• Nenhum resultado encontrado

2.4 O sistema de pagamentos brasileiro

2.4.3 O novo Sistema de Pagamentos Brasileiro

Os sistemas de pagamentos brasileiros têm papel fundamental na economia porque permitem a realização de todo tipo de transações entre os agentes. Uma das premissas para a realização dessas transações, com a consequente movimentação de fundos entre as partes, é a garantia de que o sistema funciona bem e os riscos envolvidos estão bem gerenciados. Isso significa dizer que a confiança da sociedade nos sistemas de pagamentos permite o funcionamento normal da economia. A eventual existência de falhas, mesmo raras, na cadeia de pagamentos pode gerar desconfiança dos agentes e prejudicar o funcionamento normal das transações econômicas. Ainda, a possibilidade de não se efetuar a transferência de um banco para outro, se for de grande monta, pode gerar uma cadeia de inadimplências e incitar a quebra de bancos e a até a paralisação do sistema. Nessa linha, uma menor confiança nos sistemas de pagamentos pode diminuir a confiança que a sociedade deposita nas instituições bancárias, com riscos de desestabilizar o sistema financeiro. Para reduzir esses riscos sistêmicos, os bancos centrais procuram atuar para dar a segurança necessária aos sistemas de pagamentos. (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013a).

Na avaliação de Gabriel Jorge Ferreira, presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban):

A implantação do novo Sistema [...] faz parte do processo de globalização e modernização da economia brasileira. Visa tornar mais rápidas e seguras as transferências e pagamentos entre os agentes econômicos, com benefícios que se refletirão positivamente no dia-a-dia das empresas e das pessoas (FEDERAÇÃO BRASILEIRA DE BANCOS. O que muda com o novo sistema de pagamentos, [s.d.]).

A diretriz de redução do risco de crédito adotada pelo Bacen foi de grande importância para o sistema financeiro nacional, especialmente com a adoção de

57

novas práticas operacionais, como o monitoramento em tempo real, operação a operação, com a sensibilização imediata da conta reservas bancária, evitando o saldo negativo na conta reserva bancária ao longo do dia, já que a efetivação de uma operação dependeria da existência de saldo positivo na conta de reservas bancárias. Ademais, a celebração de contratos com os titulares das rubricas “Reservas Bancárias” e com as câmaras de liquidação também se tornava necessária para o fortalecimento das questões formais, momento em que se definiam deveres e responsabilidades das partes envolvidas (BRITO, 2003).

O projeto para a implantação do novo SPB, aprovado em 30 de junho de 1999, estabelecia diretrizes para se obter um melhor gerenciamento do risco sistêmico e também para garantir a implantação de um sistema de transferência de grandes valores com liquidação bruta, ou seja, operação a operação, em tempo real, com vistas a reduzir riscos e prazos de transferências de recursos e então possibilitar a evolução do novo modelo.

Com o novo Sistema de Transferências de Reservas (STR), todas as transações passaram a ser realizadas em tempo real, na modalidade de liquidação bruta, e processadas individualmente, isto para reduzir o risco de uma crise sistêmica acontecer. No novo modelo, por outro lado, a necessidade de liquidez aumenta ao longo do dia na conta “Reservas Bancárias” (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013a).

O Bacen passou a conceder crédito aos participantes do STR na modalidade “intradia” em troca de garantias em títulos públicos federais, isto para assegurar o funcionamento normal do sistema de pagamentos no ambiente de liquidação de obrigações em tempo real. Dois outros mecanismos também foram criados: (i) possibilidade de os participantes utilizarem recolhimentos compulsórios como recurso adicional em suas liquidações, (ii) utilização de rotina de otimização das ordens de transferência de fundos mantidas em filas de espera no STR (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013a).

O plano de implantação do sistema de liquidação bruta, operado em tempo real, noticia Brito (2003), contemplava uma plataforma para a redução da defasagem de tempo entre a contratação e a liquidação financeira de inúmeras transações, isto para garantir uma redução significativa do risco no SPB. As câmaras de liquidação adotariam mecanismos eficientes para a redução de riscos, bem como a contingência adequada para dar curso às operações diárias. O autor

58

ainda enumera alguns mecanismos utilizados para a redução de risco nesse sistema: a) estabelecimento de limites bilaterais pelos participantes e multilaterais pelas câmaras de liquidação; b) observância do princípio de entrega contra pagamento; c) aporte de garantias; d) adoção de mecanismos de repartição de perdas nos casos de inadimplência; e e) criação de condições para a execução das garantias.

O projeto, em rigor, visava à adequação das práticas dos sistemas brasileiros aos padrões internacionais, no intuito de dotar o país de uma estrutura eficiente para a realização de pagamentos e liquidação de operações financeiras, reduzindo significativamente o risco sistêmico e fortalecendo o sistema. Com esse foco, o novo sistema de pagamentos entrou em operação em 22 de abril de 2002, marcando o início de uma nova fase para o sistema financeiro brasileiro (BRITO, 2003; ANDREZO; LIMA, 2007).

O SPB compreende as entidades, os sistemas e os procedimentos relacionados com a transferência de fundos e de outros ativos financeiros, entre os diversos agentes econômicos do mercado brasileiro, ou que envolvam o processamento, a compensação e a liquidação de pagamentos em qualquer de suas formas.

No nível operacional, integram o SPB: o serviço de compensação de cheques; o sistema de compensação e liquidação de ordens eletrônicas de débito e de crédito; o sistema de transferência de fundos; o sistema de compensação e de liquidação de operações com títulos e valores mobiliários; o sistema de compensação e de liquidação de operações realizadas em bolsas de mercadorias e de futuros; o sistema que envolve operações com derivativos financeiros; o sistema de transferência de outros ativos financeiros; e o sistema de registro e liquidação de cessões de crédito (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013a).

O novo SPB incorpora o que há de mais sofisticado em tecnologia e sistemas de informática e de telecomunicações. São milhares de computadores interligados e operando com centenas de programas para trocar informações num nível de segurança máximo. Para a sua implantação, as instituições financeiras investiram centenas de milhões de reais e, durante sua operação, mais recursos são utilizados (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013a).

Outro ponto de extrema relevância é a melhoria da segurança sistêmica. No sistema anterior, de compensação a cada 24 horas, no caso de quebra de uma

59

instituição financeira, era virtualmente impossível reverter todas as operações realizadas por ela, sem pôr em risco a solvência de outras instituições. Como responsável pelo SFN, o Bacen corria o risco de ter de assumir prejuízos que, em última instância, seriam pagos por toda a sociedade. No novo formato, os pagamentos estão condicionados à existência de fundos e garantias por parte das instituições financeiras. Portanto, se um banco quebrar, deixará de operar no mesmo instante e não imporá risco a outros bancos, nem ao Bacen e, mais importante, poupadores, investidores e a sociedade não serão penalizados (BANCO CENTRAL DO BRASIL, 2013a).

Alterações legais e regulamentares também foram implementadas, como a Lei n. 10.214, de 27 de março de 2001, que reconheceu a compensação multilateral nos sistemas de compensação de liquidação e estabeleceu que os regimes de insolvência civil, concordata, intervenção, falência ou liquidação extrajudicial não afetariam o adimplemento das obrigações por ele assumidas no âmbito de um sistema de compensação e liquidação. Além disso, dispôs que em todo sistema de compensação e liquidação considerado sistemicamente importante a correspondente entidade operadora deve atuar como contraparte central e assegurar a liquidação de todas as operações cursadas.