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Capítulo II – Revisão de literatura

II. 2.4.1.3 Argumentos Económicos

II.3 Estrutura organizacional

II.3.4 Ambiente de criação para organizações virtuais

O ACOV atua como uma rede de organizações que se apoiam a longo prazo, e tem como objetivo oferecer e manter as condições necessárias para apoiar a rápida configuração dos seus membros em OV ao longo do tempo (Romero e Molina, 2010). Pode ser visto como uma associação / aliança “estratégica” de organizações que aderem a um acordo de base de cooperação de longo prazo, e que adotam princípios e infraestruturas operacionais comuns, com o objetivo de aumentar as suas hipóteses de colaboração em potenciais OV (Camarinha-Matos e Afsarmanesh, 2003).

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Nas últimas décadas, um número crescente de organizações, sediadas na mesma zona geográfica, começou a formar alianças estratégicas de longo prazo com a finalidade de melhorar a sua posição competitiva, pois caso não o fizessem, perderiam oportunidades de negócio, ou teriam custos superiores (Romero e Molina, 2010). Alguns exemplos dessas alianças são os clusters industriais (Porter, 1998), os distritos industriais (Camarinha-Matos, 2009) e os ecossistemas de negócio (Moore, 1997). No entanto, com o rápido progresso das TIC e a globalização dos mercados, emergiram novas formas de alianças estratégicas de longo prazo que vieram suplantar as tradicionais, como é o caso do ACOV, onde não existem limitações quanto à relação geográfica dos seus membros (Camarinha-Matos e Afsarmanesh, 2003), nem limitações quanto à sua área de aplicação (Camarinha-Matos, et al., 2009).

Segundo Camarinha-Matos (2009), um grande número de exemplos de ACOV pode ser encontrado em muitas regiões do mundo, como por exemplo:

• A Virtuelle Fabrik3, um dos mais conhecidos casos de ACOV com base nas PME

no sector metalomecânica, localizada na Suíça e no Sul da Alemanha, visando a produção de máquinas especiais.

• A Swiss Microtech4, que é uma rede mais recente e menor, de sete PME no

negócio da micromecânica, que tem a particular característica de interagir com uma rede de parceiros na China.

• A rede ISOIN5 na Andaluzia (Espanha) e a CeBeNetwork6 na Alemanha são

exemplos de ACOV criados para agregar um grande número de pequenos fornecedores para a indústria aeronáutica para se qualificar como um único fornecedor (virtual) para um cliente que decidiu reduzir o número de fornecedores com os quais tem de interagir.

O conceito de ACOV aplicado às PME, aparenta ser uma forma eficaz de ultrapassar algumas das suas debilidades. Sendo formadas a partir do ACOV, as OV poderão ser uma forma de ultrapassar o problema da pequena dimensão das empresas, da diversidade de matérias primas, da especialização dos produtos oferecidos, dos prazos de entrega cada vez mais curtos, da partilha dos custos de promoção e de elevados encargos de estrutura.

3http://www.virtuellefabrik.ch/ 4 http://www.swissmicrotech.ch/ 5 http://www.isoin.es/

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Aspetos chave:

16) As PME para adotar a servitização e formar OV necessitam de formar um ACOV.

II.3.4.2 Membros

De acordo com Afsarmanesh e Camarinha-Matos (2005), os membros do ACOV são as organizações que nele estão registadas (tradicionalmente ligadas a um setor), podendo-se representar por:

• Entidades de negócio que fornecem produtos e serviços ao mercado, e que se envolvem nas OV com a finalidade de obtenção de lucro quantitativo;

• Instituições sem fins lucrativos que se envolvem nas OV para obter lucro qualitativo;

• Instituições de apoio, por exemplo: prestadores de serviços legais e contratuais (e.g., companhias de seguros e de formação), ministérios, associações sectoriais, câmaras de comércio, organizações ambientais, entidades do sistema cientifico e tecnológico, etc.

II.3.4.3 Funções

Os membros do ACOV devido à sua natureza autónoma podem assumir diferentes funções dentro do mesmo, por exemplo uma organização pode atuar como membro e como coordenador da OV. Cada função requer a atribuição de direitos / responsabilidades diferentes dentro do ACOV. Segundo Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2007), os atores que fazem parte da ACOV podem assumir as seguintes funções:

• Membro - papel básico desempenhado pelas organizações que estão registradas no ACOV;

• Administrador - organização responsável pela operação e evolução do ACOV, promovendo a cooperação entre os seus membros, preenchendo as lacunas de competência através do recrutamento / convite de novas organizações. O administrador é também responsável pela gestão diária dos processos do ACOV (e.g., resolução de conflitos, elaboração de políticas comuns, etc);

• Broker – Esta função pode ser realizada por um “ator” do ACOV (organização membro do ACOV ou um indivíduo representando um membro) que age como um empresário, identificando e adquirindo novas oportunidades de colaboração, através de marketing e negociação com potenciais clientes. Existe também a

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possibilidade de esta função ser desempenhada por uma entidade fora do ACOV, na qualidade de serviço;

• Planeador da OV ou integrador de negócio - ator do ACOV que face a uma nova oportunidade de colaboração (desenhada pelo broker), identifica as competências e capacidades necessárias para formar a OV, seleciona um conjunto adequado de parceiros, e estrutura a nova OV. Em muitos casos, as funções de broker e planeador da OV são realizadas pelo mesmo ator;

• Coordenador da OV - ator do ACOV que irá coordenar uma OV durante o seu ciclo de vida, a fim de cumprir os objetivos definidos para a oportunidade de colaboração que desencadeou a OV.

Romero e Molina (2010) para além das funções anteriormente identificadas acrescentam ainda:

• Consultor do ACOV - responsável pelo aconselhamento dos membros e/ ou administrador do ACOV, em áreas de especialização específicas;

• Prestador de serviços - responsável por fornecer uma ampla variedade de serviços, nomeadamente ferramentas de apoio para os diferentes atores do ACOV; • Prestador de serviços de ontologia - responsável pela prestação de serviços comuns relacionados com a ontologia do ACOV, aos diferentes atores do mesmo; • Instituições de apoio - entidades responsáveis por manter atualizado o ACOV

com as novas tendências e tecnologias no seu campo de especialização;

• Convidado - organização externa que está interessada em saber mais sobre o ACOV com a finalidade se tornar talvez um futuro membro.

Silva e Almeida (2017), sugerem que as funções descritas por Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2007) seguem um padrão semelhante àquelas que Katzy (1999) considerou, isto é: (i) Broker; (ii) Gestor de Competências; (iii) Gestor de projeto (praticamente as mesmas funções que Camarinha-Matos e Afsarmanesh (2007) identificou, nomeadamente: Broker; Administrador e ; Coordenador da OV; (iv) Gestor de in/outsourcing, que desenvolve uma interface dedicada com a rede, representando o interesse de sua empresa através da oferta de know-how tecnológico, recursos e tecnologia para a rede; (v) o Auditor, que dá solidez financeira neutra ao negócio e; (vi) o Coach da rede, que esta relacionado com a sua governança, regras e rotinas de negócio para a cooperação e fornecimento de infraestruturas tecnológicas. Silva e Almeida (2017), acrescentaram ainda a função de “mediador neutro”, a qual deve ser atribuída a um sujeito

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alheio ao negócio, respeitado, incontestado, e cuja tarefa deve respeitar à moderação em situações de conflito extremo, de forma a garantir uma base de confiança de longo prazo. Devido à natureza dinâmica do fenómeno de colaboração, as funções dentro do ACOV são dinâmicas e não estáticas, o que significa que cada ACOV é um caso particular e pode ter as suas próprias funções, ou seja, as funções são customizadas, cada caso é um caso, devendo as funções anteriormente identificadas ser tidas em conta apenas como ponto de referência (Afsarmanesh e Camarinha-Matos, 2005).