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O Acordo de Basileia III reconhece a ampla difusão de seus antecessores e deixa seu foco sobre bancos internacionalmente ativos para atuar sobre um escopo maior: a totalidade do sistema bancário. Esta mudança é refletida diretamente no título de um dos dois documentos base no novo acordo, o Basel III: A

global regulatory framework for more resilient banks and banking systems. A

abordagem é reforçada pelo texto dos documentos, que algumas vezes diferencia o caso de bancos internacionalmente ativos, tornando claro que o novo acordo se destina a um grupo maior de instituições (MARTINS, 2012).

O primeiro grupo de alterações propostas pelo Acordo de Basileia III diz respeito à ampliação da “qualidade” do capital regulatório e sinaliza a necessidade de se manter montantes de capital de maior “qualidade”. Esta “qualidade” está diretamente ligada à capacidade de absorção de perdas pelos bancos, por isso o foco sobre a base de capital social da empresa. Outra abordagem em linha com o sistema bancário é o melhor controle de liquidez, escopo também levantado na crise financeira (MARTINS, 2012).

No artigo, intitulado “Basel III and responding to the recente Financial

Crisis: progress made by the Basel Committee in relation to the need for increased bank capital and increased quality of loss absorbing capital”, Ojo (2010) menciona que problemas com modelos de risco de crédito interno do Acordo de Basileia II (que se relacionam com o fato de a implementação de tais modelos de risco de crédito internos dos bancos serem muito sensíveis para cálculo do capital regulamentar, gerando efeitos pro-cíclicos) foram constatados durante a crise financeira de 2008, como particularmente exemplificado pelo caso Northern Rock [Tradução nossa].3

Um assunto importante que vários órgãos e organismos de normalização internacionais têm procurado debater se relaciona com a questão dos efeitos pró- cíclicos gerados pelo Acordo de Basileia II (Consequências da necessidade de novas alterações ao Acordo) e incluem os esforços realizados pelo Banco Central Europeu, como evidenciado no seu relatório, intitulado “Revisão da Estabilidade Financeira”. (OJO, 2010).

3No original: “However problems with Basel II internal credit risk models (which relate to the fact such

banks‟ internal credit risk models were overly sensitive in their implementation9 for the calculation of regulatory capital, and generated pro cyclical effects) were realised during the recent Financial Crisis – as particularly exemplified by the case of Northern Rock.”

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A formatação do Acordo de Basileia III define capital principal (common

equity Tier 1) formado basicamente pela soma do capital social da empresa

constituído por ações ordinárias, no caso de sociedades anônimas (joint-stock

companies), excluindo mecanismos de cumulatividade de dividendos –, e pelos

lucros retidos. O capital adicional (additional Tier 1), por sua vez, seria formado basicamente por instrumentos híbridos de capital e dívida. Estas duas categorias, somadas, formariam o capital de nível 1. O capital de nível 2 é composto por dívidas subordinadas, respeitando os limites já definidos no marco de Basileia II.

Em relação à exposição de risco de contraparte, a metodologia adotada foi alterada para incluir novos pesos, mais elevados Além disso, adicionaram-se medidas que elevam os requerimentos de capital para operações no trading book, operações classificadas pelos bancos exclusivamente para negociação, além de reconhecer instrumentos fora do balanço (off balance sheet vehicles) na apuração destes requerimentos. As medidas mais complexas se dirigiram aos bancos que utilizam a avaliação interna para risco de crédito, seja ela básica ou avançada.

Em relação à diminuição da dependência de agências externas de rating, como indicado no parágrafo abaixo:

Finalmente, o Comitê avaliou uma série de medidas para mitigar a dependência de ratings externos na estrutura de Basileia II. As medidas incluem requisitos para que os bancos realizem suas próprias avaliações internas de posições em títulos externamente avaliados, eliminem certos cliff effects associados a práticas de mitigação de risco de crédito e incorporem elementos-chave do código de conduta para Agências de Rating de Crédito IOSCO em critérios de elegibilidade do Comitê para utilização dos ratings externos à estrutura de capital. O Comitê também está conduzindo uma revisão mais profunda do enquadramento dos títulos, incluindo a sua dependência dos ratings externos [Tradução nossa]. (BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS, 2010, p. 4).4

Vale ressaltar que, no Brasil, não é permitida a avaliação de agências externas de rating.

4 No original: “Finally, the Committee assessed a number of measures to mitigate the reliance on

external ratings of the Basel II framework. The measures include requirements for banks to perform their own internal assessments of externally rated securitisation exposures, the elimination of certain “cliff effects” associated with credit risk mitigation practices, and the incorporation of key elements of the IOSCO Code of Conduct Fundamentals for Credit Rating Agencies into the Committee‟s eligibility criteria for the use of external ratings in the capital framework. The Committee also is conducting a more fundamental review of the securitisation framework, including its reliance on external ratings.”

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A melhoria no gerenciamento do risco de liquidez também faz parte das alterações que constituem o núcleo de mudanças propostas em relação ao que já vigorava no Acordo de Basileia II. A elevação dos requerimentos de capital e o salto de qualidade no capital regulatório visam, em conjunto, adequar as provisões exigidas dos bancos, aumentar a capacidade de absorção de perdas e, consequentemente, evitar o risco sistêmico. Estes três objetivos são reforçados também por uma série de medidas adicionais, ausentes nos acordos precedentes.