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Capítulo III – Modelo conceptual e metodologia

III.2 Metodologia

III.2.4 Operacionalização da metodologia

III.2.4.4 Garantia da qualidade da pesquisa

De forma a evitar análises tendenciosas nas descobertas, na pesquisa social utilizam-se quatro tipos de teste: (i) validade do constructo; (ii) validade interna para propósitos explicativos; (iii) validade externa e; (iv) confiabilidade (Lee, 1999). No caso da estratégia de investigação de caso de estudo os testes anteriormente referidos são válidos para afirmar a sua qualidade (Yin, 1994).

a) Validade do Construto

A validade do construto diz respeito às medidas, aos instrumentos e aos processos que operacionalizam os construtos da pesquisa (Yin, 1994). A validade está preocupada com o quão bem o conceito é definido pela medida (Hair, et al., 1995). Como resultado dessa operacionalização, padrões de resultados devem ser definidos (Silva, 2002). De forma a aumentar a certeza sobre a validade do construto, Yin (1994) enumera um conjunto de táticas a utilizar: (i) uso de múltiplas fontes de evidência; (ii) estabelecer uma cadeia de evidência e; (iii) ter informadores chave que analisem o relato do caso de estudo. Para atender à primeira tática evidenciada por Yin (1994), tentou-se realizar entrevistas semi-estruturadas com mais de um membro da mesma organização, fez-se também observação direta nas instalações das empresas, e consultaram-se documentos (internos e externos) e os sites das empresas. De forma a atender à segunda tática, e tratando-se este estudo de um estudo dedutivo, definiu-se à priori um modelo de referência e testou-se a sua validade, adequabilidade e utilidade, durante as entrevistas através da discussão das proposições. Por último, para atender à terceira tática que garante a validade do construto, enviaram-se os relatórios das entrevistas aos entrevistados para eles confirmarem e

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reverem as suas respostas, garantindo assim que o investigador não teve uma perceção errada da informação dada pelo entrevistado. Também se entrevistaram diretores de primeira linha e inclusive o CEO e fundador de uma das empresas.

b) Confiabilidade

A confiabilidade diz respeito à forma como as técnicas de recolha de dados empregues na investigação permitem produzir resultados consistentes (Saunders, et al., 2009). A confiabilidade pode também ser vista como a possibilidade de atingir os mesmos resultados com a realização do estudo por um terceiro (Yin, 1994).

A preocupação com a confiabilidade nas entrevistas relaciona-se com a problemas de viés (Easterby-Smith, et al., em Saunders, et al., 2009). Segundo Saunders, et al. (2009), existem vários tipos de viés a considerar. O primeiro deles diz respeito ao viés do entrevistador. Os comentários, o tom de voz ou o comportamento não-verbal do entrevistador criam um viés na forma como os entrevistados respondem às perguntas. Também pode existir um segundo tipo de viés que diz respeito à forma como o entrevistador interpreta as respostas do entrevistado, ou seja, este pode não interpretar as respostas da maneira correta.

Participar numa entrevista é um processo intrusivo (Saunders, et al., 2009). Segundo o mesmo autor, isto é especialmente verdadeiro no caso das entrevistas semi-estruturadas, onde se objetiva explorar eventos ou procurar explicações. A própria natureza da entrevista pode criar algum viés, pois a falta de padronização destas entrevistas pode levar a preocupações quanto à confiabilidade. O entrevistado pode, em princípio, estar disposto a participar, mas pode, no entanto, ser sensível à exploração não estruturada de determinados temas. O entrevistado pode, portanto, escolher não revelar e discutir um aspeto do tópico que o investigador deseja discutir, e como resultado disso o entrevistado fornece uma "imagem" parcial da situação ou da organização que representa. Outro tipo de viés pode ser o viés resultante da natureza dos indivíduos ou participantes organizacionais que concordam em ser entrevistados (Saunders, et al., 2009).

Yin (1994), recomenda duas táticas gerais para lidar com esta questão do viés: (i) desenvolvimento de protocolo de caso de estudo; (ii) criação de base de dados do caso de estudo.

Os processos confiáveis são claros, sistemáticos, bem documentados e fornecem salvaguardas contra o viés (Saunders, et al., 2009).

Quanto à primeira recomendação de Yin (1994), elaborou-se um uma carta de apresentação (vide anexo 4) com o resumo do estudo para dar a conhecer aos

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entrevistados os objetivos das entrevistas e assim obter o seu consentimento para realização das mesmas. A recomendação de Yin (1994), que a organização do banco de dados de estudos de caso contribui para a confiabilidade foi também levada em consideração, apesar da modesta dimensão do mesmo.

No caso concreto desta investigação, como foi dado a conhecer ao entrevistado previamente o guião de entrevista, reduz-se o viés do entrevistado não estar disposto a participar, pois caso não fosse do seu interesse responder a essas questões não aceitaria o convite para entrevista. Também neste sentido, como foi selecionada uma amostra intencional, à priori, as empresas participantes no caso de estudo já demostravam alguma abertura/potencial para colaborar, o que reduz o risco de viés por conta da pouca vontade do entrevistado em colaborar. Para além disso, tal como referido na secção III.2.4.3, não se gravou o áudio das entrevistas de forma a não inibir o entrevistado.

Como depois de realizadas as entrevistas foi enviado um relatório para os entrevistados com as anotações do entrevistador sobre o seu testemunho, reduz-se assim o viés de o entrevistador ter uma interpretação errada do testemunho do entrevistado.

De forma a reduzir o viés do entrevistador, este treinou várias vezes as entrevistas e preparou-se para múltiplos cenários de forma a reduzir esse potencial.

Durante a entrevista utilizou-se a técnica do incidente crítico, ou seja, sempre que possível fundamentaram-se as questões em experiências da vida real dos participantes (Saunders,

et al., 2009).

No próprio dia, ou no dia a seguir à realização das entrevistas passou-se a limpo toda a informação recolhida e agrupou-se essa informação por áreas temáticas. Ao fazer essa divisão, foi possível reunir as informações de todas as entrevistas em categorias e clusters de informação, o que facilitou o desenvolvimento das conclusões sobre o estudo.

De forma a aumentar a confiabilidade da investigação recorreu-se à triangulação de dados. A triangulação refere-se ao uso de diferentes técnicas de recolha de dados dentro do mesmo estudo, com a finalidade de garantir que os dados realmente significam aquilo que o investigador esta a considerar que eles significam, por exemplo, realização de observação nas instalações das empresas e consulta de documentos e sites das empresas (Yin, 2009). A triangulação de dados nesta investigação também contribuiu para melhorar a sua confiabilidade, por exemplo, de forma a reduzir o viés de o entrevistado não fornecer a informação correta, tentou-se entrevistar mais do que uma pessoa da mesma organização, onde se repetiram perguntas sensíveis.

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c) Validade Externa

A validade externa diz respeito à generalização dos resultados da investigação de um estudo específico para todos os contextos relevantes (Saunders, et al., 2009), ou seja, verificar se as conclusões de uma pesquisa podem ser igualmente aplicáveis e válidas para outras organizações ou contextos de pesquisa.

No caso concreto desta investigação, o objetivo passa por explicar o que está a acontecer numa configuração de pesquisa específica, dai a amostra ser intencional e o caso de estudo ser transversal. Desta forma não se pretende produzir uma teoria generalizável para toda a população, pelo que, os resultados e conclusões desta pesquisa visam explicar um contexto específico (PME portuguesas FTPA para as RO). Desta forma, segundo Yin (2009), não faz sentido avaliar a investigação quanto à sua validade externa em termos de generalizações estatísticas. Ainda assim, segundo o mesmo autor, pode ser feita uma generalização analítica para empresas em situação semelhante à das PME FTPA para as RO. Se existir uma replicação literal do estudo, que vai explicando a teoria como explicação do fenómeno, a credibilidade desses resultados aumenta à medida que o número de replicações por outros casos de estudo aumente (Silva, et al., 1999).

d) Validade Interna

A validade interna diz respeito à forma como as conclusões podem ser atribuídas a intervenções e não quaisquer falhas no projeto de pesquisa (Saunders, et al., 2009). Segundo o mesmo autor, a validade interna é uma preocupação maioritariamente para os casos de estudo causais, nos quais o investigador está tentado a determinar se o “evento” X levou ao “evento” Y. Nos casos de estudo descritivos ou exploratórios que não se preocupam em fazer declarações causais, esta lógica de validade interna é inaplicável (Yin, 2009).

Nesta investigação, como o caso de estudo é exploratório e não existe uma preocupação em fazer declarações causáveis, a lógica de validade interna não se aplica.

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Capítulo IV – Estudo confirmativo: teste empírico