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Quadro Sinóptico da Produção Teórica do Serviço Social sobre o Mundo do Trabalho

Os artigos selecionados das revistas, que respondem pelos estudos sobre o mundo do trabalho, ofereceram resultados de pesquisas e ensaios teóricos que compõem um material bibliográfico de vasta heterogeneidade e abrangência analítica.

Na apresentação dos eixos temáticos, trabalhamos a partir das principais considerações dos autores sobre as questões abordadas e, na medida do possível, realizamos comentários expondo nossa visão sobre os assuntos. O quadro apresenta a síntese dos eixos temáticos elaborados para classificação dos artigos.

Eixo temático Número de

artigos

Porcentagem %

1 Trabalho e política social 14 17,72%

2 Transformações do mundo do trabalho e reestruturação produtiva 11 13,92%

3 Precarização do trabalho, informalidade e desemprego 11 13,92%

4 Serviço Social de empresa 09 11,39%

5 Trabalho infantil 06 7,59%

6 Trabalho, sindicalismo e lutas sociais 06 7,59%

7 Processo de trabalho e Serviço Social 05 6,32%

8 Centralidade do trabalho 05 6,32%

9 Trabalho e qualidade de vida 04 5,05%

10 Trabalho feminino 03 3,79%

11 Trabalho e subjetividade 02 2,51%

12 Trabalho e ética 02 2,51%

13 Trabalho e pessoa com deficiência 01 1,26%

Total 79 100%

Quadro 25 - Eixos Temáticos

O quadro oferece, em números, uma visão geral sobre a produção teórica do Serviço Social sobre o mundo do trabalho. Elaboramos 13 eixos temáticos compostos por 79 artigos,

os quais foram pesquisados em 4 revistas de divulgação da produção teórica do Serviço Social e áreas afins. O quadro apresenta as revistas e os respectivos números de artigos.

Revista Debates Sociais Revista Serviço Social e Sociedade

Revista Serviço Social e Realidade

Revista Praia Vermelha

08 40 19 12

Total de artigos 79

Quadro 26 - Artigos por Revistas

Os artigos pesquisados das revistas são de 1996 a 2006. Na revista Debates Sociais, consultamos 8 artigos, sendo que todos constituíram o eixo temático Serviço Social de empresa. A revista Praia Vermelha ofereceu 12 artigos que se dividiram nos eixos temáticos: transformações do mundo do trabalho e reestruturação produtiva (3); precarização do trabalho, informalidade e desemprego (1); serviço social de empresa (1); trabalho, sindicalismo e lutas sociais (1); trabalho feminino (1); centralidade do trabalho (1); trabalho e subjetividade (2); trabalho e ética (2). A revista Serviço Social e Realidade proporcionou 19 artigos que foram distribuídos nos eixos temáticos: trabalho e política social (4); transformações do mundo do trabalho e reestruturação produtiva (3); precarização do trabalho, informalidade e desemprego (4); trabalho infantil (3); trabalho, sindicalismo e lutas sociais (2); trabalho e qualidade de vida (2); trabalho e pessoas com deficiência (1). A revista que mais forneceu artigos para o estudo foi a Serviço Social e Sociedade com 40, que foram distribuídos nos eixos temáticos: trabalho e política social (10); transformações do mundo do trabalho e reestruturação produtiva (5); precarização do trabalho, informalidade e desemprego (6); trabalho infantil (3); trabalho, sindicalismo e lutas sociais (4); processo de trabalho e serviço social (5); trabalho e qualidade de vida (2); trabalho feminino (2); centralidade do trabalho (4). Observe o quadro.

Eixos temáticos Revista Debates Sociais Revista Serviço Social e Sociedade Revista Serviço Social e Realidade Revista Praia Vermelha Total

1 Trabalho e política social - 10 04 - 14

2 Transformações do mundo do trabalho e reestruturação produtiva

- 05 03 03 11

3 Precarização do trabalho, informalidade e desemprego

- 06 04 01 11

4 Serviço Social de empresa 08 - - 01 09

5 Trabalho infantil - 03 03 - 06

6 Trabalho, sindicalismo e lutas sociais - 03 02 01 06

7 Processo de trabalho e Serviço Social - 05 - - 05

8 Centralidade do trabalho - 04 - 01 05

9 Trabalho e qualidade de vida - 02 02 - 04

10 Trabalho feminino - 02 - 01 03

11 Trabalho e subjetividade - - - 02 02

12 Trabalho e ética - - - 02 02

13 Trabalho e pessoa com deficiência - - 01 - 01

Total 08 40 19 12 79

Quadro 27 - Eixos Temáticos e Número de Artigos por Revistas

O Serviço Social, nos 10 anos de material bibliográfico analisado, responde por vasta produção de conhecimento que, a nosso ver, contribui para a compreensão do mundo do trabalho de forma bastante particular, principalmente aqueles autores que não separam o estudo do mundo do trabalho da crítica ao capitalismo.

É importante destacar a interlocução de pesquisadores de outras áreas do conhecimento que publicam suas pesquisas e ensaios teóricos nas revistas do Serviço Social, como também a realização de seus estudos pós-graduados em programas do Serviço Social.

Em relação aos eixos temáticos, os artigos apresentam pesquisas empíricas e análises teóricas, o que, a nosso ver, enriquece o material bibliográfico estudado, pois ambas, desde

que estejam aderentes à realidade concreta, oferecem contribuições para compreensão do mundo do trabalho nas suas diferentes manifestações. A pesquisa empírica é fundamental para a investigação de determinada realidade social e, quando a apreensão teórica é articulada, com categorias que vão além do imediato, torna-se essencial para desvendar o oculto. A pesquisa deve ir além de uma visão fenomênica do “fato social” e apreender a realidade na sua constituição sócio-histórica.

Apresentamos a seguir uma síntese dos principais assuntos abordados nos eixos temáticos.

O eixo temático trabalho e política social apresenta estudos acerca das seguintes questões: o paradoxo do trabalho e da assistência social na França; a “globalização” e a precarização da seguridade social; a renda mínima e o caráter corretivo e “inclusivo” que o trabalho recebe ao ser conciliado aos programas sociais; os programas de preparação para aposentadoria em empresas privadas; as políticas sociais de integração do “preso” à sociedade; as frentes de trabalho como alternativa ao desemprego; as políticas públicas na perspectiva da economia solidária; a reforma trabalhista e da Previdência social e os impactos sobre o mercado de trabalho; as políticas sociais na visão dos trabalhadores de Franca/SP; o Estado e os avanços do neoliberalismo.

O eixo temático transformações do mundo do trabalho e reestruturação produtiva apresenta discussões que se concentram em torno de questões macroeconômicas. Os principais temas são: reestruturação produtiva na visão dos empresários brasileiros; inovações na gestão da força de trabalho; terceirização na contra-reforma do Estado; cidade e reestruturação produtiva; nuanças do atual estágio de acumulação produtiva; desafio do Serviço Social diante das novas demandas da reestruturação produtiva; crise da modernidade burguesa e “globalização”; reorganizações industriais e novas tecnologias.

O eixo temático precarização do trabalho, informalidade e desemprego traz discussões sobre os seguintes assuntos: o trabalho dos “catadores” de material reciclável; a ameaça do desemprego para os assistentes sociais; a informalidade como categoria de análise das condições de trabalho; as condições de trabalho dos guardas municipais de Santos/SP; as estratégias de sobrevivência dos trabalhadores frente ao desemprego; o trabalho na cadeia pública de Franca/SP; a trajetória de vida dos desempregados do setor calçadista de Franca/SP; as relações e as condições do trabalho precário nas empresas subcontratadas da indústria de calçados de Franca/SP; a trajetória dos trabalhadores da cultura da cana-de-açúcar do município de Campos/RJ; a relação conflituosa e excludente entre desemprego e progresso técnico no capitalismo.

O eixo temático Serviço Social de empresa apresenta abordagem envolvendo as seguintes questões: a sobrevivência do Serviço Social diante da reestruturação produtiva; a crise paradigmática da empresa em ser competitiva e humanizada; as novas propostas do Serviço Social de empresa; o “reposicionamento” do Serviço Social como estratégia de permanência ocupacional nas empresas; a intervenção do assistente social no cotidiano institucional frente às novas estratégias da produção; a motivação do trabalhador para aumentar a produtividade; a atuação do assistente social na área da política cultural da empresa; as estratégias e controle de gestão da força de trabalho.

O eixo temático trabalho infantil traz o debate sobre: o trabalho precoce e suas relações com a educação, a cultura, o lazer e o conjunto da vida social; o cotidiano das crianças trabalhadoras no mercado Ver-o-peso em Belém do Pará; o trabalho infantil na cultura de arroz no estado do Sergipe; a terceirização e exploração do trabalho infantil no setor calçadista de Franca/SP; as ações sociais de combate ao trabalho infantil.

O eixo temático trabalho, sindicalismo e luta social aborda os embates políticos da

classe trabalhadora. Os principais assuntos são: a relevância do sindicato no contexto da “crise do trabalho”; a resistência de classe no confronto com a mundialização do capital; a redução da jornada de trabalho.

O eixo temático processo de trabalho e Serviço Social, de fundamental importância no debate da categoria, apresenta as discussões sobre os processos de trabalho e o trabalho do assistente social; o trabalho do assistente social na área da saúde; a crítica e considerações sobre trabalho e Serviço Social.

O eixo temático centralidade do trabalho apresenta análises sobre as metamorfoses do mundo do trabalho e sua nova morfologia; as perspectivas para o trabalho na contemporaneidade; o pensamento social de Lukács a propósito do trabalho como categoria fundante da sociabilidade; o lugar do trabalho diante das transformações dos processos produtivos.

O eixo temático trabalho e qualidade de vida discute a qualidade de vida e os conceitos e práticas da ergonomia; o trabalho assalariado e a crítica aos processos de qualidade total; o espaço do lazer na sociedade do capital; os impactos da reestruturação produtiva na qualidade de vida e saúde do trabalhador.

O eixo temático trabalho feminino analisa a mulher e sua inserção no trabalho e nas relações de poder na sociedade; a qualidade de vida da mulher trabalhadora; as mudanças sofridas pelo trabalho feminino na indústria.

O eixo temático trabalho e subjetividade aborda as diferentes estratégias de gestão da força de trabalho e o modo como investem na manipulação e captura da subjetividade do trabalhador; as vivências e não-vivências no trabalho e seus repercussões na construção dos modelos simbólicos entre os jovens trabalhadores.

O eixo temático trabalho e ética traz discussões sobre a ética e os valores do homem sucumbidos à racionalidade do capital; a ética empresarial, principalmente em relação as práticas empresariais: “responsabilidade social”, “gestão social”, “solidariedade”, que emergiram no Brasil, a partir dos anos 1980.

O eixo temático trabalho e pessoa com deficiência aborda a inserção dos “trabalhadores com deficiência” no competitivo mundo do trabalho, destacando os principais questionamentos e vivências dos sujeitos.

Em geral, os eixos temáticos elaborados a partir dos artigos condensam significativas contribuições para o entendimento da temática trabalho nas suas diferentes expressões, com as mais variadas repercussões na vida social, as quais devem ser entendidas no seu conjunto para a compreensão das multifaces do mundo do trabalho. Em todo o material consultado, ganham relevo, a nosso ver, as investigações que vão além das denúncias e apontam possíveis saídas da crise estrutural do capital, e seus autores acreditam na potência revolucionária do trabalho.

3 A OBJETIVIDADE DA PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO EM SERVIÇO SOCIAL

Não interessa mais saber se este ou aquele teorema era verdadeiro ou não; mas importava saber o que, para o capital, era útil ou prejudicial, conveniente ou inconveniente [...] Os pesquisadores desinteressados foram substituídos por espadachins mercenários [...] (MARX, 2002a, p. 24)

Depois de ter traçado a aproximação da pesquisa e da produção do conhecimento com o Serviço Social e de ter analisado a produção teórica do Serviço Social sobre o mundo do trabalho, cabe uma discussão sobre as condições da pesquisa e a condução teórica na “Universidade Moderna”.

Empregamos o termo “Universidade Moderna” entre aspas, por entender que, na atualidade, tal Instituição e os seus representantes ditos “intelectuais” ou “acadêmicos” não estão respondendo com a radicalidade, a seriedade e a importância que ela representa como espaço de resistência cultural e crítica. São poucas as Instituições de ensino superior que apresentam projetos acadêmicos de resistência e força política contra a lógica mercadológica imposta ao ensino superior.

Marilena Chauí (2001, p. 190–193) ao analisar a Universidade brasileira diz o seguinte:

Regida por contratos de gestão, avaliada por índices de produtividade, calculada para ser flexível, a Universidade Operacional está estruturada por estratégias e programas de eficácia organizacional e, portanto, pela particularidade e instabilidade dos meios e dos objetivos [...] se por pesquisa entendermos a investigação de algo que nos lança na interrogação, que nos pede reflexão, crítica, enfrentamento com o instituído, descoberta, invenção e criação; se por pesquisa entendermos o trabalho do pensamento e da linguagem para pensar e dizer o que ainda não foi pensado nem dito; se por pesquisa entendermos uma visão compreensiva de totalidades e sínteses abertas que suscitam a interrogação e busca; se por pesquisa entendermos uma ação civilizatória contra a barbárie social e política, então é evidente que não há pesquisa na Universidade Operacional. Essa Universidade não forma e não cria pensamento, despoja a linguagem de sentido, densidade e mistério, destrói a curiosidade e a admiração que levem à descoberta do novo, anula toda pretensão de transformação histórica como ação consciente dos seres humanos em condições materialmente determinadas.

O contexto universitário brasileiro, nos anos de 1990 a 2000 , orientado pela lógica do mercado vem passando por alterações, que objetivam novos rumos da política educacional e adequação aos ajustes estruturais do capital. A Universidade foi invadida por perspectiva privatizante, redução do financiamento da educação, cursos seqüenciais, ensino a distância, mestrados profissionalizantes. Claro que não podemos levar ao extremo, mas a situação em que o ensino superior se encontra é indigno. Na instituição pública de ensino superior, as “fundações de apoio” representam uma forma de privatização. Sem falar nos setores terceirizados que nada têm de redução de custos do Estado, mas acabam por lotar os cofres

das empresas que oferecem força de trabalho subcontratada. Yazbek (2005, p. 153) comenta que, nos últimos anos, mudanças substantivas ocorreram com o redesenho do “mapa institucional do ensino superior”, caracterizado pelo crescimento de instituições privadas, que não parecem, com raras exceções, priorizar o ensino, a pesquisa ou a extensão, fora dos interesses do mercado. A proposta de cursos seqüenciais, mestrados profissionalizantes e a pressão para a redução do tempo para conclusão de mestrados e doutorados são exemplos dessa lógica. A autora ainda destaca que, no Brasil, a exemplo dos demais países da América Latina, as principais medidas governamentais para a realização de reformas educacionais são resultantes de interferências do Banco Mundial, do Banco Interamericano de Desenvolvimento nos rumos de nosso desenvolvimento e, particularmente, na formulação das políticas educacionais em curso. Essas interferências caracterizam-se pela prevalência da lógica financeira sobre a lógica social e educacional; pela falácia de políticas que declaram o objetivo de elevação da qualidade de ensino, enquanto implementam a redução dos gastos públicos para a educação e se mantêm indiferentes à carreira e ao salário do magistério (YASBEK, 2005b; CHAUÍ, 2001).

Para José Chasin (1996, p. 12–13, destaque do autor):

A universidade atualmente, em todo lugar, é uma instituição de duas faces: vive em crise assumida, mas produzindo em escala sem precedentes. E a grandeza da produção, símile da crescente produção mundial em geral, tende a ser a sua única medida. A crise se manifesta porque seu patrimônio consolidado, por vezes, em acumulação multissecular, não é bastante para constituir a plataforma apropriada em face dos desafios do “capitalismo de conhecimento”. Tendo em vista o conhecimento como poder ilimitado de apropriação da natureza, tendo por outra face da mesma moeda o conhecimento humanista como poder de criação do genuinamente humano – o primeiro como base material do segundo e este como seu resultado supremo, ou seja, a auto-produção do homem – , e sendo a produção do conhecimento um empreendimento de caráter supra-individual, é uma simples e grosseira falácia falar e propor uma universidade competitiva. A competitividade é para a universidade um critério não só exógeno como irremediavelmente arcaico. A figura de um acadêmico competitivo é hoje o que há de mais comum e de mais desatualizado.

Diante desse impasse que se manifesta na Universidade, não podemos esquecer que ela, com seus núcleos, centros e grupos de pesquisa, tem sido o local privilegiado do trabalho intelectual, da elaboração teórica e da formação profissional. Infelizmente, há uma formação demasiada de força de trabalho para suprir as carências emergenciais do mercado. São exemplos disso os cursos superiores criados para responder, de forma imediata, a uma determinada “demanda comercial” e viram “moda” entre os estudantes. Em muitos casos, a escolha do curso universitário, pelo estudante, é resultado do “modismo acadêmico”, ou seja, a opção para o estudo de certa área é determinada pelas circunstâncias do mercado.

Iamamoto (2007, p. 451–452), ao analisar a Universidade contemporânea, ressalta que as alterações nos padrões tecnológicos e gerenciais na produção e comercialização de bens e serviços, em escala mundial, com a requisição de novas especializações do trabalho, estimulam o estreitamento de vínculos entre o ensino superior e o mercado de trabalho. Além de centro de criação de ciência e tecnologia de ponta para a produção (no sentido lato) de interesse dos grandes oligopólios, a Universidade vem sendo impelida pelos governos a tornar-se um grande centro de qualificação de quadros técnico-profissionais capaz de responder, em curto prazo, ao novo panorama ocupacional. Nesta direção, a Universidade corre o risco de se transformar em:

[...] um centro de formação de mão-de-obra para as necessidades imediatas do mercado, mais sofisticado, mais eficiente e barato que qualquer departamento de treinamento das grandes corporações empresariais (nas esferas financeiras, industrial, comercial ou de serviços), hoje denominadas de ‘universidades corporativas’.

A mesma autora ainda enfatiza que essa é a tendência dominante no meio universitário, tendo como resposta, além da reformulação do ensino técnico de nível médio, os cursos superiores de curta duração, os cursos de formação tecnológica integral nos institutos politécnicos (ou Centros Federais de Formação Tecnológica), assim como os mestrados profissionalizantes e os cursos seqüenciais. Desta forma, estão ocorrendo as concretizações recomendadas pelos organismos internacionais (Banco Mundial, FMI) no sentido de uma maior diferenciação do ensino superior. Isso estimula os estabelecimentos privados a atender à crescente demanda de educação pós-secundária, ampliando o número de matrículas, pois quanto maior a diferenciação das instituições de ensino superior, “envolvendo instituições não-universitárias, (politécnicas, institutos profissionais e técnicos de ciclo curto, community colleges, programas de ensino à distância), consideradas mais baratas, mais atraentes são aos estudantes e aos provedores privados.” (IAMAMOTO, 2007, p. 452).

Esse cenário universitário tão adverso não pode ser negado, mas ainda podemos forcejar resistência, a nosso ver, por meio da pesquisa e da produção do conhecimento. No caso do Serviço Social, sabemos que a pesquisa e a produção do conhecimento tornaram-se pré-requisitos essenciais ao assistente social. Por meio da investigação científica que, na verdade, é a sistematização de uma determinada realidade social, o profissional consegue apreender as intrincadas conexões do real e, assim, pode construir um caminho mais seguro para aproximar-se de respostas concretas, tão almejadas nas suas intervenções profissionais.

Entendemos que a sistematização relacionada à pesquisa se refere a um processo de intenso relacionamento entre sujeito e realidade social, em que o conhecimento é apreendido e produzido a partir desta relação, pois o conhecimento não é autônomo. Negamos, portanto, a

sistematização oferecida pela metodologia científica de cunho positivista, que constrói a priori os métodos e técnicas de pesquisa antes de aproximar-se do modo de ser e existir dos “objetos de estudos”. Nessa ocasião, torna-se relevante tecer alguns comentários sobre o projeto de pesquisa, que é o primeiro passo na investigação científica. O projeto é o momento de priorizar alguns caminhos, pois, como pesquisadores, não conseguimos explicar e investigar “tudo” o que está no nosso campo de apreensão. O projeto de pesquisa é parte constante da pesquisa, é a própria pesquisa. Ao desconsiderar tal situação, corre-se o risco de elaborar projetos monumentais que, ao serem realizados, fogem aos objetivos iniciais da pesquisa. O projeto de pesquisa deve ser compreendido como o momento decisivo para que os objetivos iniciais não se tornem obstáculos, mas possibilidades concretas a serem atingidas pelo conhecimento científico.

Outra questão de suma importância, não só no Serviço Social, mas em todas as áreas do conhecimento é a seguinte: não devemos fazer da pesquisa e do conhecimento científico uma situação alheia às necessidades práticas e históricas do homem. Quando nos referimos à prática, não queremos dizer uma prática filisteica, bem ao modo burguês, mas uma prática que tenha relação direta com práxis social entendida como campo de possibilidades da transformação social.

O conhecimento científico, mesmo que seja aprimorado, rigoroso, concreto e abarrotado de determinações sociais, é no máximo uma aproximação da realidade investigada. Como pesquisadores, temos o compromisso de ser fiel à realidade pesquisada. O conhecimento produzido é uma aproximação, pois nunca conseguimos atingir os “objetos de estudo” em todas as suas manifestações de existência. Se afirmarmos que conseguimos apreender, pelo conhecimento científico, todas as particularidades dos “objetos de pesquisa”, negamos a dialética do mundo real, que é permeado por contradições e constantes mudanças. O nosso saber sobre determinada realidade é temporal, por isso o conhecimento científico, por mais elaborado que seja, é limitado às condições históricas do período de estudo. Tais afirmações não excluem a originalidade e a autenticidade de descobertas científicas de tempos remotos que até hoje são substanciais à ciência. O que queremos dizer é que o saber é produzido em correlação às condições materiais de existência de uma dada concretude histórica.