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5.3 O NOVO ACORDO DE CAPITAL: Basileia II

5.3.1 Os três pilares fundamentais do Basileia II

5.3.1.3 TERCEIRO PILAR: fortalecimento da disciplina de mercado

O terceiro pilar fundamental do Basileia II é uma tentativa de incluir nessa complexa equação a disciplina de mercado, que se traduz em conceder aos participantes – acionistas e clientes – informações suficientes para viabilizar uma avaliação da gestão dos riscos efetuados pelos bancos e seus níveis de adequação de capital. Esse aspecto foi objeto de um documento complementar divulgado em janeiro de 2000 - A new capital adequacy framework: Pillar 3 Market Discipline (BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS, 2000), que aprofunda a discussão de algumas propostas de fortalecimento do papel do mercado no monitoramento da adequação de capital, aí incluídas a transparência e a comparabilidade das informações.

Em rigor, o terceiro pilar objetivou:

[...] complementar as exigências de capital mínimo (Pilar 1) e o processo de revisão de supervisão (Pilar 2). O Comitê encoraja a disciplina de mercado desenvolvendo um conjunto de exigências de divulgação que permitirá aos participantes do mercado avaliar as informações essenciais contidas no escopo da aplicação, no capital, nas exposições ao risco, nos processos de avaliação de risco e, ainda, na adequação de capital da instituição. O Comitê acredita que essas divulgações tenham uma relevância especial na Estrutura, em que a confiança nas metodologias internas fornece aos bancos um poder maior de decisão na avaliação das exigências de capital (BIS, 2004, p. 196 apud FURTADO, 2005, p. 77-78).

Segundo Ono (2002), a concepção que emerge do terceiro pilar do Acordo de Basileia II é aumentar a transparência e impelir os bancos a uma melhor administração dos riscos. Para tanto, foram definidas algumas recomendações e exigências de divulgação: (i) de ordem quantitativa, como o valor do capital de níveis 1, 2 e 3 e a distribuição das exposições de crédito por vencimento, setor, país, etc.; (ii) de ordem qualitativa, como a política de avaliação dos ativos e passivos, os provisionamentos, as estratégias e as práticas na administração de risco de crédito, entre outras.

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Para o Comitê, em paralelo aos demais pilares, a disciplina de mercado tem o condão de reforçar os propósitos da regulação do capital e outros esforços fiscalizadores na promoção de segurança e solidez de bancos e sistemas financeiros (BASEL COMMITTEE ON BANKING SUPERVISION, 2013).

O Comitê de Basileia considera que a segurança e a rigidez do sistema financeiro, em um mundo dinâmico e complexo, só podem ser obtidas com a combinação de supervisão, disciplina de mercado e efetiva administração interna dos bancos. De acordo com esta visão, a racionalidade do novo Acordo se apoia na necessidade de construir um arcabouço de regulamentações com maior flexibilidade e sensibilidade aos riscos, mais adequado às constantes transformações dos mercados financeiros e das práticas de supervisão e gestão (UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS, 2006).

O Acordo de Basileia II prevê a possibilidade de adoção de métodos internos de avaliação de risco (abordagem IRB), dentro do escopo do terceiro pilar (capital). Para que a divulgação das metodologias internas seja um requisito de aprovação, as instituições financeiras devem divulgar suas técnicas de avaliação e diminuição dos riscos de crédito e de securitização de ativos, visando fornecer ao mercado a relação entre o perfil de risco e a sua solidez.

Dessa maneira, supõe-se que os custos com a coleta e divulgação dos dados não devam ser excessivos devido à possibilidade de serem disponibilizadas em mídia eletrônica e ao fato de muitas informações já serem coletadas para fins internos. O Comitê tem consciência que muitas das informações solicitadas seriam utilizadas pela administração interna, mas tem o cuidado de solicitar informações pertinentes a uma plena operação da disciplina de mercado, sem comprometer a competição no setor com informações confidenciais (BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS, 2004).

Em face da diversidade de abrangências e do poder das entidades de fiscalização, há uma disposição para a formulação de recomendações mais fortes quando constatadas divulgações que não sejam fidedignas ou corretas. Para evitá- las, o Comitê tem estabelecido parcerias com autoridades contábeis, como o

International Accounting Standard Commitee (IASC), visando à promoção de maior

consistência contábil das estruturas de divulgação.

O processo de melhoria das recomendações do terceiro pilar está embasado no princípio de que:

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Os bancos devem ter uma política formal aprovada pelo conselho de administração. Essa política deve descrever o objetivo e a estratégia do banco em relação à divulgação pública das informações sobre sua posição e desempenho financeiro. Além disso, os bancos devem implementar um processo de avaliação da adequação de suas divulgações, inclusive a freqüência da divulgação (BCBS, 2001 apud FURTADO, 2005, p. 80).

Nesse sentido, estabeleceu-se, em conjunto com o segundo pilar, um aprimoramento das formas de avaliação dos riscos e do capital (ONO, 2002). As divulgações são definidas em categorias básicas, que enviam informações fundamentais a qualquer instituição, e são relevantes na medida em que a sua interpretação errônea, omissão ou imprecisão pode influenciar a avaliação e a decisão de um cliente ou usuário. Para as divulgações que não são obrigatórias, em se tratando de exigências contábeis ou de outras exigências, a administração pode optar por fornecer as informações do terceiro pilar por outros meios consistentes com as exigências das autoridades nacionais de supervisão (website da internet acessível ao público ou relatórios regulamentares públicos arquivados nas autoridades de supervisão bancária). (BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS, 2004).

A periodicidade das divulgações estabelecidas no terceiro pilar é semestral, salvo exceções. As divulgações qualitativas, que fornecem um resumo geral dos objetivos e das políticas de administração de riscos de um banco e o sistema de relatórios e definições, podem ser publicadas anualmente. Reconhecendo a sensibilidade aumentada de risco da estrutura e a tendência geral em relação à emissão mais frequente de relatórios no âmbito de mercados de capital, os grandes bancos internacionalmente ativos e outros bancos importantes devem divulgar, trimestralmente, os seus índices de adequação de capital total e do nível 1, e seus componentes (incluindo o capital do nível 1, o capital total e o capital exigido total). Em todos os casos, os bancos devem publicar as informações relevantes assim que for possível e, no mínimo, nos prazos estabelecidos por exigências similares contidas nas leis nacionais (BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS, 2004).

Com efeito, os riscos bancários essenciais aludem a: risco de crédito, risco de mercado, risco de taxa de juros, risco de participação patrimonial no registro bancário e risco operacional. Daí se extrai a relevância das divulgações relacionadas

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à diminuição de risco de crédito e securitização de ativo, as quais alteram o perfil de risco da instituição. (BANK FOR INTERNATIONAL SETTLEMENTS, 2004).

Ainda, para cada área de risco (por exemplo, risco de crédito, mercado, operacional, risco de taxa de juros, participação patrimonial), os bancos devem descrever seus objetivos e políticas de administração de riscos, incluindo:

a) estratégias e os processos; b) estrutura e a organização da área de gestão de risco operacional; c) escopo e natureza dos relatórios de risco operacional e sistemas de mensurações; d) políticas de hedge e/ou mitigação de risco operacional; e e) estratégias e processos para monitoramento da contínua eficácia de hedges e mitigantes (BARROSO; LUSTOSA; MORAES, [s.d.], p. 5).

As avaliações de risco a que os bancos estão expostos e as técnicas que utilizam para identificar, mensurar, monitorar e controlar estes riscos são importantes para os participantes do mercado na medida em que podem orientar as avaliações de suas instituições.