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SUMÁRIO INTRODUÇÃO

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 331 7 REFERÊNCIAS

1 DESCRIÇÃO DO OBJETO

1.6 Revisão da Literatura

1.6.11 Almeida Mendes (2009)

O objetivo deste trabalho foi “descrever a variação presença/ausência de artigo definido diante de antropônimos e topônimos na fala dos moradores da zona rural de Abre Campo e Matipó, tentando analisar a variante predominante e estabelecer os fatores que condicionam essa variação” (ALMEIDA MENDES, 2009, p. 22)

A proposta parte de uma percepção subjetiva da autora que era partilhada pelos moradores da região; acreditava-se que a fala dos moradores da zona rural de Abre Campo teria o predomínio da ausência de artigo no contexto de antropônimos e topônimos, ao passo que, na fala dos moradores de Matipó, haveria o predomínio da presença de artigo a variante predominante.

Adotou-se a metodologia da Dialetologia, baseada nos estudos de Rossi (1963), (1980) e Nascentes (1922), e da Sociolinguística, baseada nos estudos de Labov (1972), Milroy (1980) e Milroy (1992). A pesquisa desenvolveu-se a partir de uma análise quantitativa e qualitativa de um

corpus constituído por 848 dados, sendo que, desses dados, 620 eram antropônimos, assim

divididos: 414 de Matipó e 206 de Abre Campo; e 228 eram topônimos assim divididos, 113 de Matipó e 115 de Abre Campo. Ao todo, foram realizadas 8 entrevistas na zona rural, 4 em cada localidade, foram considerados fatores como gênero (masculino e feminino), idade (de 18 a 30

anos e acima de 70 anos) e rede social, conforme a perspectiva de Milroy (1992). Com essa pesquisa, ficou claro que, apesar de as duas cidades estarem localizadas a 22 Km uma da outra e de o Córrego do Pouso Alto e o Córrego dos Lourenços serem vizinhos limítrofes, essas duas localidades possuem um padrão linguístico divergente no que diz respeito ao uso ou não do artigo definido no contexto de antropônimo.

Verificou-se inicialmente o ambiente sintático-oracional de figuração do artigo: percebeu- se que os percentuais da quantificação nas duas localidades foram praticamente os mesmos: 35,5% de ausência de artigo definido diante de nomes em Abre Campo e 33% em Matipó; 52% de artigo definido diante de nomes em Abre Campo e 59% em Matipó; 12,5% de artigo indefinido diante de nomes em Abre Campo e 8% em Matipó.

Como em todos os outros trabalhos resenhados anteriormente, dar-se-á mais atenção ao estudo dos antropônimos; assim, verificou-se 206 ocorrências de antropônimos na zona rural de Abre Campo, dessas ocorrências de antropônimos, 107 não eram articuladas (52%) e 99 tiveram a presença do artigo definido (48%). Na zona rural de Matipó, foram computados 414 antropônimos, desse número 344 tiveram a presença de artigo definido (83%) e 70 não foram articulados (17%).

Com relação ao gênero, em Abre Campo, as mulheres usam mais a presença de artigo diante de antropônimo (56%) do que os homens (43%) com relação aos antropônimos. Em Matipó, por sua vez, com relação aos antropônimos, são os homens que mais utilizam o artigo definido (90%) do que as mulheres (80%).

Em Abre Campo, o fator idade não foi determinante para a análise do fenômeno em questão. Já em Matipó, fica claro que tanto os idosos (79%) quanto os jovens (90%) tendem a utilizar mais o artigo definido nesses contextos, sendo que estes últimos, tendem a utilizar um pouco mais.

Ao analisar se o tipo de antropônimo utilizado pelo informante seria fator responsável pelo fenômeno de variação da ausência ou presença de artigo definido diante de antropônimos, verificou-se que, em Abre Campo, o número maior de ocorrências está relacionado ao nome próprio de pessoa: 46% dos casos apresentaram presença de artigo e 54% de ausência; com relação ao nome completo, houve 46% de presença e 54% de ausência; os hipocorísticos, por sua vez, tiveram 58% de presença e 42% de ausência, o que é interessante pois, se é o fator intimidade que realmente controla a ausência ou a presença de artigo diante dos antropônimos,

são os hipocorísticos os antropônimos que possuem uma carga maior de intimidade ou familiaridade. Com relação à Matipó, percebe-se que o maior número de ocorrências está relacionado ao nome próprio de pessoa; dessas ocorrências, 88% foram articuladas e 12% não; esse número é seguido pelos hipocorísticos, neles encontramos 84% de presença de artigo definido e 16% de ausência; o maior percentual de artigo ocorreu relacionado aos sobrenomes (93%). Os apelidos tiveram 71% de presença de artigo e os nomes completos 66%.

Com relação ao fator grau de intimidade do informante com relação ao antropônimo a que se refere, em Abre Campo, o fator intimidade não interfere na variação ausência/presença de artigo definido diante de antropônimos com relação a pessoas mais distantes (50%) e interfere ligeiramente com relação a pessoas mais próximas (53% de ausência). Já em Matipó, percebe-se que o artigo é predominante tanto no emprego com relação a pessoas mais próximas quanto no emprego com relação a pessoas mais distantes, sendo um pouco mais relevante no primeiro caso; em contrapartida, ao se analisar apenas a ausência nessa mesma localidade, fica claro que quando se trata de pessoa mais distante, os falantes empregam muito mais a ausência de artigo definido (29%), ao passo que, ao se referirem a pessoas mais próximas, empregam muito menos essa ausência (11%).

Com relação à ausência/presença de artigo definido nas ocorrências de antropônimos em estruturas de genitivo, verifica-se que o uso é bem diferente nas duas localidades. Em Abre Campo, há uma ligeira tendência ao uso de artigo definido (54%); enquanto que, em Matipó, a presença de artigo definido nesse tipo de estrutura é quase absoluta (91%).

A última análise realizada diz respeito às redes sociais das comunidades pesquisadas. Foram controladas diferenças com relação a densidade e a multiplexidade; verificou-se que, nas duas localidades, as redes sociais são densas e múltiplas, formadas a partir de laços fortes, uma vez que todos os indivíduos se conhecem e quase todos partilham de pelo menos mais de um tipo de relação. É justamente isso que faz com que, apesar de serem localidades limítrofes, os dois córregos estudados apresentem padrões linguísticos diferentes no que diz respeito à ausência ou presença de artigo definido diante de antropônimos e topônimos, principalmente com relação aos antropônimos, estrutura em que o uso é mais variável. São as redes densas e múltiplas, formadas por laços fortes, que são as responsáveis pela estabilidade da língua e que mantém o vernáculo de cada localidade resistente às pressões linguísticas e sociais de outros grupos; apesar de tão

próximas, as redes sociais possuem laços fortes o suficiente para resistirem às pressões do grupo vizinho e manter estável a norma linguística da comunidade.