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ALPHONSUS DE GUIMARAENS (1870-1921):Afonso Henriques

No documento 25 Aposto e Vocativo (páginas 116-120)

da Costa Guimarães realizou os

primeiros estudos em Minas

Gerais e interrompeu-os ao mor rer

sua prima Constança, por quem

era apaixonado. Estudou Direito

em São Paulo, na Facul dade do

Largo São Francisco, e obteve o

cargo de promotor em Conceição

do Serro. Nessa e em outras pequenas cidades

mineiras, viveu recluso com esposa e 14 filhos. Sua

obra, predominantemente poética, consagrou-o

como um dos principais autores simbolistas do

Brasil. Em referência à cidade em que passou parte

de sua vida, é também chamado “o solitário de

Mariana”.

O Destaque

!

Texto para os testes

A

e

B

. O VERME E A ESTRELA

Agora sabes que sou verme. Agora, sei da tua luz.

Se não notei minha epiderme... É, nunca estrela eu te supus! Mas, se cantar pudesse um verme, Eu cantaria a tua luz!

E eras assim... Por que não deste Um raio, brando, ao teu viver? Não te lembrava. Azul-celeste O céu, talvez, não pôde ser... Mas, ora! enfim, por que não deste Somente um raio ao teu viver?

Olho, examino-me a epiderme, Olho e não vejo a tua luz!

Vamos que sou, talvez, um verme...

Estrela nunca eu te supus! Olho, examino-me a epiderme... Ceguei! ceguei da tua luz?

(Pedro Kilkerry)

A

(MODELO ENEM) – As palavras ver -me e estrela devem ser entendidas a) em sentido literal, pois o poeta se zoomorfiza para enaltecer a amada. b) em sentido figurado, pois são metá -foras do eu lírico e da interlocutora. c) em sentido literal, pois verme indica baixeza e estrela, elevação.

d) em sentido figurado, conotando a con -dição social do eu lírico e de sua amada. e) em sentido literal, compondo uma antítese entre o vulgar e o sublime.

Resolução

São metáforas: estrela é a pessoa, presumivelmente uma mulher, indicada com o pronome tu, sujeito dos verbos, e

suas variantes teu, tua, te. Verme seria o eu lírico, na opinião daquela “estrela” (“sabes que sou verme”).

Resposta: B

B

(MODELO ENEM) – No poema, as palavras verme e estrela são associadas a) a diferenças socioeconômicas. b) a diferenças culturais.

c) a diferenças raciais.

d) à oposição entre ideais de vida. e) à incompatibilidade amorosa.

Resolução

Fica evidente no texto que as palavras verme e estrela são metáforas para o eu lírico e a interlocutora por causa da diferença de cor de pele: “Se não notei minha epiderme...”

Resposta: C

(Re)leia o poema “O Verme e a Estrela”, apresentado nos exercícios resolvidos, e responda ao que se pede.

A

A oposição entre estrela e verme se associa à oposição entre luz e obscuridade. Explique o sentido de obscuridade, nos termos do poema.

B

O eu lírico é verme para a estrela. Pode-se dizer que ela seja estrela para o eu lírico?

RESOLUÇÃO:

A obscuridade que caracteriza o eu lírico como verme se deve à cor de sua pele. Ele não tinha levado em consideração essa cor: “Se não notei minha epiderme...”, nem tinha considerado a pretensa “superioridade” daquela mulher: “nunca estrela eu te supus!”

RESOLUÇÃO:

Não, pois o eu lírico afirma e reafirma que nunca supôs que ela fosse estrela, nem parece entender a razão de ela não ter posto sequer um pouco de brilho em sua vida: “por que não deste / Somente um raio ao teu viver?”. Esse “raio” que abrilhantaria a sua vida poderia bem ser a relação com o eu lírico, que a “estrela” teria rejeitado por preconceito.

os versos em que o eu lírico exprime essa paixão, a despeito da distância impossível entre ele e a estrela.

D

A estrela não se lembrou de dar um raio a sua vida. Em outras palavras, sua atitude sem brilho teria impedido algo que prometia felicidade: a relação com o eu lírico. Que imagem sugere, no poema, essa felicidade não ocorrida?

E

Há ironia no poema. Explique como essa ironia se manifesta no convite contido na última estrofe.

F

(MODELO ENEM) – Apesar de sua linguagem coloquial, de conversação irônica, o poema é inteiramente regular quanto a estrofação (três sextilhas ou estrofes de seis versos), rimas (ABABAB CDCDCD ABABAB) e métrica. Quanto à métrica, os versos do poema são

a) redondilhos menores (pentassílabos). b) hexassílabos.

c) redondilhos maiores (heptassílabos). d) octossílabos.

e) decassílabos.

Aranha Chorando (1881), Odilon Redon, desenho com carvão, Coleção Particular.

RESOLUÇÃO:

Os versos do poema contam oito sílabas métricas: A-go-ra-sa-bes-que-sou-ver(-me).

Resposta: D RESOLUÇÃO:

É a imagem do céu azul-claro: “Azul-celeste / O céu, talvez, não pôde ser...”.

RESOLUÇÃO:

“Mas, se cantar pudesse um verme, / Eu cantaria a tua luz!”

RESOLUÇÃO:

No convite final (“Vamos”), a condição de “verme” do eu lírico é deixada na incerteza (“talvez”). Ele reconhece que não há luz em sua pele, mas também não há luz na vida dela, ou talvez ele não esteja vendo a luz (da vida dela como da sua pele) por ter cegado — cegado por causa do brilho que ela irradia, ou por efeito de seu desejo por ela...

PEDRO Militão KILKERRY (pronúncia: kilkérri; 1885-1917): Nasceu

na Bahia e viveu apenas 32 anos. A pequena produção que dele resta

(36 poemas) basta para o situar entre os melhores e mais originais

poetas simbolistas da língua portuguesa. Não publicou nenhum livro, só

poemas esparsos em jornais e revistas. Foi pouquíssimo conhecido em

vida e totalmente ignorado depois da morte, tendo sido “redesco berto”

e reavaliado apenas em 1971, com a publicação de Re-Visão de Kilkerry,

do poeta e crítico Augusto de Campos. Para esse autor, “Kilkerry não só

compreendeu mais conscien temente que outros simbolistas o papel

desempenhado na criação pelo subconsciente — mais tarde

supervalorizado pelo Surrealismo — como soube levar mais longe a

liberdade de associação imagética. Por outro lado, a capacidade de

síntese, assim como a consciência das limitações da sintaxe ordinária,

são mais agudas em Kilkerry do que em qualquer outro poeta do nosso

Simbolismo”. Bem-humorado, aos que estranhavam seu nome o poeta

assim o “interpretava”: “Pedro mil... e tão Kilkerry!”. Mulato, ele deve

ter sido objeto de preconceito em sua vida amorosa, como sugere o

poema “O Verme e a Estrela”, dirigido a uma “estrela” branca e

orgulhosa, mas sem brilho em sua vida. Esse poema é exemplo da

linguagem coloquial-irônica do poeta, caso raro no Simbolismo brasileiro

e português, em que predomina a linguagem “elevada” e o tom grave

do registro chamado “sério-estético”.

O Destaque

!

32 Pedro Kilkerry: “É o Silêncio...”

• Simbolismo no Brasil• poesia simbolista

A

(MODELO ENEM) – A primeira estrofe do poema lembra “Ideias Íntimas”, do poeta romântico Álvares de Azevedo. Nos dois poemas, a cena, noturna, se passa no quarto ou gabinete (“a câmara”, “a sala”) do poeta, com seus livros, pensamentos e sonhos. Os dois poemas têm teor metalinguístico, pois se referem à poesia, ao trabalho do poeta. (Metalinguagem é linguagem que se refere à própria linguagem ou a objetos de linguagem — textos — e à sua produção e interpretação.) Dentre trechos do poema transcritos a seguir, apenas um não é metalinguístico. Assinale-o.

a) “Não sei se é mesmo a minha mão que molha / A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.”

b) “Pego da pena, iludo-me que traço / A ilusão de um sentido e outro sentido.” c) “A asa da rima / Paira-me no ar.” d) “Olha-me a estante em cada livro que olha.”

e) “E abro a janela. Ainda a lua esfia / Últimas notas trêmulas...”

Resolução

Todos os trechos transcritos são meta -linguísticos, pois se referem ao próprio trabalho do poeta (a, b, c) ou à própria literatura, indicada com a metonímia da estante e do livro (os continentes valem pelo conteúdo) e personificada na pro sopopeia “olha”. A alternativa e não con -tém referência metalinguística; trata-se de uma notação de paisagem.

Resposta: E

B

(MODELO ENEM)– A poesia evoca a experiência do passado de forma a torná-la presente. Indique o trecho em que o poeta se refere à forma especial de sua relação com o tempo, ao compor o poema.

a) “Olha-me a estante em cada livro que olha.”

b) “E a luz nalgum volume sobre a mesa...”

c) “Mas o sangue da luz em cada folha.” d) “Penso um presente, num passado.” e) “E enfolha / A natureza tua natureza.”

Resolução

O verso da alternativa d refere-se ao fato de o poeta “presentificar” o passado, ver o passado, “pensá-lo”, como presente.

Resposta: D

É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa. Olha-me a estante em cada livro que olha. E a luz nalgum volume sobre a mesa... Mas o sangue da luz em cada folha.

Não sei se é mesmo a minha mão que molha A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa. Penso um presente, num passado. E enfolha1

A natureza tua natureza.

Mas é um bulir das cousas... Comovido Pego da pena, iludo-me que traço A ilusão de um sentido e outro sentido. Tão longe vai!

Tão longe se aveluda esse teu passo, Asa que o ouvido anima...

E a câmara muda. E a sala muda, muda... Afonamente2rufa3. A asa da rima

Paira-me no ar. Quedo-me como um Buda Novo, um fantasma ao som que se aproxima. Cresce-me a estante como quem sacuda Um pesadelo de papéis acima...

...

E abro a janela. Ainda a lua esfia4

Últimas notas trêmulas... O dia Tarde florescerá pela montanha.

E oh! minha amada, o sentimento é cego... Vês? Colaboram na saudade a aranha, Patas de um gato e as asas de um morcego.

(Pedro Kilkerry) Texto para os testes

A

e

B

.

É O SILÊNCIO...

1– Enfolhar: recobrir com folhas. 2 – Afonamente: sem som.

3– Rufar: emitir sons de tambor.

Re(leia) o poema “É o Silêncio...”, transcrito nos exercícios resolvidos, e responda ao que se pede.

A

O eu lírico se dirige a uma mulher ausente; mas, para do xal -men te, a presença dela é dominante, impregna tudo. Trans creva o trecho em que o eu lírico registra o caráter dominante da presença dessa mulher; depois reescreva o trecho, colocando as palavras em ordem direta e explicando o seu sentido.

RESOLUÇÃO:

“E enfolha / A natureza tua natureza” — E tua natureza enfolha a natureza — isto é, o teu caráter, a tua forma característica e inata de ser, se “suporpõe” à natureza, à forma de ser de tudo. Ou seja, a “presença” da ausente, a saudade, faz que tudo faça pensar nela, seja “recoberto” por ela como por folhas.

B

Além da expressão contida na resposta anterior, transcreva as demais palavras do poema que se referem à mulher a quem se dirige o eu lírico.

RESOLUÇÃO:

“...esse teu passo”, “minha amada”.

C

O poema registra a experiência noturna do poeta às voltas com a composição de seu poema. Transcreva o trecho em que ele demonstra incerteza sobre a origem de sua criação.

RESOLUÇÃO:

“Não sei se é mesmo a minha mão que molha / A pena, ou mesmo o instinto que a tem presa.”

D

A composição do poema e a presença da amada ausente se associam a uma transfiguração (mudança de figura ou de “natureza”). Não se trata apenas da transfiguração do tempo, em que o passado se torna presente ou o presente se encontra no passado, mas também de uma transfiguração do espaço, em que as próprias coisas aparecem mudadas, enriquecidas em sua existência, tornando-se mais “falantes”, mais expressivas: “Mas é um bulir das cousas...” Essa mudança é registrada no poema com uma paronomásia, um trocadilho, em que a transfiguração, paradoxalmente, se associa ao silêncio. Transcreva o trecho em que isso ocorre e explique o trocadilho ou paronomásia.

RESOLUÇÃO:

“E a câmara muda. E a sala muda, muda... / Afonamente rufa.” A paronomásia ocorre entre muda, do verbo mudar, e muda, adjetivo, feminino de mudo. O segundo sentido é sugerido por afonamente.

E

(MODELO ENEM)– Além da estranha e sugestiva fórmula de componentes da saudade que encerra o texto, algumas de suas metáforas apresentam os objetos poeticamente trans -figurados. Isso ocorre nos trechos transcritos a seguir, menos em um. Aponte-o.

a) “Olha-me a estante em cada livro que olha.” b) “...o sangue da luz em cada folha.”

c) “...esse teu passo, / Asa que o ouvido anima...” d) “...asa da rima...”

e) “É o silêncio, é o cigarro e a vela acesa.”

RESOLUÇÃO:

No primeiro verso do poema, nada é transfigurado, há apenas uma enumeração de elementos da cena, sem distorções ou transfigurações. Nos demais trechos, ocorrem transfigurações que personificam coisas (a, b) ou associam a elas atributos fantásticos (c, d). Resposta: E

F

Os versos do poema são decassílabos, com acentos internos na 6.asílaba ou na 4.a. O verso “E a câmara muda. E a sala muda, muda...” pode ser considerado de 11 sílabas (neste caso a mudança do metro acompanharia a mudança das coisas), mas pode também ser reduzido a 10 sílabas, com a pronúncia sincopada de câmara (câm’ra). Há dois outros versos que não são decassílabos, mas são fragmentos de decassílabos. Transcreva-os e indique suas medidas.

RESOLUÇÃO:

“Tão longe vai!”, 4 sílabas, e “Asa que o ouvido anima...”, 6 síla -bas.

G

Tomando o poema em seu conjunto, é mais adequado afirmar que ele representa uma situação objetiva, um estado subjetivo ou uma interpenetração dos dois? Por quê?

RESOLUÇÃO:

Uma interpenetração de objetivo (livros, cigarro, noite à luz de velas) e subjetivo (saudade, ou seja, presença da amada distante, transfiguração do tempo e das coisas).

Silêncio (c. 1911), Odilon Redon, óleo sobre carvão, Museu de Arte Moderna – MoMA, Nova York.

Para saber mais sobre o assunto, acesse o PORTAL OBJETIVO (www.portal.objetivo.br)e, em “localizar”, digite PORT2M207

No documento 25 Aposto e Vocativo (páginas 116-120)