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4. PARTE 4: ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.1. Relatório do Estudo de Caso e Resultados

4.1.1 Ambiente

As influências ambientais influenciam o processo de compra por meio do provimento de informações, da geração de restrições e de oportunidades, e são constituídas por variáveis físicas (geografia, clima ou ambiente ecológico), tecnológicas, econômicas, políticas, legais e culturais.

Durante as entrevistas realizadas os entrevistados foram questionados a respeito de tais fatores ambientais e que mudanças nestes fatores eles perceberam no decorrer da sua trajetória profissional. O principal fator verificado foi a questão tecnológica e como ela influenciou o fluxo de informação que chega à organização de compras, verificou-se um acesso muito maior a informações a respeito de produtos disponíveis e avaliação dos fornecedores, o que é corroborado pela transcrição de alguns trechos da entrevista, conforme abaixo. São apresentadas transcrições das entrevistas realizadas com os respondentes A, C e J.

(...) a utilização dos portais deu mais velocidade ao processo de compras, no meu antigo emprego o Hospital não possuía portal, eu tinha que fazer tudo manualmente, envio de solicitação de cotação, recebimento, avaliação das respostas. Também tenho muito mais acesso à informação, hoje em dia está tudo mais fácil (...) A

(...) faz 4 meses que passamos a utilizar portais de compra, o processo foi muito facilitado, perdemos muito menos tempo preparando cotações e buscando fornecedores (...); (...) o uso geral de tecnologia facilitou bastante, hoje em dia tenho informações disponíveis de forma muito mais fácil (...) C

(...) a ideia dos portais foi tornar o ambiente mais transparente, com regulação de corrupção dentro do setor (...) J

(...) criamos um ambiente no qual os hospitais pudessem realizar as compras e os fornecedores pudessem vendas (...) J

(...) compras do Brasil na área hospitalar é uma antes dos portais e uma depois, outra lógica (...) J

(...) o surgimento dos portais demonstrou a importância estratégica de compras no custo de produção dos hospitais (...) J

Um ponto importante a salientar é que o respondente J é fornecedor de tecnologia da informação para hospitais, o que poderia enviesar a resposta do mesmo. Entretanto, em relação a esta variável de centro de compras, a resposta de todos os respondentes convergiu. Todos os hospitais utilizam ferramentas de tecnologia da informação em seu processo de compras, porém aparentemente o grande diferencial tem sido realmente o uso de portais de compras, isso é corroborado pela entrevista realizada pelo respondente D, que trabalha em hospital que não possui portal de compras, ele utiliza diversas ferramentas de tecnologia da informação, porém informou que em sua visão o uso de portais poderia facilitar seu trabalho, dando agilidade e maior acesso a informação.

Ainda o respondente C, que trabalha em hospital que adquiriu a ferramenta a apenas 4 meses (na data da entrevista) fez as seguintes afirmações a respeito:

(...) Agora que o hospital conseguiu adquirir novas ferramentas (portais), antigamente era arcaico, reguinha, teclado, um por um, multiplicado por três, quatro, então você pegava uma cotação de cem itens, ela virava quatrocentos e você tinha que lançar na mão (...) C

(...) O portal facilitou nosso trabalho em 90% assim né, tirou um peso operacional muito grande, a gente quase se matava em ficar lançando cotação na mão e hoje a gente dá um clique e a gente está comprando, fora as análises de compra que a gente tinha que lançar pra depois confirmar, alterar. Então hoje assim, é, do portal mesmo, ele já da tudo para nós, já vem os ganhadores em ordem crescente, tudo certinho, e lá tenho todas informações, nossa função é importar e exportar arquivo (...) C

Ainda foram realizadas conversas informais durante as Feiras Hospitalares de 2014 e 2015, com visitantes no estande do principal fornecedor de portal de compras, sendo possível afirmar que todas as evidências convergem para a grande mudança que os portais de compras trouxeram para o centro de compras hospitalar no Brasil. Deste modo é possível afirmar que as tecnologias de informação auxiliam o processo de compras, sendo o portal de compras a tecnologia que mais diferencia

os centros de compras, assim sendo, um ponto fundamental da pesquisa quantitativa será verificar a diferença entre hospitais que trabalham com portais de compras e hospitais que não trabalham. Tais resultados vão ao encontro do trabalho de Okasaki (2006) que verificou a existência de sistemas integrados e a utilização de comércio eletrônico em centros de compras hospitalares.

Uma outra característica verificada no centro de compras hospitalar foram os aspectos legais, exigências da vigilância sanitária em relação à qualificação de fornecedores, documentação do processo de qualificação, exigências em relação à manutenção de documentos referentes ao registro dos produtos que são utilizados pela instituição, certificado de boas práticas de fabricação dos fornecedores, entre outros foram mudanças ambientais ocorridas nos últimos 10 anos dentro do centro de compras hospitalar.

Desta forma a variável ambiente do modelo de Webster e Wind (1972) identificada na presente tese teve suas principais alterações na questão tecnológica, pois todos os centros de compras estudados utilizam tecnologia da informação, ganharam velocidade em seus processos e tiveram mais acesso a informação devido às recentes tecnologias existentes, incluindo, principalmente, a disponibilidade de portais de compras. Além disso, no centro de compras estudado houve mudanças recentes em relação a aspectos legais, que estão cada vez mais presentes no processo de compras, processo este que é ponto de inspeção dentro dos hospitais por parte da Agência Nacional de Vigilância Sanitária bem como por órgãos certificadores de qualidade e de acreditação.

Ainda dentro do aspecto ambiente, foi verificado que a existência do Portal de Compras dentro do centro de compras hospitalar é praticamente uma exclusividade brasileira, isso foi observado na entrevista realizada com o respondente J, presidente de empresa fornecedora de serviços de portais de compra, conforme transcrições abaixo.

(...) Nossa empresa é brasileira e temos operações na Espanha, México, Argentina e Colômbia. Outros países ainda compram da maneira antiga, essa nova realidade é um modelo brasileiro (...) J

(...) Nos Estados Unidos existe um outro modelo chamado GPO, group

purchasing organization(...) J

(...) São empresas que são formadas pelos hospitais, que compram de maneira coletiva mas não possuem um ambiente transacional(...) J

(...) não é o modelo transacional como ocorre no portal de compras no Brasil (...)

Foram feitas pesquisas na internet sobre portais de compras hospitalares, foi verificado que tal modelo é realmente algo praticamente exclusivo no Brasil, sendo o modelo americano de GPO (group purchasin organization), simplesmente um sistema de compras coletivo, e não um portal de compras como acontece no Brasil.