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Capítulo III – Modelo conceptual e metodologia

III.2 Metodologia

III.2.1 Paradigmas Metodológicos

Neste trabalho em vez de se propor uma metodologia, procura-se justificar a metodologia escolhida.

III.2.1.1 Ciências Naturais versus Ciências Sociais e Humanas

Checkland (1978), descreveu o método científico como a realização de experiências reducionistas, repetitivas, que objetivam testar hipóteses. Por outro lado, Tomlinson (1989) concluiu que os métodos reducionistas das ciências naturais são inapropriados para o estudo das organizações sociais.

Nas ciências naturais os fenómenos são exatos, os pressupostos não são negociáveis, e existe um problema que já esta estruturado e formulado (Lehaney, 1989). Enquanto que nas Ciências Sociais e Humanas (SCH) tenta-se compreender o comportamento humano, e é muito difícil estruturar o problema (Rahmatian, 1989). Segundo o mesmo autor, nas SCH trata-se a formulação do problema não como um dado, mas sim como um desafio em aberto e em constante revisão.

Nas SCH é raro existir uma teoria única para explicar um evento em particular (e.g., Teoria da Relatividade de Einstein nas ciências exatas). Cada teoria explica alguma coisa que as outras não explicam e são incompatíveis nas suas raízes. Por isso se dizem rivais (Silva, 2002).

III.2.1.2 O paradigma da investigação científica em Ciências Sociais e Humanas

O conceito de paradigma de investigação pode definir-se como um conjunto articulado de postulados, de valores conhecidos, de teorias comuns e de regras que são aceites por todos os elementos de uma comunidade científica num dado momento histórico (Coutinho, 2005). É uma maneira de examinar fenómenos sociais a partir dos quais

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podem ser obtidas compreensões particulares desses fenómenos e tentativas de explicações (Saunders, et al., 2009). Estar localizado em um paradigma particular significa ver o mundo de uma maneira particular (Burrell e Morgan, 1979). O paradigma de pesquisa contém suposições importantes sobre a forma como o investigador vê o mundo. Essas suposições apoiam a estratégia de investigação bem como os métodos escolhidos (Johnson e Clark, 2006).

A adoção de um paradigma de investigação mostra a intenção do autor em unificar e legitimar a investigação tanto nos aspetos conceptuais como nos aspetos metodológicos, servindo de identificação do investigador no que se relaciona com a partilha de um corpo específico de conhecimento e de atitudes face à delimitação de problemas, ao processo de recolha de dados e à sua implementação (Coutinho, 2014).

Na atualidade, a opinião mais consensual defende a existência de três grandes paradigmas de investigação nas CSH: (i) paradigma positivista ou quantitativo; (ii) paradigma interpretativo ou qualitativo e; (iii) paradigma sociocrítico ou hermeneûtico (Bisquerra em Coutinho, 2014).

a) Paradigma Positivista

O paradigma positivista procura adaptar os modelos das ciências naturais à investigação das SCH, utilizando uma metodologia de cariz quantitativo (Anderson e Arsenault, 1999). O primeiro autor a falar no positivismo foi Augusto Comte no século XIX. Comte, inspirado na obra Novum Organum de Francis Bacon, defendia a primazia do estado positivo do conhecimento baseado na observação (Coutinho, 2014).

Esta forma de ver o mundo, inspirada numa ontologia realista em que se pretende descobrir como as coisas são, encara a sociedade de uma forma objetiva, defendendo que o comportamento individual é independente dos fenómenos a serem estudados, procurando assim a generalização dos resultados (Guba, 1990). O paradigma positivista encontrou na metodologia experimental o instrumento mais eficaz para a sua concretização. Ou seja, o investigador formula hipóteses e submete-as à confrontação empírica (falsificação) sob um rigoroso controlo experimental, de modo a concluir e generalizar sobre aquilo que explica e prevê o comportamento de um determinado fenómeno real (Coutinho, 2014).

Ao longo dos últimos anos começou a existir alguma consciência das várias limitações deste tipo de paradigma de investigação para as SCH (veja-se o debate da secção 1). As teorias positivistas não conseguirem dar resposta à explicação de um comportamento individual, nem conseguem guiar os gestores e empresas no seu próprio comportamento

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económico (Ryan, et al., 2002). De acordo com Coutinho (2014), o paradigma positivista ignora a complexidade das organizações, pois não é possível quantificar, generalizar e prever os fenómenos sociais.

b) Paradigma Interpretativo

O paradigma interpretativo adota uma posição relativista quanto há multiplicidade de realidades que existem sob a forma de construções mentais sociais e experimentalmente localizadas (Guba, 1990). Inspira-se numa epistemologia subjetivista que valoriza o papel do investigador, justificando-se por isso a adoção de um quadro metodológico incompatível com as propostas do positivismo (Coutinho, 2014).

Neste sentido, Ryan, et al. (2002) ilustram na Figura 14 as diferenças entre o paradigma positivista e interpretativo.

Tipo de Paradigma Positivista Interpretativo

Visão do mundo Externa e objetiva Construção social

Tipos de estudos Exploratórios Explicativos

Natureza da explicação Dedutiva Padronizada

Natureza da generalização Estatística Teórica

Papel da teoria Geração de hipóteses Compreensão

Fig. 14 - Comparação ente o paradigma Positivista e Interpretativo. Fonte: Adaptado de Ryan, et al. (2002).

De forma sintética pode-se afirmar que este paradigma pretende substituir as noções científicas de explicação, previsão e controlo do paradigma positivista, pelas noções de compreensão, significado e ação (Coutinho, 2014).

O paradigma interpretativo preocupa-se em entender a natureza fundamental do mundo social ao nível da experiência subjetiva. Procura explicações dentro do âmbito da consciência individual e da subjetividade do participante, em oposição ao observador da ação (Burrell e Morgan, 1979). Segundo o mesmo autor, a sociologia interpretativa preocupa-se com a compreensão da essência do mundo quotidiano. Em termos do nosso esquema analítico, este paradigma é subscrito por um envolvimento com questões relacionadas com a natureza do status quo, ordem social, consenso, integração e coesão social, solidariedade e realidade (Burrell e Morgan, 1979).

Segundo Ryan, et al. (2002), a investigação interpretativa pretende conhecer o mundo social e a natureza social das ações dos indivíduos. Não procura a generalização estatística, tenta antes compreender os comportamentos e acontecimentos diários no seio das organizações. Este tipo de abordagem, defende que as práticas sociais, não são

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fenómenos naturais, mas sim socialmente construídas e, nesse sentido, podem ser modificadas pelos atores sociais. Por isso, é necessário estudar a ligação entre as ações sociais realizadas diariamente e a dimensão da estrutura social.

c) Paradigma Sociocrítico

O paradigma sociocrítico considera que não há perspetivas neutras ou desinteressadas na investigação, pois, todo o investigador defende os interesses do grupo social onde esta situado. Este paradigma rejeita a possibilidade de um conhecimento objetivo, pois o conhecimento é sempre uma construção social ligado a um interesse de cariz técnico (paradigma positivista) ou um interesse de comunicação prática (paradigma interpretativo) ou ainda a um interesse crítico emancipatório (Coutinho, 2014).

O paradigma sociocrítico desafia o reducionismo do paradigma positivista tal como o conservadorismo do paradigma interpretativo, sendo a sua grande novidade a introdução explícita da ideologia no processo de produção do conhecimento científico (Habernas, 1974). Embora este paradigma apresente a nível metodológico algumas parecenças com o paradigma interpretativo, a inclusão da componente ideológica confere-lhe um cariz muito mais interventivo (Coutinho, 2014).

Os estudos levados a cabo pelos investigadores críticos estão interativamente relacionados com os seus valores, e como consequência disso, as suas conclusões estão dependentes dos mesmos (Vieira, 2009).