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Em 28 de setembro de 1982, a Resolução n° 37/7 da Assembleia Geral das Nações Unidas proclamou que toda forma de vida é única e merece ser respeitada, qualquer que seja sua utilidade para o homem, e com o objetivo de reconhecer aos demais seres vivos seu valor intrínseco, o homem deverá guiar-se por um código de ação moral (Brasil, 1982).

Perante a supramencionada colocação, expõe Contar (2004, p. 265):

O atraso com que o Brasil inseriu em seu ordenamento jurídico um estatuto destinado a amparar a fauna silvestre é amostra perfeita e acaba de nosso censurável desamor a esses seres irracionais, habitantes de nossos, compôs florestas e reios, criados pela mesma divina mão que criou o homem e a Mulher, no entanto vítimas do mais desprezível tratamento por parte dos ditos racionais, que os caçam impiedosamente, nem sempre como fonte de alimento, mas na maioria das vezes por mórbido prazer de vê-los tombarem sob o impacto do projétil, quando não pelo sofrimento alongado em armadilha.

Todavia, não apenas a fauna silvestre é alvo da impiedade humana, por esta razão, qualquer que seja a proteção à fauna (doméstica ou silvestre), esta deve ser considerada um bem enquanto relacionada à incidência da ação humana.

Para maior compreensão de tal matéria, é necessário fazer-se a conceituação de fauna, bem como a distinção dos tipos de fauna existentes.

Para Machado (2000, p. 712), fauna pode ser conceituada como o conjunto de espécies animais de determinado país e região.

O art. 1º da Lei 5.197 de 1967, que regulava a proteção sobre a Fauna, a definia como ―os animais de quaisquer espécies, em qualquer fase do seu desenvolvimento e que vivem naturalmente fora do cativeiro, (...) bem como seus ninhos, abrigos e criadouros naturais‖ (Brasil, 1967).

Os animais foram tutelados, também, pela Lei Maior no art. 225, § 1.º, inc. VII, que estabelece: ―proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção das espécies ou submetam animais à crueldade‖. Tal preceito encontra-se em harmonia com o ordenamento jurídico brasileiro, eis

que não faz qualquer restrição discriminatória quanto à espécie e categorias de animais a serem protegidos.

O supramencionado dispositivo enunciou o dever do Poder Público na proteção da Fauna, vedando, na forma da lei, uma atuação que coloque em risco sua função ecológica e que leve à extinção ou submeta os animais à crueldade.

De acordo com a Portaria do IBAMA n° 93 de 1998, consideram-se animais silvestres todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do Território Brasileiro ou águas jurisdicionais brasileiras (Brasil, 1998).

Sobre a fauna, conceitua Hernandez (apud CUSTÓDIO, 1997, pp. 65-66):

[...] o conjunto de todos os animais, terrestres e aquáticos, incluídos os micro- organismos, que vivem em uma área, em uma região ou em um País, em suas diversas categorias em relação ao seu habitat e as respectivas condições existenciais.

Importante se faz a ponderação conceitual de Silva (2004, p.193):

Em sentindo lato a palavra 'fauna' refere-se ao conjunto de todos os animais de uma região ou de um período geológico, abrangendo aí a fauna aquática, a fauna das árvores e do solo (insetos e microorganismos) e a fauna silvestre (animais de pêlo e de pena) (sic).

O ordenamento jurídico distingue entre fauna silvestre brasileira, fauna silvestre exótica e fauna doméstica, incluindo as aquáticas e as terrestres.

Estabelece a Lei 9.605/98 no seu art. 29, §3º:

São espécimes da fauna silvestre todos aqueles pertencentes às espécies nativas, migratórias e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, que tenham todo ou parte de seu ciclo de vida ocorrendo dentro dos limites do território brasileiro, ou em águas jurisdicionais brasileiras (Brasil, 1998).

A fauna silvestre, para efeitos da Lei 9.605/98, conceitua fauna amplamente, abrangendo todas as espécies nativas, migratórias – de curtas e longas migrações – e quaisquer outras, aquáticas ou terrestres, cujo ciclo de vida ocorra, total ou parcialmente, dentro do território brasileiro ou das águas jurisdicionais brasileiras; divide-se, assim, a fauna em terrestre (que inclui a avifauna) e aquática (Constantino, 2002, p.113).

Para Machado (2000, p.712), existe uma subdivisão na fauna silvestre qualificando esta como animais da selva, não domesticados e, também, bravios. Os bravios ou silvestres são aqueles que, por sua natureza, repelem jugo humano e vagam livres.

Sintetiza a descrição de fauna silvestre, Dias (2005, p. 2), como sendo a Fauna Silvestre Nativa - É constituída de todas as espécies que ocorram naturalmente no território ou que utilizem naturalmente esse território em alguma fase de seu ciclo biológico.

Ou seja, animais silvestres ou selvagens são aqueles naturais de determinado país ou região, que vivem junto à natureza e dos meios que este lhes faculta, pelo que

independem do homem. Exemplos: micos, onças, papagaios, entre outros (grifo nosso).

A supracitada portaria do IBAMA, no que concerne a animais da fauna exótica brasileira, assevera que:

A fauna silvestre exótica inclui todos os animais pertencentes a espécies e subespécies cuja distribuição geográfica não inclui o território brasileiro e as espécies e subespécies introduzidas pelo Homem, inclusive domésticas em estado asselvajado ou alçado; igualmente são consideradas exóticas as espécies ou subespécies que tenham sido introduzidas fora das fronteiras brasileiras e suas águas jurisdicionais e que tenham entrado em território brasileiro (Brasil, 1998).

Ainda sobre fauna silvestre exótica dispõe Dias (2005, p.2), Fauna silvestre exótica — É constituída de todas as espécies que não ocorram naturalmente no território, possuindo ou não populações livres na natureza.

Isto é, a fauna silvestre exótica constitui-se como sendo todos aqueles animais pertencentes às espécies cuja distribuição geográfica não inclui o território brasileiro e que foram nele introduzidas pelo homem, inclusive as espécies domésticas, em estado asselvajado. Também são consideradas exóticas as espécies que tenham sido introduzidas fora das fronteiras brasileiras e suas águas jurisdicionais e que tenham entrado espontaneamente em território brasileiro. Exemplos: leões, zebras, elefantes, ursos, entre outros.

Já acerca da fauna doméstica, pondera Da Silva (2004, p.193):

A fauna doméstica constitui-te de todos os animais que através de processos tradicionais e sistematizados de manejo e/ou melhoramento zootécnico tornaram-se domésticos, apresentando características biológicas e comportamentais em estreita do Homem, podendo apresentar caráter variável, diferente da espécie silvestre que os originou.

Neste mesmo raciocínio, descreve Dias (2005, p. 2):

Fauna doméstica — É constituída de todas as espécies que foram submetidas a processos tradicionais de manejo, possuindo características biológicas e comportamentais em estreita dependência do homem para sua sobrevivência, sendo passível de transação comercial e, alguns, de utilização econômica (grifo do autor).

Para Hernandez (2005, p.16), ―[...] a fauna doméstica é constituída por animais que não vivem em liberdade, mas em cativeiro, sofrendo modificações em seu habitat natural. Convivem, em regra geral, em harmonia com a presença humana, dependendo do homem para sobreviver7‖.

7 Dados disponíveis: <http://www.curioonline.com.br/userfiles/file/TRAFICO-DE-ANIMAIS.pdf>. Acesso em: 15 mai. 2011.

Deve-se mencionar que à fauna doméstica não se inclui na fauna silvestre, igualmente não se incluem os animais de cativeiro, criatórios e de zoológicos particulares devidamente legalizados.

Conclui-se que qualquer que seja a proteção à fauna (doméstica ou silvestre) é imprescindível sua relação para com o homem. A fauna deve ser considerada um bem enquanto relacionada à incidência da ação humana.