197)

condenatória, deve conter a natureza da sanção e a gradação da pena. O acusado poderá, então, em um prazo também de 10 dias, interpor recurso junto ao su- perior hierárquico do aplicador da sanção, que emitirá decisão da qual não mais se poderá recorrer, já que no nosso ordenamento jurídico só existem duas ins- tâncias administrativas. Isso não impede, no entanto, que haja revisão judicial.

Uma vez que o processo administrativo observou todas as garantias dos interessados e o devido processo legal, constatada a irregularidade, a adminis- tração pública aplicará a sanção.

2. Metodologia

Conforme descrito na introdução, a pesquisa foi motivada pela ação da ANA- TEL, que em julho de 2012,29 suspendeu a venda de chips das empresas de

telefonia móvel em diversos estados brasileiros, com a justii cativa de haver um grande volume de reclamações repetitivas dos consumidores. Nosso objetivo era averiguar se esse tipo de sanção possuía ei cácia, isto é, se contribuía para reduzir o número de reclamações. Contudo, devido ao caso ser recente, não teríamos dados sui cientes para verii car essa ei cácia, pois não haveria tempo para comparar o volume de reclamações antes e depois dessa sanção.

Assim, nosso objetivo de pesquisa passou a analisar as sanções que a ANA- TEL e o PROCON adotaram contra empresas de telecomunicações no Rio de Janeiro em 2010 e verii car se essas sanções foram ou não ei cazes, no sentido de terem sido cumpridas (ou seja, não terem sido suspensas pelo Judiciário nem ignoradas pela empresa sancionada, no caso de multas), e terem contribuído para diminuir a ocorrência de reclamações (o que seria feito comparando o volume de reclamações contra as empresas sancionadas antes e depois da san- ção). Nossa hipótese se desenhou em torno de dois tipos de sanção — multa e suspensão de vendas —, sendo que os sentidos da hipótese já foram explicitados na introdução.

Desenvolvemos uma metodologia, a i m de verii car a hipótese de ei cácia ou não ei cácia dos mecanismos. A metodologia pode ser elencada em quatro etapas: (i) nos informar sobre quais mecanismos sancionatórios poderiam ser aplicados pelos dois órgãos; (ii) buscar quais e quantas sanções foram aplicadas no recorte temporal de 2010; (iii) buscar o número de recursos no Judiciário

29 MARTELLO, Alexandro. Anatel anuncia suspensão de venda de chips da OI, Claro e TIM. In: site do G1, Brasília: Tecnologia e Games, julho, 2012. Disponível em http://economia.ig.com.br/empresas/ infraestrutura/2012-07-18/anatel-anunciara-punicao-distinta-para-tim-oi-claro-e-vivo.html - acesso em 11/11/12.

formulado pelas empresas contra as sanções aplicadas; (iv) buscar o número de reclamações feitas pelos consumidores contra essas empresas em 2010 e 2011.

Inicialmente nos informamos, por meio do decreto 2.338/1997, sobre quais formas de sanções poderiam ser aplicadas pela ANATEL. Posteriormente, procuramos informações no site da instituição, i zemos contato telefônico30 e

via fax31 com o escritório regional do Estado do Rio de Janeiro para que nos

fosse informado os tipos e a quantidade das sanções aplicadas em 2010. Foi-nos dito que a autarquia não possuía dados especii camente sobre cada região, mas dados agregados nacionalmente, e que poderíamos solicitar as informações, po- rém haveria uma grande dii culdade de serem fornecidas.

Os mesmos procedimentos foram tomados com o PROCON-RJ. Nos in- formamos na legislação sobre quais formas de sanções poderiam ser aplicadas. Procuramos informações no site do PROCON-RJ e também no site do Sistema Nacional de Informações de Defesa do Consumidor (SINDEC). Fizemos con- tato via telefone e fomos orientados para que a solicitação dos dados fosse reali- zada por e-mail. Obtivemos grande colaboração por parte da autarquia, porém os dados enviados não eram sui cientemente consolidados, não conseguindo haver acesso a eles de forma desagregada, ou seja, saber quais sanções e contra quais empresas foram aplicadas no ano de 2010.

Devido às inúmeras tentativas frustradas na conquista de dados, fomos obrigados a redesenhar a nossa metodologia, e então adotamos a forma de en- trevistas via de roteiro estruturado a serem aplicados aos dois órgãos. Tendo em vista a ANATEL ser um órgão nacional com sede em Brasília, enviamos o questionário por e-mail ao departamento responsável (ouvidoria). No entanto, até a entrega deste trabalho, não conseguimos resposta.

O PROCON, por sua vez, via diretoria jurídica, nos recebeu em sua re- partição duas vezes para realizarmos entrevistas. A primeira foi feita com dois advogados da instituição, e a segunda com o diretor jurídico do PROCON-RJ.

Para contornar a falta de dados no caso da ANATEL, baseamo-nos so- mente em dados publicados pelo TCU, nos relatórios de 2011 e 2012 sobre as multas aplicadas por agências reguladoras, dentre elas, a ANATEL. Utilizamos ainda os relatórios da ouvidoria para verii car o volume de reclamações, entre- tanto, as informações não estão disponíveis por estados, mas para a totalidade do país.

30 Número telefônico conseguido no site da instituição: 21-2105-1850 (http://www.anatel.gov.br/hotsites/ Anatel_nos_Estados/enderecos_da_anatel_inter.htm)

31 Número do fax: 21-2105-1852; o fax foi enviado dia 03 de setembro de 2012, e posteriormente i zemos mais dois envios, pois eles ai rmaram que o aparelho deles estava ruim e por isso o documento saía ilegí- vel.

Com o PROCON, além das entrevistas, recorremos aos dados sobre o volume de reclamações fundamentadas publicados no site da instituição, e ao relatório do Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro (TCE-RJ), pelo qual conseguimos o valor total de sua dívida ativa. Contudo, os dados não se referem às empresas de telecomunicações especii camente, mas à dívida ativa com todos os seus componentes.

O projeto que nasceu como uma tentativa de analisar ei cácia de sanções segue agora como um diagnóstico da falta de transparência na produção e informação de dados, e se constitui numa denúncia: como saber se as institui- ções têm cumprido sua missão na defesa do consumidor e sua missão i scaliza- tória se não é possível saber precisamente quais ações vêm tomando? E como saber se essas ações são ou não ei cazes — e mais ainda, por que são ou não ei cazes, se não existem dados públicos consolidados? É necessário informações para verii car se as políticas de redução de conl itos e reclamações funcionam. Entretanto, sem os dados consolidados, a análise de ei cácia é impossibilitada. Vale ressaltar que nos valemos da Lei 12.527/11, Lei de Acesso à Informação, e do Decreto Estadual 43.597/2012, que regulamenta a referida lei no Estado do Rio de Janeiro, para registrar a solicitação destas informações. Os pedidos foram registrados nos dias 31 de outubro de 2012 junto à ANATEL e 5 de novembro de 2012 junto ao TCE (vide ANEXOS B e C). Conforme os reque- rimentos, as instituições têm até 20 dias, prorrogáveis por mais 10 dias para nos dar uma resposta.

No documento Coleção Jovem Jurista 2013 (páginas 194-197)