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Precarização do trabalho, informalidade e desemprego

2.1 Eixos Temáticos e Tendências de Estudo sobre o Mundo do Trabalho

2.1.3 Precarização do trabalho, informalidade e desemprego

O eixo temático precarização do trabalho, informalidade e desemprego é composto por 11 artigos que representam 13,92% do total do material analisado. O conjunto dos artigos retrata a miséria do trabalho no Brasil. O desemprego, a informalidade, as condições subumanas de trabalho são denunciados pelos autores com pesquisas empíricas que, por meio de entrevistas e depoimentos realizados com os trabalhadores, dão voz ao sofrimento da classe trabalhadora e denunciam as mais diversas formas de espoliações de homens, mulheres e crianças por meio da exploração da força de trabalho. O quadro caracteriza as particularidades de cada artigo científico.

AUTOR ÁREA DE

GRADUAÇÃO DO AUTOR

TÍTULO DO ARTIGO CARÁTER DO ARTIGO

REVISTA

Denise Chrysóstomo de Moura Juncá

Serviço Social Ilhas da exclusão: o

cotidiano dos catadores de lixo de Campos Resultado de pesquisa Serviço Social e Sociedade nº 52 – 1996 Denise Chrysóstomo de Moura Juncá

Serviço Social Da cana para o lixo: um percurso de desfiliação? Resultado de pesquisa Serviço Social e Sociedade nº 63 – 2000

AUTOR ÁREA DE GRADUAÇÃO

DO AUTOR

TÍTULO DO ARTIGO CARÁTER DO ARTIGO

REVISTA

Fátima Grave Ortiz Serviço Social Trabalho, desemprego e Serviço Social

Ensaio teórico Serviço Social e Sociedade nº 69 – 2002

Izabel Cristina Dias Lira

Serviço Social Informalidade: reflexões sobre o tema

Ensaio teórico Serviço Social e Sociedade nº 69 – 2002 Raquel de Souza Gonçalves Serviço Social Catadores de material recicláveis: trabalhadores fundamentais na cadeia de reciclagem do país Resultado de pesquisa Serviço Social e Sociedade nº 82 – 2005

Ligia Maria Castelo Branco Fonseca

Serviço Social Condições de trabalho e

adoecimento na Guarda Municipal de Santos – SP Resultado de pesquisa Serviço Social e Sociedade nº 82 – 2005

José Walter Canôas Serviço Social Soraia Veloso Cintra Serviço Social

Franca, globalização e as

estratégias de sobrevivência

Ensaio teórico Serviço Social e Realidade nº 10 (1) – 2001 Helena Yuri

Anaguchi

Serviço Social

Israild Giacometti Serviço Social

A costura manual de calçados na cadeia pública de Franca

Ensaio teórico Serviço Social e Realidade nº 11 (1) – 2002

José Ronaldo Teles História A trajetória dos

desempregados calçadista de Franca/SP Resultado de pesquisa Serviço Social e Realidade nº 12 (2) – 2003

Ricardo Lara Serviço Social

José Walter Canôas Serviço Social

Sob a ótica do trabalho: questionamentos e depoimentos sobre as condições de trabalho na indústria de calçados de Franca/SP

Ensaio teórico Serviço Social e Realidade nº 13 (2) – 2004

Reinaldo Gonçalves Economia Desemprego e progresso

técnico

Ensaio teórico Praia Vermelha nº 2 – 1999

Quadro 14 - Eixo Temático – Precarização do Trabalho, Informalidade e Desemprego

O quadro apresenta 6 ensaios teóricos e 5 resultados de pesquisas. Dos artigos 9 foram escritos por assistentes sociais, 1 por economista e 1 por historiador.

Os estudos enfatizam a precarização do trabalho, a informalidade e o desemprego como resultados diretos da crise de acumulação do capital, da mundialização do capital, do

neoliberalismo que penalizam, assiduamente, a classe trabalhadora que busca sobrevivência em todas as dimensões possíveis do submundo do trabalho no capitalismo.

Fátima Grave (2002) apresenta discussão sobre o cenário atual da crise do capital, o

desemprego e os rebatimentos no Serviço Social. O desemprego resultante da crise de acumulação do capital da década de 1970 tem características preocupantes para o conjunto da classe trabalhadora, com incidências especiais em profissões como o Serviço Social, que teve reconhecimento e legitimidade no mercado de trabalho por parte do Estado.

É sobre a classe trabalhadora que recai o maior ônus decorrente do padrão de acumulação, uma vez que tem provocado um processo crescente de exclusão do mercado de trabalho, especialmente em relação aos “antigos” postos de trabalho formais e “estáveis”. Alguns segmentos sofrem mais intensamente esse processo, entre eles os jovens e os trabalhadores na faixa etária acima de quarenta anos. Enquanto os primeiros tornam-se alvos fáceis para os quadros da criminalidade, os últimos são considerados “velhos” demais para o capital, ingressando na informalidade como alternativa de sobrevivência, ao mesmo tempo em que engrossam as fileiras do exército industrial de reserva, num mundo em que a oferta de vagas no setor produtivo é irrisória, e o setor de serviços não absorve a força de trabalho disponível. (GRAVE, 2002, p. 85).

As principais características do desemprego no atual mundo do trabalho são: demora na obtenção de um novo emprego, crescimento de desemprego entre as atividades ditas gerenciais, redução dos postos de trabalho nas indústrias e crescimento de empregos precários nas empresas terceirizadas e subcontratadas. Os trabalhadores desempregados sofrem uma forte pressão em relação ao engodo da qualificação, fazendo com que eles sejam responsáveis pelo desemprego. É transmitida a idéia de que sua inserção no mercado de trabalho depende das suas próprias condições técnicas.

No caso específico do Serviço Social, Grave (2002, p. 101) destaca o papel das Universidades na formação do profissional e ressalta a preocupação com os assistentes sociais desempregados, pois a escassez na oferta de emprego não é um fenômeno comum apenas aos assistentes sociais, nem é um processo que se reverterá em curto prazo. O mercado de trabalho tem acenado para o Serviço Social diferenciadas possibilidades, cabendo aos profissionais aproveitarem sob pena de perderem espaços sócio-ocupacionais preciosos. Estar atento aos liames institucionais e aos rumos conjunturais do mundo do trabalho é de fundamental importância, devendo estes constituir-se, para o Serviço Social, não um simples “pano de fundo”, mas ingredientes orgânicos do “fazer profissional”. A prática investigativa,

entendida não só como tarefa prioritariamente acadêmica, deve consistir, portanto, em um dos elementos centrais do cotidiano do assistente social.

Diante do cenário do mundo do trabalho, concordamos com a autora quando ela enfatiza que somente a articulação dos profissionais de Serviço Social com a luta dos demais trabalhadores poderá reverter ou amenizar o processo crescente de desemprego, que possui raízes estruturais.

Izabel Lira (2002), em seu texto, discute a informalidade como um processo de acumulação de capital que acentuou a precarização das relações e condições de trabalho. A crescente flexibilização dos contratos de trabalho que ocorreram tanto no âmbito interno como externo das empresas, por meio da terceirização, é justificada pela abertura comercial e financeira que obrigou o Brasil a criar condições de competitividade em relação ao mercado internacional. Essa conjuntura foi o grande estimulador da informalidade desenfreada.

Lira (2002, p. 142–143) alerta que é problemático o uso da expressão “setor informal”, pois as condições atuais de trabalho mesclam relações formais e informais nas estruturas produtivas. A dualidade formal e informal é questionada e vista como justificativa, pois é utilizada por órgãos institucionais para ações focalistas e discriminatórias direcionadas para grupos de trabalhadores “sobrantes” ou “marginais”. Por este motivo, o termo informalidade é mais apropriado, pois representa uma noção mais ampla em relação às complexas mudanças no mundo do trabalho.

O termo informalidade surge como reflexo de uma relação social, um conceito ligado à lógica de funcionalidade da sociedade, à relação complexa entre Estado e sociedade e suas relações heterogêneas. A informalidade está associada às ocupações nas quais as relações de trabalho não obedecem à legislação trabalhista, o que caracteriza essas ocupações seria a ilegalidade, pois estão à margem do sistema tributário. Por exemplo, uma das características marcadas da informalidade que recai sobre os trabalhadores é a marca negativa em relação à adoecimento ou acidentes de trabalho. Na informalidade, eles não são assistidos pelo sistema previdenciário. (LIRA, 2002).

Para o atual mundo do trabalho, a informalidade tem um papel fundamental, pois as atividades informais reduzem os custos do produto final e assim as empresas têm condições de oferecer suas mercadorias com o menor preço e ser competitivas. Os capitalistas usam a informalidade como estratégia para diminuir os custos com o capital variável.

Na informalidade, encontram-se trabalhadores com baixa e alta qualificação profissional, com salários de fome e ótimos rendimentos, mas no seu conjunto desestrutura o mercado de trabalho e aprofunda as desigualdades sociais com um grande número de

trabalhadores sem direito à proteção social. A maioria dos trabalhadores que exercem suas atividades na informalidade, usufrui de condições de vida bem próxima da pauperização.

As observações de Lira (2002) são pertinentes, quando ela destaca que esse quadro, apesar de adverso, não é estático, pois temos que considerar as possibilidades criadas pelas contraditoriedades inerentes ao capitalismo e articular as forças de resistências no campo político para que sejam gestadas condições de reação por parte dos trabalhadores e da sociedade civil, no sentido de direcionar as ações para melhores e mais dignas condições de trabalho e de vida para os trabalhadores.

O artigo de Reinaldo Gonçalves (1999) analisa a relação excludente entre desenvolvimento técnico e desemprego no mundo moderno. O argumento do autor é que a principal causa da tendência do desemprego no mundo do trabalho contemporâneo não é o progresso técnico, mesmo entendendo que as novas tecnologias sejam poupadoras de força de trabalho. Para ele, o progresso técnico envolve novas oportunidades de investimentos, inclusive aqueles associados tanto a novos processos produtivos como a novos produtos. Nesse sentido, é a incapacidade dos agentes econômicos de explorar essas novas oportunidades de negócios, via maiores investimentos, que provoca uma escassez de demanda agregada e, por conseguinte, a tendência ao desemprego. Esse argumento aplica-se a países desenvolvidos e em desenvolvimento, caso dos países que compõem o núcleo duro do sistema econômico mundial.

Gonçalves (1999, p. 82), ao analisar o período 1979 - 1993 com o período 1956 - 1973 nos países desenvolvidos, destaca a desaceleração do crescimento da produção industrial e da acumulação de capital, assim como em contrapartida desponta o crescimento do desemprego industrial entre 1979 - 1993. Na indústria de transformação, setor mais diretamente afetado pelo desemprego tecnológico, há um processo marcado por uma dualidade perversa, visto que, por um lado, o progresso técnico é fortemente poupador de trabalho e, por outro, a produção entra numa trajetória declinante de crescimento. Observa-se que a desaceleração do aumento da produtividade é menor do que a desaceleração do crescimento da produção. O sistema industrial perde dinamismo e se torna incapaz de gerar empregos correlacionados ao crescimento da produção. “Dados mostram, por exemplo, que a participação do emprego na indústria de transformação no emprego total nos Estados Unidos caiu de 33%, em 1970, para 30%, em 1980, e para 25% em 1991; na Alemanha a queda foi de 37%, em 1970 e 1980, para 30%, no final dos anos 1980”.

Entendemos que, de um lado, o desemprego – “mal social” – priva homens e mulheres de uma fonte de renda e de satisfação de suas necessidades elementares. De outro, o progresso

técnico – “bem social” – inova processos produtivos e proporciona mercadorias com custos reduzidos de capital variável. Mas, diante disso, as bases materiais e ideológicas de sustentação do modo de produção capitalista são perversas em relação ao emprego e potencializam o desenvolvimento da técnica com o objetivo de eliminar custos com a força de trabalho, não se preocupando com o desemprego de milhões de trabalhadores. Esses trabalhadores podem, a qualquer momento, fazer opções em relação ao modo de produção e apropriação da riqueza dominante e, por conseguinte, negar radicalmente as relações econômicas que anulam o trabalho vivo pela voracidade da técnica voltada somente para os interesses de acumulação do capital.

Lígia Fonseca (2005) apresenta síntese de sua tese de doutorado que estudou as condições de trabalho dos guardas municipais de Santos/SP, com o objetivo de compreender por que esses profissionais, homens e mulheres, são os funcionários que apresentam o mais elevado índice de afastamento dos postos de trabalho, em decorrência de adoecimento e conseqüente necessidade de “readaptação profissional”.

Fonseca (2005, p. 180–181) destaca como principais situações que agravam as condições de trabalho dos guardas municipais: a) trabalho noturno e em turnos constitui elemento desfavorável a saúde, especialmente quando associado ao prolongamento da jornada de trabalho com horas extras, sem espaço intermediário para reposição do gasto de energia da força de trabalho; b) desgaste para as mulheres é acentuado em razão da dupla jornada de trabalho; c) natureza do trabalho fundamentada na hierarquia e na subordinação. O terceiro fator vinculado às relações de trabalho revelam que, no cotidiano dos guardas municipais, sobretudo das mulheres, a submissão e a revolta não se expressam em palavras, mas de forma muda, silenciosa, manifestada no sofrimento psíquico e nos desgastes da força de trabalho. A revolta contida, submetida ao sistema hierárquico e à disciplina, explode no corpo e na mente dos trabalhadores, causando-lhes sofrimento psíquico.

A autora demonstra em seu estudo que o estresse e o desgaste físico são características de adoecimento dos guardas municipais e que refletem semelhanças com as demais condições de adoecimento de homens e mulheres que trabalham em organizações responsáveis pela segurança pública, como as polícias civil e militar.

Os homens e as mulheres, assalariados em organizações responsáveis de segurança pública ou privada, não realizam trabalho característico do processo produtivo, mas exercem função necessária à sociedade burguesa, que é a de preservar a ordem e o patrimônio. Isso contribui para a manutenção do sistema capitalista que sobrevive do cerceamento da

propriedade privada. Conforme comprova a pesquisa de Fonseca (2005), os trabalhadores são vítimas da própria atividade que realizam.

Denise Juncá (1996; 2000), nos seus dois artigos, analisa as condições de trabalho e vida dos trabalhadores do município de Campos – Estado do Rio de Janeiro, que sobrevivem do lixo e, em alguns casos, por sorte, são empregados no corte da cana-de-açúcar. Ganha relevância nos artigos a discussão sobre a trajetória dos trabalhadores da cultura da cana-de- açúcar que, em razão da sazonalidade do trabalho com o final da safra, são obrigados a buscar serviços temporários e o lixo, na maioria das vezes, é a única saída.

Juncá (2000, p. 132) investiga uma possível sintonia entre o “mundo da cana” e o “mundo do lixo”, procurando identificar não só as vulnerabilidades no cotidiano dos trabalhadores em suas trajetórias pela pobreza, mas também suas reações, na tentativa de assegurarem um lugar no circuito de trocas produtivas na atual sociedade brasileira.

As análises de Juncá (1996; 2000) assentam-se na interpretação de Castel38 de que a

“exclusão social” é algo permanente da sociedade atual. O que era em outros momentos período de exclusão do mercado de trabalho com situações precárias de sobrevivência na realização de biscates, agora é permanente e se transforma na única estratégia de sobrevivência de grande parte dos trabalhadores. “Se de um lado não há como ignorar a existência de uma enorme criatividade no mundo do trabalho dos excluídos – dentro da lógica da ‘viração’ –, não há também como negar que esta reinclusão pode ser precária, comprometedora, distante do que seria considerado uma reinserção via padrões ‘normais’.” (JUNCÁ, 2000, p. 136, destaque do autor).

Os catadores de lixo são exemplo de permanência “no mundo dos excluídos”. A “exclusão”, que em contrapartida exige a “inclusão”, está se dando de forma precária, pois cria e acentua um “mundo de guetos, de ilhas de exclusão”, por meio do trabalho precário. Isso vai configurando e acentuando uma situação periférica da vida social da maioria dos trabalhadores. A denominada “exclusão social” nos remete a uma realidade de pobreza e desigualdade social e o que ganha destaque, no âmbito material, é uma dimensão natural de compreensão da existência da sociedade dividida entre “ricos e pobres”.

Na atual fase de precariedade do trabalho, os trabalhadores acabam aceitando as piores condições de trabalho para sobreviverem, pois muitos dispõem de baixa escolaridade, pouca ou nenhuma qualificação formal, o que acaba diminuindo as opções de trabalho. Sabemos

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Robert Castel é freqüentemente retomado nos artigos de Juncá, o livro mais citado do autor é: As metamorfoses da questão social: uma crônica do salário (1995).

que a escolaridade e a qualificação não garantem emprego, mas aqueles que não possuem uma “inserção mínima” no mundo do trabalho pela sua especialidade técnica condensam os contingentes de pobres e miseráveis do Brasil. Cabe um alerta para não cairmos nos engodos dos especialistas em Recursos Humanos, quando afirmam que a qualificação garante emprego num sistema social em que o exército industrial de reserva de trabalhadores é parte essencial para a sua sobrevivência, ou seja, é parte integrante da lei geral da acumulação capitalista.

No artigo de Juncá (1996), é relatado que os trabalhadores da cana-de-açúcar, mesmo inseridos no mercado formal, convivem com a instabilidade e a insegurança à semelhança do que ocorre com o “catador de lixo”. Os trabalhadores da cana têm trabalho durante 6 a 8 meses no período da safra. No restante do ano têm que campear outros meios de sobrevivência e o lixo é, na maioria dos casos, a saída.

Os trabalhadores, seja na cana ou no lixo, realizam uma “travessia histórica pela margem, constituindo-se em eternos passageiros de um mundo de des(iguais)”. A vulnerabilidade tem sua presença assegurada tanto no espaço da cana, quanto no do lixo, expressando-se nas permanentes oscilações no mundo do trabalho. Mesmo admitindo diferenças entre tais ocupações e nas outras tantas que preenchem os espaços que se colocam entre ambas, não podemos negar as semelhanças em termos de fragilidade, insegurança, precárias condições de existência e rendimentos insuficientes.

Não há como se negar rótulos que são construídos em torno delas, rótulos que desqualificam os trabalhadores. Cortar cana é visto como ‘algo que qualquer um faz’. Catar lixo, por sua vez, não só pode ser feito por qualquer um, como também é degradante, inspira repugnância e desprezo, é o ‘resto’. (JUNCÁ, 2000, p. 148, destaque do autor).

Na cicatriz da mesma discussão, o artigo de Raquel Gonçalves (2005) é síntese da sua dissertação de mestrado, que estudou os trabalhadores catadores de materiais recicláveis e destacou a importância fundamental de tal atividade na cadeia de reciclagem do país.

Para Gonçalves (2005), os “catadores” por meio dos seus trabalhos, ainda que seja uma atividade precarizada e sem reconhecimento social, tentam encontrar condições possíveis que lhes permitem ser “incluídos” no mundo do trabalho. Reconhecer esses trabalhadores como sujeitos de direitos e, principalmente, como protagonistas da ação de reciclagem de lixo é uma meta com a qual a sociedade já se vem deparando. Esses trabalhadores prestam valiosos serviços à sociedade, pois reduzem a exploração de recursos naturais não-renováveis e minimizam os impactos ambientais do lixo.

Os trabalhadores catadores de materiais recicláveis apresentam histórias de vida singulares, que têm em comum as marcas de um processo de “exclusão social”, entendida como processo que envolve trajetórias de vulnerabilidade, fragilidade e precariedade nas dimensões do trabalho e da vida social. A precariedade do trabalho é acentuada ao máximo, os trabalhadores, expostos ao sol ou chuva, coletam material, convivem com o mau cheiro dos gases que exalam do lixo acumulado, com os urubus e moscas em grande quantidade, e ficam à mercê do risco de contrair várias doenças. Chegam, muitas vezes, a se acidentarem e se contaminarem. Os trabalhadores encontram-se expostos aos mais variados tipos de resíduos perigosos, como o lixo hospitalar, pois ainda não existe, em várias cidades, destinação diferenciada para esse tipo de lixo. Trata-se de uma situação agravada pelo fato de os catadores não fazerem uso de equipamentos de proteção individual, como luvas e botas apropriadas para a atividade que exercem. (GONÇALVES, 2005).

Em seguida, apresentaremos 4 artigos que respondem por estudos sobre a precarização, o desemprego, a subcontratação e a informalidade do trabalho no setor calçadista da cidade de Franca, interior do Estado de São Paulo.

O primeiro é o artigo de Canôas e Cintra (2001) que, em tonalidade de denúncia, analisa as estratégias de sobrevivência dos trabalhadores francanos na crise da indústria de calçados nos anos de 1990.

As estratégias mais recentes dos trabalhadores desempregados pela indústria de calçados de Franca são as saídas encontradas em serviços como: mototáxi, camelô; vendedores ambulantes de alimentos (pão-de-queijo, pamonha, salgados, doces). Algumas bancas de calçados – responsáveis pela realização de partes do processo de produção do sapato como o pesponto e a costura – encontraram a saída anódina quando começaram a produzir capas de celulares, cintos e outros materiais sintéticos correlacionados. (CANÔAS; CINTRA, 2001).

Esses exemplos de estratégia de sobrevivência para fugir do desemprego são freqüentes por grande parte dos trabalhadores desempregados pelas indústrias em Franca, mas ainda existe um número significativo vivendo em condições precárias, em verdadeiros bolsões