• Nenhum resultado encontrado

O Brasil é uma República Federativa cuja organização político-administrativa compreende a União, os Estados e Distrito Federal, bem como os Municípios, todos autônomos, nos termos da Constituição Federal de 1988, sendo que tais entidades manifestam-se e atuam sobre a mesma população e sobre o mesmo território e, por essa razão, a distribuição de competência entre várias esferas governamentais, com o consequente estabelecimento de uma pluralidade de centro e poderes autônomos, constitui um dos núcleos do Estado Federal Brasileiro (CANOTILHO; LEITE, 2010, p. 227).

Neste sentindo, destaca Firiolli (2000, p. 57): ―O federalismo significa uma forma de Estado, denominada Estado Federal ou Federação, caracterizada pela União de Estados- membros, dotados de autonomia político-constitucional‖.

Ou seja, assinala-se que a Constituição busca realizar equilíbrio federativo através de um sistema de repartição de competências.

3.3.1 Classificação das Competências Ambientais

No que concerne à competência ambiental, estas foram estabelecidas pela Lei Maior, podendo ocorrer por duas formas distintas, quais sejam: natureza e extensão.

Canotilho e Leite (2010, p. 229) declaram que:

Considerando a natureza, as competências podem ser classificadas como executivas, administrativas e legislativas. A competência executiva reserva a determinada esfera do poder o direito de estabelecer e executar diretrizes, estratégicas e políticas relacionadas ao meio ambiente; a competência administrativa, por e sua vez, traz consigo sentindo de implementação e fiscalização, ou seja, remete ao exercício do poder de policia pelas entidades federativas com o propósito de proteger e preservar o meio ambiente; finalmente, a competência legislativa refere-se à capacidade outorgada um ente da Federação para legislar sobre questões referentes a temática ambiental.

E, ainda, quanto à extensão, Canotilho e Leite (2010, p. 229) ensinam:

As competências ambientais podem ser classificadas como exclusivas, privativas, comuns, concorrentes e suplementares. A competência exclusiva, como a própria denominação indica, exclui as demais, entes federativos do seu exercício; a privativa, embora também seja especifica de determinado nível do governo, admite delegação ou suplementariedade; a competência comum, também denominada de cumulativa ou paralela, é exercida de forma igualitária quanto todos os entes que compõem a Federação; a concorrente, por sua vez, prevê a possibilidade de disposição sobre matéria por mais de um ente federativo, havendo entretanto, uma primazia por parte da União quanto á fixação de normas gerais; finalmente, a competência suplementar indica a possibilidade de edição de normas que pormenorizem normas gerais existentes ou supram a sua ausência ou omissão.

Salienta-se que a referência, em razão da natureza, não exclui a diferenciação em razão da extensão. Neste sentido, pondera Trennepohl (2010, p. 68):

A Constituição Federal de 1988 busca o equilíbrio federativo por meio de uma repartição de poderes que se fundamenta na técnica que enumeração dos poderes da União (arts. 21 e 22), com poderes remanescentes para os estados (art. 25,§1°) e poderes definidos indicativamente para os municípios (art. 30).

A atual Lei Maior possibilita também o instituto da delegação (art. 22, parágrafo único) nas áreas comuns em que se preveem atuações paralelas da União, Estados, Distrito Federal e Municípios (art. 23), bem como prevê, também, setores concorrentes entre a União e os Estados, no qual a competência para estabelecer políticas, diretrizes ou normas gerais, cabe à União, enquanto se difere aos Estados e aos Municípios a competência suplementar (CF, 1988).

Trennepohl (2010, p. 68) assevera:

[...] as competências são divididas entre materiais e legislativos. As primeiras,

competências materiais, são de duas ordens: exclusivas (da União) ou comuns (da

União, dos Estados e do Distrito Federal). Já as competências legislativas estão bem dividas na Constituição Federal podendo se assegurar a cada ente sua participação e regulação e proteção do meio ambiente. Quatro são as titularidades:

privativa (da União), concorrente (da União, dos Estados e do Distrito Federal), suplementar (dos Estados, servindo para complementar as normas gerais editadas

pela União) e exclusiva (dos Estados).(grifo do autor)

Neste raciocínio, portanto, o exercício das competências tem como finalidade o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar em âmbito nacional, seguindo normas de cooperação a serem fixadas por lei complementar federal.

3.3.2 Da competência para legislar sobre a fauna

A proteção da fauna encontra-se expressamente inserida no artigo 225, §1°, inc. VII da Constituição Federal:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.§ 1º - Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público:

[...]

VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade (CF, 1988).

As competências dos órgãos do Poder Judiciário, em regra, são fixadas em razão da matéria. No tocante ao meio ambiente e, em especial, à fauna, as três esferas de governo são responsáveis, administrativamente e de forma concorrente, pela sua proteção.

A competência para legislar sobre a fauna, caça e pesca é da União, Estados e Distrito Federal, como ordena o art. 24, inc. VI da Constituição Federal, in verbis.

Art. 24. Compete à União, aos Estados e ao Distrito Federal legislar

concorrentemente sobre:

[...]

VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; (CF, 1988)

A fauna é protegida na esfera federal pela Lei 5.197/67, a qual foi recepcionada pela nova ordem constitucional, sendo aquela posteriormente alterada pela lei de crimes ambientais, Lei 9.605/98 (Sirvinkas, 1998, p. 68).

Até a Lei 5.179, de 03.01.1967 (Lei de Proteção à Fauna), os delitos contra a fauna eram tratados como crimes contra a propriedade e os animais eram avaliados tão somente com base em valores de mercado absolutamente dissociados da importância da fauna silvestre para a manutenção dos ecossistemas.

No âmbito do direito civil, como já mencionado neste trabalho, os animais eram considerados coisas sem dono e passíveis de apropriação a partir das modalidades de aquisição descritas nos arts. 592 e 598 do Código Civil de 19169.

Somente após o advento da Lei de Proteção à Fauna, a fauna silvestre passou a ser considerada um bem de uso comum do povo, sob a titularidade imediata da União e não mais do caçador.

Nesse aspecto, cumpre salientar que o art. 1º da Lei 5.197/67 estabelece que:

Os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, constituindo fauna silvestre, bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais são propriedade do Estado, sendo proibida a sua utilização, perseguição, destruição, caça ou apanha (Brasil, 1988).

Contudo, o termo ―propriedade do Estado‖ acima transcrito não significa a possibilidade de uso, gozo e disposição da fauna silvestre pelos entes públicos, apresentando- se simplesmente como manifestação do domínio público para fins de proteção dos animais silvestres.

9 Art. 593. São coisas sem dono e sujeitas à apropriação: I - os animais bravios, enquanto entregues à sua natural liberdade; II - os mansos e domesticados que não forem assinalados, se tiverem perdido o hábito de voltar ao lugar onde costumam recolher-se, salvo a hipótese do art. 596; III - os enxames de abelhas, anteriormente apropriados, se o dono da colmeia, a que pertenciam, os não reclamar imediatamente; IV - as pedras, conchas e outras substâncias minerais, vegetais ou animais arrojadas às praias pelo mar, se não apresentarem sinal de domínio anterior. Art. 598. Aquele que penetrar em terreno alheio, sem licença do dono, para caçar, perderá para este a caça, que apanhe, e responder-lhe-á pelo dano que lhe cause. Estes artigos encontram-se disponíveis em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil/leis/L3071.htm>. Acesso em: 03 jun. 2011.

Na Constituição Federal de 1988, a fauna silvestre sequer foi incluída entre os bens da União (art. 20, da Constituição Federal), motivo pelo qual não constitui domínio patrimonial deste ente da federação brasileira (Brasil, 1988).

Assim, por força de evolução do Direito Ambiental Brasileiro, a fauna passou do status de propriedade do Estado (art. 2°, inc. I da Lei Federal n° 6.938/81, e art. 1° 5.197/67) para a condição de bem difuso, ou seja, de toda a coletividade, razão pela qual o art. 225, inc. VII da Constituição Federal protege e a fauna como um dos elementos do meio ambiente natural e, portanto, como bem de uso comum do povo (Fiorillo, 2000, p. 55).

3.4 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE NAS MANIFESTAÇÕES CULTURAIS E