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Resolução Normativa n° 281/1999 e nº 109/2004

2.2 ENERGIA ELÉTRICA E O SETOR ELÉTRICO NACIONAL

2.2.3 Resolução Normativa n° 281/1999 e nº 109/2004

Devido às deficiências do decreto n° 2.003, apenas a comercialização com a distribuidora local vigorava (SOUZA, 2004). Foi só a partir da Resolução n° 281 da ANEEL que se estabeleceram condições para venda direta entre usinas e consumidores livres, regulamentando, assim, as condições de contratação do acesso, compreendendo o uso e a conexão, aos sistemas de transmissão e distribuição de energia elétrica.

Essa normativa estipulou que, em suma, o Operador Nacional do Sistema Elétrico – ONS deverá: elaborar as instruções e procedimentos para as solicitações e processar os pedidos de acesso ao sistema de transmissão, efetuar avaliações de viabilidade técnica dos requerimentos de acesso, fornecer aos interessados toda a informação a eles pertinente; estabelecer, em conjunto com as partes interessadas, as responsabilidades concernentes do acesso ao sistema de transmissão; celebrar em nome das empresas de transmissão os contratos de uso do sistema e firmar, como interveniente, os contratos de conexão, encaminhando os de uso para homologação da ANEEL.

As concessionárias do serviço público de transmissão, segundo o artigo quarto, deverão: propiciar o relacionamento comercial com o usuário, relativo ao uso dos sistemas de transmissão e à conexão nas suas instalações, recebendo e encaminhando as solicitações ao ONS; negociar e celebrar, com interveniência do ONS, os contratos de conexão com os

usuários que venham conectar-se em suas instalações, encaminhando-os à ANEEL para homologação e executar as providências de sua competência, necessárias à efetivação do acesso requerido.

Por fim, os usuários dos sistemas de transmissão ou de distribuição deverão solicitar o seu acesso aos mesmos junto ao ONS e à concessionária ou permissionária de distribuição, de posse dos dados e informações necessárias à avaliação técnica do acesso. Cabe a eles também celebrar, conforme o caso, os contratos de conexão e de uso dos sistemas de transmissão ou de distribuição e efetuar os estudos, projetos e a execução das instalações de uso exclusivo e a conexão com o sistema elétrico da concessionária ou permissionária onde será feito o acesso.

Os artigos 10, 11 e 12 estabelecem que o acesso aos sistemas de transmissão e de distribuição será regido pelos procedimentos de rede e de distribuição, pelos contratos celebrados entre as partes e pelas normas e padrões específicos de cada concessionária ou permissionária.

Dessa forma, primeiramente o usuário (PIE) deverá firmar o contrato de uso dos sistemas de transmissão com o ONS, estabelecendo as condições técnicas e as obrigações relativas ao uso das instalações de transmissão, dispondo no mínimo sobre: a obrigatoriedade de observância aos procedimentos, legislação específica e normas da concessionária ou permissionária proprietária das instalações; os montantes de uso dos sistemas de transmissão ou de distribuição, bem como as condições e antecedência mínima para a solicitação de alteração dos valores de uso contratados e os índices de qualidade relativos ao serviço de transmissão, bem como as penalidades pelo não atendimento desses índices.

Posteriormente é necessário que se estabeleça o contrato de conexão às instalações de transmissão ou de distribuição. Este deverá dispor no mínimo sobre:

I - a obrigatoriedade da observância aos procedimentos de rede e aos procedimentos de distribuição;

II - a obrigatoriedade da observância à legislação específica e às normas e padrões técnicos de caráter geral da concessionária ou permissionária proprietária das instalações;

III – a descrição detalhada dos pontos de conexão e das instalações de conexão, incluindo o conjunto de equipamentos necessários para a interligação elétrica das instalações do usuário ao sistema de transmissão ou de distribuição, com seus respectivos valores de encargos;

IV - a capacidade de demanda da conexão;

VI - os índices de qualidade relativos às instalações de conexão;

VII – as penalidades pelo não atendimento dos índices de qualidade relativos às instalações de conexão.

Por fim, os artigos 14 e 18 esclarecem as regras referentes à remuneração, definindo que os encargos de uso e conexão aos sistemas de transmissão ou distribuição serão devidos pelos usuários, calculados com base nos montantes de uso contratado ou verificado, por ponto de conexão. Vale ressaltar que o artigo 18 estabelece que os encargos de conexão aos sistemas de transmissão ou de distribuição serão de responsabilidade dos usuários (solicitante do acesso). Entretanto, o parágrafo um determina que eles sejam objetos de negociação entre as partes e devam cobrir os custos incorridos com o projeto, a construção, os equipamentos, a medição, a operação e a manutenção do ponto de conexão.

Foi definido ainda que as instalações poderão ser executadas pela própria concessionária ou por terceiros, ficando a escolha a cargo do usuário, desde que observada as normas técnicas e padrões da concessionária ou permissionária e os requisitos do usuário. Já para a unidade consumidora, a responsabilidade técnica e financeira dos equipamentos de medição, necessários à conexão é da concessionária.

Nesse sentido, a conexão a rede distribuição para as usinas de açúcar e álcool é um entrave ao desenvolvimento e crescimento da bioeletricidade (PALOMINO, 2009). Segundo a autora, essas para escoarem a sua produção necessitam estar conectadas à rede de distribuição da concessionária que atua na área em que ela está instalada. Os custos desse processo, em sua maioria, são de responsabilidade do solicitante do pedido de acesso, ou seja, da usina geradora de bioeletricidade.

Entretanto, com exceção da linha de uso exclusivo do gerador, o acessante tem a obrigação de transferir os ativos por ele instalados, sem direito a indenização, para a concessionária acessada e permitir também o acesso a um segundo agente que, de acordo com o parecer da distribuidora, deva se conectar a sua linha. Este deverá pagar à usina proprietária uma remuneração equivalente a seu montante contrato sobre o valor depreciativo do ativo (PALOMINO, 2009).

A distribuidora, por sua vez, é responsável pelos custos de manutenção e operação da linha cedida, que são ressarcidos à mesma por meio da tarifa de distribuição cobrada dos usuários. Vale ressaltar que o gerador, após ter arcado com os custos da conexão à rede, deverá também pagar pelo uso do fio, salvo se possuir potência menor que 30 MW e obtiver desconto (50 ou 100%) na tarifa fio (PALOMINO, 2009).

Para minimizar esse problema, a resolução normativa n° 320, de 10 de junho de 2008, estabeleceu regras para a conexão compartilhada onde o encargo de conexão de cada central de geração considerará a sua máxima potência injetável e o custeio das instalações de transmissão à receita anual.

Em 2004, com o objetivo de viabilizar a comercialização de energia elétrica entre concessionários, permissionários e autorizados de serviços e instalações de energia elétrica, bem como desses com seus consumidores, no Sistema Interligado Nacional – SIN, mediante contratação regulada ou livre e no mercado de curto prazo, foi criada a câmara de comercialização de energia Elétrica – CCEE.

A CCEE, pessoa jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, sob regulação e fiscalização da ANEEL, segunda a normativa nº. 109, é composta obrigatoriamente por:

I – os concessionários permissionários ou autorizados de geração que possuam central geradora com capacidade instalada igual ou superior a 50 MW;

II – os autorizados para importação ou exportação de energia elétrica com intercâmbio igual ou superior a 50 MW;

III – os concessionários, permissionários ou autorizados de serviços e instalações de distribuição de energia elétrica cujo volume comercializado seja igual ou superior a 500 GWh/ano, referido ao ano anterior;

IV – os concessionários, permissionários ou autorizados de serviços e instalações de distribuição de energia elétrica cujo volume comercializado seja inferior a 500 GWh/ano, referido ao ano anterior, quando não adquirirem a totalidade da energia de supridor com tarifa regulada;

V – os autorizados de comercialização de energia elétrica, cujo volume comercializado seja igual ou superior a 500 GWh/ano, referido ao ano anterior; e

VI - os consumidores livres e os consumidores especiais.

Estes, segundo o art. 12, serão divididos em categorias, podendo pertencer a apenas uma, sendo: Categoria de geração, subdividida em: a) classe dos agentes geradores concessionários de serviço público; b) classe dos agentes produtores independentes, e c) classe dos agentes autoprodutores; Categoria de distribuição, composta pela classe dos agentes de distribuição e categoria de comercialização, subdividida em: a) classe dos agentes importadores e exportadores; b) classe dos agentes comercializadores e c) classe dos agentes consumidores livres.

A referida normativa também definiu que especificamente no ambiente de contratação livre, foco deste estudo, a compra e a venda de energia elétrica poderão ser feitas entre

agentes de comercialização, de geração, de exportação, de importação e consumidores livres, sendo as transações formalizadas mediante contratos bilaterais livremente negociados.

Vale ressaltar que os contratos de compra e venda de energia elétrica e respectivas alterações deverão ser registradas na CCEE, sem prejuízo de seu registro, aprovação ou homologação pela ANEEL.

Os contratos registrados na CCEE não implicam, necessariamente, compromisso de entrega física de energia elétrica por parte dos agentes vendedores, podendo esta ser entregue por outro agente pertencente a ela. Contudo, a responsabilidade contratual continua sendo do respectivo agente vendedor referido no contrato.

Os Agentes da CCEE, na condição de comprador, deverão comprovar suficiência de cobertura contratual de consumo de energia elétrica e potência, e na de vendedores, lastro para a venda de energia elétrica, sendo que este será utilizado no cálculo de penalidades.

Para exercerem seus direitos, os agentes da CCEE deverão quitar suas obrigações de pagamento das contribuições e emolumentos devidos à mesma, sendo que o desligamento do agente não suspende, modifica ou anula suas obrigações referentes à época do fato.

No tocante à resolução de conflitos, o Art. 58 define que os agentes da CCE deverão fazê-lo por meio da câmara de arbitragem, se o mesmo envolver: dois ou mais agentes da CCEE, ou entre ela e um ou mais de um de seus, desde que não envolva assuntos sob a competência direta da ANEEL ou, na hipótese de tratar, já tenham se esgotado todas as instâncias administrativas acerca do objeto da questão em discussão.

Ainda será resolvido na câmara de arbitragem o conflito entre agentes da CCEE decorrente de contratos bilaterais, desde que o fato gerador da divergência decorra dos respectivos contratos ou de regras e procedimentos de comercialização e repercuta sobre as obrigações dos agentes contratantes no âmbito da CCEE.