• Nenhum resultado encontrado

Análise antes e durante a crise económica europeia

3. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO NA ÁREA DO EURO: 1956 – 2013

3.2. Evolução da taxa de desemprego na área do euro: 1999 – 2013

3.2.2. Análise antes e durante a crise económica europeia

Tal como já se tinha mencionado no capítulo anterior, existe heterogeneidade entre os diversos países europeus, uma vez que houve países que registaram aumentos de desemprego mais fortes que outros, apesar de todos terem enfrentado a mesma crise

económica. Houve, portanto, diferentes resultados para choques idênticos. É, por isso, importante analisar a situação de cada país antes e após a crise económica e financeira mundial iniciada em 2007, e que atingiu a Europa mais intensamente após 2008. Para tal, são apresentados dois gráficos (figura 2 e figura 4) com dois subperíodos. O primeiro demostra o período antes da crise - 1999 a 2007 - e o segundo compreende os anos desde 2008 a 2013. O primeiro gráfico mostra a média da taxa de desemprego para todos os países comparando o período antes e durante a crise económica e, no segundo, analisamos o desvio padrão, para os mesmos subperíodos.

.

Fonte: Cálculos próprios com base em dados da OCDE e do Eurostat.

Figura 2. Comparação da taxa média de desemprego antes e durante a crise económica

Numa primeira análise, podemos verificar que a maioria dos países viu a sua taxa média de desemprego aumentar após 2008. Alemanha, Eslováquia e Finlândia são as exceções, tendo diminuído os valores do desemprego após a crise. No caso da Áustria, Bélgica, Itália e Malta não se verificam grandes oscilações, quando comparados os dois períodos.

Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal foram os países onde a crise provocou maiores consequências na área do desemprego. Os espanhóis e os gregos a partir de 2008, os irlandeses e os portugueses desde 2009 iniciaram uma escalada no desemprego, sem precedentes. Tal está diretamente ligado ao agravamento da situação económica e financeira de cada país, obrigando estes países a implementar fortes medidas orçamentais contracionistas para reequilibrar as contas públicas.

0 5 10 15 20 25 % Países/Zonas 1999-2007 2008-2013

A crise aprofundou a heterogeneidade entre os países da área do euro. Conforme é visível na Figura 2, a área do euro aumentou ligeiramente a sua taxa média de desemprego no período de 2008 a 2013. Contudo, este ligeiro aumento oculta mais uma vez, a diversidade europeia, dado que países como a Espanha aumentaram exponencialmente o seu desemprego, enquanto outros países, que gozavam de melhores condições económicas, conseguiram diminuir o nível do desemprego.

No caso específico de Portugal, verifica-se um aumento muito acentuado da taxa de desemprego, de uma média de 6,0% para 12,1%, como é visível na Figura 3. Mais preocupante, ainda, é observar o valor máximo da taxa de desemprego alcançado em 2013: 16,3%. De 2007 para 2008, Portugal diminuiu ligeiramente a sua taxa de desemprego passando de 8,3% para 7,6%. Desde então, o aumento foi contínuo tendo registado um acréscimo de 2,8 p. p. em 2012 e 0,6 p. p. em 2013.

Fonte: Elaboração própria, com base em dados da OCDE, do Eurostat e da PORDATA

Figura 3. Taxa de desemprego de Portugal, 1999 – 2013

Como se sabe, Portugal é dos países da área do euro que mais consequências tem sofrido com a crise. As constantes medidas restritivas que estão a ser implementadas na sequência do plano de resgaste financeiro, levaram a que o desemprego tenha subido para valores nunca antes alcançados no nosso país. No decorrer de 2013, dados divulgados para o primeiro trimestre desse exercício económico apontavam para um valor histórico de

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 % Taxa de desemprego

17,7%, mostrado uma escala galopante da taxa de desemprego14. Contudo, o valor no final do ano fixou-se em 16,3%, observando-se assim uma inversão de tendência, em termos trimestrais. Porém, o Documento de Estratégia Orçamental (DEO) de 2014 já prevê melhorias ao nível deste indicador. Para o ano de 2014 antevê-se uma taxa de desemprego de 15,4%, evoluindo para uma taxa de 13,2% em 2018. Desta forma, conjetura -se uma redução da taxa de desemprego, de curta e longa duração, a par das melhorias também esperadas dos restantes indicadores económicos (Ministério das Finanças, 2014). Estes últimos dados são bastante diferentes dos divulgados no ano anterior. Tal é justificado com a melhoria esperada da procura externa líquida, a estabilização do consumo privado e o crescimento do investimento. Estas previsões do Ministério das Finanças são baseadas nas projeções económicas de inverno de 2014 da Comissão Europeia (2014a), as quais registam um crescimento para 2014 e 2015, contrariamente à moderação registado nos últimos anos.

Tal como já foi mencionado anteriormente, importa também comparar o nível de dispersão antes e durante a crise. Na figura 4, podemos verificar que a crise económica contribuiu para um aumento da dispersão em praticamente todos os países.

.

Fonte: Cálculos próprios com base nos dados da OCDE e do Eurostat.

Figura 4. Comparação do desvio padrão antes e durante a crise económica

14

De realçar que o DEO de 2013 (Ministério das Finanças, 2013), previa que a taxa de desemprego continuasse a aumentar até 2014 e ainda um máximo histórico de 18,5%, começando a diminuir a partir daí. No mesmo documento estimava-se que, em 2017, Portugal tivesse uma taxa de desemprego na ordem dos 16,7%. 0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 % Países/Zonas 1999-2007 2008-2013

Nos países onde o aumento do desemprego foi mais significativo é, também, visível uma maior dispersão. Os países em que mais aumentou a volatilidade da taxa de desemprego comparativamente ao período antes da crise foram o Chipre, a Espanha, a Grécia e a Irlanda. Esta dispersão resultou, sobretudo, dos altos valores de desemprego atingidos por estes países nos anos de 2012 e 2013 (por exemplo, a Grécia atingiu uma taxa de 23,6% e 27,2%, respetivamente).

A dispersão da taxa de desemprego da área do euro também ampliou depois da crise, muito devido ao aumento registado pelos países do sul anteriormente mencionados. Neste gráfico é também bem visível, mais uma vez, a diversidade existente nos países aderentes ao euro. Vemos países em que o nível de dispersão se manteve praticamente inalterado abaixo dos 2%, e alguns até com diminuições (é o caso da Eslováquia que tem vindo a diminuir a sua taxa de desemprego para valores mais modestos) e, na situação contrária, temos países que com a crise económica e financeira registaram aumentos galopantes na sua dispersão.

Apesar dos elevados valores do desemprego constituírem uma característica estrutural da economia europeia, o desemprego ainda não se tornou no principal foco de atuação da UE. No entanto, algumas instituições, como o BCE, começaram a realçar a importância e a urgência em tomar medidas para resolver esta lacuna e tornar a UE numa união forte quer monetária, quer economicamente15.

A principal causa apontada para este desemprego estrutural é a excessiva rigidez salarial. Tal implica, como solução, uma maior flexibilidade salarial, sendo por isso necessário reformas do mercado de trabalho (BCE, 2012). Porém, alguns países, como é o caso de Portugal, Espanha e Grécia, mesmo estando a implementar tais medidas de flexibilização, conjuntamente com outras medidas restritivas para se reduzir a dívida pública e o défice, ainda não conseguiram reduzir significativamente o valor do desemprego. E a acrescer a este problema, estas medidas resultam numa perda de poder de compra dos trabalhadores, o que acarreta consequências negativas para as respetivas economias nacionais, que estão fragilizadas, provocando mais recessão económica.

Contudo, países como a Alemanha, que usufruem de mercados de trabalho mais flexíveis, quer em termos do número de horas trabalhadas quer em termos do número de postos de

15

Exemplo disso é a referência que o BCE faz no seu relatório de outubro de 2012, afirmando que a verdadeira emergência da área do euro era o desemprego e não o spread das taxas de juro (BCE, 2012).

trabalho, e com as contas nacionais equilibradas, mesmo em tempos de crise continuam a registar crescimento económico e taxas de desemprego baixas. Durante os anos de 2003 a 2005, a Alemanha implementou reformas económicas que incidiram sobre o mercado de trabalho. Introduziram uma vasta rede de ligação social entre as empresas e as comissões de trabalhadores, o que permitiu uma forte utilização dos contratos de trabalho temporários, uma vez que existe confiança mútua e partilha de riscos em relação ao desemprego e ao salário. Para além disto, a maior economia europeia tem, ainda, uma ligação entre as empresas e a formação profissional, que em muito tem contribuído para a sua liderança tecnológica. Desta forma, a Alemanha conseguiu diminuir o desemprego na casa dos dois dígitos registados entre 2004 e 2006, com um valor máximo de 11,3% em 2005, e ser uma das economias europeias mais fortes (BCE, 2012).

Outra explicação, apontada pelo citado relatório do BCE, foi a natureza dos choques, isto é, a crise incidiu de forma diferente nos setores de atividade nos países da área do euro. Os dois setores onde houve mais desemprego foi o setor da indústria transformadora e o da construção. Daí que países como a Espanha, Portugal e Irlanda tenham sido os mais afetados, por terem uma maior predominância de trabalho nestes setores de atividade e, por nessa altura, terem também mais desequilíbrios nas contas nacionais. De salientar, que o desemprego aumentou sobretudo nos trabalhadores menos qualificados e nos mais jovens. Contudo, até os jovens com formação académica têm dificuldades em conseguirem colocação no mercado de trabalho devido às dificuldades que as empresas atravessam.

Se analisarmos a média da taxa de desemprego dos países do sul da Europa (Chipre, Espanha, Grécia, Itália, Malta e Portugal) com os restantes onze países da área do euro constatamos que a diferença é significativa (Figura 5).

.

Fonte: Cálculos próprios com base nos dados da OCDE e do Eurostat.

Figura 5. Comparação da taxa de desemprego entre os países do sul e os restantes países da área do euro: 1999 – 2007 e 2008 – 2012

Com base na análise efetuada, podemos concluir que a área do euro está subdividida em dois grupos de países: o grupo dos países nórdicos, que exibem taxas de desemprego baixas, e o grupo dos países do sul com valores de desemprego bastante elevados. Os últimos países a aderirem ao euro como a Estónia, Eslováquia e Eslovénia estão com valores de desemprego considerados elevados, mas que, contudo, são inferiores aos dos países do sul.

A discrepância existente na área do euro é bastante significativa, e a revisão trimestral sobre o emprego e a situação social na UE, de março de 2013, alerta para este aumento da divergência entre os países do norte e os do sul (Comissão Europeia, 2013).

Outra conclusão importante a extrair é que a crise europeia após 2008 fez intensificar o grau de heterogeneidade entre os países membros da área do euro, sobretudo entre a zona do norte e a do sul.

Um outro aspeto a salientar é que o desemprego tem vindo a registar novos picos e o desemprego de longa duração tem vindo, similarmente, a aumentar, o que o torna num problema estrutural europeu que é indispensável minorar. As reformas que estão a ser implementadas, nomeadamente ao nível dos apoios sociais que, na sua maioria, têm vindo a diminuir ou mesmo a excluir-se, tenderão a piorar a situação social.

0 2 4 6 8 10 12 14 1999-2007 2008-2013 %

Em suma, na nossa opinião, a UE em conjunto com os seus Estados-membros necessita de reformar o mercado de trabalho para melhorar a capacidade das economias resistirem aos choques económicos e para obterem estabilidade macroeconómica. Contudo, é imprescindível não descuidar o bem-estar social. Nos anos mais próximos são necessárias melhorias socioeconómicas para que os países consigam sair da atual crise e retomarem a estabilidade e o crescimento económico. É, por isso, imprescindível aumentar o investimento produtivo para gerar empregabilidade e, consequentemente, reduzir os elevados níveis de desemprego.

Documentos relacionados