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A pesquisa científica e suas “metodologias” estão submetidas à concepção burguesa de ciência, a qual potencializa o desenvolvimento do conhecimento segundo a ótica do capital. O conhecimento, ou melhor, a sistematização da realidade social está voltada para interesses “produtivos”, o que torna limitada a relação do saber com o mundo dos homens. Em favor desta concepção, adota-se, freqüentemente, o argumento de que a extensão da ciência moderna é sinônimo de especializações em todas as áreas do saber. (LUKÁCS, 1981). O conhecimento está fragmentado e é acentuado pela falta de diálogo entre as áreas, o que, conseqüentemente, colabora para a compreensão do homem e da sociedade como partes isoladas da dinâmica social e da tessitura histórica.

Nosso intuito, neste momento, é abrir o debate sobre a fragmentação a que as ciências sociais foram submetidas, diante da concepção burguesa de ciência. Segundo Lukács (1981, p. 122, destaque o autor), o fato de que as “ciências sociais burguesas não consigam superar uma mesquinha especialização é uma verdade, mas as razões não são as apontadas”. Tal questão não reside “na vastidão da amplitude do saber humano, mas no modo e na direção de

desenvolvimentos das ciências sociais modernas”. A decadência65 da ideologia burguesa

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A decadência ideológica denunciada por Lukács é o período claramente marcado pela tentativa dos ideólogos burgueses em produzir um conhecimento que tem por premissa uma fuga da realidade, com explicita intencionalidade de manutenção da ordem social burguesa. Segundo Sousa (2005, p. 59 – 60): “Para Lukács, a evolução do pensamento filosófico burguês pode ser pensada a partir de três estágios: 1) Vai até 1848, onde se desenvolve a filosofia burguesa clássica, na qual o pensamento filosófico da época era uma forma aberta para a elaboração de um saber verdadeiramente científico, de tal modo que os seus pensadores sustentavam a plena cognoscibilidade do mundo e mantinham uma grande independência face às exigências ideológicas de sua própria classe; 2) A partir de 1848, com a entrada autônoma do proletariado – em plano histórico-universal – na arena política até à emergência do imperialismo instaura-se o período da decadência ideológica. Este claramente marcado por uma fuga da realidade com explicita intencionalidade de manutenção da ordem burguesa está expresso na agência agnosticismo (manifesto no positivismo e no neokantismo) que derrui a crença no poder da razão de conhecer a essência verdadeira do mundo e da realidade, levando a reflexão a abandonar as grandes temáticas sócio-históricas; 3) Diz respeito à entrada do capitalismo na sua era imperialista, ou seja, naquela que é o momento estrutural que agudiza suas contradições. Neste estágio do capitalismo, ao mesmo tempo em que se intensificam as suas contradições, insurgem elementos indispensáveis que possibilitam tanto uma diminuição da percepção da brutalidade da chamada crise geral do sistema, como também, por outro lado, congregam esforços na tentativa de reação à teoria social que responde a práxis do proletariado. Desta maneira, sobre os limites do agnosticismo anterior, floresce uma estruturação filosófica em torno do irracionalismo que, neste momento, - à impossibilidade social e teórica de uma defesa do sistema, mas sem questionar a intocabilidade do modo de produção capitalista – propõe a falsa solução da ‘terceira via’: nem capitalismo, nem socialismo. Deste modo, inaugura-se no patamar epistemológico a pseudo- objetividade dos mitos e a intuição como instrumento do conhecimento verdadeiro”.

operou nas ciências sociais “uma intensa modificação, que não se pode mais relacionar entre si, e o estudo de uma não serve mais para promover a compreensão de outra. A especialização mesquinha tornou-se o método das ciências sociais”.

As ciências sociais têm dificuldades de se afirmarem diante da ciência moderna, pela sua ineficiência em apresentar respostas “práticas”. O seu modo específico de produzir conhecimento é questionado pelo pragmatismo dos filisteus capitalistas, os quais só objetivam as ciências que buscam os resultados para o avanço das forças produtivas. Isso justifica o ceticismo da ciência burguesa em relação às ciências sociais, pois a ciência positivista do capital se contentou, em sua maioria, em conhecer o universo singular de um determinado fenômeno empírico, sem preocupações de questionar as contradições históricas que o engendram.

Lukács (1981) ao afirmar que a “especialização mesquinha tornou-se o método das ciências sociais”, na verdade ele está preocupado com os caminhos das ciências sociais, mais especificamente com a influência do pensamento conservador que pretende separar e criar inúmeras áreas do saber, tais como a sociologia, a economia, a história. Essas áreas correm o risco de não conseguirem comunicar-se, tornando-se estranhas entre si, apesar de terem o mesmo ponto de partida nas suas construções teóricas, ou seja, a produção e a reprodução da vida social. Observe as considerações de Lukács (1981, p. 23, destaque do autor):

Iniciemos pela nova ciência da época da decadência: a sociologia. Ela surge como ciência autônoma porque os ideólogos burgueses pretendem estudar as leis e a história do desenvolvimento social separando-as da economia. A tendência objetivamente apologética desta orientação não deixa lugar a dúvidas. Após o surgimento da economia marxista, seria impossível ignorar a luta de classes como fato fundamental do desenvolvimento social, sempre que as relações sociais fossem estudadas a partir da economia. Para fugir desta necessidade, surgiu a sociologia como ciência autônoma; quanto mais ela elaborou seu método, tão mais formalista se tornou, tanto mais substituiu, à investigação das reais conexões causais na vida social, análises formalistas e vazios raciocínios analógicos [...] Paralelamente a este processo, ocorre na economia uma fuga da análise geral de produção e reprodução e uma fixação na análise dos fenômenos superficiais da circulação, tomados isoladamente. [...] Assim como a sociologia deveria constituir uma “ciência normativa”, sem conteúdo histórico e econômico, do mesmo modo a história deveria limitar-se à exposição da “unicidade” do decurso histórico, sem levar em consideração as leis da vida social.

As ciências particulares foram criadas para justificar a ciência moderna. A

fragmentação da ciência é resultado da divisão social do trabalho66. Na sociedade burguesa, as

atividades especializadas dos homens apresentam-se ocultas e autônomas diante do processo e do conjunto social. A perspectiva de totalidade, em que as partes são compostas por determinações que se engendram e se explicam nas suas relações com o todo, é esquecida. Não há comunicação entre as atividades profissionais e muito menos entre os círculos do saber. Dentro do mundo acadêmico, há um vazio de comunicação entre as áreas do conhecimento. Isso é resultado direto dos absurdos criados pela “Universidade Moderna”, onde ouvimos em matéria de ciências sociais e humanas que certo autor faz uma abordagem histórica, outro uma sociológica e o terceiro uma econômica. Todos esquecem que, seja qual for a abordagem, o ponto de partida é a vida social que não se apresenta desconectada e é impossível de ser explicada pela unilateral perspectiva sociológica, histórica, econômica ou outra setorialização criada pelas ciências particulares.

A fragmentação foi criada e permaneceu no círculo acadêmico ao longo do século XX, contribuindo para o desenvolvimento da Universidade que tem como um de seus principais objetivos formar especialistas, que sabem cada vez mais de menos. Portanto, o grande mal da ciência moderna são as ciências particulares. Destacamos o caso especial da sociologia, que quer acabar com o conflito de classes. Isso é um esforço que os sociólogos burgueses fazem, tendo como objetivo negar as contradições da realidade social. Lukács (1981) situa a sociologia como ciência típica da etapa de decadência da burguesia iniciada em 1948 e faz uma crítica voltada para a sociologia como ciência autônoma, que tem como objetivo de sua emergência dar respostas burguesas para as contradições oriundas do capitalismo.

A sociologia, como disciplina independente, nasce na Inglaterra e na França após a dissolução da economia política clássica e do socialismo utópico. Uma e outro, cada qual a seu modo, eram doutrinas gerais sobre a vida social e, em conseqüência, haviam tratado de todos os problemas essenciais da sociedade em relação com as questões econômicas que condicionam tais problemas. O nascimento da sociologia como disciplina independente faz com que o tratamento do problema da sociedade deixe de lado a sua base econômica; a suposta independência entre as questões sociais e as questões econômicas constitui o ponto de partida metodológico da sociologia. (LUKÁCS, 1981, p. 132).

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“Em conseqüência da divisão social do trabalho, a ciência está de fato alienada (e privada) da determinação social dos objetivos de sua própria atividade, que ela recebe ‘pronta’, sob a forma de ditames materiais e objetivos de produção, do órgão reificado de controle do metabolismo social como um todo, ou seja, do capital.” (MÉSZÁROS, 2004, p. 270, destaque do autor).

A emergência da sociologia como disciplina autônoma explica as adjacências criadas pelos ideólogos do capitalismo para abonar as contradições sociais. A sociologia, a história, a

economia67 e as outras “ciências” que se preocupam com o “social”, o “histórico”, o

“econômico”, o “cultural”, o “político” foram criadas pelo modo burguês de compreender a sociedade. O século XX desenvolveu com extremismo, principalmente, no espaço Universitário – instituição que tem a função de sistematizar o saber e formar os “especialistas” – o papel de formular “metodologias” específicas para cada disciplina autônoma, o que fortaleceu o entendimento do homem e da sociedade como partes isoladas e sem vínculo com a produção e reprodução da vida social. Isso explica alguns estudos sobre o mundo do trabalho que se resumem a descrever a exploração do homem e não se preocupam com a potência revolucionária do trabalho. Observe a seguinte colocação de Lukács (1981, p. 115): “A economia se limita, cada vez mais, a uma mera reprodução dos fenômenos superficiais. O processo espontâneo da decadência científica opera em estreito contato com a apologia consciente e venal da economia capitalista”.

Conforme já adiantamos, as especializações em todas as áreas são resultantes da divisão social do trabalho. O maior problema que cerca esta questão é o grau de alienação posta sobre aqueles que freqüentam e representam o espaço universitário, pois os reconhecidos por “acadêmicos”, “cientistas”, “intelectuais” se contentam em ser especialistas em economia, em sociologia, em história, em antropologia, em filosofia e desenvolvem um saber que pouca relevância tem para a humanidade social. A ciência em determinada época histórica pode ser a alavanca esclarecedora da humanidade, mas em outras, com influências “equivocadas” de concepção de mundo, pode ser um grande obstáculo. Consideramos “equivocados” os pontos de vista que priorizam o capital em detrimento do trabalho e produzem conhecimentos com recortes efêmeros da realidade social. Por esta questão que, em condições históricas favoráveis, a ciência pode realizar uma grande obra de esclarecimento,

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“Paralelamente a este processo, ocorre na economia uma fuga da análise do processo geral de produção e reprodução e uma fixação na análise dos fenômenos superficiais da circulação, tomadas isoladamente. A ‘teoria da utilidade marginal’, elaborada no período imperialista, assinala o apogeu deste esvaziamento da economia na abstração e no formalismo. Enquanto na época clássica havia um esforço no sentido de compreender a conexão dos problemas sociais com os econômicos, a decadência coloca entre eles uma muralha divisória artificial, pseudocientífica e pseudometodológica, criando compartimentos estanques que não existem senão na imaginação. Análoga é a evolução da ciência histórica. Assim como, antes da decadência, economia e sociologia, na investigação concreta, só eram distinguíveis metodologicamente, a postiori, também a História era profunda e estritamente ligada ao desenvolvimento da produção, ao íntimo progresso das formações sociais. Na época da decadência, também aqui a ligação é artificialmente desfeita, com finalidades objetivamente apologéticas. Assim como a sociologia deveria constituir uma ‘ciência normativa’, sem conteúdo histórico e econômico, do mesmo modo a História deveria limitar-se á exposição da ‘unicidade’ do decurso histórico, sem levar em consideração as leis da vida social.” (LUKÁCS, 1981, p. 123).

como ocorre nas épocas do Renascimento e do Iluminismo. Em contrapartida, verificam-se momentos históricos em que a processualidade social se desenvolve em direção inversa: “a ciência pode obscurecer, pode dar um sentido incorreto a impulsos ou talvez apenas a pressentimentos justos oriundos da vida cotidiana.” (LUKÁCS, 1981, p. 100).

A confusão criada pela constituição fragmentada das ciências sociais traz procedimentos dificultosos para aqueles que se propõem a investigar a vida social. Há uma grande dificuldade em desvendar relevantes “fatos sociais” para serem os verdadeiros pontos de partida para os estudos. A realidade social se apresenta heterogeneizada e com diversificadas expressões da vida social, o que, em princípio, torna difícil a escolha do “fato social” relevante para a sistematização do conhecimento. Evidentemente, todo conhecimento da realidade parte de fatos. Trata-se, apenas, de saber quais dados da vida merecem (e em qual contexto metodológico) ser considerados como fatos importantes para o conhecimento. (LUKÁCS, 1981). É nesse momento que cabe o “preparo metodológico” do investigador diante da realidade social. Considerar a realidade e suas formas de ser e existir é remeter ao cotidiano de uma sociedade em que as relações sociais emergem e são submetidas diretamente à relação entre capital versus trabalho. Torna-se impossível, na investigação sobre a vida social, desconsiderar este conflito. O que temos são abordagens das ciências sociais e humanas recheadas de cientificidade, mas esquecem de levar em consideração nas suas pesquisas tal protoforma que constitui as relações sociais.

Neste caso, podemos citar Durkheim e Weber, que apresentam importantes contribuições para as ciências sociais, mas se limitam a construir um conhecimento que explica e justifica as contradições da sociedade, sem propostas de rupturas nem superações. Durkheim, em sua proposta metodológica para a sociologia, sugere tratar os “fatos sociais” como coisas que não se nivelam à natureza, mas que devem ser analisadas a partir de procedimentos científicos semelhantes aos das ciências naturais. Os “fatos sociais” são exteriores ao indivíduo e pertencem à sociedade. Na análise desses fatos, o pesquisador deve despir-se das pré-noções que exercem influências, para observá-los em estado de pureza. O papel da pesquisa social é estudar a gênese e o funcionamento das instituições sociais e analisar a realidade objetiva por meio da observação, da descrição, da comparação, negando as maneiras de investigar que vão das idéias para as coisas. Para Durkheim (1999, p. 28): “É preciso considerar os fenômenos sociais em si mesmos, separados dos sujeitos conscientes que os recebem; é preciso estudá-los de fora, como coisas exteriores, pois é nessa qualidade que eles se apresentam a nós.” Aqui se encaixa os principais aforismos da perspectiva positivista, segundo a qual a sociedade é regida por leis naturais, por isso ela pode ser

estudada pelos mesmos métodos e processos das ciências da natureza e a abordagem científica deve ser objetiva e neutra.

Weber, de certa forma, contribuiu significativamente para as ciências sociais ao considerar a aproximação dos processos sociais a partir da compreensão das intencionalidades e ações dos sujeitos, que se sobrepõem às condições objetivas que os cercam. Na investigação, o cientista é inspirado pelos seus próprios valores e ideais em que acredita e pelos quais luta. Por isso ele deve estar capacitado para distinguir entre reconhecer e julgar, e para cumprir o dever científico de ver a verdade dos fatos, como o dever prático de defender os próprios ideais. Para Weber, os valores devem ser incorporados conscientemente à pesquisa e controlados por meio de procedimentos rigorosos de análise, caracterizados como “esquemas de explicação condicional”. Os valores vão se tornar um guia necessário que conduz à escolha de certo objeto pelo pesquisador, ou seja, sua ação é seletiva. A partir daí, ele definirá certa direção para sua explicação e os limites da cadeia causal, ambas orientadas por valores. “As relações de causalidade, por ele construídas na forma de hipóteses, constituirão um esquema lógico-explicativo, cuja objetividade é garantida pelo rigor e obediência aos cânones do pensamento científico”. O ponto essencial a ser salientado é que o próprio cientista é quem atribui uma ordem aos aspectos do real e da história que estuda. “Através dessa ordem, procura estabelecer uma relação causal entre certos fenômenos e produz o que chamamos de tipo ideal.” (QUINTANEIRO, 1995, p. 137).

Segundo Weber (1991, p. 106):

Obtém-se um tipo ideal mediante a acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista, e mediante o encadeamento de grande quantidade de fenômenos isoladamente dados, difusos e discretos, que se podem dar em maior ou menor número ou mesmo faltar por completo, e que se ordenam segundo os pontos de vista unilateralmente acentuados, a fim de se formar um quadro homogêneo de pensamento. Torna-se impossível encontrar empiricamente na realidade esse quadro, na sua pureza conceitual, pois trata-se de uma utopia.

Lowy (1978, p. 14) comenta que Weber, em certos escritos metodológicos sobre as ciências sociais, reconhece que os valores do pesquisador desempenham papel de destaque na seleção do “objeto de pesquisa” e na determinação da problemática das questões a serem postas. “Mas ele assinala que as respostas fornecidas, a pesquisa mesma, o trabalho empírico do cientista, devem estar livres de qualquer valoração, e seus resultados aceitos por todos. Como se a escolha das questões não determinasse, em larga medida, as respostas mesmas!” A contradição de Weber é que ele se situa a meio caminho entre o desconhecimento do

determinismo social68 do pensamento sociológico nos positivistas e sua aceitação integral pelos marxistas (GOLDMANN apud LOWY, 1978).

Ao tratar os “fatos isolados” ou elaborar os “tipos ideais”, instituem-se teorias específicas que os justificam. Os teóricos evitam o confronto com a realidade social, as concepções de mundo ditas científicas se afastam da vida cotidiana e de suas contradições que devem ser o ponto de partida para suas reflexões. “Os causídicos do capital afastam-se de tal forma da realidade que acabam por falsificar a própria realidade.” (LUKÁCS, 1981, p. 65). Esquecem que os conhecimentos produzidos partem da realidade concreta e que, para sua sistematização, devem enfrentar as contradições que a compõem. Não queremos engessar as manifestações da vida social. O que almejamos é destacar a centralidade da relação conflituosa entre o capital e o trabalho e as conseqüentes vivências políticas e ideológicas que daí emanam. O teórico, o pesquisador que objetiva sistematizar a realidade social, deve partir de fatos concretos da realidade social, pois, se desconsiderar a determinação material, corre o risco de criar a realidade de acordo com a sua subjetividade. Lukács (1981, p. 66, destaque do autor) nos esclarece que:

[...] o caráter fetichista das formas econômicas, a reificação de todas as relações humanas, a extensão crescente de uma divisão do trabalho que atomiza abstrata e racionalmente o processo de produção sem levar em conta as possibilidades e as capacidades humanas dos produtos imediatos – tudo isto transforma os fenômenos sociais e sua apreensão. Daí o surgimento de fatos “isolados”, de conjunto isolados de fatos, de setores particulares com legalidade própria (teoria econômica, direito, etc.) que se afiguram, na sua aparência imediata, como largamente elaboradas pelo estudo científico [...]

A invenção da realidade é um triunfo que a ciência moderna, especialmente, as ciências sociais e humanas campeiam para fugir da necessária crítica às determinações maléficas do capital. A partir do momento em que a produção do conhecimento foi captada pelo modo de ser da ciência burguesa, pouco se produziu numa direção na qual a teoria é o pressuposto para a orientação de atos de superação social. Emergem os justificadores das condições sociais vigentes, em que seus principais papéis são de apenas diagnosticar as relações e as condições de produção e reprodução da vida social, em busca de saídas sem rupturas com o atual sistema. O conhecimento produzido, que tem como principal objetivo

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De acordo com Lowy (1994, p. 41, grifo do autor): “Os julgamentos de valores, os pontos de vista de classe, as ideologias, utopias e visões de mundo dos grupos sociais influenciam de forma decisiva – direta ou indireta, consciente ou não – o conjunto da atividade científica e cognitiva no domínio das ciências sociais. Isto é, tanto a problemática como a pesquisa empírica dos fatos e de sua causalidade, assim como sua interpretação social e histórica de conjunto”.

não só o diagnóstico mas a supressão da sociedade dada, é negado e considerado “influência ideológica” com pouca cientificidade. As ciências sociais como cafetãs do capital negam as