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Caracterização sucinta do desemprego português

3. ANÁLISE DA EVOLUÇÃO DA TAXA DE DESEMPREGO NA ÁREA DO EURO: 1956 – 2013

3.4. Caracterização sucinta do desemprego português

Após a análise dos valores globais do desemprego para Portugal, importa agora analisarmos a taxa de desemprego por sexo, por grupo etário e por nível de escolaridade. Desta forma, iremos perceber quais os grupos mais afetados por este fenómeno. Para esta análise mais detalhada tomaram-se os dados divulgados pela PORDATA para o período 1990 a 2013.

Assim, na Figura 7 podemos verificar que o desemprego sempre afetou mais o género feminino do que o masculino, existindo apenas uma diferença mínima a partir do ano de 2011. Ambos os géneros tiveram o mesmo comportamento, com exceção do período 1990 a 1992 em que a taxa de desemprego feminina obteve um decréscimo e a taxa de desemprego masculina registou um crescimento. De salientar a amplitude dos valores do desemprego no período 1990 – 2013, um valor de 11,6 p.p., evidenciando assim a escalada do desemprego em Portugal.

Fonte: Cálculos próprios com base nos dados da PORDATA.

Figura 7. Taxa de desemprego de Portugal: total e por sexo, 1990 – 2013

No que diz respeito ao desemprego por grupo etário, Figura 8, é evidente para todo o período em análise que os indivíduos com idade inferior a 25 anos são os que mais sofrem à procura de emprego. É, assim, percetível que aquando do termo da escolaridade não ingressam imediatamente no mercado de trabalho. Em 2013 esta faixa etária atingiu uma taxa de 38,1%. Logo de seguida encontra-se o grupo etário dos 25 aos 54 anos, sendo a última faixa etária a que regista menor desemprego. O menor desemprego na faixa dos 55 aos 64 pode ser justificável pelos empregos de longa duração patentes na economia portuguesa desde as primeiras décadas após a instauração do regime democrático. Contudo, atualmente, temos uma situação inversa com o mercado de trabalho a registar um número elevado de contratos a prazo (Banco de Portugal, 2014b). O mercado nacional sofreu alterações na sua estrutura, sendo que estas modificações refletem essencialmente a

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 %

evolução da estrutura produtiva, o desenvolvimento do quadro de qualificações da população e do quadro institucional em vigor. Nas décadas de 1970 e 1980 quando o desemprego iniciou a sua escalada determinou-se que a legislação existente era bastante rígida nas relações laborais. Para resolução deste problema introduziram-se novas formas contratuais bem mais flexíveis, nomeadamente os contratos a prazo. A partir deste momento as empresas devido aos elevados custos de despedimento deixaram de contratar permanentemente e não realizaram a conversão dos contratos a termo para sem termo. Portugal acompanhou, assim, os restantes países membros europeus com a implementação de reformas parciais para flexibilizar o mercado de trabalho e criou um mercado segmentado: diferentes contratos e proteções no emprego e desemprego (Centeno, 2013).

Esta versão dos contratos a termo pode trazer graves consequências. As empresas ao registarem uma elevada rotação de trabalhadores não conseguem obter um capital humano fixo, o que pode refletir em termos de produtividade um fator negativo e prejudicial para a empresa e para a economia nacional (Centeno, 2013).

Fonte: Cálculos próprios com base nos dados da PORDATA.

Figura 8. Taxa de desemprego de Portugal: total e por grupo etário, 1990 – 2013

Relativamente ao desemprego por nível de escolaridade, para indivíduos com o ensino básico e secundário e pós secundário os valores são muito próximos. São os indivíduos com estes níveis de escolaridade, aqueles que mais se encontram no estado de desempregados. Desde 2007 que a taxa de desemprego para pessoas com formação académica tem vindo a registar uma ténue diminuição, sendo mesmo a taxa mais baixa

0 5 10 15 20 25 30 35 40 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 % Total ‹ 25 25-54 55-64

desde 2009, trocando de posição com os indivíduos que não possuem qualquer nível de qualificação.

Desde sempre que Portugal registou baixos níveis de qualificações, sendo estas pessoas (com escolaridade muito baixa ou mesmo sem nenhuma) que constituíam os quadros das empresas nacionais. Nos anos 90 viveu-se um período em que houve muita procura por qualificações elevadas. Ultimamente, a procura das empresas recai sobre os níveis de qualificação mais elevados e sobre os mais reduzidos (Centeno, 2013). Daí que na Figura 9 sejam os níveis intermédios que registam taxas de desemprego superiores. A carência educativa no nosso país pode ajudar a justificar o fraco crescimento económico, atrasando assim o desenvolvimento do país.

Fonte: Cálculos próprios com base nos dados da PORDATA.

Figura 9. Taxa de desemprego de Portugal: total e por nível de escolaridade completo , 1998 – 2013

Resumidamente, nas figuras exibidas podemos constatar alguns factos caracterizadores do desemprego em Portugal desde os anos de 1990: o desemprego afeta sobretudo as mulheres, os mais jovens e os menos qualificados.

Uma outra característica do mercado de trabalho português tem sido o forte aumento do desemprego de longa duração, que tende a provocar uma desvalorização acentuada do capital humano com efeitos adversos no crescimento da economia portuguesa. A quantidade de pessoas desempregadas à procura de emprego há mais de doze e mais meses

0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 %

aumentou bastante em 2013, fixando-se, em termos médios anuais, em 62,1%. Este valor é o mais elevado registado desde o início da década de noventa.

Por outro lado, o desemprego de muita longa duração, 25 e mais meses, aumentou também, representando 38,1% dos desempregados em 2013 (Banco de Portugal, 2014a). Estes valores são alarmantes pois a elevada duração do desemprego gera estigmas económicos e sociais e problemas acrescidos de empregabilidade. O estigma laboral aumenta com o passar do tempo e o trabalhador afasta-se da sua rede de contactos, esperando um salário no novo trabalho muito mais reduzido.

Para melhorar todos estes valores o mercado de trabalho precisa de ser reformado. A regulação é obrigatória uma vez que o mercado tem falhas devido à informação assimétrica e à diferente proteção do risco de empresas e trabalhadores. Com o objetivo de corrigir estas falhas, e todas as outras existentes, surge a regulamentação através das diferentes instituições, tais como, sindicatos, políticas ativas de emprego, subsídio de desemprego, salário mínimo e outras que interferem com o funcionamento do mercado com o intuito de melhorar o bem-estar dos vários intervenientes. Mas o excesso de proteção pode tornar-se prejudicial para a economia nacional (Centeno, 2013).

São necessárias, assim, reformas mais profundas, que sejam globais e não parciais, que consigam reduzir os custos de despedimento, quer monetários quer processuais, que uniformize as diferentes formas contratuais e generalize o subsídio de desemprego.

Para Centeno (2013), um sistema eficiente de proteção dos trabalhadores assenta em algumas vertentes, destacando-se os seguintes:

 As empresas devem internalizar o custo social dos seus despedimentos, como o subsídio de desemprego, por exemplo. A taxa de contribuição das empresas é a mesma para todas as empresas, beneficiando assim aquelas que mais despedem. Com tal medida promove-se uma racionalização da rotação de trabalhadores;

 Um mecanismo de determinação salarial que faculte às empresas negociar diretamente com os seus trabalhadores as condições salariais. Assim teríamos uma negociação mais próxima da realidade económica e interna à empresa;

 Promover um único tipo de contrato que deve partir da estrutura das regras que regulamentam os contratos permanentes, mas refletindo um equilíbrio entre a

componente processual de proteção dos direitos dos trabalhadores e do empregador. Adicionalmente, deve prever o pagamento de compensações mais generosas com períodos de pré-aviso de despedimento mais longos, prolongando também período experimental. Deve ser estabelecido um conjunto de razões não-económicas para o posterior despedimento.

3.5. Considerações Finais

No período antes da criação da moeda única (1956 - 1998), os países que atualmente constituem a área do euro18 apresentavam taxas de desemprego não muito elevadas. No entanto, é notório que ao longo das décadas a tendência é de aumento da taxa de desemprego e com carácter de persistência. Existe nos dados apresentados uma amplitude significativa que nos indica uma mudança substancial nos valores europeus relativamente ao desemprego. As medidas implementadas não estão a produzir os mesmos efeitos em todos os países e as diferenças ao longo dos anos têm vindo a acentuar-se cada vez mais.

O relatório do FMI (FMI, 2013) alerta para o facto de os países estarem mais focados na recuperação das contas públicas, e na permanente incerteza política, do que na recuperação do investimento e do consumo, que têm vindo a diminuir com o acentuar da crise económica e financeira. Contudo, a mesma entidade salienta que as medidas de consolidação orçamental contribuem fortemente para o constante aumento das taxas de desemprego em muitos países do euro, sobretudo os que têm as contas públicas mais desequilibradas.

O mesmo relatório aponta para a necessidade de os países, a nível nacional, consolidarem as suas contas e implementarem reformas estruturais, nomeadamente no sentido de atenuar a rigidez estrutural e tornar o mercado de trabalho mais flexível. Menciona, também, ser preciso que os países do sul da Europa aumentem a sua competitividade no setor dos bens transacionáveis. Para tal, são necessárias as reformas no mercado de trabalho. O FMI defende que estas medidas iriam coadjuvar a redução a taxa de desemprego e, assim, contribuir para o aumento da competitividade dos países do sul.

O DEO de 2013 (Ministério das Finanças, 2013) revela que Portugal tem implementado reformas no mercado de trabalho e que estas têm redirecionado a mão-de-obra dos setores

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não-transacionáveis para os transacionáveis. Desta forma, espera-se obter maior volume de exportações e, desta forma, melhorar a economia do país. Contudo, apesar de Portugal implementar tais medidas aconselhadas pelo FMI, a taxa de desemprego registou, em 2013, valores nunca antes alcançados.

Este é um resultado que não é penalizador apenas para os países que têm elevado desemprego mas para toda a área do euro, uma vez que estando regidos por objetivos e, principalmente, por políticas comuns, estes não produzem os mesmos efeitos em todos os países devido a estas divergências.

Atendendo ao facto de que mais desemprego gera mais desigualdades sociais, mais instabilidade social, mais pobreza e mais criminalidade, é urgente que os decisores políticos implementem reformas estruturais que conduzam a uma diminuição do desemprego e à retoma do crescimento económico uniformizado em toda a área do euro.

4. ASSOCIAÇÃO ENTRE OS CICLOS DO PRODUTO E DA TAXA DE

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