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Caracterização do trabalho de projeto

No documento ULHT Dores Bernardino Trabalho de Projeto (páginas 77-79)

2. Enquadramento metodológico

2.1. Caracterização do trabalho de projeto

Esta investigação abraçou uma metodologia qualitativa, na modalidade de investigação-ação. O trabalho de investigação-ação consistiu em ciclos de planeamento, ação, reflexão ou avaliação, e na manutenção ou redefinição dos caminhos a seguir, em função dos resultados (Dickens & Watkins, 1999). Deste modo, pelo facto de ser um “processo constantemente controlado passo a passo, permitiu que os resultados pudessem ser traduzidos em modificações, ajustamentos, mudanças de direção, redefinições de acordo com as necessidades” (Bell, 1997, p. 21).

Segundo Dickens e Watkins (1999), existem várias formas de investigação-ação, sendo que os investigadores podem escolher uma ou várias metodologias, podem escolher a parte do ciclo a que querem dar mais destaque e podem variar a duração de cada ciclo. Além destas razões, optou-se por um projeto de investigação-ação, por um lado, porque segundo Allard-Poesi e Perret (2004) esta metodologia tem um duplo objetivo: transformar a realidade e produzir conhecimentos sobre essas mudanças, e por outro, porque segundo Cohen e Manion, esta consiste num “procedimento essencialmente, in loco, com vista a lidar com um problema” (Bell, 1997, p. 21).

Assim, seguindo as premissas metodológicas do trabalho de investigação-ação, identificamos a situação-problema – uma turma com duas alunas que apresentavam dificuldades de leitura e escrita e que não participavam das atividades do grupo a português e matemática. Uma das meninas apresentava défice cognitivo e baixa visão, e a outra, para além de ter baixa visão e de não possuir o português como língua materna, por razões de saúde ficou mais de um ano sem frequentar a escola. Apesar de estarem ambas matriculadas no 3º

ano, nas aulas de português e matemática, a primeira realizava fichas com conteúdos de 1º ano e a segunda realizava fichas com conteúdos de 2º ano.

Identificado o problema, foi necessário “fazer a avaliação da situação para estabelecer o diagnóstico exato, usando a instrumentalização necessária para a recolha e análise dos dados recolhidos” (Sanches, 2005, p. 138). A instrumentalização utilizada na realização do presente trabalho, consistiu em entrevistas, numa observação naturalista, num teste sociométrico e em análise documental.

Seguiu-se o “cruzamento da informação recolhida com as várias técnicas e a sua cuidada interpretação”, de modo a que se pudesse compreender melhor, e a que se pudesse estabelecer o diagnóstico exato da situação problemática, como recomenda Sanches (Sanches, 2005, p. 138). Segundo a autora, é “desta análise compreensiva da ‘situação real’”, conjuntamente com toda a informação teórica que “vão sair as decisões a tomar relativamente à intervenção a realizar, para chegar à ‘situação desejável’, no âmbito da sala de aula” (Sanches, 2005, p. 138). Este cruzamento da informação permitiu caracterizar melhor a situação-problema, pois percebeu-se que a turma alvo deste estudo era composta por alunos do 3º e 4º anos, que em termos de atividades diárias não funcionavam como turma inclusiva, uma vez que se identificaram quatro “grupos” de trabalho: o grupo do 4º ano que seguia as atividades dos manuais do 4º ano, o grupo do 3º ano que seguia as atividades dos manuais do 3º ano, e dentro deste grupo, a aluna E e a aluna N, que faziam atividades de 1º e 2º anos respetivamente, a português e a matemática. Em termos de socialização, ficou-se a saber que a aluna E era “invisível” na turma e que havia dois alunos bastante rejeitados pelos colegas.

Foi a partir deste conhecimento mais aprofundado do problema que se elaborou o plano para a intervenção, do qual constam os objetivos gerais e específicos e as condições de realização: estratégias e atividades, recursos, intervenientes, calendarização e avaliação a realizar, sugeridos por Sanches (2005), como poderá ser observado no capítulo seguinte.

Para que o plano pudesse vir a ser executado, foi necessário operacionaliza-lo, como sugere Sanches (2005, p. 138), “em termos de etapas temporais e/ou objetivos intermédios”, acompanhados da “necessária reflexão/avaliação intermédia (temporal e/ou por objetivos/atividades), sistemática e continuada, desencadeadora de novas etapas de execução e/ou reformulação”. Segundo Dickens e Watkins (1999), a natureza cíclica da pesquisa-ação requer planos de ação flexíveis e sensíveis ao ambiente de trabalho e a monitorização contínua de cada etapa, de modo a poderem ser feitos ajustamentos sempre que necessário. Deste modo, Bogdan e Biklen sugerem que o plano seja “utilizado como um guia do

investigador em relação aos passos a seguir” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 83). Os autores referem que quando inicia o trabalho, o investigador pode ter uma ideia acerca do que irá fazer, mas nenhum plano poderá ser detalhado antes da recolha de dados, pois os “planos evoluem à medida que se familiarizam com o ambiente, pessoas e outras fontes de dados” (Bogdan & Biklen, 1994, p. 83). No caso deste estudo, o plano foi necessariamente um guia, pois pelo facto da investigadora não lecionar na escola onde decorreu a investigação, a familiarização e conhecimento do ambiente do grupo-turma aquando da realização do plano, resumiu-se à informação resultante do cruzamento dos dados recolhidos.

Por fim, foi necessário fazer uma “avaliação do processo e do produto, com a devida instrumentalização e os testemunhos dos implicados” (Sanches, 2005, p. 138). Segundo Gallardo e Buleje (2007) aqui começaria outro ciclo na espiral de investigação-ação, uma vez que é possível encontrarmo-nos perante mudanças que implicam uma redefinição do problema, seja porque este se modificou, porque surgiram outros que requerem uma solução mais urgente ou porque se descobriram novos focos de atenção que é necessário ter em conta para abordar o nosso problema original. Assim, a avaliação, além de ser aplicada em cada momento, deve estar presente no final de cada ciclo, para desta forma retroalimentar todo o processo. Neste projeto foram realizadas diária e semanalmente avaliações conjuntas professoras-alunos, e semanalmente, foram ainda realizadas avaliações acompanhadas de reflexões pela professora da turma e pela professora investigadora. Algumas vezes, estas avaliações originaram alterações na sua prática diária.

Com a implementação deste projeto visou-se trabalhar a leitura e a escrita no âmbito da educação inclusiva.

No documento ULHT Dores Bernardino Trabalho de Projeto (páginas 77-79)