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16 da América, ao “Urban Renaissance”, na Europa, e, mais recentemente, ao “Livro Verde do Ambiente

Urbano” (1990), “Carta de Aalborg” (1994) e “Carta de Leipzig” (2007), entre outros.

2.2.2.1C

ONCEPÇÕES DE

C

IDADE COM

P

REOCUPAÇÕES DE

M

OBILIDADE

Observando agora a evolução da urbe, aludindo as razões que suportam a evolução do pensamento técnico-científico na busca de uma solução para os crescentes problemas daquela – até ao encontro do conceito de “Desenvolvimento Sustentável” –, pode-se recuar algum tempo. Dos sistemas de aperfeiçoamento dos diversos vectores que compõem a cidade, foi a mobilidade uma questão sempre presente.

Contudo, inicialmente, embora alguns desenvolvimentos urbanos assentassem em pressupostos de mobilidade e acessibilidade, pouco ainda traziam de sustentabilidade, conforme hoje é entendida. Porém, pode-se atribuir aos seus autores o mérito de o terem feito, tendo desta forma consumado a evolução das formas e dos conceitos de planeamento e projecto da cidade.

Assim e realçando alguns dos Autores que se debruçaram sobre concepções urbanas cujas preocupações passaram pela mobilidade e acessibilidade, apresenta-se o Quadro 2.1.

Quadro 2.1 – Concepções de Desenvolvimento da Cidade.

- Plano de Barcelona de Ildefonso Cerda (1815-1976); tanto a habitação como a mobilidade foram tidas como elementos fundamentais. Desde a hierarquização das vias e a pluralidade de nós, visam atingir uma total acessibilidade, onde a pormenorização e a segregação do tráfego foi uma preocupação e realidade. A mobilidade pedonal foi uma realidade na constituição de arruamentos próprios.

- Em 1886, no projecto da “Cidade Linear”, Arturo Soria y Mata apresentou o conceito de zonamento e infra- estrutural assentes num desenvolvimento linear. Esta cidade seria implantada ao longo de uma via de alta velocidade a partir de uma cidade existente, justificando a linearidade com o crescente apoio nos novos modos de transportes de massas.

- Um ano após (1887), Otto Wagner apresenta um ordenamento/zonamento para Viena de Áustria onde cada área (desde a indústria à habitação) era baseada no traçado das redes.

- No início do séc. XX (1910) Edgar Chambless edifica o projecto de Roadtower, assente numa linha de monocarril, com o objectivo último de maximizar a comunicabilidade ao longo da cidade.

- Clarence Arthur Perry (1872-1944) é o precursor da “Unidade de Vizinhança”, a qual vem a integrar o Plano Regional de Nova Iorque, de 1921. Esta Unidade visou o incremento da qualidade de vida dos habitantes através do bom ordenamento urbanístico.

- Na evolução das unidades de vizinhança, o Plano de Radburn, em New Jersey, conduz a um traçado de hierarquização das vias urbanas, cujo objectivo é minimizar os pontos de conflito na mobilidade do peão com o automóvel. O seu autor foi Henry Wright (1878-1936) juntamente com Clarence Stein (1882-1975).

- Burnham e Bennett, na primeira década do séc. XX, propõem para o plano de Chicago todo um novo sistema de circulação e transportes.

- Criador dos diagramas de radiais e circulares a cidades europeias, inspiradoras dos planos de S. Francisco e de Chicago (início do séc. XX), Eugène Hénard (1849-1923) chega a apresentar na Conferência de Londres (1910), a ideia da mobilidade assente em aviões privados.

Paralelamente estuda um perfil de arruamento urbano, visando o descongestionamento, constituído por quatro níveis subterrâneos. Do primeiro ao último: peões e automóveis, carros eléctricos, infra-estruturas e mercadorias.

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É um estudioso da cidade de Paris, publicando fascículos intitulados “Études sur les Transformations de

Paris” entre 1903 e 1909. Produz a primeira “Théorie Général de la Circulation” e a categorização do tráfego.

- No decurso de 1931-35, Frank Loyd Wright (1869-1959) apresenta a Broadacre City onde a crescente densidade das cidades se via diminuída para 2 hab/ha.

O conceito de retorno à natureza conduzia, para os padrões da actual sociedade, o incremento das infra- estruturas de circulação/comunicação. O automóvel imperava.

- Le Corbusier (1887-1965) concebe a cidade projectada para o automóvel maximizando os seus movimentos mas minimizando os conflitos com o peão. Decide por gerar a diferenciação entre os níveis de circulação. Este facto advém de desenhar a cidade com enormes espaços verdes conduzindo a que os edifícios de projectem na vertical. Defende ainda um sistema de transporte urbano altamente eficiente, assumindo linhas férreas e vias rápidas separadas dos peões.

Esta nova cidade resulta da busca de soluções aos problemas da antiga, onde o próprio congestionamento em resultado do aumento da densidade no seu centro foi uma das questões.

- Em 1953 Maurice François Rouge (1899-1980) publica um artigo intitulado “L’Organisation de l’Espace et

les Réseaux” defendendo que toda a cidade depende totalmente das infra-estruturas.

- Em 1961 o Ministério Britânico dos Transportes cria um comité de especialistas para estudar os problemas do crescimento do automóvel na sociedade moderna, nomeadamente nas diversas tipologias da cidade. Conhecido por Relatório Buchanan, vem a ser publicado como “Traffic in Town”.

- Kevin Lynch (1918 - 1984) professor de city-planning no MIT possui uma vasta formação académica vindo a publicar o título “The Image of the City”. Debruça os seus estudos, entre outros temas, para a cidade e os seus elementos constituintes, onde as vias de comunicação possuem o devido destaque na identidade da cidade e na imagem colectiva da população.

(Adaptado de Teixeira, 2006a, Oliveira, 2007 e EPFL, 1995).

2.2.3E

VOLUÇÃO DA

C

IDADE

,

EM

P

ORTUGAL

Nesta Subsecção pretende-se desenvolver um resumo crítico da evolução da cidade portuguesa e da sua percepção e assumpção por parte da população e da administração central e local, no intuito de se compreender a construção desta realidade, para além da vasta resposta legislativa.

Se na Idade Média Portugal somente detinha, enquanto cidade, nove aglomerados urbanos (Braga, Porto, Viseu, Lamego, Guarda, Coimbra, Lisboa, Évora e Silves), chegados a 1974 as cidades cifravam-se em quarenta e três e, actualmente, contamos com mais de cento e cinquenta. Isto faz com que a realidade «cidade» se possa considerar como algo relativamente recente no contexto nacional.

Paralelamente a este crescendo de cidades, a descentralização de muitos poderes e serviços levou a um desenvolvimento significativo de muitas cidades, designadamente das médias, fazendo com que nestes locais a qualidade de vida das populações tenha crescido.

Por outro lado, nas duas Áreas Metropolitanas a expansão das zonas envolventes às cidades (Lisboa e Porto), levou a que as áreas limítrofes não parassem de crescer durante as últimas décadas, fundamentalmente fruto da capacidade e oferta de mobilidade nestes grandes centros. Observando as estatísticas, a zona de Lisboa só de 1950 a 1990 cresceu na ordem dos 95,8%.

Entretanto, hoje é assumido que a cidade possui uma enorme capacidade endógena, seja sua ou adquirida, pautada por um ideal (ou diversos) e sempre num acto contínuo de investimento no conhecimento e competências, no objectivo último do avanço e sucesso nas diversas áreas que lhe

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