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2.2 ENERGIA ELÉTRICA E O SETOR ELÉTRICO NACIONAL

2.2.4 Experiências internacionais

Em muitos países, assim como no Brasil, a reestruturação do setor elétrico, ocorrida a partir da década de 90, sendo um dos objetivos dar maior competitividade ao setor, estimulou o desenvolvimento do mercado varejista de energia elétrica. Nesse mesmo período, o aumento da preocupação ambiental e a busca por fontes de energia renováveis alteraram a configuração do setor elétrico em vários países do mundo (GREEN, 2003).

Dessa forma, pretendeu-se aqui verificar a situação da comercialização de energia elétrica de fontes renováveis no varejo em alguns países a fim de levantar possíveis experiências bem sucedidas que sirvam de exemplo para o Brasil.

Segundo Bird; Wüstenhagen e Aabakken (2002), a energia elétrica gerada a partir de fontes renováveis é comercializada no mercado varejista da Austrália, do Canadá, do Japão, dos Estados Unidos, dos Países Baixos, da Suíça, do Reino Unido e em alguns países da União Europeia.

Nesse sentido, Castro e Dantas (2008, b) afirmam que a preocupação ambiental tem levado a União Europeia a promover políticas de incentivos às fontes alternativas e renováveis de energia elétrica, como a eólica, a solar e a biomassa. Estas políticas variam desde incentivos fiscais até instrumentos como preço prêmio e mercado de certificados verde.

Conforme apresentado pelo gráfico 1, entre as fontes de energia renovável, disponíveis na União Europeia, há uma predominância da energia gerada a partir de recursos hídricos e uma pequena participação da energia solar, uma vez que, apesar dos incentivos para seu desenvolvimento, as condições naturais para tal são desfavoráveis.

Fonte: Eurobserver , 2009

Gráfico 1: Energias renováveis na Europa -2005.

Dentre os países que formam a União Europeia, a Suécia é o segundo maior produtor de energia elétrica a partir de biomassa (gráfico 2), sendo que o mercado desse país se encontra num maior grau de desenvolvimento em comparação a outros países. Eletricidade proveniente de fontes renováveis é comercializada no varejo desde 1996 quando o setor se abriu para a competição varejista. Em meados de 2002, eram mais de 50 produtores oferecendo energia para todo o país, representando 6% do total comercializado.

Biomassa 15,6% Solar 0,3% Eólica 16,4% Hidráulica 66,4% Geotermal 1,3%

Muito dos geradores são autoprodutores e comercializam os excedentes de produção com aproximadamente um terço das companhias, que revendem a energia aos consumidores finais (mercado atacadista). A remuneração para esse tipo de energia é diferenciada, sendo oferecido um preço um pouco maior que funciona como estímulo à produção. Há também fonte de financiamento (BIRD; WÜSTENHAGEN; AABAKKEN, 2002).

Fonte: Eurobserver, 2009

Gráfico 2: Produção de Energia Elétrica a partir de Biomassa (em Mtoe) - 2005

A comercialização de energia elétrica de fontes renováveis na Alemanha (terceiro maior produtor de energia advinda da biomassa) tem obtido alguns sucessos no mercado varejista. Entretanto, o desenvolvimento da bioeletricidade tem sido limitado por barreiras existentes nesse mercado, como força e tamanho de outros fornecedores e obrigações do acesso e conexão relativamente altas (BIRD; WÜSTENHAGEN; AABAKKEN, 2002 e BRUNEKREEFT; KELLER, 2000).

Contudo, a eletricidade proveniente de fontes renováveis de geração de energia elétrica (blends formados por energia elétrica oriunda de diversas fontes) custa 22% a mais que a convencional e também há concessão de linhas de financiamento subsidiadas. Devido a esses fatores, o aumento da participação de fontes renováveis na matriz energética Alemã se elevou representando em 2005, 10,4% da oferta total (CASTRO e DANTAS, 2008, b).

Ainda na União Europeia, Portugal oferece à bioeletricidade um prêmio de 110 euros por MWh, além de oferecer subsídios no financiamento e benefícios fiscais. O resultado dessa

0 1000 2000 3000 4000 5000 6000 7000 8000 9000 10000

política, segundo Castro e Dantas (2008, b), é a participação de 4,2% desse tipo de energia na matriz elétrica lusitana no ano de 2005 frente a 3,3% na brasileira.

Na Holanda e Suíça também se encontram mercados mais desenvolvidos e promissores e os consumidores se mostram dispostos a remunerar melhor a energia elétrica de fonte renovável. No primeiro, a eletricidade verde é oriunda de: biomassa, hidráulica, solar e eólica, sendo vendida por companhias de distribuição desde 1999 a um mercado maior que a demanda, o que obriga o país a importar energia renovável. Já na suíça, a comercialização ocorre por meio de companhias de distribuição desde meados de 1990 e no varejo, mais recentemente. O crescimento desse mercado pode ser acelerado com a lei que permite aos consumidores suíços escolherem seus fornecedores (BIRD; WÜSTENHAGEN; AABAKKEN, 2002).

No Reino Unido, a comercialização de energia elétrica “verde” no varejo tem papel menor, mas novos produtores, que ainda enfrentam o custo como barreiras à entrada, estão procurando o comércio varejista com foco no provável sucesso da comercialização com consumidores comerciais, que podem se beneficiar de isenções oriundas de programas de preocupação ambiental (BIRD; WÜSTENHAGEN; AABAKKEN, 2002).

Segundo os mesmos autores, no Japão, a produção e comercialização de eletricidade proveniente de energias renováveis são recentes, sendo esta realizada por companhias de distribuição e os projetos financiados por meio de donativos dos próprios consumidores, que sedem ao apelo de preservação ambiental. A venda para empresas já vem ocorrendo com sucesso e, assim como no Reino Unido, se configura como um potencial a ser mais bem explorado.

Quanto ao setor energético americano, este tem semelhanças com o brasileiro, sendo o mercado atacadista formado por geradores que vendem a energia para distribuidores que a revendem para os consumidores finais utilizando a infraestrutura de transmissão e distribuição. Também há um operador independente do sistema – ISO - que é responsável por operar a conexão da transmissão sustentando tanto o mercado atacadista como varejista.

A possibilidade de venda no varejo nesse país só ocorreu no final dos anos 90, quando estados como Califórnia e Pensilvânia implantaram o acesso a esse mercado, mas por enquanto se encontra restrita a alguns estados (JOSKOW; TIROLE, 2007). Assim, os varejistas puderam firmar desde contratos que funcionam simplesmente como um fixador de preço e /ou de quantidade para um período de tempo fixo, até acordos mais colaborativos (GABRIEL, et al. 2006).

A eletricidade “verde” estadunidense é composta por um blend formado por energia eólica, solar, hidráulica e biomassa e a sua comercialização apresenta casos de sucessos, como a venda para universidades e empresas (BIRD; WÜSTENHAGEN; AABAKKEN, 2002). Contudo, ainda há problemas a serem resolvidos, como o registrado na Califórnia, onde os preços dos varejistas são fixados para quatro anos enquanto os do atacado variam dia a dia, resultando em risco para os consumidores finais que ao fecharem o contrato podem pagar futuramente um preço mais elevado pela mesma energia negociada no atacado (GREEN, 2003).