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MEIO AMBIENTE ECOLOGICAMENTE EQUILIBRADO

Com a Revolução Industrial, no início no século XVIII, mediante a forte mecanização dos sistemas de produção e exploração dos recursos naturais, acarretou grande devastação do meio ambiente, sobretudo porque este evento histórico, além de inverter a relação existente entre o homem e a natureza, aumentou a capacidade destrutiva do homem, submetendo o ambiente a uma exploração sem precedentes.

Neste sentindo, destaca Bahia (2006, p. 117):

Os efeitos desta exploração e do industrialismo emergente passam a ser sentidos um século mais tarde. Dessa forma, por volta da década de 50 do século XX, surgem sinais de esgotamento de alguns recursos naturais e diversos desastres passam a chocar a opinião pública.

Com isso, surgem as primeiras evidências de que a humanidade começara a enfrentar uma crise ambiental, vivenciada tanto pelos países capitalistas quanto pelos que optaram pelo modo de produção socialista, pois ambos adotaram modelos fundados num industrialismo extremamente agressivo aos recursos do meio ambiente.

Destaca Leite (2000, p. 23):

Essencialmente a crise ambiental configura-se num esgotamento dos modelos de desenvolvimento econômico e industrial experimentados. De fato o modelo proveniente da revolução industrial, que prometia o bem estar de todos, não cumpriu aquilo que prometeu, pois apesar dos benefícios tecnológicos, trouxe principalmente, em seu bojo, a devastação ambiental planetária e indiscriminada.

Tendo-se em vista a robusta demanda industrial, os recursos naturais estavam esvaindo-se, o que casou escassez e o alto custo das principais fontes energéticas, assim como a ameaça de extinção de produtos naturais, indicaram os limites reais que se opõem à produção e desafiam, hoje, os padrões de consumo das sociedades pós-industriais.

Em decorrência do acelerado processo de exploração dos recursos naturais, diversas catástrofes começaram a assombrar o mundo nas décadas de 50 e 60, entre eles cita- se ―a enfermidade de Minamata‖, que ocorreu na aldeia de Minamata, em uma ilha do Japão, onde foram contaminados por mercúrio orgânico empregado numa fábrica química da empresa Chisso, instalada nos arredores da aldeia (BAHIA, 2006, p. 117).

Mediante a série de acidentes ambientais, demonstrou-se necessária, na década de 70, uma intervenção internacional de proteção ambiental para combater a degradação ambiental e o esgotamento dos recursos naturais.

Com este intuito, em 1978, organizou-se, em Estocolmo, a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente, que deu origem à Declaração do Meio Ambiente.

Diante deste contexto internacional e sintonizado com os princípios da Declaração de Estocolmo, o legislador constitucional brasileiro de 1988 criou um capítulo especial para a proteção do meio ambiente, determinado no caput do art. 225 da atual Constituição pátria.

Está previsto, na atual Constituição Federal, no artigo 225 o seguinte texto:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações (grifo nosso).

Perante o preceito legal supracitado, mesmo este não integrando o título referente aos direitos e garantias fundamentais, não há dúvidas de que o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado constitui um direito fundamental, que não exclui a existência de outros direitos fundamentais além daqueles já previstos expressamente no Título II da Constituição Federal (Derani apud BAHIA, 2006, p. 119).

De acordo com o ensinamento exposto, conclui-se que é possível que determinados dispositivos fora dos elencados na categoria de direitos fundamentais seja considerado um destes. Para isso, exige-se que tal norma caracterize o princípio da dignidade humana.

Neste sentido, declara Wiggers (2002, p. 73):

[...] para o entendimento dos Direitos Fundamentais é o de sua intrínseca correlação com a denominação ‗dignidade da pessoa humana‘, inclusive como fonte, donde se verifica que está relacionada a todas, e cada uma das pessoas, primando o ser e não o ter, sendo a justificação para a procura de melhores condições de vida, cuja proteção transcende fronteiras com base na universalização, e pressupõe autonomia vital da pessoa e sua autodeterminação em relação ao Estado, às demais entidades públicas e às demais pessoas.

O princípio da dignidade da pessoa humana está explícito no direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, haja vista que proteger tal meio é, para todos, requisito indispensável para a sobrevivência dos seres humanos brasileiros e estrangeiros residentes do País.

Mediante ponderações, assevera Musetti (2007, p. 28):

Prevenir a degradação ambiental, preservar o que resta dos ambientes, naturais é recuperar atributos ambientais é uma necessidade vital; em verdade, significa preservar o que resta de nós mesmos, seres humanos, e recuperar as condições que garantam nossa própria sobrevivência com qualidade. Esta é a finalidade, por excelência do direito ambiental. Não se trata de ‗fundamentalismo ecológico‘, ‗modismo ecológico‘, de ‗bandeira verde‘, de 'ideologia de ecochato‘; trata-se de

responsabilidade ética e social da geração presente para com ela mesma e para com as futuras.

Diante disto, observam Canotilho e Leite (2010, p.124):

[...] o art.225 é na verdade uma síntese de todos os dispositivos ambientais que permeiam a Constituição. Síntese que não implica totalidade ou referência única. Em rigor, os fundamentos do art.225 não estão ilhados, pois ligam-se de forma umbilical, à própria proteção à vida e a saúde, à salvaguarda da dignidade da pessoa humana e à funcionalização ecológica da propriedade.

O meio ambiente ecologicamente equilibrado propicia saúde e sadia qualidade de vida e, em última análise, a própria vida, ou seja, trata-se de um suporte de vida.

Neste sentido destaca Marques (2005, p.28):

Desta forma, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado seria uma decorrência do direito à vida. É inerente à vida o meio ambiente despoluído, sem degradação, que possibilite ao homem sadia qualidade de vida e saúde.

Salienta sobre meio ambiente ecologicamente equilibrado Bonavides (2003, p. 569):

O direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, juntamente com os direitos ao desenvolvimento, à paz, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade, é apontado no quadro da constituição histórica dos direitos fundamentais, como um direito de terceira geração e, dessa forma, caracterizado por um altíssimo teor de humanismo e universalidade, não se destinando especificamente à proteção dos interesses de um individuo, de um grupo ou de determinado Estado, mas antes ao próprio gênero humano.

O artigo 225, caput, ainda alude à ―qualidade de vida‖, sendo que, perante tal expressão, lecionam Canotilho e Leite (2010, p. 128):

[...] a expressão parece indicar uma preocupação com a manutenção das condições normais (= sadias) do meio ambiente, condições que propiciem o desenvolvimento pleno (e até natural perecimento) de todas as formas de vida. Em tal perspectiva, o termo empregado pela Constituição não no seu sentindo estritamente antropocêntrico (a qualidade da vida humana), mas com um alcance mais ambicioso, ao se propor – pela ausência da qualificação humana expressa – a preservar a existência e o pleno funcionamento de todas as condições e relações que geram e asseguram a vida, em suas múltiplas dimensões.

Neste sentido, sobre qualidade do meio ambiente, pondera Perlof (apud, DA SILVA, 2004, p. 24):

A qualidade do meio ambiente em que a gente vive, trabalha e se diverte influi consideravelmente na própria qualidade de vida. O meio ambiente pode ser satisfatório e atrativo, e permitir o desenvolvimento individual, ou pode ser nocivo irritante e atrofiante.

Isto é, o direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado é, em si, um desdobramento da proteção do direito à vida, pois a salvaguarda das condições ambientais adequadas à vida depende, logicamente, da proteção dos valores ambientais.

Neste sentido, conclui Rock (apud BAHIA, 2006, p. 29):

O direito fundamental á vida se torna oco e vira frase irônica, uma vez que o direito à qualidade da natureza, essencial para a vida, não esta garantido. Que o direito fundamental do ser humano será mais ‗natural‘, à natureza saudável? Os seres humanos têm o direito óbvio, ‗natural‘, á natureza. A autoridade política responsável pela garantia do bem comum tem que assegurar que isso seja cumprido.

A qualidade do meio ambiente transforma-se em um bem ou patrimônio, cuja preservação, recuperação ou revitalização tornaram-se dever do Poder Público para assegurar uma boa qualidade de vida, que implica em boas condições de trabalho, educação, saúde e segurança (DA SILVA, 2004, p.24).

Ressalta-se que o direito à vida e o ao meio ambiente estão intimamente ligados, não podendo ser dissociados.

Pelas razões aqui expostas, conclui-se que preservar e não degradar o meio ambiente é incumbência do poder público, mas também de cada indivíduo, uma vez que a existência do meio ambiente sadio salvaguarda o direito à vida das presentes e futuras gerações, eis que, caso não exista o meio ambiente natural e seus recursos, a vida se extirpará.