Amostra, Coleta e Análise dos Dados

O Estado de Santa Catarina, segundo estimativa do IBGE 2016, possui 295 municípios. Para promover o estudo, serão abordados todos os municípios do Estado de Santa Catarina que possuem RPPS, que, segundo o Tribunal de Contas de Santa Catarina (TCE/SC, 2016) – órgão responsável por suas respectivas auditorias – são 68. A base de dados que comporá a análise geral compreenderá o período de 2013 a 2016, justificado por se tratar de um período com informações de mais fácil acesso e com maior teor atual. Será excluído da análise o RPPS do município de São Francisco do Sul, uma vez que o mesmo foi criado em 2015 (ano de seu primeiro relatório), o que prejudicaria sua comparabilidade.

Compõe, portanto, a análise, os demais 67 municípios que possuem RPPS, que, tratados os 4 períodos que abrangem o estudo, totalizará 268 observações. Para as análises que abordarem a variável de rentabilidade excluir-se-á o primeiro ano do período abordado, uma vez que este não possui rentabilidade – obtida por meio de cálculo que utiliza o ano anterior como ponto de partida – totalizando, portanto, 201 observações.

A respeito dos procedimentos para esta pesquisa, têm-se como foco o levantamento dos dados no Relatórios de Avaliação Atuarial de cada município. Por meio destes relatórios levantar-se-ão os dados dos municípios, como: número de servidores ativos e inativos, idade, alíquotas de contribuição, saldos dos ativos reais líquidos, segregação de massa (se houver) e situação atuarial.

A variável de experiência, em anos, dos gestores nos cargos, que neste trabalho remete à governança das instituições, terá estudada sua influência e relação de dependência com outras variáveis. De acordo com Malaquias e Júnior (2014, p. 145), gestores de maior experiência tendem a se comportar de forma mais conservadora, visando manter sua reputação no mercado, o que confrontaria a teoria de agência; assim

como gestores menos experientes tenderiam a se arriscar mais, buscando melhores níveis de retorno. As afirmações serão confrontadas com a pesquisa realizada.

Citando estudos internacionais sobre fundos de pensão, Bodie (1998), Garcia (2003), Helbronner (2005) e Yermo (2008) reiteram a importância de acompanhamento pelos gestores e do estabelecimento de boas práticas de governança, visando garantir a obtenção de performance necessária ao equilíbrio atuarial destas entidades, assim como sua liquidez e solvência (BOGONI; FERNANDES, 2011, p. 118).

Em conformidade com Reis, Silveira e Braga (2013), os resultados da pesquisa sobre a correlação entre a previdência social e o desenvolvimento socioeconômico apontaram que, ao construir um indicador de eficiência municipal baseado na Análise Envoltória de Dados (DEA) – em que é calculada a eficiência de um grupo de unidades de produção por meio da utilização de medidas de insumos e produtos – apontaram que os municípios das regiões menos desenvolvidas tendem a apresentar os piores valores para tais indicadores.

Pautado nesta afirmação, será analisada a evolução dos resultados atuariais ao longo do período abordado, contextualizando informações como população do município. Será destacado em uma coluna, imprescindivelmente, se o resultado é impactado pelo uso da segregação de massa, o que é refletido diretamente nos resultados do plano previdenciário.

O plano financeiro, que completa o regime como um todo, será excluído da análise em função de possuir características próprias diferentes do plano previdenciário, como a de ser um grupo fechado em que veda a entrada de novos servidores a partir de uma determinada data, bem como mantém segurados os aposentados e pensionistas existentes. Se utilizado, prejudicaria a abordagem da rentabilidade dos fundos. Além de prudente – por se analisar somente o plano mais jovem e sujeito a mudanças – esta medida torna ainda mais evidente a influência deste artifício legal no fundo previdenciário, uma vez que o mesmo possui um número expressivamente menor de servidores inativos.

Finalmente, será calculada a rentabilidade das aplicações a partir do DAIR, adotando-se o percentual de variação com relação ao saldo final do exercício anterior para o saldo final do exercício em questão.

De forma complementar, será verificado o percentual de ativo financeiro utilizado perante o ativo real líquido, isto é, calcular percentualmente quanto o saldo de aplicações e investimentos (ativo financeiro) dos recursos representa, na mesma data- base do relatório de avaliação atuarial, seu respectivo ativo líquido. A ideia é observar se os gestores utilizam todos os benefícios presentes e futuros dos planos previdenciários em aplicações financeiras, e se há alguma relação disto para melhores rentabilidades.

O foco do trabalho será o estudo de gestão do RPPS e seus recursos, que terá dois pilares: a relação entre os resultados atuariais e o porte (tamanho) dos municípios, em que também será observada a existência ou não de segregação de massa; e a análise da relação entre a governança mensurada pela experiência, em anos, dos gestores em seus cargos, e a rentabilidade por eles obtida no respectivo período.

Cairns (1995, apud FERREIRA et al, 2010) e Boulier e Dupré (2003, apud FERREIRA et al, 2010) afirmam que alcançado o objetivo de assegurar um pagamento mínimo de pensão com dado nível de segurança, os excedentes em relação a este mínimo podem ser administrados incorrendo mais risco, o que permite observar também a relação dos resultados atuariais ao longo do período analisado, com as respectivas rentabilidades auferidas.

Para reunir esta base de dados, as análises serão relacionadas por meio do modelo econométrico de dados em painel, interpretando as aplicações através de suas rentabilidades obtidas, comparando-as à experiência, em anos, dos gestores no município e contextualizando com o histórico de resultados atuariais do município.

A partir destas informações, será possível identificar problemas que impactaram nos resultados, como o elevado número de inativos em relação ao número de ativos (proporção), quantidade de índices de rentabilidade abaixo da inflação (INPC).

Para evidenciar os pontos, as informações obtidas via o modelo econométrico de dados em painel serão aplicadas no software Stata, dado que, de acordo com Fávero (2013, p. 113), se entende que tal procedimento propicia uma melhor relação entre teoria e prática, além de facilitar implementação dos modelos em pesquisas futuras.

É imprescindível compreender que, apesar destas limitações que visam boa gestão dos recursos, não há determinação explícita para as práticas de governança,

assim como não há a devida fiscalização no preenchimento dos documentos obrigatórios, principalmente no caso de municípios menores. Alguns dos Institutos de Previdência de Santa Catarina (unidades gestoras dos RPPS) possuem site próprio, em que reporta seus relatórios anuais, ou até mesmo relatórios referentes aos investimentos, em que destacam suas metas e resultados.

Como limitação, a pesquisa tem: a) inerências às características de gestão do Estado de Santa Catarina, que, ainda que se assemelhem a outros municípios da região sul do Brasil, não permitem abranger os resultados dos demais estados; b) o estudo abrange somente os planos previdenciários, excluindo, portanto, os resultados de planos financeiros – existentes em caso do município utilizar da segregação da massa; c) a ausência de um padrão no preenchimento do Demonstrativo de Aplicações e Investimentos de Recursos (DAIR), aliada à precariedade de informações de Conselhos Fiscais, Administrativos e Comitês de Investimentos em diversos municípios, o que fez com que a abordagem da governança se resuma à experiência, em anos, dos gestores em seus cargos.

3.2.Modelo Estatístico