• Nenhum resultado encontrado

O AMPER-MIR NO AMPER-POR

No documento Ecolinguismo e línguas minoritárias (páginas 125-131)

Lurdes de Castro Moutinho & Alberto Gómez Bautista

4. O AMPER-MIR NO AMPER-POR

Para concretizarmos esta nossa ideia, já em dezembro de 2015, fizemos uma primeira recolha de dados no terreno, seguindo a metodologia AMPER, quer para a definição dos corpora a gravar no terreno, quer ainda no que diz respeito à metodologia de análise que explicitaremos no ponto seguinte. Estas gravações, e outras futuras, sempre efetuadas no terreno, serão objeto de análise e virão a integrar uma base de dados comum a todas as línguas românicas que fazem parte do AMPER. Uma nova recolha está já prevista para finais 2016, de modo a podermos contemplar os pontos considerados representativos das variedades da língua mirandesa, tal com são definidos por Leite de Vasconcelos(Leite de Vasconcelos, 1900, 1901): variedade do sul, central e raiano (Leite de Vasconcelos, 1901: 27-43).

No mapa abaixo, indicam-se os pontos de recolha a contemplar: a preto os já gravados, mas não analisados (6 informantes); a cinza outros pontos já previstos para recolha (4 informantes).

Figura 2 – Mapa adaptado de Carlos Ferreira (2003)

Estas gravações e outras gravações futuras são da responsabilidade de Alberto Bautista e de Lurdes de Castro Moutinho. A análise acústica, ainda em fase inicial, virá a ser efetuada por Alberto Gómez Bautista, sob a orientação de Lurdes de Castro Moutinho.

Nesta mesma região transmontana, prevê-se ainda recolha de corpora em língua portuguesa, no âmbito do AMPER-POR, de forma a podermos efetuar análises contrastivas com informantes que usam, habitualmente, a língua portuguesa, embora inseridos em contexto bilingue ou, em alguns casos, em situação de diglossia.

4.1. Constituição do corpus e protocolo de recolha definidos para o AMPER

As produções linguísticas dos falantes são gravadas, in loco e excluem qualquer situação de leitura. As frases são, por isso, elicitadas através de imagens, do mesmo tipo das que abaixo vemos representadas (figura 4). As gravações são efetuadas, utilizando um gravador DAT ou outro equipamento que nos garanta a qualidade do sinal acústico, para posterior análise. O corpus de base gravado é o que consta do quadro 3, tendo sido construído sob o modelo do corpus AMPER-POR. As imagens devem permitir a produção de frases que contemplem todas estruturas acentuais (oxítona, paroxítona e proparoxítona)

nas diversas posições frásicas. As frases têm uma estrutura Sujeito-Verbo-Complemento, neutras e afirmativas, nas modalidades declarativa e interrogativa global correspondente. Na variedade do PE insular e do PB foi necessário adaptar algumas imagens, em alguns casos, para melhor corresponderem a realidades locais. Para o AMPER-MIR, as imagens apresentadas são as mesmas que foram utilizadas para o PE continental, devendo o informante produzi-las em mirandês.

L cochino bisabó toca no páixaro? L cochino toca no páixaro.

L cochino toca no páixaro cómico? L cochino bisabó toca no páixaro. L cochino toca no páixaro pateta? L cochino pateta toca no páixaro. L cochino toca no páixaro bisabó? L cochino cómico toca no páixaro. L páixaro toca no capataç cómico? L cochino de l Canadá toca no páixaro. L páixaro toca no capataç pateta? L cochino da Tapada toca no páixaro. L páixaro toca no capataç bisabó? L cochino de l México toca no páixaro. L páixaro toca no capataç?

L páixaro toca no cochino.

L páixaro cómico toca no cochino? L páixaro toca no cochino bisabó. L páixaro pateta toca no cochino? L páixaro toca no cochino pateta. L páixaro bisabó toca no cochino? L páixaro toca no cochino cómico. L capataç cómico toca no páixaro? L páixaro toca no cochino de l Canadá. L capataç pateta toca no páixaro? L páixaro toca no cochino de la Tapada. L capataç bisabó toca no páixaro? L páixaro toca no cochino de l México. L capataç toca no páixaro.

L capataç toca no páixaro? L capataç bisabó toca no páixaro. L páixaro toca no cochino de l México?

L capataç pateta toca no páixaro. L páixaro bisabó toca no cochino. L páixaro toca no cochino cómico? L páixaro pateta toca no Cochino. L páixaro toca no cochino pateta? L páixaro cómico toca no cochino. L páixaro toca no cochino bisabó? L páixaro toca no capataç.

L páixaro toca no cochino? L páixaro toca no capataç bisabó. L cochino de l México toca no páixaro? L páixaro toca no capataç pateta. L cochino da Tapada toca no páixaro? L páixaro toca no capataç cómico. L cochino de l Canadá toca no páixaro? L cochino toca no páixaro bisabó. L cochino cómico toca no páixaro? L cochino toca no páixaro pateta. L cochino pateta toca no páixaro? L cochino toca no páixaro cómico. L cochino toca no páixaro? L cochino toca no cochino? L páixaro toca no páixaro. L capataç toca no cochino? L capataç toca no capataç. L cochino toca no capataç? L cochino toca no capataç. L capataç toca no capataç? L capataç toca no cochino. L páixaro toca no páixaro? L cochino toca no cochino.

L cochino toca no páixaro/? L capataç cómico toca no páixaro/?

L cochino toca no páixaro/? L capataç cómico toca no páixaro/?

Figura 4 – Exemplo de imagens utilizadas nas gravações

Os informantes, previamente contactados (um homem e uma mulher para cada ponto de recolha) devem ter o seguinte perfil: terem mais de 30 anos de idade; escolarização não superior; terem sempre vivido nesse mesmo local; terem a língua mirandesa como língua materna e usarem-na, no dia a dia, com os seus pares. A cada informante são pedidas, pelo menos, seis repetições de cada uma das estruturas que constituem o corpus, em ordem aleatória. Para a análise, são selecionadas as três melhores repetições comparáveis entre si: mais naturais e com as mesmas vogais, pelo menos, em cada uma das modalidades.

4.2. Metodologia de análise: análise acústica instrumental

Após gravação e tratamento do sinal acústico, utilizando o Cool Edit ou outro tipo de programa apropriado para esse fim, são constituídos os ficheiros som codificados (codificação igual para todas as equipas que participam no Projeto), para cada frase e cada um dos locutores. Seguidamente, e após termos procedido à seleção das 3 melhores repetições, para cada uma das modalidades – declarativa e interrogativa global –, damos início à análise do sinal acústico. A análise incide apenas sobre os segmentos vocálicos realizados pelo falante, sendo também necessário que se assinalem as vogais que o falante elidiu aquando da produção do enunciado. Esta análise é feita em ambiente Matlab ou Praat, ambos com aplicações (scripts) criadas especificamente para este projeto, por Antonio Romano (Romano, 1995, 1999, 2007) e por Albert Rilliard (Rilliard, 2008), respetivamente.

Qualquer um dos programas referidos permite etiquetar, manualmente, o sinal de fala, extraindo, automaticamente, os parâmetros de F0, duração e intensidade das vogais,

cujos valores são armazenados num ficheiro com a extensão TXT. Estes dados, permitirão extrair gráficos, automaticamente, com os valores de F0 (emHz ou semitons), duração e

intensidade das vogais (Rilliard, 2008) que nos dão uma primeira indicação das características prosódias de cada um dos informantes.

Estes ficheiros podem também ser exportados para Excel e, com base nos valores aí inscritos, poderá proceder-se à realização de outro tipo de gráficos informativos sobre os diversos parâmetros analisados.

Apresentamos, em seguida, a título de exemplo, duas figuras de dois primeiros momentos de análise efectuada, neste caso, em ambiente Matlab.

Figura 5 – Frase simples, interrogativa, com final oxítono etiquetada manualmente

Figura 6 – Movimento de F0 calculado automaticamente, para as vogais

de três repetições da mesma frase (final paroxítono)

Na figura acima, o traçado azul, indica a linha média de F0, isto é, a realização

média da falante calculada com base nas três repetições de cada frase analisada. Esta linha é uma primeira informação sobre o padrão prosódico dessa falante (neste caso é uma mulher), nessa modalidade e variedade. Note-se que, esta mulher, ao contrário da que se apresenta na figura anterior, não realiza a última vogal do enunciado. Essa mesma vogal aparece assinalada com uma pinta azul, ao nível dos 50 Hz. O tamanho dos traços inscritos na figura correspondem ao movimento de F0 das vogais analisadas e permitem também

visualizar a duração desses mesmos segmentos vocálicos.

São estas variações médias da curva melódica, caracterizadoras desses padrões entoacionais, que nos permitirão comparar, quer a variação prosódica no interior de uma mesma língua, quer ainda a variação de várias línguas entre si.

No documento Ecolinguismo e línguas minoritárias (páginas 125-131)