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4.2 ANÁLISE PEST E SWOT PARA COMERCIALIZAÇÃO DE BIOELETRICIDADE

4.2.3 Ambiente Sócio-Cultural

Poucos fatores compõem a contagem das frequências com que as proposições relativas ao ambiente sócio-cultural apareceram. Eles foram sintetizados em temas secundários e são explanadas na interpretação do gráfico 7 e discussão da tabela 5.

Na análise de correspondência para o ambiente sócio-cultural, observou-se uma inércia acumulada de 0,6222 e uma dispersão dos pontos devida à variação das classificações todas com frequências baixas.

No primeiro quadrante do gráfico 7, encontram-se os pontos fracos do ambiente livre e, no segundo, os fortes. No terceiro, encontra-se apenas a proposição “visão sobre o risco” como ameaça ao ambiente livre. No último, encontram-se as fraquezas do ambiente regulado e as oportunidades para este mercado e para o livre, sendo que a proposição crescimento da população é a mais próxima dos dois pontos.

A proposição União/ Mobilização do setor se apresentou como próxima de FOL, podendo ser classificada como ponto forte do ACL, enquanto que a ausência de comportamento oportunista se apresentou como próximo de FOR, mas com a mesma frequência (3) para FOR e FOL. O ponto fraco do ambiente livre com maior repetição de

20 Esta visão dos entrevistados pode refletir o momento vivenciado em 2008, em que os preços do açúcar e

etanol estiveram deprimidos, aspecto que tende a se modificar com os preços vivenciados pelo setor ao longo de 2009.

proposições (tabela 5) e mais próximo do ponto FLR foi o tema relacionamento gerador/ consumidor. 3 2 1 0 -1 -2 -3 3 2 1 0 -1 -2 -3 Eixo 1 E ixo 2 AL OR OL FRR FRL FOR FOL

Consciência dos consumidores

Empresa comercializadora/ gerador

Crescimento da população

Visão sobre risco Comportamento oportunista União/ Mobilização do setor

Relacionamento comercializadora/consumidor final

Relacionamento gerador/ concessionária

Relacionamento gerador/ consumidor

Fonte: dados da pesquisa

Gráfico 7: Análise de correspondência para o ambiente sócio-cultural.

Tabela 5: Contagem das frequências da análise SWOT para o ambiente Sócio-cultural

Temas Secundários FOL FOR FRL FRL OL OR AL AR proposições Num. de

Relacionamento gerador/ consumidor 1 0 4 0 0 0 0 0 5

Relacionamento gerador/ concessionária 1 0 0 0 0 0 0 0 1

Relacionamento

comercializadora/consumidor final 0 0 2 2 1 0 0 0 5

União/ Mobilização do setor 3 0 1 0 0 0 0 0 4

Comportamento oportunista 3 3 2 0 0 0 0 0 8

Visão sobre risco 0 1 0 0 0 0 1 0 2

Crescimento da população 0 0 0 0 1 1 0 0 2

Empresa comercializadora/ gerador 1 0 0 0 0 0 0 0 1

Consciência dos consumidores 1 0 2 0 1 1 0 0 5

Total 10 4 11 2 3 2 1 0

Fonte: pesquisa de campo

Ao analisar a tabela 5, verificou-se que o primeiro fator registrado nesse ambiente é relativo ao relacionamento: entre gerador e consumidor, entre este e a concessionária e entre a

Temas secundários Categorias do estudo

comercializadora e o consumidor final. A relação entre as cogeradoras e seus clientes é um ponto fraco do ACL, pois, apesar de ser uma relação amigável, esta se resume a uma transação estritamente financeira, em que as partes não se conhecem. Semelhante é o relacionamento entre a comercializadora e o cliente final.

Relacionamentos desse tipo, onde o preço é o único parâmetro de determinação de ocorrência ou não da transação inibem o desenvolvimento de comportamento cooperativo, pois as partes muitas vezes não se sentem comprometidas ou estimuladas a manter uma transação de longo prazo, uma vez que transaciona um produto tipo commodity com grande número de compradores e vendedores.

Nota-se que todas as transações ocorridas no ACR e algumas das realizadas no ACL são de longa duração (contratos de 15 anos com possibilidade de renovação no mercado livre), onde há frequência de interações. Contudo, não foram registrados os benefícios advindos dessa relação de longo prazo apontados pela teoria como: minimização da incerteza devido o conhecimento mútuo dos participantes, comportamento cooperativo a fim de promover melhorias e troca de informações minimizando problemas oriundos da assimetria de informação. Dessa forma, classifica-se o relacionamento entre gerador e consumidor e entre comercializadora e consumidor final um ponto fraco a ser trabalhado.

O relacionamento entre geradores e concessionária pode ser considerado tanto ponto forte como fraco do ACL. Neste, as partes podem ser concorrentes ou cliente/ fornecedor o que tende a provocar certa nebulosidade nas negociações, porém com o benefício da repetição como redutora da incerteza. Segundo os entrevistados, ambas as partes procuram cumprir as normas a fim de garantir a segurança do sistema e o bom relacionamento. No ACR, este é regulado, o que minimiza a possibilidade do desenvolvimento de comportamento oportunista, por exemplo.

No tocante à mobilização do setor, este possui um grupo de estudos que verifica o impacto das alterações da legislação em seus contratos e procura enviar contribuições aos órgãos competentes. Esse comportamento demonstra o desenvolvimento de uma cultura cooperativa, sendo um ponto positivo do mercado livre. O mesmo pode ser visualizado na tentativa da comercializadora pertencente ao grupo que controla a distribuição de energia no mercado cativo da região de estudo, de estabelecer parcerias com os geradores para a produção compartilhada de energia.

A forma como está estruturado o contrato livre, em suas cláusulas foi um fator identificado pelos entrevistados como inibidor da prática de comportamento oportunista, pode ser considerado um ponto forte do ACL. Nesse sentido, segundo eles, dificilmente ocorre

inadimplência, sendo aceito inclusive os recebíveis de alguns agentes como garantia de financiamento. Dessa forma, devido à importância de uma boa reputação, dado que a negociação no ACL está lastreada na análise do perfil do consumidor, o oportunismo não foi relatado como ocorrendo com frequência.

O ACR pode ser considerado um ponto forte desse mercado em relação ao livre, na questão da aversão dos geradores e consumidores ao risco de mercado, seja ele de recebimento ou de perdas financeiras, considerado nessa modalidade muito menor. Assim, o prevalecimento dessa visão é um entrave ao crescimento do ACL, cujas características principais são a flexibilidade e volatilidade.

No tocante à consciência ambiental e à valorização, inclusive por maior remuneração, de uma energia limpa e renovável, esse fator pode ainda configurar-se como uma fraqueza tanto dos consumidores livres como cativos, que ainda não estão dispostos a pagar mais por esse tipo de energia21. Todavia, uma possível mudança de visão pode ser considerada uma oportunidade para o crescimento da cogeração a partir do bagaço da cana.

Outro possível cenário positivo para o desenvolvimento tanto do mercado livre como regulado, são as projeções de consumo de energia em comparação à oferta da mesma, pois se estima que haverá um aumento da demanda por energia elétrica promovida pelo crescimento populacional22 e elevação de seu poder aquisitivo (tabela 6), muito maior que a capacidade de geração de energia hidráulica.

Tabela 6: Evolução dos indicadores econômico-energéticos por cenários – Brasil 2005 - 2030

Discriminação 2005 2030

A C

PIB (R$ bilhões de 2005) 1.938 6.712 3.337

Variação média no período (% ano) - 5,1 2,2

População total residente (milhões) 185 239 239

PIB per capita (R$[2005]/hab) 10.449 28.136 13.988

Variação média no período (% ano) - 4,0 1,2

Consumo final de energia elétrica (TWh 2) 362 1.245 859

Variação média no período (% ano) - 5,1 3,5

Energia elétrica per capita (KWh/hab/ano) 1.950 5.220 3.602

Variação média no período (% ano) - 4,0 2,5

Fonte: Brasil, 2007 a

21 De acordo com a revisão bibliográfica efetuada neste trabalho tenha sido indicado que em outros países

(principalmente europeus) o consumidor aceita remunerar melhor a eletricidade provenientes de fontes de energia limpa e renovável.

22 Espera-se que a taxa média de crescimento anual da população brasileira atinja o patamar de 1,03%, se

Como observado na tabela 6, tanto em um cenário positivo (A), quanto negativo (C), as projeções indicam um crescimento do consumo de energia proporcionalmente maior que a elevação do PIB ou da população total residente.