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3. Caracterização da situação inicial em que se interveio

3.3. O grupo-turma

3.3.3. Casos específicos do grupo/da turma

3.3.3.1. A aluna E

A aluna E nasceu a 12/9/02 na Maternidade Alfredo da Costa em Lisboa.

A caracterização da aluna E é feita com base no PEI e no relatório circunstanciado, ambos de 2012/13. Recorreu-se também à informação prestada pela professora na entrevista e a fichas que a aluna faz na aula, gentilmente cedidas pela professora da turma. Não se

entrevistou a encarregada de educação, uma vez que não foi possível marcar a entrevista em tempo útil.

3.3.3.1.1 Problemáticas da Aluna E

A aluna apresenta um Défice Visual e desenvolvimental acentuado. Os seus problemas visuais são muito acentuados a média e longa distância e apresenta uma hipersensibilidade à luz. Segundo o relatório da Terapeuta da Fala a aluna E apresenta “uma Perturbação Específica do Desenvolvimento da Linguagem, (…) e apresenta várias alterações a nível da articulação verbal, de carácter fonético e fonológico”. Necessita de acompanhamento a nível da Psicomotricidade e apresenta “um atraso de desenvolvimento, sobretudo nas áreas Pessoal/Social, Ouvido/Fala, Coordenação Visuo-Motora e Realização” (Programa Educativo Individual da aluna E).

3.3.3.1.2 Percurso escolar e apoios da Aluna E

De 2004 a 2006 a aluna E teve apoio domiciliário, sendo sujeita a um projeto de intervenção precoce. A referenciação foi feita pela Maternidade Alfredo da Costa. De 2006 a 2010 frequentou o pré-escolar num jardim-de-infância tendo sido adiada a entrada no primeiro ciclo. No último ano de jardim-de-infância beneficiou das medidas de um PEI. Em 2010 entra no primeiro ciclo, continuando a beneficiar das medidas de um PEI até 2013, com as alíneas a) Apoio Pedagógico Personalizado, b) Adequações Curriculares Individuais (nas áreas curriculares comuns – Matemática, Português e Estudo do Meio e na introdução de objetivos e conteúdos intermédios), d) Adequações no processo de avaliação (tipo de prova, formas e meios de comunicação, duração e local de prova) e f) Tecnologias de apoio (computador e calculadora eletrónica) (Programa Educativo Individual da aluna E).

Segundo o Relatório circunstanciado, em 2012/13, a aluna E teve apoio três vezes por semana, sendo notória alguma evolução ao longo do ano letivo. Contudo não conseguiu alcançar com sucesso as competências definidas no seu Programa Educativo Individual. Quanto às necessidades da aluna E decorrentes da sua deficiência visual, em 2013 foram tomadas as seguintes medidas educativas: reorganização da sala de aula e colocação da aluna

sempre próxima da fonte de informação. Foi ainda requisitado um estirador com plano inclinado para adequar a distância do trabalho e diminuir a fadiga visual. Também foi acompanhada uma vez por semana em terapia da fala e terapia ocupacional. No referido relatório pode ler-se que a aluna E é uma criança com baixa autoestima, que necessita do apoio constante do professor e de reforço positivo. Por outro lado, a aluna sempre se revelou interessada e empenhada, mas no final do ano começava a demonstrar algum desinteresse e prostração perante algumas tarefas, principalmente na área de português. Segundo o referido relatório, no final de 2012/13, a aluna E ficou retida no terceiro ano e foi proposta para CEI.

Relativamente aos apoios fora da escola, por apresentar um défice visual e de desenvolvimento acentuado, a aluna E é acompanhada na Consulta de Desenvolvimento da MAC - Maternidade Alfredo da Costa, onde nasceu. É acompanhada em Neuro-oftalmologia no H.S., em ORL, no Hospital Dona Estefânia, em Pediatria pela Santa Casa de Misericórdia de Lisboa e em Neurologia. Em 2013, a psiquiatra que a acompanha recomendou a sua integração no Centro Helen Keller. A mãe da menina procedeu à sua inscrição com relatório médico de recomendação justificada, pelo que se aguarda uma resposta da avaliação iniciada no centro citado.

3.3.3.1.3 Perfil de funcionalidade da aluna E

O relatório de 15/12/08 refere que “embora a aluna E apresente uma boa capacidade de compreensão, apresenta um atraso que se centra sobretudo em algumas áreas ligadas a aspetos cognitivos, organização grafo-percetiva, estruturação espacial, coordenação olho-mão e esquema corporal, refletindo um atraso global do desenvolvimento mental”. O relatório de avaliação do SPO do Agrupamento de Escolas X refere que a capacidade de compreensão de regras sociais se encontra na média esperada para a idade. No entanto, a aluna E demonstra grande dificuldade na recolha de informação que faz do meio que a rodeia, na abstração verbal e apresenta vocabulário pobre.

Ao nível das atividades e participação, a aluna E apresenta as seguintes dificuldades: em termos da motricidade fina, apresenta alguma dificuldade em agarrar, manipular (utilização da mão e do braço) e em apanhar. No que se refere à motricidade global, apresenta alguma dificuldade em controlar o comportamento. Manifesta também uma dificuldade ligeira no andar, nomeadamente em andar sobre superfícies diferentes, contornar obstáculos, subir e

descer e em correr. No que concerne à comunicação, revela dificuldades moderadas no comunicar e receber mensagens orais e mais acentuadas ao nível da fala, nomeadamente no que se refere a manter e terminar uma conversa. Em termos de comportamento social, apresenta dificuldades ao nível das interações pessoais básicas. No que se refere à cognição, revela dificuldades graves ao nível da aprendizagem e aplicação de conhecimentos, nomeadamente, na aquisição da linguagem, na aquisição da leitura e em reconhecer símbolos como caracteres, letras e palavras. Em termos de estimulação sensorial apresenta alguma dificuldade em dirigir a atenção e em levar uma tarefa até ao fim (Programa Educativo Individual da aluna E).

3.3.3.1.4 Nível de competências da aluna E, no início do ano letivo

Segundo o Relatório circunstanciado, no final do ano letivo transato, a aluna E demonstrava grande dificuldade na recolha de informação que fazia do meio que a rodeava, na abstração verbal e apresentava um vocabulário pobre. Revelava dificuldades significativas nas três áreas curriculares.

Na área de Português continuava a trabalhar conteúdos do primeiro ano de escolaridade, demonstrando muita dificuldade em desenvolver capacidades de leitura e escrita. Apenas lia palavras/frases simples, com as palavras trabalhadas, apresentando dificuldade em formar palavras novas autonomamente (Relatório circunstanciado). As fichas em anexo mostram que a aluna E lê e escreve palavras conhecidas, com ajuda de imagens, como por exemplo menino, menina, sapato, bota, … e junta silabas para formar palavras conhecidas (anexo 3). Através de uma conversa informal com a professora da turma ficamos a saber que a aluna E consegue: escutar os outros e esperar pela sua vez para falar; e consegue respeitar o princípio de cortesia. Tem muita dificuldade em cumprir instruções porque não percebe o que se lhe pede; em falar de forma audível, falando pouco e baixo por ser difícil articular as palavras; em construir frases com graus de complexidade crescente, por ter um vocabulário muito pobre. Na entrevista, a professora referiu que a aluna “copia bem”, “funciona muito a nível da memorização”, sabe o abecedário, escreve o nome completo dela e o primeiro nome da mãe. Ao escrever palavras esquece-se muito das vogais e da última letra da palavra. Não responde a perguntas de textos, porque não compreende” (apêndice 3).

Na área de Matemática, a aluna tinha dificuldade em assimilar os conteúdos básicos e em executar adições e subtrações de números maiores de 20. Trabalhava conteúdos de primeiro ano. O cálculo mental era muito fraco e a aquisição de conceitos base era realizada com muita dificuldade. Não apresentava poder de abstração (Relatório circunstanciado). As fichas em anexo confirmam-nos que estes problemas se mantêm: sabe fazer os números até 10, faz pequenas somas com recurso a desenhos, mas sem recurso a imagens já não consegue fazer. Não consegue decompor números por menores que sejam (anexo 4). Na entrevista, a professora referiu que a aluna E “Conta até dez ou quinze, faz pequenas sequências. Conta pequenos conjuntos de patinhos, … Faz pequenas contas como cinco mais três ou três mais quatro, agora estamos a ir até dez, dez mais um, dez mais dois, é tudo muito devagarinho” (apêndice 3).

Na área de Estudo do Meio, a aluna conseguiu concretizar algumas aprendizagens apenas com apoio, e fez uma evolução enorme na área das expressões artísticas (Relatório circunstanciado). Na entrevista a professora referiu que a Aluna E “participa sempre, trabalha o mesmo que os outros e o J vai ajudando”, “já falamos dos ossos e a B também vai apontando no seu corpo onde ficam”.

O Programa Educativo Individual refere como áreas /indicadores fortes (pontos de partida / suporte de trabalho), o facto de a aluna gostar de conversar sobre temas do seu interesse; relatar diariamente acontecimentos do seu dia-a-dia e revelar gosto por histórias tradicionais e com personagens do imaginário, tais como fadas e princesas. Apresenta como áreas / indicadores fracos (aspetos a melhorar), o tempo de tarefa reduzido; a linguagem; dificuldades no mecanismo de leitura e escrita e no cálculo mental e raciocínio matemático.

Em conclusão, a aluna E apresenta poucos períodos de concentração/atenção e tem pouco poder de memorização, apresentando avanços e recuos nas aprendizagens.

No documento ULHT Dores Bernardino Trabalho de Projeto (páginas 96-100)